1084- Cristo e a Pena de Morte

Data

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no email
Compartilhar no whatsapp
Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no email
Compartilhar no whatsapp
image_pdfConverter em PDFimage_printPreparar para impressão

Orlando Fedeli

Cristo e a Pena de Morte

 

  • Localização: Belo horizonte – MG

 

Salve Maria!

Li seu tópico “Helio Bicudo e a Pena de Morte”, e gostaria de que me respondesse algumas perguntas que tive ao ler as seguintes passagens que enumero:

(1)”É muito importante, hoje, demonstrar que a pena de morte é defendida pelo próprio Cristo, porque a sociedade está literalmente morrendo pela impunidade aos crimes.”

(2)”O sentimentalismo romântico, o liberalismo, o modernismo adorador do Homem, tem causado o aumento da criminalidade e da violência pela propagação de utopias que exaltam uma bondade quimérica do homem, negadora do pecado original.”

(3)”Paz e amor é o slogan que domina e paralisa as autoridades, como se a paz não fosse fruto da justiça, e como se o amor proibisse punir os que erram. Só pode haver paz com a justiça. E castigar os que erram é obra de misericórdia.”

Perguntas:
(1) De onde, em toda doutrina Cristã, seja o Velho ou Novo Testamentos, você tirou que Cristo, o Cordeiro de Deus, defenderia a pena de morte? Pelo que sei, Cristo sempre defendeu o ato de “dar a outra face” e dizia que não se paga o mal com o mal. E a pena de morte vai contra dois mandamentos fundamentais: um dos 10 mandamentos de Moisés (não esqueça do “não matarás”) e um dos 2 mandamentos de Cristo ao resumir a doutrina Judaica em “Amar a Deus sobre todas as coisas” e “Amar ao próximo como a ti mesmo”.

(2) Afinal de contas, o que você quis dizer com essa “bondade quimérica” negadora do pecado original? Afinal, Cristo não disse para sermos como crianças para irmos ao Reino de Deus? Se o pecado original pesa sobre todas a humanidade, e se todos os homens são maus, por que Ele cita a pureza da criança? Não acha que essa maldade de que tanto fala, “o liberalismo, o modernismo adorador do Homem” são apenas bodes expiatórios de uma doutrina que o senhor segue, e que no fundo não quer enxergar a verdade sobre a violência e criminalidade: a concentração de riqueza, da propriedade, a disparidade de renda, um ambiente urbano insalubre com disparidade na qualidade habitacional, entre outras coisas?

(3)Verdade. Mas como o Amor e a Misericórdia permitem o ato extremo contra a vida que é a pena de morte?

Gostaria de entender o que motiva um católico tão puro e fervoroso a defender a pena de morte.

Por favor, mande uma confirmação em meu e-mail de sua resposta! Desejo lê-la o quanto antes!

Saudações católicas!

 

—————-

 

Muito prezado,
salve Maria!

Você me pergunta: “De onde, em toda doutrina Cristã, seja o Velho ou Novo Testamentos, você tirou que Cristo, o Cordeiro de Deus, defenderia a pena de morte?”

Mas tirei da Sagrada Escritura, claro!

No Apocalipse, Cristo diz: “Quem matar à espada , importa que seja morto à espada” (Apoc. XIII, 10).

Tirei do Evangelho de São João, onde se lê que Pilatos disse a Cristo que tinha poder de condená-lo à morte, coisa que Cristo reconheceu imediatamente.

Disse Pilatos a Jesus: “Não me respondes? Não sabes que tenho poder para te soltar, e também para te crucificar? Respondeu Jesus: “Tu não terias poder nenhum sobre mim, se não te fosse dado do Alto. Por isso, quem me entregou a ti, cometeu pecado maior” (Jo. XIX 10-11).

Logo, o poder das autoridades estatais de condenar à morte vem de Deus.

E Jesus disse a Pedro, quando este cortou a orelha do servo de Templo; “Pedro, mete a espada na bainha, porque, quem com o ferro fere, como ferro será ferido” (Mt.XXVI, 52).

Repare que Cristo não mandou São Pedro jogar fora a espada. Não proibiu que a usasse. Mandou guardá-la, porque, no futuro, quando Pedro fosse o representante de Cristo, ele deveria mandar matar à espada, quem matasse à espada.

E na Cruz, quando o bom ladrão disse que ele e o mau ladrão haviam recebido o justo castigo de suas ações, isto é, a pena de morte, Jesus o aprovou na hora:

“Nem tu temes a Deus estando no mesmo suplício? Nós estamos na verdade justamente recebendo o castigo que merecem as nossas ações, mas este não fez mal nenhum”. (Luc.XXIII, 40-41).

