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1487- Unidade na Diversidade de Movimentos

Orlando Fedeli

Unidade na Diversidade de Movimentos

 

  • Localização: Lugano – Suíça

Caro Professor Orlando Fedeli,

Que Deus continue abençoando toda a obra Monfort!

Tenho lido com viva atenção as cartas que são “publicadas” no site Monfort, bem como as respostas que o senhor e seus colaboradores dão às mais variadas questões que vos chegam.

Partilho com o senhor o amor por nossa Santa e Amada Igreja Católica e tenho o mesmo desejo de defender a verdade sobre este mistério admirável do qual fazemos parte.

Sabendo que a Igreja nos vem apresentada por São Paulo como o corpo Místico de Cristo, onde existe espaço para uma diversidade de dons, ministérios, carismas, serviços… e recordando as palavras de santo Agostinho que afirmava: “No essencial a unidade, no acidental a liberdade, em tudo a caridade”.

Gostaria de perguntar:
1) a diversidade de movimentos (Focolare, Comunhão e Libertação, RCC, Neocatecumenato…) que encontramos atualmente na Igreja não poderiam ser enquadrados no âmbito da diversidade eclesial, desde que, obviamente, se conserve o “essencial católico”?;
2) A Missa de “sempre” não poderia co-existir com aquela conhecida como Missa de Paulo VI, apesar das diferenças de caráter litúrgico e teológico que existem entre ambas?

Eu faço estas duas perguntas, no sincero desejo de escutar o seu ponto de vista sobre estas duas questões tão atuais.

Sei o quanto foi importante para a Igreja a redescoberta no início do século XX de uma Eclesiologia do Corpo Místico (E. Mersch; S. Tromp; e a magistral Encíclica Mystici Corporis de Pio XII), mas creio também que a essa imagem deve ser conjugada com outras imagens eclesiológicas tais como: povo de Deus, Templo do Espírito…
Porém parece ser significativo que em 1985 o Sinodo Ordinário dos Bispos, em seu documento final, tenha afirmado que a Eclesiologia do Concílio Vaticano II pode ser resumida como uma Eclesiologia de Comunhão: uma imagem muito próxima daquela que nos vem apresentada por Santo Agostinho (ao menos é essa a opinião do então jovem Teólogo Joseph Ratzinger em sua tese de doutorado: Popolo e Casa di Dio in Agostino)… Comunhão: uma imagem que pode explicar a possível existência de diversos graus de comunhão ao interno da nossa Igreja Católica… a questão então seria um pouco mais complexa do simples: está ou não em comunhão conosco, mas, para sermos coerentes com essa visão eclesiológica, poderíamos e deveríamos perguntar: qual o grau de comunhão que aquela pessoa tem conosco (com Cristo, com a Igreja…)?

Pelo amor que tenho a nossa tradição católica, tenho dificuldade de acreditar que o Concílio Vaticano II tenha sido uma grande infelicidade, sei perfeitamente que deste Concílio colhemos frutos bons e também frutos amargos (o senhor sabe melhor do que eu que a Igreja já viveu períodos pós-conciliares muito difíceis e que sempre conseguiu sair vitoriosa) , mas creio também que o Espírito de Deus continua a assistir a sua Igreja no cumprimento de sua sacra missão.

Espero que o senhor possa responder esta minha carta que quer ser um sinal de comunhão com cada um daqueles que fazem parte da Obra Monfort.

Me despeço cordialmente.

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Muito prezado e reverendo Padre,
Salve Maria.

Com alegria recebi e respondo à sua missiva. Deixe-me, porém, inicialmente, desejar-lhe um ano de 2007 cheio de graças de Deus, e pedir-lhe que me escreva sempre que desejar ou precisar.
Os chamados movimentos da nova evangelização, surgidos depois do Concílio Vaticano II, fizeram uma grande mal à Igreja, matando as vocações e arruinando às Ordens religiosas, que esses movimentos procuraram substituir com a sua nova mentalidade festiva Conciliar.
Esses Movimentos todos procuram promover o laicato, atribuindo-lhe funções, muitas vezes, próprias do clero ou de religiosos. Eles visam substituir-se ao clero secular e regular.
Além disso estão embebidos de erros profundos. Os Foccolari, por exemplo, trabalham por uma fraternidade universal e religiosa ecumênica, humanitária, antropocêntrica, com um espírito de tolerância próprio das sociedades secretas. Não é então de estranhar que Chiara Lubich tenha recebido o Prêmio Templeston da Maçonaria.
Comunhão e Libertação — que nome mais estranho! — de Mosenhor Giussani, está encharcado de espírito gnóstico e modernista. Basta atentar para a misteriosa “presença” da qual Monsenhor Giussani fala, fala, fala, e dela não explica nada nunca, para se perceber que ele está falando da Shekhinah, isto é, de uma presença imanente da Divindade em todas as coisas. E isso é cabalismo. É Gnose.
A RCC é protestantismo pentecostal infiltrado na Igreja pelo Cardeal Suenens de triste, modernista e esotérica memória, um dos piores conspiradores que fez triunfar os erros modernistas do Concílio Vaticano II.
O Neo catecumenato é um movimento semi secreto. Poucos tem acesso às apostilas de Kiko e Carmen. Li algumas delas que estão repeletas de erros gravíssimos conta a Fé. Escrevi contra esses erros no site Montfort*. Agora, o Vaticano tomou algumas medidas contra as estranhas práticas liturgico-sabáticas do neo catecumenato que cheiram a judaizantes. E os Neo Catecumenais estão custando a obedecer. E se obedecerem, será provavelmente da boca para fora, pois sempre tiveram cerimônias reservadas (secretas) e se o Papa os obrigar a mudar, tornar-se-ão ainda mais secretas.
De modo que, Padre, esses movimentos não têm diversidade de carismas. Eles têm diversos graus e formas de heresia gnóstica. Eles não guardam o que é essencial para ser católico: a Fé íntegra.
A Fé, o senhor o sabe muito bem, padre, a Fé ou é íntegra, ou não existe.
Quem nega uma só verdade revelada por Deus e confirmada pela Igreja, está chamando Deus de mentiroso. E se Deus mentiu uma vez, Ele não é Deus.
A Missa de sempre – agora os modernistas franceses o confessam — tem uma Teologia oposta à Teologia da Missa de Paulo VI.
Uma –a Missa de sempre, é teocêntrica. A Missa nova de Paulo VI é antropocêntrica, como o Concílio Vaticano II.
A Missa de sempre, é a renovação do sacrifício de Cristo, no Calvário, como o Papa João Paulo II o repetiu nove vezes na Ecclesia de Eucharistia.
A Missa nova exclui a noção de sacrifício. Ela comemora a salvação universal. Por isso é ceia, é banquete. Comemora uma festa, como dizia Lutero. Com pandeiro, bateria, guitarras, cuíca e reco-reco. Com moçoilas que em vez de cantar em cafés dançantes, cantam na igreja, profanando-a. Com a permissão e aplauso dos padres, infelizmente.
O Site Montfort* publicou as declarações de Padres e leigos modernistas confessando isto: a oposição entre as duas Missas não é de língua. A oposição é teológica. Por isso, Paulo VI, recusou permitir a Missa de sempre:

