Córdoba: Sabor de Vitória

Data

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no email
Compartilhar no whatsapp
Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no email
Compartilhar no whatsapp
image_pdfConverter em PDFimage_printPreparar para impressão

Marcelo Andrade

 

 

CÓRDOBA: SABOR DE VITÓRIA

 

 

Fig. 1 – A Mesquita-Catedral, vista da ponte romana, tendo o “Triunfo de São Rafael” à direita.

 

No tempo do Califado de Córdoba, Almanzor, caudilho muçulmano, aterrorizou os católicos por meio de 56 campanhas militares contra as cidades católicas do norte da Península Ibérica. Como estas expedições eram violentas e próximas do ano 1000, não faltou quem acreditasse que se vivia no fim dos tempos.

Numa destas campanhas, ele saqueou Santiago de Compostela e roubou os sinos das igrejas desta cidade (também levou embora sinos de outras cidades), obrigando os católicos cativos a carrega-los até Córdoba, onde foram transformados em lampadários e em portas da mesquita principal da cidade, a segunda maior do mundo que perdia apenas para a de Meca.

Almanzor só não vandalizou o túmulo do apóstolo porque ficou impressionado com a piedade de um monge que rezava abraçado ao sepulcro.

 

***

 

A cidade de Córdoba foi fundada pelos romanos em 169 A.C. e tornou-se a capital da Hispânia Bética. A grande figura, natural desta cidade e deste tempo foi Sêneca. Após as migrações bárbaras e a conversão de toda a Península Ibérica, a cidade tornou-se católica, pertencente ao Reino Visigótico.

Em 711, as hostes mouras invadiram a Península Ibérica, derrotaram o exército do Reino Visigótico, que acabou por desaparecer completamente, e estabeleceram a sua capital em Córdoba. No apogeu, a cidade teve mais de 400.000 habitantes. Averróis foi uma das grandes figuras desta época de domínio islâmico nascida nela.

Os católicos que viviam na capital do califado tinham de morar em bairros extramuros e eram cidadãos de segunda classe, não tinham os mesmos direitos dos islâmicos e muitas vezes eram acossados. Os judeus, porém, eram aliados dos mouros e viviam intramuros, Maimônides foi um expoente desta comunidade.

No séc. IX, Santo Eulógio e outros bravos católicos foram perseguidos pelos mouros e foram martirizados. Santa Flora disse na frente do juiz muçulmano que Maomé era adúltero, feiticeiro e bruxo e Santa Maria de Córdoba, na cara do mesmo juiz, disse que o islamismo era uma invenção do demônio.

Em 1236, a cidade foi reconquistada por São Fernando III, rei de Castela e Leão, pondo fim a séculos de domínio mouro.

 

***

 

Córdoba é encantadora.

As ruas labirínticas da cidade antiga, com as casas brancas e os patios sempre decoradas com flores, vencem facilmente em simpatia e em charme o urbanismo moderno com suas ruas pseudorracionais destinadas aos automóveis.

 

Fig. 2 – Patio de Córdoba

 

Os interessantes bares de tapas (são encontrados em boa parte da Espanha, mas são mais típicos da Andaluzia), sempre alegres, são normalmente decorados com peças de Jamon Serrano penduradas e com fotos de touradas espalhadas pelas paredes. Estes bares, por comparação, derrotam sem piedade os “restaurantes de fast-food” e sua ambiência humilha as calamitosas “praças de alimentação” modernas. Assim, o vinho fino de Montilla-Moriles (região vinícola da província de Córdoba), com sua personalidade marcante, destroça a irracionalidade da Coca-Cola e das bebidas similares. Las tapas, como o jamon, a carrillada etc reduzem a pó o “gosto de isopor” dos hambúrgueres do Mcdonalds e similares.

A Plaza de Toros (presente em boa parte das cidades espanholas) mostra a corrida de toros que vence com facilidade, como espetáculo, os demais esportes como o futebol, o basquete etc. e também desafia o mundo moderno, contrastando suas frescuras, como o delirante “direito dos animais” e o “ecochiismo”.

Na Plaza de las Tendillas há uma bela estátua de El Gran Capitán, nascido na província de Córdoba, o que faz lembrar as esplêndidas campanhas militares dele que ajudaram a Espanha a ser uma potência mundial.

O arcanjo São Rafael é o padroeiro da cidade, ele apareceu várias vezes para o padre Roelas no séc. XVI e prometeu salvar – e de fato salvou- a cidade de uma peste, por isso, espalhadas pela cidade há imagens do “Triunfo de São Rafael”.

A antiga mesquita possui mais de 150 “arcos de ferradura”, erroneamente ensinados como sendo de invenção islâmica, na realidade, são criação visigótica, de modo que muitos arcos foram tirados de antigas igrejas visigóticas e instalados lá. Após a reconquista da cidade, a antiga mesquita se tornou catedral e uma construção, de planta de cruz latina, foi erguida na parte central da antiga mesquita, muitos arcos foram preservados e capelas laterais foram construídas também. É o do tipo de edificação única no mundo.

 

Fig. 3 – Os belos arcos de ferradura na Mesquita-Catedral, de origem remota visigótica.

 

Vista da ponte romana, onde às vezes pode-se ouvir uma buleria vencendo o silêncio, o corpo principal da catedral ergue-se acima das muralhas da antiga mesquita e como que rompendo o teto desta, sobrepõe-se soberana e majestosa, assim como a Religião Católica se impõe como a única verdadeira sobre as demais religiões.

 

***

 

São Fernando, ciente da história dos “sinos roubados”, ordena, logo após a reconquista da cidade, que os antigos sinos sejam reconstruídos e obriga os mouros cativos a levarem-nos de volta para Santiago de Compostela.

 

Córdoba tem sabor de vitória.

 

São Rafael, São Fernando III e os mártires de Córdoba, rogai por nós.

 

Marcelo Andrade, 2 de janeiro de 2020

image_pdfConverter em PDFimage_printPreparar para impressão