Orlando Fedeli
Santíssima Trindade
- Localização: Juiz de Fora – MG,
Prezados senhores:
Fui criado dentro da religião católica, sempre frequentando as missas, acreditando nos dogmas da Igreja. Mas atualmente não a frequento, pois depois de várias reflexões, não consigo aceitar esses dogmas que simplesmente acho absurdos, sem a menor lógica. Como no momento em escrevo essa carta, não disponho muito de tempo, só para citar um exemplo, menciono o dogma da Santíssima Trindade, que é considerado pela Igreja como um dos mais importantes.
Não consigo entender nem aceitar, atualmente, esse ensinamento e não consigo entender também como possa existirem pessoas que aceitem essa crença. Eu pergunto: Como Deus pode ser ao mesmo tempo, um e ao mesmo tempo, ser três pessoas distintas, em que cada uma dessas pessoas não é a outra, e no entanto é um Deus somente? Ora, eu entendo “pessoas” como sendo sinônimo de “indivíduos”, de seres”; então pelo raciocínio lógico, teriam que ser três deuses e não apenas um como é ensinado. Para mim, é um dogma que não possui nenhuma consistência, nem lógica. Mesmo porque , que quando se ouve alguém, mesmo sendo um católico, se referindo a Deus, ninguém pensa que essa pessoa está se referindo ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo em conjunto , mas lembra somente do Pai, de modo que essa crença contradiz a unidade de Deus e confunde as pessoas mais simples e ignorantes.
Além do mais, Jesus, nunca afirmou nos evangelhos, ser Deus; alguns daqueles judeus de seu tempo é que talvez o tenham interpretado mal nesse sentido. Nem os seus apóstolos nunca o trataram como tal. Mas o viam como o Cristo, o ungido de Deus, o Messias, como um enviado de Deus; ë verdade que Tomé o chamou de Deus, mas ai, das duas, uma: ou Tomé estava equivocado ou Tomé chamou-o de Deus em um sentido relativo e não absoluto, ou seja, como um deus, como alguém poderoso, pois naquela época, entre os gentios, que conviviam próximos dos judeus, era comum a crença em vários deuses e ver como deuses pessoas que se destacavam do vulgo, ou seja, pessoas fora do comum. E como o Espírito Santo, pode ser Deus, se o Novo Testamento se refere a Ele como alguém que é enviado por Jesus ou por Deus? Se Ele é enviado e falaria não dele próprio, mas conforme o que Ele ouvisse
falar, como pode ser Deus? Se é enviado é porque ele é inferior a quem envia. Por essas e outras, é que essa doutrina não tem a menor consistência, como ja havia dito.
Atenciosamente
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Muito prezado,
Salve Maria!
A inteligência humana é limitada. As verdades que Deus revelou sobre si mesmo e que estão acima de nossa capacidade intelectiva se chamam mistérios. Dois são os principais mistérios de nossa fé, que Deus mesmo nos revelou:
1 – Unidade e Trindade de Deus.
2 – Encarnação, Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Você erra totalmente ao dizer que Jesus jamais se disse Deus pois Ele afirmou:
“Eu e o pai somos um” ( Jo.X, 30). “O Pai está em mim e eu no Pai” (Jo. X, 38).
“Quem me vê, vê também o Pai.(…) Não credes que eu estou no Pai e o Pai está em mim?” (Jo. XIV,15-16)
“Para que saibais e reconheçais que o Pai está em mim e eu estou no Pai” (Jo X, 38).
“Eu estou no Pai e o pai está em mim” (Jo. XIV, 11).
“Antes que Abraão fosse feito, Eu sou” (Jo.VIII, 58).
E Jesus mandou batizar a todos em nome (singular) do Pai e do Filho, e do Espírito Santo”.
Deus não pode mentir. Se Deus revelou que em Deus há o Pai, o Filho e o Espírito Santo, nisso devemos crer, embora não compreendamos o mistério da Trindade de Pessoas na unidade da substância.
Se não compreendemos o mistério da Trindade, não é porque ele é contra mas, acima da razão.
No fogo há luz e calor, e essas três coisas são inseparáveis na unidade do fogo. Não é possível separar o fogo da luz e do calor. A luz permite que vejamos as coisas, e por isso a luz é símbolo da verdade que permite que conheçamos as coisas abstratamente pela verdade. Daí que digamos ao compreender algo: “agora está claro”; Porque a verdade esclarece. A verdade é luz intelectual. E o calor do fogo é símbolo do amor, enquanto a frieza é símbolo da falta de amizade.
Assim como no fogo há fogo, luz e calor, assim em Deus há o Pai, o Filho que é a luz de Deus, a Verdade, e o Espírito Santo, que é o Amor de Deus.
Lúcifer conheceu a luz de Deus, mas não a amou. Ele separou a luz da Verdade e do Amor (calor). Por isso , Lúcifer é punido eternamente no inferno com o calor do fogo, mas sem a luz, já que ele separou o calor da luz.
Numa comparação grosseira, podemos dizer que também num triângulo equilátero cada um dos três ângulos abrange o triângulo todo, e eles não são três triângulos, mas um só triângulo, com três ângulos. E quando você diz: ” Isto é um copo” você afirma que ele é um, que é copo, e que tem uma finalidade boa. O Um como símbolo do Pai. É Copo como símbolo do Filho, forma da Trindade. E que tem um fim bom, símbolo da Bondade de Deus, o Espírito Santo, Amor de Deus.
Até Platão, que era um pagão, percebeu que “o três é um, e o um é três”, como ele afirma no diálogo República.
Nesse diálogo espetacular, Platão, descrevendo o homem justo diz que o homem justo tem três virtudes fundamentais: a Temperança, a Fortaleza e a Prudência. E quando os discípulos lhe perguntam, onde estaria a Justiça, eles lhes responde: não compreendeis que o homem que tem Temperança, Fortaleza e Prudência esse tem necessariamente a Justiça ? Porque essas três virtudes formam a Justiça, e o três é um e o um é três”.
Meu caro, Paulo Roberto não pretenda entender tudo, porque há muita coisa que nenhum homem entende, mas que Deus conhece. E se Ele nos revela uma verdade que está acima de nosso entendimento, devemos aceitá-la com humildade e não colocar orgulhosamente nossa inteligência acima de tudo, porque nossa inteligência é bem pequena, e Deus é infinitamente sábio e verdadeiro.
Sobre o mistério da Santíssima Trindade, peço-lhe que você leia o trabalho Processões em Deus. Esse trabalho lhe permitirá compreender que Unidade e Trindade de Deus não são contra a razão, embora permaneçam um mistério para nós.
E reze muito pedindo a Deus, por meio da Virgem Maria, a graça da Fé assim como a virtude da humildade.
In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli