746- Carta a um Cardeal que gosta de Rock

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Orlando Fedeli

Carta a um Cardeal que gosta de Rock

 

  • Localização: Portugal

 

Pois acabei agora de ler a carta enviada “Igreja debate: Missa Rock ou Cantos Sacros?”:

“Melhor tambores no altar e missas rock do que igrejas vazias. Cada povo e cada geração entram no rito litúrgico com a própria história e sensibilidade” _ acrescentou, em entrevista ao mesmo jornal, “La Stampa”.

Para o Cardeal Furno, aspectos singulares e não conformes à tradição enriquecem a missa, a liturgia se estrutura e respira de acordo com a linguagem e o estilo popular: “É um modo autêntico de conjugar a expressão do sacro, e acontece em todos os lugares do mundo” _ recorda, defendendo que o fato de uma comunidade expressar aquilo em que acredita nas formas mais próximas à sua sensibilidade é um sinal de vitalidade da fé. (CM)”

O bispo da minha diocese, aqui em Portugal, juntamente com outros padres, no meu entender, têm abusado das “sensibilidades” para justificar tudo e não darem resposta a nada.

Gostaria que me informassem se essa expressão “sensibilidades” tem algum apoio documental. É que me parece absurdo, depois de ter lido algumas obras sobre simbologia ou entendimento humano, pensar em sensibilidade como se a natureza humana fosse diferente em todos. A sensibilidade é um dom de Deus e a música sacra não é “epidérmica” mas radica no mais profundo da natureza humana onde se experimenta o divino.

Um cego é insensível visualmente. Mas penso que quando se fala em sensibilidades parte-se do princípio da sua existência. Ela deve ser vista em grau e não em géneros. É auditiva e não tem cheiro ou tacto. Tão pouco é se limita a gostos mas sim por “eficiência” comunicativa. Cristo não teria gosto no sofrimento. Contudo tudo aquilo que passou faz sentido, um sentido que justifica gostar da sua missão. A música sacra não é uma questão de gosto mas tem gosto quanto mais a entendermos. Ela educa o espírito, dirige e abre portas ao espírito. Mas o senhor cardial prefere retirar este valor em nome das culturas locais sabendo que teve de estudar para chegar a cardial.

Eu não era tão sensível musicalmente como sou hoje. Eu cresci e graças a Deus tive uma formação média que me permitiu ir evoluindo. Contudo reparei que as crianças conseguem ser sensíveis de forma extraordinária ao canto gregoriano. Essas crianças que eu ensinei aprenderam noções de música onde o canto gregoriano as mantinha calmas e concentradas. Comprovei que aprendiam música mais rapidamente pelas melodias gregorianas que as restantes melodias infantis. Foram elas que me pediram que preferiam cantar em latim que em português. Eu expliquei a tradução para elas e elas sentiam-se muito especiais.

Estas crianças que cultura tinha de gregoriano senhor cardial? Nunca tinham ouvido tal coisa. Mas agora que li as palavras do senhor cardial que deveria eu fazer no futuro? Ensinar-lhes rock e ensinar outro tipo qualquer de música daqui a 3 anos quando a moda for outra? Ou pedir que nunca mais voltassem a cantar o que aprenderam? O problema é que estas crianças na igreja têm uma senhora ignorante que lhes ensina músicas tolas para cantarem na missa. Estas crianças pediram para catar estas melodias gregorianas que lhes tinha ensinado e a senhora negou esses “diabólicos” cântico. Senhor cardial ajude-me!!!!!!!

Não é verdade que Deus fala no silêncio? Isso não é sensibilidade? Isso não é cultivável? Ou o senhor cardeal pensa que a oração não se cultiva e abre a sensibilidade tal como a sensibilidade ajuda na oração?

O senhor cardial pensa que o “belo” é estética, como um jogo lindo de formas, em vez de ultrapassar esse “pobre” olhar e saltar para o nível da arte?! É como ser humanista e não transcender nunca para o plano divino.
Perguntava ao senhor cardial se não acha que os apóstolos deveriam ter pensado em não evangelizar quem oferecia alguma resistência visto que esses, provavelmente, teriam “sensibilidades” diferentes. Hoje o senhor cardial poderia até pensar que todas as seitas e todos os gnósticos e agnósticos têm sensibilidades diferentes.

Como pode pensar um alto membro do clero em “sensibilidades” diferentes por não ter sensibilidade? Amar a Deus como “Deus” ou amar a Deus como “deus” não seria uma questão de muita ou pouca sensibilidade?
Na Igreja a Sensibilidade é uma em graus diferentes consoante a caminhada de cada um. A ideia de “sensibilidades” escraviza o homem ao relativismo. Todos somos sensíveis a Deus em graus diferentes e a musica sacra é SACRA senhor cardial. SACRA….. e sabe porquê? O senhor cardial saberá definir “música sacra”? Se não sabe não fale e se falou como falou tem uma resposta para dar sabendo que é o Magistério que a denomina de SACRA.

