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94- Dom das Línguas

Orlando Fedeli

Dom das Línguas

 

  • Localizaçao: São José dos Campos – SP – Brasil

 

Querido Professor Orlando, como vai?

Espero que esteja tudo bem! É com grande satisfação que venho lhe enviar esse e-mail.

Recebi esse texto, sobre o Dom de Línguas, e gostaria que o senhor analisasse.

Um grande abraço, e fique com Deus!

 

Um dom chamado Línguas Neste primeiro estudo, você fica conhecendo o dom de Línguas. Para que serve? Como Recebê-lo?

Existe muita confusão na mente das pessoas a respeito do dom das línguas. Muitos pensam que falar em línguas significa ter o dom de ensinar a palavra de Deus em linguagem humana não aprendida anteriormente, como aconteceu em Pentecostes (At 2). Outros tiram do contexto certos textos de São Paulo e afirmam que Paulo desencoraja o uso deste dom. Embora provavelmente bem intencionadas, estas pessoas se enganam, porque um estudo discernido da Escritura vai mostrar-nos que há três aspectos no dom de línguas: em alguns casos é um sinal (miraculoso), freqüentemente é uma mensagem normal de Deus à assembléia, e na maioria dos casos é um belo dom de oração. Além disso, longe de menosprezar o dom, Paulo o tinha em alta consideração por seus vários usos.

Uso público A maioria dos conselhos de Paulo sobre as línguas, na 1a Carta aos Coríntios, fala sobre o uso disciplinado das línguas nas reuniões públicas dos discípulos para oração e partilha. Ao dar este conselho, Paulo estava indo ao encontro das necessidades da Igreja de Corinto e respondendo às perguntas que lhe faziam (1Cor 7,1;11,18;12,1). Longe de desencorajar o uso das línguas, Paulo estava encorajando a usá-las com propriedade, para beneficio comum. No contexto público, duas funções possíveis eram preenchidas por este carisma: mensagem e sinal. Quando o dom é usado para levar uma mensagem, o que é falado à assembléia em línguas, deve ser inteligível. Dai Paulo aconselhar sobre a necessidade do carisma de interpretação (1Cor 14,5 e 27). Interpretação não é tradução, pois quem interpreta não compreende os sons estranhos pronunciados. Mas o intérprete é inspirado pelo Espírito a partilhar na fé a intuição ou a idéia do que seja a mensagem; nisto, é semelhante à operação da profecia. Paulo encoraja aquele que fala em línguas a pedir para si mesmo o poder de interpretá-las (1Cor 14,13).

O dom pode, também, servir de sinal: os sons estranhos articulados são, às vezes, inteligíveis por si mesmos, miraculosamente, sem a necessidade de interpretação. Neste caso, a pessoa para quem, o sinal é dirigido (1Cor 14,22) poderá compreender os sinais, porque eles são verdadeiramente linguagem humana de seu conhecimento. Isto é o que parece ter acontecido no dia de Pentecostes e, talvez, na conversão de Cornélio (At 2,4-12; At 10,45-46; ver também Mc 16,47). Vemos também os exemplos atuais disto.

O uso na oração pessoal “Aquele que fala em línguas não fala aos homens, senão a Deus: ninguém o entende, pois fala coisas misteriosas, sob a ação do Espírito… (1Cor 14,2). Se eu oro em virtude do dom das línguas, o meu espírito ora, mas o meu entendimento fica sem fruto. (Outra tradução: minha mente não contribui em nada) (1Cor 14,14)”.

“Outrossim, o Espírito vem em auxílio de nossa fraqueza, porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis.” (Rm 8,26).

As línguas são uma ajuda à oração, feita para aqueles que em várias ocasiões se sentem “enfraquecidos” e incapazes de orar bem da maneira comum. É uma oração que não se baseia em conceitos. Daí, poder ajudar uma pessoa a orar a qualquer hora, mesmo quando estiver distraída, cansada ou ocupada em trabalho mecânico. Dá descanso à atividade frenética da mente, um valor apreciado pelos mestres espirituais de todas as tradições.

