115- Interpretação do Livro do Gênesis

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Orlando Fedeli

Interpretação do Livro do Gênesis

 

 

  • Localização: Lisboa

 

Prezado Sr.
Que a Paz do Senhor esteja consigo.

Gostaria que me respondesse a uma dúvida que eu tive, após ter lido a resposta que deu acerca da interpretação do Génesis.

Qual a origem dos filhos da carne, ou filhos de Set, sendo que Adão e Eva deram origem a Abel e Caim e também a Set, após a morte de Abel?

O facto de Eva ter sido concebida a partir da costela de Adão implica subserviência desta ao seu esposo, e de uma forma geral, da mulher ao homem?

Uma última questão. Nos dias que hoje decorrem, quais são os sinais em que podemos confiar para confirmar a nossa proximidade junto de Deus? Num mundo que fervilha de falsos sacerdotes, profetas, fanáticos, ignorantes, idolatras, vigaristas, loucos – um mundo em que todos tentam ostentar a sua visão como sendo a única e intocável versão dos factos. Contando com a minha humilde fé no Senhor e na Sua infinita bondade, como posso precaver-me de blasfémias mascaradas em verdade?

 

——–

 

Prezada, salve Maria

Respondo com prazer suas diversas perguntas, na ordem em que foram postas por você:

1. Os filhos de Adão e Eva.
Adão e Eva tiveram muitos filhos. A Sagrada Escritura nos dá os nomes de três deles apenas porque, sendo o povo israelita de estrutura patriarcal, isto é, transmitindo-se o poder familiar do pai ao filho primogênito, ela nomeia normalmente só o primogênito de cada família. No caso de Adão e Eva a Escritura cita, em primeiro lugar, o nome do primeiro filho: Caim. Conta, depois, a razão pela qual ele perdeu o poder: o assassinato de Abel. Dá-se, então, o nome do filho que herdou o poder e a autoridade na primeira familia humana: Set. A Escritura, depois, divide os homens em dois grupos: os “filhos de Deus” — os descendentes de Set — porque foram os que se mantiveram fiéis ao culto do único Deus, e os “filhos dos homens” — os descendentes de Caim — que adoraram ídolos, isto é, demônios (Cfr. Gen. VI, 2).

2. A submissão de Eva a Adão.
Você me pergunta depois: “O facto de Eva ter sido concebida a partir da costela de Adão implica subserviência desta ao seu esposo, e de uma forma geral, da mulher ao homem?” Permita-me fazer, inicialmente, um reparo em sua frase: subserviência, não. Submissão, sim.

Explica São Tomás de Aquino, na Suma Teológica, ser conveniente que na primeira formação das coisas, a mulher fosse formada do homem. E isso por várias razões:

“Em primeiro lugar, para dar, assim, maior dignidade ao primeiro homem, o qual, sendo imagem de Deus, fosse, ele mesmo, o princípio de toda a sua espécie, como Deus é o princípio de todo o universo. (…)

“Em segundo lugar, para que o homem amasse mais a mulher e se unisse mais inseparavelmente a ela, por saber que ela foi feita dele. Por isto dizer-se no Gênesis: “Foi tomada do varão; por isto deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá a sua mulher”. Isso foi particularmente necessário na espécie humana, na qual o macho e a fêmea permanecem unidos por toda a vida. coisa que não ocorre [normalmente] entre os demais animais”.

Em terceiro lugar porque, como diz o Filósofo [Aristóteles], o homem e a mulher se unem não só pela necessidade de geração, como os demais animais, mas também com ordem à vida doméstica, na qual há outras operações próprias do marido e da mulher, e na qual o homem é o cabeça da mulher.

Era pois conveniente que a mulher fosse formada do homem, como de seu princípio”.

“Finalmente, por motivo do sacramento, já que com isto se significa que o princípio da Igreja é Cristo. Daí dizer o Apóstolo [São Paulo] : “Grande mistério é este, mas entendido de Cristo e da Igreja” (São Tomás de Aquino, Suma Teológica, I, q. 92, a. 3)

São Tomás expõe mais detidamente esse último argumento na questão seguinte da Suma:

“Foi conveniente que a mulher fosse formada do homem [de algo tirado do homem]. Primeiramente, para significar que entre ambos realizar-se uma união social.”

