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867- Kiko Repete a Doutrina Modernista de Fé que Destrói a Caridade – Parte 1

Orlando Fedeli

Kiko Repete a Doutrina Modernista de Fé que Destrói a Caridade – Parte 1

 

  • Localização: Brasil

Li sobre discussões sobre “Apostilas”, eu acho este tema não muito interessante do ponto de vista da fé católica. Pelo que eu sei existem seminários “Bancados” por varios grupos da igreja e que os movimentos tem seu estatuto. O que eu sei sobre o NC é q. eles estudam a Bíblia e que as experiências das quais dizem é da vivência do evangelho. Será que fazer críticas pelo que se leu não está errado? porque eu tendo estudado história jamais faria parte do catolicismo sem ter vivido a fé católica. Ou seja o Amor? A pergunta é porque criticar a nossa Igreja sem as provas (fatos, não apenas escritos) que há algo de errado? será que viver o amor não é mais relevante que se prender a alguns detalhes de conflito? Que o amor e a paz de Deus/Jesus estejam convosco!

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São Paulo, 13 de Abril de 2002
Muito prezado,
Salve Maria.
Você me escreve, objetando às minhas críticas ao Neocatecumenato, que os membros desse movimento “vivem o amor” e você confunde amor com fé.

A sua dúvida e sua objeção provém do fato de que você tem uma falsa noção de fé, que é, precisamente, a fé como a entende e ensina o Neocatecumenato.

A verdadeira Fé consiste numa adesão da inteligência às verdades reveladas por Deus e ensinadas pela Igreja. A Fé é uma virtude intelectual.

A Igreja ensina que sem a Fé é impossível ter caridade, isto é, amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, por amor de Deus.

Sem Fé não há caridade, porque só se pode amar aquilo que se conhece.

A Fé é como os pilares de uma casa, enquanto a caridade — aquilo que você vagamente chama de amor — seria o telhado. A finalidade dos pilares é a de sustentar o telhado. A finalidade da Fé é a caridade, isto é, o amor de Deus. E o amor de Deus não é um sentimento, mas é querer o Bem que é o próprio Deus. E querer é um ato da vontade e não da sensibilidade. O amor de Deus e do próximo não é um sentimento, repito, mas um ato da vontade.

Se não se tem Fé, não pode haver caridade, como, sem os pilares, o telhado cai.

Daí ser a Fé o que há de mais fundamental. E se a Fé consiste em crer em verdades reveladas por Deus, e sendo as verdades expressas por palavras, é de importância fundamental analisar as doutrinas ensinadas por um movimento ou por um autor.

A Religião Católica é a religião do Verbo de Deus encarnado, da Palavra de Deus encarnada em Cristo Jesus. Toda a nossa religião se fundamenta em palavras que encerram verdades.

Assim, por exemplo, os sacramentos exigem palavras: há fórmulas para o batismo, para a Consagração da Hóstia, para a Absolvição dos pecados, para o Matrimônio, etc.

A Fé é a condição necessária para se ter caridade (Amor). Por isso, todos os que caem em heresia, ou em erro grave contra a Fé, automaticamente perdem a caridade. O herege não “vive o amor” (para usar a sua expressão, a fim de fazer entender melhor por você), ainda que pronuncie sempre essa palavra tão desvirtuada e torcida em nossos dias.

Creio que lhe deixei claro, já, como são importantes as palavras, como é importante analisar os textos de alguém, para saber o que ele pensa, para conhecer a sua doutrina. E como exemplo de exame de textos tomarei o seu.

Você me escreveu: “porque eu tendo estudado história jamais faria parte do catolicismo sem ter vivido a fé católica. Ou seja o Amor?”

À luz do que expus acima, você mesmo poderá constatar seu equívoco em identificar Fé e Amor.

A Fé é uma virtude intelectual, pela adesão obsequiosa da inteligência às verdades que Deus nos revelou. A Caridade é uma virtude volitiva, da vontade, pois consiste num desejo de querer, acima de tudo, Deus, Bem absoluto, e de querer para o próximo que alcance a salvação, o Bem absoluto, e que, para isso, ele realize a sua vocação pela prática de todas as virtudes, tornando-se semelhante a Deus.

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Neocatecumenato e Segredo

O Neocatecumenato se apresenta como um movimento católico, mas oculta os seus ensinamentos e doutrinas. Nas suas famosas e bem discretas — para não dizer secretas — Apostilas, Kiko Arguelo e Carmem, os dirigentes do Neocatecumenato defendem doutrinas heréticas e, por isso mesmo, afirmam que convém mantê-las em sigilo.