Tem muita semelhança com a oração de Jesus e com a oração de silêncio que é descrita no livro “The Cloud of Unknowing” (A Nuvem do Desconhecimento). Embora não seja conceitualmente compreendida por quem a usa, Paulo nos afirma que Deus, a quem a oração é dirigida, a compreende (Rm 8,27).

Podemos ver quão pura é esta oração. Em outras formas de oração, usamos pensamentos e imagens como meios de chegar a Deus. Nesta oração, vamos além deles, deixamos que eles fiquem para trás, à medida que nós chegamos ao próprio Deus. É um ato de fé muito puro. Talvez, nesta oração, pela primeira vez nós realmente agimos em “pura” fé. Muitas vezes nossa fé está apoiada em conceitos e imagens da fé. Aqui vamos, além deles, ao objeto da fé, deixando todos os conceitos e imagens para trás.

Também podemos notar quão cristã é esta oração. Pois realmente morremos para nós mesmos, ao nosso ser mais superficial, ao nível dos pensamentos, imagens e sentimentos, para podermos viver para Cristo. “Morremos” para os nossos pensamentos e imaginações, não importa quão bonitos sejam ou quão úteis possam ser. Deixamos que fiquem todos para trás, pois queremos um contato imediato com o próprio Deus, e não um pensamento, uma imagem ou visão dele somente a experiência de fé em Deus.

O dom é para uso no louvor a Deus, quando uma pessoa fica sem palavras ou idéias, e na oração de intercessão. Quando não se sabe o que pedir ou para quem orar, o Espírito está pronto para interceder através de nossos sons articulados (Rm 8,26).

A experiência dos que estão na Renovação Carismática diz que esta oração é eficaz e frutífera.

O dom é também útil como um meio de entrar na oração de contemplação, como têm testemunhado monges beneditinos e Trapistas, e também para combater eficazmente na batalha espiritual (Ef 6,10-11 e 18). Paulo nos lembra que estamos todos engajados na batalha espiritual. Nossa batalha continua não é com realidades humanas, mas com forças sobre-humanas contra as quais somos incapazes por nós mesmos. Daí nossa necessidade de usar toda a armadura de Deus e nos apoiar totalmente em seus dons e em seu poder. Este poder atingimos pela fé.

A experiência de Paulo e a experiência atual dos que estão na Renovação Carismática nos dizem que usar o dom das línguas é um bom meio de lutar contra o inimigo efetivamente devastador, e de vencer suas tentações.

Não é para menos que tantas vezes sejamos tentados pelo mentiroso a minimizar este dom e a deixar de usá-lo.

Uma Oração de Fé Pelo fato de construir a nossa fé, o dom das línguas é, muitas vezes, chamado de porta de entrada para os outros dons – “o carisma limiar”.

Para receber e usar todos os carismas, como a profecia, a cura, a palavra de ciência, e os demais, a pessoa precisa ter uma fé ativa e expressa.

Receber – entregar-se – ao dom das línguas dá à pessoa a experiência do que isto significa. Desta forma é o limiar para os outros dons.

No entanto, entregar-se ao dom das línguas não é pré-requisito para receber os outros dons. “Aquele que fala em línguas edifica-se a si mesmo… ora, desejo que todos faleis em línguas” (1Cor 14,4-5). Edificar significa construir, fazer firme e forte. Orar em línguas é um modo importante de construir nossa fé. Como exercitamos nossa fé, usando-a, seu uso freqüente torna-a mais forte. Quanto mais regularmente usamos o dom, rejeitando todas as tentações de dúvida e cansaço, mais nossa fé é edificada e construída. Por isso Paulo, cuja fé era tremenda, podia proclamar publicamente: “Graças a Deus que possuo o dom de línguas, superior a todos vós” (1Cor 14,18).

Naturalmente, orar em línguas é apenas uma das muitas formas de oração. Os que estão na Renovação Carismática também usam muito a oração litúrgica, a Eucaristia, o oficio divino e outras formas tradicionais de devoção pública e particular. Paulo encoraja isto também, dizendo: “Orarei com o espírito, mas orarei também com o entendimento (1Cor 14,15)”.

A oração em línguas não pode ser julgada por si mesma. Porque vai além do pensamento, além da imagem, nada fica pelo qual ela possa ser julgada. Na oração ativa conceitual podemos fazer alguns julgamentos depois que oramos: “Tive umas sensações boas”, ou “Tive muitas distrações”. Mas tudo isto é irrelevante a esta oração. Portanto, nada fica pelo qual ela possa ser julgada.

