Dúvida sobre a aula “O itinerário da mente a Deus a partir de uma rosa”

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Data: 24-Out-2019
De: Maurício Da Silva
Cidade: Osasco – SP
Assunto: Dúvida sobre a aula “O itinerário da mente a Deus a partir de uma rosa”

 

***

 

Salve, Maria!

Gostaria de iniciar este e-mail agradecendo a vocês o ótimo conteúdo produzido pelo canal Flos Carmeli: muito obrigado!

Direciono a minha dúvida ao professor Fernando Schlithler, a quem serei muitíssimo grato se me responder. A dúvida é a seguinte:

Aristóteles (e Santo Tomás, que o segue neste ponto) diz que a “cor” é uma forma acidental das coisas. Diz que a cor está “na coisa”. Por outro lado, hoje compreendemos melhor o modo como se dá a percepção das cores: grosso modo, os objetos absorvem, no caso de objetos opacos, uma parte da luz que lhes atinge e espalham outra parte da luz não absorvida. Essa luz espalhada é composta por ondas de determinadas frequências (ou comprimentos de onda); ela chega aos nossos olhos e estimula as células cones da retina (que são de três tipos). O resultado dos estímulos é encaminhado pelo nervo óptico para o cérebro, que por sua vez o “interpreta” e então temos a sensação de cor.

A minha pergunta é: como fica a abordagem da cor na filosofia aristotélico-tomista com esse novo dado? Como se conciliam? A cor ainda é uma forma acidental da coisa? A cor está “na coisa” ou está “na percepção”?

Aguardo ansiosamente a resposta.

Muito obrigado!

 

***

 

Resposta

 

Prezado Maurício,

Salve Maria!

Obrigado por suas gentis palavras e sua atenção ao conteúdo veiculado por nós.

Quanto à questão da percepção das cores, creio que o que sabemos hoje a seu respeito não desminta propriamente o que Aristóteles e São Tomás escreveram sobre ela, mas apenas implique num maior refinamento da  explicação. Não estudei a fundo a questão, mas não me parece difícil respondê-la, então vamos lá.

A cor nada mais é do que um grau limitado de decomposição da luz. Usando termos talvez não técnicos mas mais pedagógicos, podemos dizer que cada cor é uma “luz” reduzida em velocidade e aumentada em comprimento de onda.

Cada objeto material possui em si mesmo uma propriedade específica, que é a de absorver a luz conforme um certo grau e, como você mesmo disse, espalhar aquilo que dela não absorve sob forma de cor. Essa propriedade de absorver determinadas ondas e espalhar determinadas outras existe na coisa, e, mesmo quando não há luz, essa propriedade continua inerindo na coisa, embora só seja atualizada na presença da luz. Essa propriedade só é visível por causa da luz, ou seja, só é perceptível por causa da luz, mas mesmo na ausência de luz (numa total escuridão) essa propriedade continua existindo no objeto. Essa propriedade é portanto algo objetivo, pois inere no objeto, e é um acidente nele, uma vez que não é o que define o objeto, mas trata-se de uma propriedade ou qualidade que nele há dentre outras.

O olho humano possui a capacidade de apreender as cores, ou seja, o olho humano pode receber ou capturar um grau limitado de decomposição da luz. Esse grau limitado de decomposição da luz é objetivo, pois se encontra primeiramente no objeto material visível enquanto sua fonte, e é comunicado ao olho humano, que o recebe e, portanto, não o “cria” subjetivamente. Logo, a cor é algo objetivo na própria coisa, pois corresponde a uma propriedade que nela inere. O olho humano apenas capta essa propriedade. Essa propriedade, apesar de se tornar visível/perceptível somente na presença da luz, também não faz com que ela não seja inerente ao objeto, uma vez que a cor nada mais é, por definição, do que um grau de decomposição da luz. Logo, realmente, não pode haver cor sem luz, mas também não pode haver cor sem haver objeto colorido (ou seja, objeto com a propriedade de espalhar a luz de acordo com certo grau de restrição dela).

O modo mesmo como a realidade objetiva se mostra para as faculdades perceptivas humanas é esse, e esse modo é objetivo, pois trata-se de propriedades objetivas que inerem no objeto, independentes de haver um observador ou não. Uma rosa vermelha, na ausência de luz e de um observador, não se torna de outra cor, ou seja, sua propriedade de absorver luz conforme determinado grau e espalhar a diferença não absorvida não muda, mas continua a mesma. Logo, é objetivo. O olho humano apenas recebe a onda decomposta conforme determinado grau, e a recebe objetivamente, e não a cria dentro de si. Tanto é que as pessoas são capazes de identificar como iguais as mesmas cores, e também identificar quando uma pessoa possui um olho defeituoso (daltônico, como o meu, aliás). Se fosse subjetivo, o daltônico poderia alegar que são os não-daltônicos (ou os daltônicos de outro tipo) que enxergam de modo subjetivo e é ele quem realmente vê as cores como realmente são.

Espero ter ajudado. Fique à vontade para continuar escrevendo caso queira fazer alguma outra pergunta ou comentário.

 

Não se esqueça de nós em suas orações, por favor!

 

Salve Maria!

Fernando Schlithler

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