O bom ladrão defendeu a pena de morte e Jesus lhe disse que nesse mesmo dia estaria ele no paraíso.

E agora, meu caro?

Que Evangelho você leu onde não se aprova a pena de morte?

Nos Evangelhos se lê que Cristo aprova a pena de morte.

Você alega que Deus nos mandamentos disse: “Não matarás” e não repara que o sujeito desse verbo é TU. Deus proibiu que cada homem matasse outro. Mas ordenou que Moisés, que era a autoridade sobre todo o povo, matasse os feiticeiros, os incestuosos os assassinos, etc.

Veja no Êxodo capítulo XXI, versículos 12 a 18 a lista dos crimes que Deus mandou punir com a pena de morte.

E agora, meu caro?

São Tomás, na Suma Teológica, prova que a pena de morte é legítima do seguinte modo: Ele trata desse problema na Suma Teológica no Tratado da Justiça II, IIae, Q. 64, a.2.
Esse artigo 2 reponde à questão: “Se é lícito matar os pecadores”.
Evidentemente, ele trata, aí, se é lícito à autoridade pública matar os pecadores, porque ao indivíduo enquanto tal, é claro que isso não é lícito, pois o quinto mandamento da lei de Deus diz: “Tu não matarás”.

São Tomás mostra que, na Sagrada Escritura, Deus diz a Moisés: “Não permitirás que vivam os feiticeiros” (EX, XXII, 18) e que nos Salmos está escrito: “De madrugada matava todos os pecadores do país” ( Sl.C, 8).

Dando solução ao problema posto na questão 2 , diz São Tomas:

“Conforme já foi exposto [ no artigo 1 da Q. 64] é lícito matar os animais brutos, enquanto eles são ordenados por natureza ao uso dos homens, como o imperfeito se ordena ao perfeito.
Pois toda a parte se ordena ao todo, como o imperfeito ao perfeito, e, por isso, cada parte existe naturalmente para o todo.
Assim, nós vemos que se fosse necessário para a saúde de todo o corpo humano a amputação de algum membro, por exemplo, se a parte está apodrecida e pode infeccionar as demais partes, tal amputação seria louvável e salutar.
Pois bem, cada pessoa singular se compara a toda a comunidade como a parte para o todo.
Portanto, se um homem é perigoso para a sociedade e a corrompe por algum pecado, louvável e salutarmente se lhe tira a vida para a conservação do bem comum, pois como afirma São Paulo, “um pouco de fermento corrompe toda a massa”.”

Essa é a argumentação fundamental de São Tomás para defender e justificar a pena de morte.

E agora, meu caro?

No site Montfort*, você poderá encontrar várias cartas e artigos meus, tratando mais largamente desse tema.

Jesus nos mandou dar a outra face, mas quando Ele foi esbofeteado, Ele não deu a outra face, mas protestou dizendo: “Se errei, mostra-me onde. Se não, porque me bates” (Jo. XVIII, 24).

Logo, nem sempre se deve dar a outra face. Depois, devo dar, em certas circunstâncias, a outra face, quando me ofendem pessoalmente, não quando outra pessoa é agredida.

Quando alguém é agredido injustamente, devemos defender a vitima, e não pedir que o esbofeteado dê, de novo, a cara para apanhar mais um pouco. E o governo deve defender os agredidos, e nunca pedir às vítimas que se deixem agredir de novo pelos agressores.

Por isso São Paulo nos ensina: “Teme o príncipe, porque não é em vão que ele traz a a espada. Porque ele é ministro de Deus vingador, para punir aquele que faz o mal” (Rom. XIII,4).

E agora, meu caro?

Ensina São Tomás, que a pena de morte sempre é caridosa;

– Primeiro, porque faz o criminoso fazer penitência e facilita sua conversão.
– Segundo, porque, se ele não se arrepende, ele viverá menos tempo em pecado, e sofrerá menos no inferno.

A doutrina que sigo do pecado original é a católica que ensina que todos os homens –exceto a Virgem Maria –são concebidos no pecado.

Cristo mandou que fôssemos como as crianças ainda sem malícia, mas, também essas crianças nascem com o pecado original.

In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli

*O professor Orlando Fedeli foi presidente da Associação cultural Montfort de 1983 a 2010.

image_pdfConverter em PDFimage_printPreparar para impressão