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884- Católicos de Ontem e Hoje (RCC e Protestantismo) 6 de 10

Orlando Fedeli

 Católicos de Ontem e Hoje (RCC e Protestantismo) 6 de 10

 

  • Localização: Rio de Janeiro – RJ

 

Carismatismo, Igreja Espiritual e Ecumenismo (início)

O Concílio Vaticano II declarou que com os cristãos não-católicos, “temos até com eles certa união verdadeira no Espírito Santo, que também neles opera com Seu poder santificante por meio de dons e graças, tendo fortalecido a alguns deles até com a efusão de sangue” (Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, 15).

E ainda: “O Espírito Santo não recusa empregá-las [as Igrejas cismáticas (os chamados ortodoxos) e Comunidades separadas – (as seitas heréticas protestantes)] como meios de salvação, embora a virtude desses [meios de salvação] derive da própria plenitude de graça e verdade confiada à Igreja católica” (Concílio Vaticano II, Decreto Dignitatis Humanae, 3).

O Concílio empregou uma linguagem propositadamente vaga, pouco clara.

Por exemplo, não distinguiu entre graças atuais, que Deus sempre dá a todos os homens, e graça santificante, ou habitual, que só pode existir, fora da Igreja, em quem, em estado de ignorância invencível, segue a lei natural, tendo, pelo menos implicitamente o batismo de desejo.

Nos textos do Vaticano II também não se fala claramente dos sacramentos válidos, mas ilícitos, nas igrejas cismáticas, sacramentos que só podem dar seu efeito pleno nos que estão em ignorância invencível. Nada disto é posto com clareza. O texto do Vaticano II que citamos refere-se aos sacramentos das igrejas cismáticas orientais, muito fluidicamente como “meios de salvação”. Não se fizeram distinções ou precisões nítidas, no intuito de, através da ambigüidade, favorecer-se o ecumenismo. E, com isso, favoreceram-se ambigüidades que, depois, trouxeram confusões e más interpretações.

Daí, a famosa discussão entre os que seguem a “letra do Vaticano II”, e os que dizem seguir o “espírito do Vaticano II”. E essa divisão entre seguidores da letra e seguidores do espírito do Vaticano II chega até mesmo ao Colégio dos Cardeais: o Cardeal Kasper segue o “espírito” do Vaticano II, enquanto o Cardeal Ratzinger, com João Paulo II, segue a letra do Vaticano II.

Nem entre os cardeais o Vaticano II produziu a união e a unidade.

Os carismáticos da RCC se aproveitam dessas ambigüidades dos textos do Vaticano II sobre a ação do Espírito Santo, para defender que o Espírito Santo não se limita a dar os seus carismas dentro dos quadros da Igreja católica, mas que os fenômenos místicos que se registram nas seitas protestantes, e mesmo nas religiões pagãs, seriam efeitos autênticos dos carismas do Espírito Santo.

Pretendem então dar uma nova unidade à Igreja, não fundamentada num único Credo e numa única Fé, num único pastor, o Papa, e num único Batismo.

Na Apostila da Escola Paulo Apóstolo, lemos: “Todos sabemos dos problemas internos da Igreja. Vocês talvez tenham problemas pessoais em seu trabalho. Vemos dificuldades entre Roma e as diferentes áreas da Igreja nos dias de hoje. Porém podemos ser um, e esse retiro poderá ser um sucesso inacreditável para trazer uma nova unidade para a Igreja, para a família e para o mundo”(Escola Paulo Apóstolo, Apostila I , A Espiritualidade da RCC, p. 20, O negrito é meu).

Veja, caro, que pretensão ousada: julgam poder dar uma nova unidade à Igreja. Como se fossem mais poderosos e sábios do que Cristo.

Daí se passa para uma concepção ecumênica e não institucional de Igreja, acreditando-se que, acima das religiões positivas institucionalizadas, existiria uma Igreja Espiritual, formada por todos os que pretendem ter os carismas do Espírito Santo, pertençam eles a qualquer religião que seja.

Ora, essa idéia de uma Igreja Espiritual, sem dogmas, sem estruturas jurídicas, sem hierarquia, sem Papa, pobre e igualitária, corresponde exatamente à noção de igreja dos gnósticos. Essa Igreja Espiritual nega as quatro notas da Igreja Católica: una, santa, católica e apostólica.

A Igreja Católica já condenou inúmeras vezes esse conceito pneumático de igreja, pois ele admite muitas heresias já condenadas.

