652- Pe. Jonas Abib e Concílio de Trento: Constatação de Divergências

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Orlando Fedeli

Pe. Jonas Abib e Concílio de Trento: Constatação de Divergências

 

  • Localização: Lorena – SP

 

Caro Professor ! lendo suas respostas à irmã, pude observar, o estado de dúvidas da citada irmã em questões fundamentais da fé católica…o que não poderia estar acontecendo ! … afinal ela demonstra não estar bem embasada na doutrina da Igreja ! por outro lado, estranhei muito, suas considerações a respeito da Canção Nova e do Pe Jonas, a quem conheço bem e os tenho acompanhado, pelo rádio, pela TV e ao vivo, pois moro bem próximo ! o senhor depreciou o livro do Pe Jonas, como “livreco”! e ainda, questionou os textos do livro, com relação à teologia dos Dons do Espírito Santo” enfocado pelo Padre Jonas. Eu acho que a nós leigos, não desmerecendo sua posição de professor e a mim, que sou jornalista mas católico que procura estar a par da nossa doutrina, não nos cabe opinar a tal nivel essas questões ! sómente a Igreja tem essa autoridade e tão sómente à Ela cabe dirimir dúvidas ! me desculpe, mas o senhor não tem essa autoridade, em detrimento de coordenar de público, seu ótimo site ! porque o senhor não orientou a citada irmã, (não me lembro o nome), para que escrevesse diretamente ao Pe Jonas ? ou à Canção Nova ? me admiro muito, o fato de a citada irmã, não externar suas dúvidas (como consagrada), à Igreja ! ou seja, ao invés de publicá-las em um site, mesmo católico, não o tivesse feito por meios legais, discretos e como se diz no ditado popular, “roupa suja se lava em casa”, dirigindo-as diretamente à Canção Nova aos cuidados do Pe Jonas ??? achei esse procedimento, tanto da irmã como seu, caro Professor, de um profundo desrespeito à hierarquia da Igreja ! isso só colabora para a divisão da Igreja em detrimento da sua unidade ! tenho acompanhado muito as atividades da RCC, que é apenas um movimento leigo dentro da Igreja ! note bem, eu disse leigo…o que já provocou até um documento da CNBB, de cujo teor é eminentemente de orientação mas não vejo distorções teológicas, por parte do Pe Jonas, nos seus trabalhos à frente da Canção Nova ! muito pelo contrário…essa obra já ultrapassou as fronteiras do Brasil ! então há que se respeitar e considerar o Pe Jonas bem como sua equipe, pois a Canção Nova goza de muito prestigio até por vários Bispos do Brasil que são os arautos da Igreja ! o próprio Papa João Paulo, tem pela Canção Nova e Pe Jonas, um extremado carinho e docilidade ! então , mais uma vez, caro professor, em que pese suas capacidades intelectuais e conhecimento teológico acendrado, quero expressar de público, minha “surpresa” ao ler as dúvidas da “irmã”, bem como suas considerações sobre o “livreco” do Pe Jonas, da RCC e da Canção Nova ! paz de Jesus para o Senhor !

 

————————–

 

Prezado, professor

Salve Maria.

Encontrar seu nome, em meu computador, foi uma boa surpresa. A menos que esteja incorrendo, de novo, num equívoco de homonímia.

Conheci, há trinta anos, um Professor, que era de Lorena também, como você.

Seria muita coincidência de nomes, e de cidade, gerando um novo equívoco, que você não fosse parente dele. Se for seu parente — suponho que ele seja seu pai, ou seu tio — pergunto-lhe como ele está. Se for o caso, mande-lhe meus cumprimentos e um abraço saudoso, pelas lutas que mantivemos juntos contra os professores marxistas, num Colégio na Moóca. Caso, de fato, você seja parente dele, dê também para as filhas dele, que foram minhas alunas, um cumprimento especial do Professor de História.

Passo, agora, a responder a sua objeção.

Como você se permitiu discordar de mim, apesar de ser nosso primeiro contato, permita-me discordar de você no que você afirma: “não nos cabe opinar a tal nivel essas questões ! sómente a Igreja tem essa autoridade e tão sómente à Ela cabe dirimir dúvidas ! me desculpe, mas o senhor não tem essa autoridade, em detrimento de coordenar de público, !”

Você está completamente enganado. Cabe, sim senhor. E é até obrigação.