Existe, porém, uma forma que permite ao que é bom nesta oração ser confirmado para nós. Nosso Senhor disse: “Podeis julgar a árvore por seus frutos”. Se formos fiéis a esta forma de oração, tornando-a uma parte regular do nosso dia, rapidamente iremos discernir o amadurecimento dos frutos do Espírito em nossas vidas.

Experimentei isto em minha própria vida e vejo-o sempre na vida dos outros.

Como receber o Dom Este dom, em seus três aspectos, é um meio e uma oportunidade de nos entregarmos totalmente mesmo o nosso intelecto! – ao senhorio de Jesus. “Se alguém tiver sede, venha a mim e beba, quem crê em mim, como diz a Escritura:”Do seu interior manarão rios de água viva” (Jo 7,37-38).

Se queremos receber este dom, devemos: l. ANSIAR PELO DOM Reflita sobre as Escrituras e esteja convencido, na mente e no coração, de que este dom é de Deus, dado à Igreja hoje, e à disposição dos fiéis. Lembre-se das palavras de Paulo: “Aspirai igualmente aos dons espirituais… desejo que todos faleis em línguas… graças a Deus, que possuo o dom de línguas superior a todos vós… aquele que fala em línguas não fala aos homens, senão a Deus… aquele que fala em línguas edifica-se a si mesmo… orarei com o espírito, mas orarei também com o entendimento… orai o tempo todo no Espírito” (1Cor 14,15; Ef 6,18).

2. VIR A JESUS E PEDIR O DOM DA ORAÇÃO.

Conte-lhe o desejo de seu coração. Peça com amor e fé.

3. ACEITAR O DOM DE JESUS NA FÉ E COMEÇAR A USÁ-LO.

Saiba que Deus ouviu sua oração. (Lc 11,13) Fale deliberadamente em sons ininteligíveis enquanto sua atenção se concentra inteiramente em Deus.

Deve-se ter a intenção de que estes sons sejam para oração de louvor ou de intercessão. Inicialmente o dom pode ser muito rudimentar – as mesmas duas ou três silabas repetidas sempre. Mas o uso regular e persistente do dom – digamos uns quinze minutos todos os dias – levará em poucos dias a uma língua mais desenvolvida e satisfatória.

Nossa base para este método é a fé expectante tantas vezes ilustrada e encorajada na Escritura; por exemplo, em Jo 2,7-1 O; Lc 17,12-16; Mt 14,22-31. Aqui, as pessoas envolvidas tinham que dar o primeiro passo. Elas tinham que agir, sem levar em consideração o risco de que nada pudesse acontecer, e apoiando-se inteiramente na bondade de Deus e no desejo de agir. E porque acreditaram e agiram nesta fé, descobriram, para sua felicidade, que haviam realmente sido abençoadas “Tudo o que pedirdes na oração, crede que o tendes recebido, e ser-vos-á dado” (Mc 11,24).

4. CONTINUAR A CRER E USAR ESTE DOM PARA ORAÇÃO.

Não há provas humanas possíveis para encorajarnos a esta entrega ao dom. No entanto, seremos convencidos pela evidência que se seguirá ao seu uso constante. Por seus frutos em nossa vida, seremos capazes de julgar seu valor e sua autenticidade.

Fio Mascarenhas –  Revista Jesus Viva e é o Senhor

 

 

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Prezado, salve Maria.

Você me propõe que examine um texto a respeito do “dom de línguas”. Embora se diga que o texto é de um grupo da chamada Renovação Carismática Católica, infelizmente não fica claro no que esse texto se diferencia de um texto carismático protestante. E essa confusão já mostra o mal desse carismatismo: ele é tão semelhante ao protestantismo que praticamente se identifica com ele.

De fato, o que mais diferencia o catolicismo do protestantismo é a fé, e esta se expressa em conceitos e verdades claras. Ora, o autor do artigo demonstra que coloca o carisma acima da fé.

Por exemplo, o pretenso dom de línguas, tal como é descrito nesse texto que você me envia, se declara mais além das verdades conceituais: “Muitas vezes nossa fé está apoiada em conceitos e imagens da fé. Aqui vamos, além deles, ao objeto da fé, deixando todos os conceitos e imagens para trás.”

Recusando uma linguagem conceitual, recusam-se as verdades que são expressas pelos conceitos. Fica então patente que esse pretenso carismatismo é algo que se coloca fora da fé, fora da verdade, fora da religião tal como Deus a fundou.

E se não há mais uma verdade que fundamente a religião, todas as religiões podem se misturar à vontade. Cai-se no indiferentismo religioso. Os protestantes que alegam ter carismas e o dom das línguas serão vistos, então, como tão cristãos quanto os católicos. Por que, então, não frequentar a Assembléia de Deus, ou a Congregação Cristã Brasil, nas quais se afirma haver também o dom das línguas?

O que importaria, desse modo, seria falar um blá blá blá que nem mesmo numa câmara de vereadores — a matriz do blá blá blá — se entende. Funda-se uma Nova Igreja: a Igreja do Blá-Blá-Blá, ou do Nhã-nhã-nhã.

E depois, como se distingue o “dom de línguas”, proveniente de Deus, de uma possessão diabólica na qual o demônio se alegra exatamente em demonstrar seu conhecimento linguístico, soltando grunhidos ininteligíveis pela boca do possesso? Ora, a Igreja sempre apresentou como sinal de possessão o falar uma língua estranha ou pronunciar sons ininteligíveis.

No texto que você me manda, se afirma ainda que: ” duas funções possíveis eram preenchidas por este carisma: mensagem e sinal. Quando o dom é usado para levar uma mensagem, o que é falado à assembléia em línguas, deve ser inteligível.” Uma mensagem para a assembléia para quê?

Deus já não revelou à Igreja tudo o que era necessário para nossa salvação?

Se Deus precisa nos mandar mensagens através desse meio esquisito, então a a Igreja fica desnecessária.

Para que o Papa e os Bispos, se o Espírito Santo nos fala diretamente?

Para que ir à Igreja, se temos o dom de línguas a domicílio, numa espécie de sistema de “delivery” espiritual?

A Sagrada Escritura nos diz que é preciso obedecer antes a Deus do que aos homens. Ora, se o Espírito Santo fala pela boca de qualquer um, para que ouvir o Papa? Ouve-se o Espírito Santo diretamente sintonizado por cada um.

O carismatismo destrói a Igreja como instituição, substituindo-a por um agregado de pretensos alumbrados. Por isso, a Igreja sempre condenou os movimentos carismáticos que se colocam como intermediários normais entre Deus e os homens. Deus fundou a Igreja para nos ensinar a sua revelação e administrar os sacramentos pelos quais Ele, normalmente, nos dá as suas graças.

Você veja, meu caro    , como o autor do artigo despreza a Fé tal como a Igreja a apresenta – conjunto de verdades reveladas por Deus e confirmadas pela Igreja em que somos obrigados a acreditar — pois ele escreve: “Podemos ver quão pura é esta oração. Em outras formas de oração, usamos pensamentos e imagens como meios de chegar a Deus. Nesta oração, vamos além deles, deixamos que eles fiquem para trás, à medida que nós chegamos ao próprio Deus. É um ato de fé muito puro. Talvez, nesta oração, pela primeira vez nós realmente agimos em “pura” fé. Muitas vezes nossa fé está apoiada em conceitos e imagens da fé. Aqui vamos, além deles, ao objeto da fé, deixando todos os conceitos e imagens para trás.” Repare, mais uma vez, como o carismatismo pretende ir além dos conceitos, isto é, além das verdades que constituem o tesouro da Fé. Uma fé sem conceitos é uma fé sem conteúdo. É uma fé vazia e sem nenhum valor. No carismatismo, tal como é exposto nesse artigo, a pessoa já não crê naquilo que Deus ensinou, mas acredita apenas que, por nós mesmos, “chegamos ao próprio Deus”.

Isso é falso.

Se chegamos ao próprio Deus, por nós mesmos, recebendo diretamente os carismas, para que existe a Igreja?