Vimos, no item anterior, como a RCC se opõe à Igreja institucional.

Veremos agora como ela é interconfessional. Diz Raul Vidales: “Atualmente aparece com clareza como o fenômeno carismático de inspiração pentecostal ultrapassa os quadros institucionais das Igrejas e manifesta cada vez mais explicitamente implicações socio-políticas que o inserem no complexo panorama atual”.(Raul Vidales, Carisma e Ação Política, in Os Carismas, Formas Sociais do caráter imprevisível da Graça, in Os Carismas, Revista Concilium 129, 1977/1979, editora Vozes, Petrópolis, p. 72).

Daí, os membros da RCC praticarem um ecumenismo dos carismas, considerando que as diferenças dogmáticas entre católicos e hereges não têm nenhuma importância. Havendo carismas, havendo especialmente o chamado “dom de línguas”, se passa por cima de qualquer diferença doutrinária. Não importa o que se crê, mas importa falar na língua do blá-blá-blá, gagueira que se atribui á própria Divindade.

Desvaloriza-se, assim, totalmente a Fé, sem a qual não pode existir nem a caridade, e nem carismas autênticos.

“O carismatismo pouco tem de doutrina. Isso facilita seu acesso aos católicos confessos que julgam nada ter a suprimir ou a acrescentar ao fundo de seu ´credo´ ” (Claude Gérest, A Hora dos Carismas, in Os Carismas, Formas Sociais do caráter imprevisível da Graça, in Os Carismas, Revista Concilium 129, 1977/1979, editora Vozes, Petrópolis, p. 38).

E, nesse ponto, esse autor coloca a seguinte nota ao pé de página: “O neopentecostalismo católico e o neopentecostalismo protestante praticam ente si um amplo ecumenismo – certos grupos são perfeitamente mistos; outros são abertos aos da outra confissão”(Claude Gérest, A Hora dos Carismas, in Os Carismas, Formas Sociais do caráter imprevisível da Graça, in Os Carismas, Revista Concilium 129, 1977/1979, editora Vozes, Petrópolis, p. 38. Nota 36).

Para defender a intercomunicação entre carismatismo católico e protestante, os carismáticos apelam aos textos do Concílio Vaticano II: “O Concílio, por outro lado, é cuidadoso em não restringir a ação do Espírito Santo unicamente à Igreja visível. Na Constituição da Igreja [Lúmen Gentium] séc. 15, ele ensina que cristãos não católicos “de algum modo real estão unidos a nós no Espírito Santo, pois, para eles também ele concede seus Dons e Graças e é, por conseguinte, operante entre eles com sua força santificante”(Stephen B. Clark, A Relação entre o Batismo no Espírito Santo e a (Sic.) Crisma, e Encontros para Oração no Espírito Santo, p.39. O negrito é meu).

Repare, prezado, que o texto que coloquei em negrito fala em “Igreja visível”, como se houvesse outra Igreja invisível. O que é contra a doutrina correta. Os que, por ignorância invencível, seguem a lei natural pertencem à alma da Igreja visível — a única que existe — e não a uma igreja invisível, que jamais existiu e nem pode existir..

(Conheço vários católicos que me disseram que, quando eram da RCC iam, várias vezes, e com facilidade, a cultos carismáticos protestantes, porque julgavam que era “tudo a mesma coisa”. Esse fato é relativamente freqüente nas paróquias carismáticas.) Eu mesmo ouvi uma vizinha beata carismática, recebendo testemunhas de Jeová, e dizer-lhes contentíssima: “Que bom! Agora nós somos uma igreja só! Estamos todos unidos!”.

Por isso, Gérest ousa escrever que “A igreja que a gente pensa edificar é a do “ajornamento” e da oikoumene”; o Espírito que aí se invoca é não a fria imaterialidade em Deus, mas o Sopro, aquilo que ” apressa o tempo”, que recua os limites do impossível e partilha sua alegria” (Claude Gérest, A Hora dos Carismas, in Os Carismas, Formas Sociais do caráter imprevisível da Graça, in Os Carismas, Revista Concilium 129, 1977/1979, editora Vozes, Petrópolis, p.41).

Então, os carismáticos pensam “edificar uma igreja”, como se Cristo não tivesse já edificado a sua Igreja sobre Pedro.

Que nova igreja é essa que os carismáticos pensam edificar no lugar da Igreja Católica Apostólica Romana?

Qualquer que seja essa nova igreja, ela será outra que a Igreja de Cristo. Portanto será uma igreja falsa.