1

879- Católicos de Ontem e Hoje (RCC e Protestantismo) 1 de 10

Orlando Fedeli

Católicos de Ontem e Hoje (RCC e Protestantismo) 1 de 10

 

  • Localização: Rio de Janeiro – RJ

 

Prezado Prof. Orlando

Há um meses atrás enviei para o senhor algumas questionamentos sobre a Renovação Carismática e a Missa Tridentina. Certo tempo depois recebi sua resposta a qual embora fosse bastante precisa como de costum em todas as suas respotas, ainda me suscita outros questionamentos.

Embora o senhor seja contrário a Renovação Carismática e favorável a um rito litúrgico como se realizava antes do Concílio Vaticano II, preciso pergunta-lo a respeito da vivência do povo católico atual e anterior a o último concílio.

Se o senhor fosse traçar um paralelo entre o comportamento cristão-católico destas duas realidades como seriam as características?

Sabe porque eu pergunto isto caro professor? é porque hoje observo que o comportamento, o posicionamento, a atitude dos que pertencem ao movimento da renovação carismática é bem diferente daqueles que se dizem católicos e que andam por aí crendo em toda a sorte de crendices (signo, reencarnação, sortilégios, pedras, cristais). Claro que não estou dizendo que somente os católicos ligados a renovação carismática estão agindo correto sei que existem pessoas que não pertencem e até não gostam deste movimento que são firmes nos ensinamentos da Igreja, como por exemplo o senhor, mas sinceramente esses últimos são raríssimos.

Me lembro que no e-mail que o senhor me enviou foi citado como exemplo o leão que estava preso a uma corrente cujo um dos elos não era de ferro e que portanto havia o risco eminente de um acidente. Este exemplo foi usado para a Renovação Carismática que embora pareça inofensiva tem assim como o nosso leão uma perigo latente, no caso para a nossa fé.

Caro professor volto a insistir (desculpe a minha insistência) se existem erros eles podem ser direcionados, podados, se há arestas estas podem ser aparadas até transformar uma pedra bruta numa bela jóia. Não consigo entender como no meio de tanto trigo o joio não pode ser separado, e cá para nós professor graças a Deus existe bastante trigo neste movimento.

As pessoas que tem a sua vida transformada por novos valores não são somente pessoas de boa vontade independente da Renovação Carismática, mas antes muitas delas passaram a conhecer os verdadeiros valores morais que a Igreja prega através deste movimento.

O senhor mencionou sobre a Missa Tridentina que o latim era usado porque era a língua voltada para Deus, então eu pergunto o que há de herético no povo que vai a Missa em entender o que se fala para Deus.

As primeiras Missas ainda no período dos apóstolos era celebrada em latim? ou numa única língua em todas as regiões?

Falando um pouco sobre mim, quando retornei para Igreja isso a uns 7 anos atrás fui acolhido por um grupo ao qual hoje estou coordenando, uma Comunidade Aliança (Comunidade Magnificat) de lá até hoje tenho me esforçado continuamente para aprender mais e mais sobre a Igreja e como melhor servi-la, pois sei que perseverando nela sirvo ao nosso Senhor Jesus.

Por vezes sinto-me ilhado, pois a mensagem evangélica assusta e chega a afastar até mesmo o que se dizem católicos, porém não esmoreço quando percebo que tantos movimentos afloram Brasil e mundo afora mostrando que Igreja continua apesar dos pesares.

Sinceramente gostaria de conhecê-lo para sentarmos e converamos a respeito da nossa Igreja Quando o senhor virá ao Rio de Janeiro?

Aguardando sua resposta, desejo-lhe que Deus abençoe esse seu árduo porém valioso trabalho – lutar pela nossa fé católica.

 

———————–

 

Muito prezado, salve Maria.

Gostaria que você compreendesse que faço uma distinção entre as pessoas que freqüentam as reuniões dos chamados carismáticos, e o movimento em si. Critico e ataco as heresias e os erros graves da RCC. Admito que possa haver, nesse movimento, pessoas de boa vontade, pessoas equivocadas ou iludidas, que não conhecem realmente nem a doutrina católica, nem a da RCC, e que são, pouco a pouco, levadas a erros mais graves.

Também sei que a RCC não é homogênea, havendo grupos mais ou menos errados, e outros de maior ou menor boa vontade.

Evidentemente, não critico pessoas, mas as idéias que fundamentam a RCC.

Ainda ontem à noite, recebi uma jovem dentista, que dirige um grupo carismático.

Quando fiz que ela lesse alguns textos de livros importantes dos carismáticos, ela caiu das nuvens, e na realidade. Porque esses textos são espantosamente heréticos.

Claro que os dirigentes maiores da RCC não mostram esses textos para todos. Muito menos os explicam. Se o fizessem, perderiam, muito de sua “clientela”.

Gostaria muito que você lesse esses livros, e que estudasse as origens do Carismatismo. Tenho certeza, pelo que conheci de você, por sua carta e por seu telefonema, que você não admitiria os erros que nesses livros se defendem.

Para ajudá-lo, penso, então escrever um estudo mais longo sobre a RCC. Deixo, porém, esse trabalho para outro dia.

Por hoje, só respondo a algumas das questões que você me coloca.

Você me pergunta como compararia a situação dos católicos, antes e depois do Vaticano II.

E você, infelizmente, sem perceber bem o termo que emprega, me pergunta sobre a “vivência dos católicos antes do Vaticano II”. Sem perceber, disse eu, porque a palavra vivência é um termo tomado da filosofia existencialista, e não pode ser aceito pela Fé católica. A Fé não é uma vivência. mas uma crença em verdades reveladas por Deus e ensinadas pela Igreja. Haveria que distinguir muito, ao comparar os católicos de antes do Vaticano II com os de agora.

Em número, os católicos daqueles tempos eram bem superiores aos de hoje.

Número, porém, não vale nada. Deus e a Igreja nunca buscaram ibope. Pelo contrário. São os partidos políticos e a mídia que têm sede de ibope, e que acreditam nos números. E é o carismatismo que busca atrair multidões sem dar doutrina, mas só emoções, e que, quando reúne multidões para rebolar e agitar os bracinhos numa missa-show, julga que converteu o mundo para Cristo. A RCC vive caçando ibope.

As Missas, outrora, eram muito mais freqüentadas, e a devoção era muito mais viva, embora nem de todo reta e pura.

Em minha paróquia, — num bairro operário — havia várias Missas dominicais, todas abarrotadas. Quase todo o mundo ia à Missa.

Estudei sempre em colégios católicos. Eles tinham milhares de alunos.

Nas Igrejas, havia muitos padres.

Lembro-me de que, nas igrejas do centro de São Paulo, havia muitas Missas, ao mesmo tempo, numa só igreja, mesmo nos dias de semana.

Nas procissões de Corpus Christi, havia mais de milhão de católicos, e a população era bem menor que hoje. Os conventos tinham muitas religiosas e os padres apóstatas eram raros.

Lembro-me do triunfo que foi o Congresso Eucarístico de São Paulo, em 1942.

E quase não havia protestantes.

E quanto à qualidade, como eram os católicos?

Além do número, muito superior ao de hoje, havia muito mais respeito. De modo algum havia as profanações e os atrevimentos sacrílegos de hoje.

Eram os tempos severos de Pio XI — de que me lembro ainda — e os dias solenes de Pio XII.

Este último era um Papa hierático, que impunha um grande respeito.

Nos Colégios católicos, se ensinava religião todos os dias.

Ganhei meu primeiro certame de Catecismo — para isto, tive que saber de cor todo o II Catecismo da Doutrina Cristã — em 1939, quando tinha seis anos. Nos colégios maristas, se ensinava Catecismo todos os dias. O Evangelho, uma vez por semana, e o Catecismo de Devoção a Nossa Senhora, todos os sábados.