Todo fiel tem a obrigação de denunciar algum erro contra a Fé, vindo esse erro de quem quer que seja. O próprio São Paulo nos advertiu dessa obrigação ao escrever aos Gálatas:

“Ainda que nós mesmos, ou um anjo do céu vos anuncie um evangelho diferente daquele que vos temos anunciado, seja anátema.”(Gal. I, 8).

Ora, o Padre Jonas Abib é menos que um anjo do céu. Somente a Igreja tem o direito de condenar oficialmente um erro. Eu, como simples leigo, apenas constatei que ele escreveu e defendeu uma doutrina contrária ao que ensinou o Concilio de Trento.

Não emiti um juízo meu. Repeti o que ensina o Concílio de Trento, que é ensinamento oficial e infalível da Igreja, mostrando que o que diz Padre Jonas Abib contraria a doutrina oficial e obrigatória da Igreja.

Não sou eu, pois — um simples leigo – que condena as teses de Padre Jonas: é o Conclio de Trento, com anátemas.

É curioso que você não tenha se preocupado em dizer nada sobre o argumento doutrinário. Fica parecendo que você dá mais importância a Padre Jonas Abib que ao Concílio de Trento. O que seria bem lamentável e também condenável. Afinal, um Concílio infalível é mais importante que a amizade e o apego que podemos ter por um sacerdote, ainda que ele seja de Lorena.

Aliás, o princípio que você coloca, e que citei acima em itálico, o impediria também de me criticar: “não nos cabe opinar a tal nivel essas questões”. O que é um absurdo.

Você me escreve:

“Achei esse procedimento, tanto da irmã como seu, caro Professor, de um profundo desrespeito à hierarquia da Igreja !”

Se você estivesse certo, São Paulo teria dado um mau e falso ensinamento, quando mandou que se denunciasse o lobo e se o anatematizasse, caso quem quer que fosse ensinasse um erro contra o Evangelho.

Eu não tenho autoridade nenhuma para condenar nada e ninguém. Nem para coordenar publica ou particularmente questões de religião. Nisso concordo com você. E não tenho nenhuma pretensão de coordenar nada, muito menos a religião. Você me atribui uma pretensão que não tenho e que recuso.

Mas isso não me exime do dever de pensar e de, constatando — como constatei e provei — que num livro, seja ele de quem for, há um erro contra a fé, sou obrigado em consciência a denunciar o erro, cabendo às autoridades da Igreja tomarem providências oficiais, se julgarem conveniente, quando julgarem conveniente..

Se não há direito de dizer o contrário do que diz o padre Abib Jonas, muito menos teria ele direito de dizer o contrário do que ensinou infalivelmente o Concílio de Trento, sob pena de excomunhão.

Repito: você parece colocar Padre Jonas Abib acima do Concílio de Trento, parece considerar mais criticável meu comportamento num site do que um Padre escrever frases contra a Fé ensinada por Trento.

Isso , me parece, é levar a amizade pessoal e o sentimento de cidadão loreno muito além dos limites do razoável.

Quanto a fazê-lo de público, também é correto, pois os livros do Padre Jonas Abib foram publicados, e são lidos por um grande público.

Meu caro, sua tese contraria toda a História da Igreja. Em todos os séculos houve polêmicas entre leigos e padres, leigos e bispos, entre Bispos e Bispos etc.

Ainda agora, há poucos meses, houve Cardeais e Bispos que se rebelaram contra a Declaração Dominus Jesus, aprovada pelo próprio Papa, e você me critica porque ousei discordar de um Padre – e de um Padre de Lorena! — só porque é seu conhecido? Você não fique perturbado pelo fato de que critiquei um Padre de Lorena. A honra e a paz de Lorena não está acima da unidade da Fé..

Seu posicionamento parece-me um tanto ingênuo e romântico: sendo um padre o autor de um livro, dever-se-ia abolir qualquer julgamento e crítica sobre ele.

Se um padre cometer um crime, ele deve ser denunciado por qualquer um. Acobertá-lo é que seria cooperar com o crime.

O erro contra a fé –sempre com efeitos piores do que os atos contra o corpo — também deve ser denunciado.

Dizia-lhe que há divisões públicas, hoje, e mesmo entre os Bispos. Ainda por ocasião da última reunião da CNBB, Dom Castanho, Bispo de Jundiai, afirmou que a CNBB é dominada por uma minoria de Bispos de pensamento influenciado pelo marxismo. E isso foi exposto ao público. Ainda agora, meu rádio está ligado num noticiário, e lá se informa que 25 Bispos brasileiros – junto com os inevitáveis pastores protestantes — acusaram os USA de, atacando o Afganistão, estarem praticando ato terrorista igual ao de Bin Laden, ao atacar o World Trade Center.