O senhor cardial prefere tambores que a igreja vazia? Que adianta ter uma casa cheia de pessoas vazias e acreditar que a santidade de um tem menos eficácia que a humanidade de todos? Parece que a missa é mágica e transforma por artes estranhas?! Isto deixa-me muito triste.
Gostava que me explicassem de onde vem esta mania das “sensibilidades”, por favor.

 

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Muito prezado,
Salve Maria.

Lamentavelmente Dom Furno gosta de rock. Um Cardeal pode ter mau gosto. O que um Cardeal não pode ter é o desejo de meter o rock na Missa.
Mais importante que a opinião do Cardeal Furno — e de seu mau gosto — é o que afirmou o Cardeal Ratzinger, dizendo que o Rock na Missa é um “contra culto”.
Pois escreveu o Cardeal Ratzinger, sobre o Rock:

“Com relação a isso, música “rock” é expressão de paixões elementares, que nas grandes reuniões de música rock tem assumido caracteres cultuais, isto é, de um contra culto que se opõe ao culto cristão. Ele quer libertar o homem de si mesmo no acontecimento de massa e no “sconvolgimento” na inversão, [em italiano,quer dizer também deturpação] mediante o ritmo, o rumor, e os efeitos luminosos, fazendo precipitar quem nele participa no poder primitivo do Todo, mediante o êxtase da dilaceração dos próprios limites” (Cardeal Joseph Ratzinger, Introduzione allo Spirito della liturgia, San Paolo, Milano, 2.001, p. 144″).

E o Cardeal Ratzinger condena o rock não só na Missa, mas também como falsa arte. Disse ele numa entrevista:

–“O Cardeal Joseph Ratzinger formulou sérios reparos ao rock. A respeito dele, lhe perguntamos se suas objeções se referem ao rock como expressão musical em sí misma ou ao eventual uso do rock no interior de um templo ou casa de oração.
— “Naturalmente —respondeu— eu me oponho sobretudo à utilização do rock na liturgia, porém, ademais disso, o rock tem uma estructura antropológica que coloca em perigo a verdadera antropología e a maturidade espiritual do homem, porque está destinado a assimilar o homem ao entusiasmo da massa e a fazê-lo esquecer-se de sua responsabilidade moral, incorporando-o a um êxtase coletivo. Em vez de levá-lo a aprofundar a capacidade humana da vontade, o rock o transforma em um ser incapaz de ser dono de si mesmo e o faz parte de uma massa. Todo ello apoya los elementos inferiores del hombre, contrarios a la integrar o cuerpo, o espírito e a vontade.” (Cardeal Ratzinger, Entrevista a Rosario Guzmán Errázuriz, La Segunda, 15 de julho de 1988, http://www.lasegunda.com/ediciononline/especiales/benedicto/entrevista/index.asp).

Com muita propriedade e muito corretamente você me diz:

“A música sacra não é uma questão de gosto mas tem gosto quanto mais a entendermos”.

Muito bem! Muito bem observado.
Você tem toda a razão ao dizer que a natureza humana é uma só, e o que caracteriza o ser humano é a racionalidade e não a sensibilidade. Os animais também tem sensibilidade. Mas, a sensibilidade humana deve estar submetida à racionalidade. Devo alertá-lo — me permita fazê-lo com caridade — que o homem não “experimenta o divino”.
É pela Fé, virtude intelectual e não da sensibilidade, que nos unimos a Deus.
E as sensibilidades são pssoais, subjetivas, enquanto só a verdade é objetiva. Só a verdade une os homens e não os sentimentos.
Que bom saber que você ensina gregoriano a crianças! Continua a fazer isso apesar das “gerentes” de igreja que chamam o gregoriano de diabólico e que — como o Cardeal Furno — têm compreensão e simpatia para com o “angélico” rock (“angélico” porque Lúcifer é um anjo, embora mau).
Pena que o cardeal Furno não lerá o seu excelente comentário ao absurdo que ele disse:

“O senhor cardial prefere tambores que a igreja vazia? Que adianta ter uma casa cheia de pessoas vazias e acreditar que a santidade de um tem menos eficácia que a humanidade de todos? Parece que a missa é mágica e transforma por artes estranhas?! Isto deixa-me muito triste”.

Parabéns!!!
Pena que você não seja Cardeal!
Pena que o Cardeal Furno não pense como você.
Pena que o Cardeal Furno não pense muito ao dar entrevistas.

In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli

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