Porém, se ainda se ensinava o Catecismo, decorado, já pouco se transmitiam os princípios.

Esses aspectos positivos, que tinham muito de verniz superficial, iludiam a muitos. Por trás da fachada solene, por baixo da superfície brilhante e envernizada, por trás dos números astronômicos, grassava a mentalidade Modernista, que às escondidas e secretamente trabalhava nos porões das sacristias como cupim que tudo devora. Em silêncio e ativamente. Incansavelmente. Enquanto os padres otimistas e confiantes no poder de Pio XII, dormiam e sonhavam seu sonho róseo e doce…

De repente veio o terremoto!

De repente?

Nenhum terremoto acontece de repente.

O terremoto do Vaticano II — a maior desgraça jamais ocorrida na História da Igreja — era gestado nos silêncios dos claustros beneditinos e dominicanos. Discretamente, nas profundezas dos seminários jesuítas, nas revistas e Congressos de linguagem semi-esotérica.

Conspirava-se.

E para que a conspiração fosse mais segura, atacava-se como delírio ridículo a teoria da conspiração. Porque ninguém é mais contrário à teoria da conspiração do que os conspiradores ativos.

O terremoto do Vaticano II foi preparado, durante quase duzentos anos antes, pelo Romantismo, movimento gnóstico antiintelectual, que afirmava que a revelação era feita por Deus no interior de cada homem, e não por Cristo aos Apóstolos.

Para o Romantismo, o sentimento estava acima da Fé. Ou melhor, a Fé era um sentimento.

A Fé não era uma adesão da inteligência às verdades reveladas por Deus e ensinadas pela Igreja. Para o Romantismo, a Fé era um sentimento doce, íntimo, inefável e pessoal da Divindade, que existiria escondida, em germe dentro de cada homem.

A Fé seria uma vivência , uma experiência, e não uma crença.

Para a Gnose romântica — que o povo não conhecia– a revelação não era exclusiva da Igreja Católica. A revelação se daria dentro de cada homem, no “coração” de cada um.

E por coração os teóricos românticos entendiam uma partícula divina, existente dentro de cada ser, de cada coisa, de cada homem. O povinho, coitado, entendia por coração, o coração mesmo, e julgava que o sentimento era o ápice da devoção e da manifestação de Deus.

Daí a difusão de uma piedade sentimental, rosicler, efeminada, que não dava importância à verdade, nem à luta, nem às virtudes sérias, e seriamente praticadas.

Começou-se a falar mais do amor do que da Fé. E, em vez de verdades, começou-se a pregar e a defender “os sentimentos cristãos do povo brasileiro”…

Nas igrejas, se adocicavam as almas e se enervavam — se retirava o nervo, a fibra — dos católicos por meio de canções extremamente sentimentais. Ser piedoso, era rezar com o pescocinho inclinado, e ter devoção era sentir os olhos úmidos nas procissões dos santos.

Ser santo era fazer milagres, andar de camisolão azul celeste, com uma flor de lírio na mão, e com jeito semifeminino.

Lembro-me de que quando me disseram que os santos eram assim, decidi não ser santo.

Ah se me tivessem dito que os santos — todos os santos foram combativos e foram odiados — eram “briguentos”! Ah se me tivessem dito que ser santo era ser combativo, era ser herói no mais alto sentido desse termo!

E, enquanto os católicos, os padres e os Bispos bons procuravam apenas conservar — sem querer conquistar nada e ninguém — Judas não dormia.

Os Apóstolos, no Horto das Oliveiras dormiam.

Judas não dormia…

Judas vinha, a noite, com os guardas do Templo, a coorte e o tribuno também. Com o tribuno de contrapeso, para prender a Cristo.

E porque nunca me explicaram o que era a coorte e o que fazia o tribuno romano lá, no Horto das Oliveiras, sem licença de Pilatos?