Já obtive algumas das Apostilas de Kiko e Carmem, e o que nelas se lê é escandalosamente contrário à doutrina Católica.

Além disso, o texto é de muito baixo nível intelectual e doutrinário, grosseiro, e, nele se recomenda explicitamente, aos que assistem às primeiras reuniões do Neocatecumenato, que não contem tudo o que ouviram.

Veja as provas do que afirmo.

Kiko previne aos Catequistas do NC:

“Não é para falarem às pessoas tudo o que lhes direi” (Francisco Arguelo — Kiko — Apostilas, Orientações às Equipes de Catequistas para a fase de Conversão, Anotações tiradas das gravações dos encontros realizados por Kiko e Carmem, para orientarem as equipes de catequistas de Madri, em Fevereiro de 1972, Jundiaí- SP- Janeiro de 1987, 9º Dia, Catequese sobre o Sacramento da Penitência, p. 124).

E, para destacar que não estamos respigando frases isoladas de um contexto, confirmemos essa recomendação de fazer segredo sobre as catequeses e as doutrinas do Neocatecumenato com outra frase de Kiko:

“Não digam nada às pessoas de todas estas coisas: simplesmente revalorizem o valor comunitário do pecado, sua índole social, o poder da Igreja, etc.” (Kiko, Apostilas cit., 9º Dia, p. 137).

Numa outra Apostila, mais recente, de 1995, aparece um texto de Kiko no qual se fizeram cortes evidentes, indicativos de censura e segredo. (Cfr Kiko, Carmem e “Mário”, Convivência de Catequistas — 1995. Transcrição de catequese orais sem corrigir. p. 75). Sem corrigir, mas com cesuras e censuras…

No Neocatecumenato recomenda-se, pois, que não se diga tudo a todos. Há que manter certas coisas em segredo.

Por que?

Porque são doutrinas heterodoxas, que pretendem instilar, pouco a pouco, entre os católicos.

Por exemplo, uma nova noção de Fé. Uma noção modernista de Fé.

O Conceito de Fé do Neocatecumenato:
Fé, Experiência e Sentimento

O Neocatecumenato tem uma noção modernista de Fé.

Para o Modernismo, a Fé não era uma adesão da inteligência a verdades reveladas por Deus e ensinadas pela Igreja. Para o Modernismo “a Fé era um sentimento interior”, “uma experiência íntima e pessoal com Cristo”.

Essas noções errôneas de Fé foram severamente condenadas por São Pio X, na encíclica Pascendi:

“(…) o primeiro (…) movimento de qualquer fenômeno vital, qual, como já o dissemos, é a religião, há que derivá-lo de alguma indigência ou impulso; e as origens, se temos que falar mais precisamente da vida, há que colocá-las em certo movimento do coração que se chama sentimento. Pelo que, como o objeto da religião é Deus, é preciso absolutamente concluir que a fé, princípio e fundamento de toda religião, deve se colocar em certo sentimento íntimo que nasce da indigência do divino” (São Pio X, Pascendi,. Denzinger, nº 2074. Os destaques são meus).

Portanto a Fé, segundo os modernistas, é um sentimento religioso. Kiko e Cramem repetem essa noção.

Na Pascendi, São Pio X condena a doutrina de que a fé nasce de uma experiência íntima do homem:

“Há que reconhecer, no sentimento religioso, certa intuição do coração, pela qual, se o homem, sem nenhum intermédio, alcança a realidade de Deus e adquire tão grande persuasão da existência de Deus e de sua ação, tanto dentro como fora do homem, que supera muito toda persuasão que possa vir da ciência. [Os modernistas] Põem, pois, uma verdadeira experiência e esta superior a qualquer experiência racional, e se alguns, como os racionalistas, a negam, é — afirmam os modernistas — que não querem colocar-se nas condições morais que se requerem para que haja aquela experiência. Ora, essa experiência, quando uma pessoa a tem, é a que própria e verdadeiramente o faz crente. Como estamos longe dos ensinamentos católicos!” (São Pio X, Pascendi, . Denzinger, 2981).

Quão longe estão os ensinamentos de Kiko e Carmem, as doutrinas do Neocatecumenato, da doutrina católica!

Kiko repete a doutrina Modernista de Fé.

Em primeiro lugar, para Kiko o cristianismo não seria um conjunto de verdades reveladas por Deus, nas quais se é obrigado a crer. O Cristianismo seria uma “experiência religiosa” e não um Credo de doutrinas cuja crença é obrigatória, sob pena de pecado contra a Fé, pecado que exclui, ipso fato, da Igreja.