“Isso jamais! (…) Mas essa missa dita de São Pio V, como se a vê em Ecône, se torna o símbolo da condenação do Concílio. Ora, jamais aceitaremos, em nenhuma circunstância, que se condene o Concílio por meio de um símbolo”..
(Jean Guitton, Paulo VI Secreto, editora San Paolo, Milano, 4 a edição, 2.002, versão integral do francês aos cuidados de David M. Turoldo e Francesco M. Geremia, pp. 143-144-145 – Título original Paul VI Secret, Desclée de Brouwer, Paris).

Quanto à fórmula: “Igreja povo de Deus”, o Cardeal Ratzinger a criticou muito em um de seus livros.
Não há vários graus de comunhão. A comunhão na Igreja se faz pela Fé. Qualquer falha grave contra a Fé exclui da Igreja e da comunhão.
O Vaticano II só trouxe auto demolição, revoltas, divisões, profanações e apostasias, como nunca houve na Igreja e no clero. O Vaticano II permitiu que a fumaça de satanás entrasse no templo de Deus. Foi Paulo VI quem confessou isto.
Onde estão os colégios católicos? Onde estão os conventos e as vocações? Onde estão os seminários repletos?
Onde estão as profanações. ?
Acabo de receber um livreco de um padre modernista — Padre José Bedin . O livreco se intitula Creio. É da editora O Recado São Paulo,1996.
Esse livreco, se não fosse trágico, pelas heresias que promove, seria ridículo pela ignorância do autor e por sua absoluta incompetência. Uma vergonha!
Há ignorâncias ovantes…

Transcrevo-lhe trechos dessa obra prima de heresias quadrupedal, mas sem cabeça. Tal como a famosa mula:

I -Sobre Deus:

“O materialista NIETZSCHE afirmou:´Deus está morto`: nós o matamos…”. Sim, o Deus de Platão e de Aristóteles, o Deus das discussões teóricas, o Velho Barbudo que vive em “outro andar”, o Deus de Belém, o Deus “pomba”… está totalmente MORTO.
E convém que seja esquecido” (Padre José Bedin, Creio, editora O Recado São Paulo,1996, p. 7).

Essa loucura, essa blasfêmia contra o “Deus de Belém”, contra Cristo, está impressa e assinada. E esse livro é usado para a catequese em paróquais de São Paulo. E O cardeal de São Paulo nada fez contra essa obra e contra esse padre.
Agora dois trechos do mesmo livro sobre a Igreja:

“É bom lembrar que a Igreja de Cristo não é constituída só de CATÓLICOS, bons ou maus, trigo ou joio, amigos ou inimigos. Deus tem gente que não é da Igreja, a Igreja tem gente que não é de Deus”. A salvação é oferecida a todos os homens” (Padre José Bedin, Creio, Editora O Recado São Paulo,1996, p. 31).
“No Vaticano II, a igreja começa a ser vista de baixo para cima; em primeiro lugar a BASE, formada pelo POVO DE DEUS, em segundo lugar, a HIERARQUIA, a qual — mesmo indispensável — é formada de “Ministérios a serviço” do Povo de Deus” (Padre José Bedin, Creio, editora O Recado São Paulo,1996, p. 34).

O que diz esse pobre sacerdote é incrível pela ignorância filosófica e teológica, e até pela ignorância de catecismo. O que ele escreve é de estarrecer pela infantilidade com nivel abaixo do primário. Escreverei um artigo contra ele.
Se não fosse o Concílio Vaticano II, padres como esse, como o padre Marcelo Rossi, Padre Jonas Abib, Padre Juarez, Padre Zezinho, e etc, etc não existiriam. Tudo isso veio por causa do Vaticano II. Pelos efeitos trágicos se compreende o mal da causa. E dei só exemplos nacionais…
Padre, não há conciliação entre a verdade e a heresia, entre a verdade e o erro, entre o bem e o mal. O Vaticano II teve erros que trouxeram uma catástrofe para a Igreja e para o mundo.
Coloco-me à sua disposião para trocarmos mensagens. E, se o senhor vier ao Brasil, gostaria de recebê-lo em minha casa para conversarmos. Peço-lhe suas orações.

In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli

 

*O professor Orlando Fedeli foi presidente da Associação cultural Montfort de 1983 a 2010.