Ora, o porta voz do Vaticano, Monsenhor Navarro Valls, um leigo, há poucos dias, declarou publicamente, em nota oficial, que o Papa João Paulo II não é pacifista, e que uma nação atacada tem direito de usar de violência proporcionada, para se defender. O que é um princípio de lei natural. Os 25 Bispos publicamente se separaram do que afirmou oficialmente o porta voz do vaticano…Então, em meio a tantas divisões lamentáveis, por que você me condena como causador de divisão por criticar um erro contra a fé, encontrado num livreco de Padre Jonas?

Repito: quem divide é quem escreve um erro, e não quem defende a doutrina de um Concílio infalível que todos os católicos devem aceitar. Mesmo os que são de Lorena. Mesmo você.

Você , meu caro, aceita o que afirmou dogmaticamente o que ensinou o Concílio de Trento, não é? Aceita?

Ou você rejeita o que ensinou dogmaticamente a doutrina de Trento, para ficar com seu conhecido Padre Jonas Abib, só porque é um padre seu amigo e de Lorena?

Se você aceita Trento, estão estamos unidos. Se não aceita, estamos separados na Fé, o que lamento muito.

O princípio que você coloca, de que o leigo não deve opinar em matéria de Fé , nem tomar posição pública, me lembra — de algum modo — o erro dos cornificianos, para os quais os católicos não deveriam estudar. Sua idéia de que o leigo não deve opinar, nem dizer nada em casos de doutrina, reduz o laicato ao direito de fazer “Béeé”, como ovelhinhas estúpidas, ou a balançar a cabeça como vaquinhas de presépio. Isso não está de acordo com a doutrina católica, meu caro, e nem com a famosa “dignidade humana” de que tanto se fala .

Quanto à sua sugestão de mandar a Irmã Luana consultar o Próprio Padre Jonas Abib, ela seria absolutamente inútil, pois o que estava em dúvida, para a Irmã, era a credibilidade do Padre Jonas Abib; se o que dizia Padre Jonas estava certo ou errado. Consultar a ele mesmo era inútil, pois é claro que ele ia confirmar o que escrevera em seus livros. Ou você acha que a “roupa suja” — a expressão é sua, não é minha –publicada por Padre Jonas não é conhecida pelo público? O mal está em que muitos acham que essa roupa está limpa, quando está suja por erros contra a fé, como demonstrei.

E denunciar um erro só colabora para estabelecer e fortalecer a unidade, pois é o erro que divide. A verdade, meu caro, une e unifica. É por isso que os Papas sempre condenaram oficialmente os erros. Combater a doença, meu caro, é que traz a saúde.

O fato de a Canção Nova estar soando — desafinadamente — até fora do Brasil, não prova que ela seja boa. A seita de Edir Macedo também se espalhou pelo mundo, como também a seita Moon, e a TFP idem, e nem por isso são boas.

E, para finalizar, explico-lhe, com a atenção que teria pelo filho de um ex companheiro de trabalho, que o livro do Padre Jonas “A Bíblia foi escrita para você” é um livreco mesmo, e por três razões:

1) Materialmente, pela quantidade de página: é um opúsculo de 29 páginas, em formato pequeno;

2) Pelo conteúdo, que está abaixo do nível intelectual exigido de um sacerdote formado em teologia e filosofia;

3) Pela doutrina nada ortodoxa que nele é divulgada publicamente.

Aliás, não sou só eu que constato a, digamos, pobreza intelectual de Padre Jonas. Recebi uma mensagem de outra pessoa que conhece pessoalmente o padre Jonas, há muitos anos, que o consultou várias vezes, e que me confirmou que ele tem conhecimentos muito limitados…

Não posso deixar de agradecer seu elogio ao site Montfort* e a mim, e espero receber novas cartas suas, pelo menos noticiando sobre seu parentesco, e quiçá dando-me notícias de meu velho companheiro de lutas, professor, que espero ainda esteja vivo e gozando de boa saúde, na graça de Deus, em Lorena.

In Corde Jesu, semper, Orlando Fedeli.

 

*O professor Orlando Fedeli foi presidente da Associação cultural Montfort de 1983 a 2010.

 

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