Veja o que escreveu e ensina Kiko. O que ensina o Neocatecumenato:

“Dizíamos que a Fé não consiste numa série de idéias ou no fato de aderir a verdades, ou em acreditar que existe um Deus que criou tudo, mas que a fé é um encontro pessoal com Deus, com Jesus Cristo, porquanto Jesus Cristo é o autor da fé nos homens e é aquele que nos leva ao Pai: a plenitude da Fé se dá em Jesus Cristo” (Kiko, Apostila citada, p. 80).

Está aí escarrapachada a heresia modernista: a Fé não consiste em aderir a verdades. Nem sequer em acreditar em um Deus criador. Essa frase de Kiko contém a afirmação explícita de que não é preciso sequer acreditar no primeiro artigo do Credo.

Kiko é um herege modernista. O Neocatecumenato é uma seita Modernista.

Kiko confirma essa conceituação modernista de fé, pouco adiante, na mesma página de sua Apostila secreta:

“E quisemos apresentar através da História da Salvação, concretamente com Abraão, com um hebreu saído do Egito [Sic!] e com São Paulo — como a manifestação de Deus para estas pessoas não foi, de jeito nenhum, acreditar em certas verdades, mas foi sentir a ação de Deus na sua vida concreta. Para eles, a Fé foi um encontro real que os conduziu a uma mudança de existência” (Kiko, Apostila cit, 6º Dia. “Quem sou eu ?”, p. 80).

Carmem ensina a mesma doutrina herética de Fé:

“Fé é um conhecimento experiencial” (Carmem, Apostila cit. Primeira Parte da Catequese sobre a Eucaristia, p. 226).

E ainda:

“Da fé fizemos conceitos e raciocínios; demos definições da fé que são tudo, menos a fé da Escritura. Fé, na Escritura, é uma garantia e uma experiência profunda. É um conhecimento histórico experiencial. É um acontecimento experiencial” (Carmem, Apostila cit. p. 226)

Nessa mesma passagem, Carmem afirma que “Fé é um conhecimento pleno” (Carmem, Apostila cit. p. 226).

O que aproxima a noção de Fé de Carmem daquele da Gnose.

Nesses textos de Kiko e de Carmem está clara a noção de fé como sentimento e como experiência, como encontro, e não como adesão da inteligência a um conjunto de verdades reveladas por Deus e ensinadas pela Igreja, nas quais se é obrigado a crer.

Para Kiko — como para qualquer protestante — ter Fé é ter tido uma experiência com Jesus, é sentir Jesus, e de tal modo que a pessoa mude de vida.

Essa noção herética e modernista de fé conduz a um total subjetivismo, pois cada um pode dizer que sentiu o que quiser, e baseado nisso, pode acreditar no que bem desejar. Até que Kiko é um novo Moisés.

Daí, Kiko concluir : “Nós não somos homens de doutrina” (Kiko, Apostila cit, p. 79) .

Kiko e Carmem vão repetir — ad nauseam — que a Fé resulta de uma experiência com Deus, que produz uma revelação interior e pessoal, exatamente como ensinava a doutrina herética modernista.

“Qualquer pessoa que tenha experiência de fé teve um encontro com a Revelação de Deus” (Carmem, Apostila cit. p. 72)

É a própria definição de revelação dos modernistas condenada por São Pio X.

Exatamente por não consideram a Fé como um conjunto de verdades, Kiko e Carmem afirmarão em sua Apostila:

“Não falaremos de Deus, dizendo: “Deus é onisciente, onipotente”, teorizando e falando de verdades em forma racional. Porque cada um daqueles que os escutam pode saber muito neste sentido e não se sentir salvo de jeito nenhum” (Kiko, Apostila cit., p. 70. O sublinhado é meu).

Texto curioso que faz pensar que, para Kiko, ter fé consiste em sentir-se salvo. O que é pura heresia protestante.

Para Kiko — esse pseudo Moisés do Neocatecumenato — “O Cristianismo não é, de jeito nenhum, uma doutrina que se pode aprender com catecismos e teologias. O Cristianismo é uma Boa Notícia, um acontecimento histórico, o que o distingue de todas as filosofias e religiões” (Kiko, Apostila cit. p. 98).

Se o cristianismo não se aprende com catecismos, o que ensina Kiko em suas catequeses? E por que ele chama os iniciados em sua pregação de catequistas? Ora, catequista é aquele que faz catequese, que ensina um catecismo. Que ensina uma doutrina.