“A mulher não deve “dominar o homem”, conforme a frase do Apóstolo [São Paulo] (I Tim, II, 12). Por essa razão, Deus não fez a mulher de um osso da cabeça do homem. Nem tão pouco deve o homem desprezá-la, como se ela lhe estivesse submetida servilmente — [com subserviência] — , e, por isso, ela não foi feita de uma matéria retirada dos pés do homem.” (S. Tomás de Aquino, Suma Teológica, I q. 92, a. 3)

Mas foi feita de algo retirado de algo junto ao coração do homem, para significar que devem estar unidos amorosamente.

Por isso, prossegue São Tomás dizendo:
“Em segundo lugar, por razão do Sacramento [da Eucaristia]. Pois do lado de Cristo morto na cruz, brotaram os sacramentos, isto é, sangue e água, mediante os quais foi instituída a Igreja”.

Por essa razão também São Paulo nos ensinou que:
“De fato, o homem não foi feito da mulher, mas a mulher do homem. E o homem não foi criado por causa da mulher, mas sim a mulher por causa do homem. Por isso a mulher deve trazer sobre a cabeça o sinal do poder por causa dos anjos. Contudo, nem o homem existe sem a mulher, nem a mulher sem o homem, no Senhor. Porque, se a mulher foi tirada do homem, também o homem é concebido pela mulher, e todas as coisas vem de Deus” (I Cor. XI, 8-12).

Foi na Epístola aos Efésios que São Paulo nos deu a explicação mais profunda do Matrimônio, e do porquê Deus fez a mulher para o homem:
[Note, é o próprio Apóstolo, na Sagrada Escritura, nas quais todos os católicos devem crer, que ensina uma doutrina bem contrária aos erros atuais]
“As mulheres estejam sujeitas a seus maridos, como ao Senhor, porque o marido é cabeça da mulher, como Cristo é cabeça da Igreja, seu corpo, do qual Ele é o Salvador.. Ora, assim como a Igreja está sujeita a Cristo, assim o estejam também as mulheres a seus maridos em tudo. Maridos, amai as vossas mulheres, como também Cristo amou a Igreja e por ela se entregou a si mesmo (…)” (Ef. V, 22-25).

Saliento mais uma vez que esta doutrina é de São Paulo — não fomos nós que a inventamos — e ninguém no mundo pode mudá-la!

Porque, assim como Adão e Eva tiveram filhos segundo a carne, assim também Cristo e a Igreja geram os filhos de Deus.

Desse modo, o marido, no Matrimônio, representa Cristo, e a mulher representa a Igreja. Assim como a Igreja obedece a Cristo, assim a mulher ao homem. Mas, assim como Cristo não humilha nem rebaixa a Igreja, assim o homem não deve nem desprezar, nem humilhar, nem maltratar a mulher. Mas deve amá-la como algo que lhe está bem unido ao coração, pois a mulher foi formada por uma matéria retirada do flanco de Adão.

Deus, por sua graça, salva os homens, durante a História. Salva-os, e quer salvá-los, só por meio da Igreja, sua única Esposa. E assim como Deus não pode separar-se da Igreja, assim o homem não pode se divorciar de sua mulher. E do mesmo modo que Deus só tem uma Igreja, assim o homem só pode ter uma esposa..

É curioso ver como certos padres que defendem o falso ecumenismo — isto é, a tese de que Deus poderia ter várias religiões, ou salvar por meio de várias religiões — muitas vezes, são eles mesmos que defendem, ou que são mais tolerantes, para com o divórcio, ou para com a anulação indevida de matrimônios …

3) Que critério é seguro para ver se estamos com Deus?
Pergunta-me, enfim, você:
“Quais são os sinais em que podemos confiar para confirmar a nossa proximidade junto de Deus?”

O primeiro sinal seguro de que estamos numa posição certa é o da ortodoxia. Só a posse da verdadeira fé nos pode aproximar de Deus, porque só com a verdadeira fé, e com a graça de Deus, é que podemos cumprir todos os seus mandamentos de modo correto, e duravelmente.

Recomendo-lhe que leia o livro “Tudo por Jesus”, do Padre Faber, sacerdote inglês do século passado, que teve grande devoção a Maria Santíssima, e que nessa obra demonstra como a defesa zelosa da Fé é a marca de que alguém está no caminho correto.

Esperando te-la atendido, subscrevo-me
in Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli.

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