Orlando Fedeli
Católicos de Ontem e Hoje (RCC e Protestantismo) 8 de 10
- Localização: Rio de Janeiro – RJ
E o carismático S. Falvo afirma: “Jesus não exige a santidade, mas que se creia nele” (S. Falvo, O Despertar dos Carismas, Paulinas, São Paulo, 1987, p. 16).
É a tese de Lutero repetida por esse carismático protestantoso.
E não se julgue que, dizendo que se deve crer em Jesus, o autor deseja defender a obrigação e a necessidade de crer nas verdades que Cristo ensinou. O autor diz apenas que se deve crer em Jesus, mas nem pensa que se deva crer que Jesus exigiu de nós a santidade ou a perfeição, quando Ele nos disse: “Sede perfeitos como vosso Pai do Céu é perfeito” (Mt V, 48).
Nada de buscar a perfeição. “Basta o amor”. Se a pessoa recebeu o chamado Batismo no Espírito Santo, tendo passado a falar no engrolado “dom de línguas”, isso provaria que ela já está com Deus, e está, portanto, salva. Não precisa mais se preocupar com a prática da lei de Deus, com pecados e deveres.
Não precisaria mais se confessar. Basta o amor. Até o amor homossexual.
Esse é novo evangelho antinomista e gnóstico que é ensinado em muitas paróquias.
Daí, se dar a comunhão a pecadores públicos, a “recasados”– em “segunda união estável” — como se lê num folheto paroquial de São Paulo, exatamente quando o Papa João Paulo II, na encíclica Ecclesia de Eucharistia, acaba de condenar como abuso dar a comunhão a amasiados. Mas, como já salientamos, ao Papa, esses Modernistas só aplaudem com as mãos. Nunca o obedecem de coração. Aplaudem “João de Deus”, jamais acatam o que ele manda, ou o que ele ensina.
Dessa noção falsa de que “basta o amor”, para a salvação sem necessidade da Fé, advém outra noção herética pregada pelos textos dos carismáticos: a de que a salvação não é individual, e sim coletiva.
Veja aqui a heresia explícita da Escola Paulo Apóstolo: “Algumas pessoas têm um conceito individualista da salvação, e não há nenhuma salvação individual revelada”(Escola Paulo Apóstolo, Apostila I, a Espiritualidade da RCC, p. 21).
Como não há nenhuma salvação revelada?
E a frase de Nosso Senhor Jesus Cristo “Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se vier perder a sua alma”(Mt XVI, 26) E não foi dito por Cristo que cada um será julgado por suas obras?(Mt. XVI, 27).
De onde em essa mentira que a Escola Paulo Apóstolo ousa imprimir sem que ninguém denuncie essa heresia de salvação coletiva? Porque esa heresia é repetida nessa Apostila absurda “ Nós seremos salvos quando os tornarmos um, quando superamos todas as divisões causadas pelo pecado e nos tornarmos a imagem de Deus, entrando em unidade”( Escola Paulo Apóstolo, Apostila I, a Espiritualidade da RCC, p. 21).
Esse é um conceito gnóstico de salvação que nada tem de católico. Além disso, o autor demonstra não compreender como somos feitos á imagem de Deus, e como essa imagem está em nossa alma, independentemente de nossa fé e de osso estado moral.
Por outro lado, se os carismas são algo inerente à própria natureza humana, eles não seriam propriamente dons sobrenaturais. Daí, se dizer que, seria possível recebê-los por meio de uma técnica ao alcance de qualquer homem independentemente de ter fé ou não: “A oração de línguas é uma combinação misteriosa de elementos divinos e humanos. Também a iniciativa e divina e humana. Costuma-se dizer: nada poderás fazer sem o Espírito e este, sem ti, também nada fará” (S. Falvo, O Despertar dos Carismas, Paulinas, São Paulo, 1987, p. 62).
E como se coaduna essa afirmação com o princípio de que “o Espírito sopra onde quer”?.
Em consonância com essas idéias, S. Falvo sugere certos meios para facilitar a recepção ou a manifestação do dom de línguas: “1) Comece-se a glorificar o Senhor em alta voz, de forma espontânea, sem preocupar-se com a forma. É aconselhável repetir muitas vezes a invocação: Aba Pai!
“2) Passados alguns minutos, aconselha-se deixar de orar na própria língua e fazer esforço para exprimir algumas articulações sem significado” (…) A partir desse momento, é preciso deixar de orar na língua local e repetir, em alta voz, os sons estranhos e incompreensíveis” (S. Falvo, O Despertar dos Carismas, Paulinas, São Paulo, 1987, p. 62).
Essa “técnica” carismática para desenvolver ou obter do dom de línguas é exatamente a mesma recomendada pelo cabalista Abraham Abuláfia, na Idade Média, para se comunicar com a divindade imanente ao homem, usando as letras do alfabeto hebraico, combinando-as de modo a formarem conjuntos sem significado algum: “A partir desse contexto, Abuláfia expõe uma disciplina peculiar, que ele denomina Hochmat Ha-Tzeruf,“a ciência de combinar as letras”. Esta é descrita como um guia metódico para a meditação, com o auxílio de letras e suas combinações. As letras individuais ou suas composições não precisam como tais ter um “significado” no sentido ordinário; é uma vantagem, pelo contrário, que muitas vezes pareçam vazias de sentido, pois neste caso há menos probabilidades que nos distraiam” (Gerschom Scholem, A Mística Judaica -versão portuguesa de Major Trends in Jewish Mysticism – Perspectiva, São Paulo, 1972, p. 137).
Técnica semelhante, para tentar anular a lógica e a razão, foi usada por Freud e pelos Surrealistas, nas chamadas escritura e linguagem automáticas. E tanto Freud era cabalista, quanto os Surrealistas eram gnósticos (Cfr. David Bakan, Freud e la Mística Giudaica, Edizioni di Comunitá, Milano, 1977, pp. 86 a 88; André Breton, Manifestos do Surrealismo, Ed. Brasiliense, São Paulo, 1985, p.58 e 223).
Por outro lado, os próprios autores carismáticos afirmam que o demônio pode intrometer-se e atuar em reuniões carismáticas, e dar um dom de línguas que eles chamam de falso: ”Às vezes, ele [o demônio] se intromete em nossos encontros de oração, a fim de destruir a serenidade. Ele chega mesmo a dar a algum dos presentes um falso dom de ínguas ou fazendo-o proferir uma falsa profecia”(S. Falvo, O Despertar dos Carismas, Paulinas, São Paulo, 1987, p. 184).
E como se distingue o dom de línguas falso do dom verdadeiro, se, em ambos os casos o que se diz é ininteligível?
Será que pelo menos se deve desconfiar que não é o Espírito Santo que faz emitir grunhidos de porcos ou latidos de cães?