Depois da revelação de Cristo e da instituição da Igreja sobre Pedro, chegamos a Deus, normalmente, apenas por meio da Igreja. Embora, excepcionalmente, Deus possa conceder a alguém o conhecimento da Fé por modo milagroso, através de uma graça especial, isso não é a lei normal instituída por Cristo. O meio normal é chegar a Deus pela Igreja, pelos sacramentos. O carismatismo crê que é normal chegar a Deus pelos carismas, tornando a Igreja desnecessária.

O autor apresenta ainda o dom de línguas como uma forma de oração que não se fundamenta em conceitos, em verdades. Diz ele textualmente: “É uma oração que não se baseia em conceitos.”. De novo, a renúncia ao conceito, à verdade.

Uma oração sem conceitos é uma oração sem amor, porque só podemos amar o que conhecemos, e o conhecimento se exprime em conceitos. Se não tenho conceito para quem oro, ou o que oro, estarei só fazendo barulho com a boca, como um simples animal faz.

Deus porém nos disse: ‘Amará o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento, e com todas as tuas forças” (Marc. XII, 30). Devemos amar a Deus com toda a nossa inteligência, isto é, compreendendo o que fazemos ao amá-Lo ou quando rezamos para Ele.

A pretensão de unir-se imediatamente a Deus, dispensando qualquer meio — portanto dispensando a Igreja, os sacramentos e a graça sacramental — fica evidente na seguinte frase desse artigo que você me envia.

queremos um contato imediato com o próprio Deus, e não um pensamento, uma imagem ou visão dele somente a experiência de fé em Deus”. Os carismáticos pretendem ter não uma crença em verdades, mas sim — e somente — uma experiência de fé. Como os hereges modernistas, e como todos os hereges gnósticos, o autor afirma que a fé é uma experiência, e coloca a experiência pessoal acima da fé: “A experiência dos que estão na Renovação Carismática diz que esta oração é eficaz e frutífera”.

Para os carismáticos, então, o fundamento não está na fé, mas numa experiência interior.

Daí o autor do artigo escrever: “A experiência de Paulo e a experiência atual dos que estão na Renovação Carismática nos dizem que usar o dom das línguas é um bom meio de lutar contra o inimigo efetivamente devastador, e de vencer suas tentações”. Embora o autor afirme que “Para receber e usar todos os carismas, como a profecia, a cura, a palavra de ciência, e os demais, a pessoa precisa ter uma fé ativa e expressa“, ele afirma , logo em seguida, que o carismatismo é uma experiência que se fundamenta em sua própria experiência e não na Fé. Por isso diz o autor que analisamos: “Receber – entregar-se – ao dom das línguas dá à pessoa a experiência do que isto significa“.

Portanto, para o autor, a “fé” não é a crença em verdades reveladas por Deus e confirmadas pela Igreja, verdades que se exprimem conceitualmente, mas a “fé” seria a crença numa experiência, crer em si mesmo, no que se experimentou, e não em Deus e na Igreja. Isso é Modernismo, heresia que foi condenada na encíclica Pascendi de São Pio X.

Por colocar a “experiência da fé” acima dos conceitos e das verdades, o autor assevera que o carismatismo não pode ser julgado à luz da doutrina, de um modo conceitual, porque ela vai além do pensamento, só pode ser experimentada: “A oração em línguas não pode ser julgada por si mesma. Porque vai além do pensamento, além da imagem, nada fica pelo qual ela possa ser julgada. Na oração ativa conceitual podemos fazer alguns julgamentos depois que oramos: “Tive umas sensações boas”, ou “Tive muitas distrações”. Mas tudo isto é irrelevante a esta oração. E repare que o autor não tem clara a distinção entre sensações e conceitos.

Para praticar o carisma de línguas, o autor recomenda que se fale de maneira ininteligível, louca, sem sabedoria: “Fale deliberadamente em sons ininteligíveis enquanto sua atenção se concentra inteiramente em Deus”. Enfim, o artigo declara que “Não há provas humanas possíveis para encorajarnos a esta entrega ao dom. No entanto, seremos convencidos pela evidência que se seguirá ao seu uso constante”. Portanto a fé deixaria de ser um obséquio racional, para ser um fideísmo completo, uma “crença” irracional.

Isso é o contrário do que sempre ensinou a Igreja.

Esperando tê-lo ajudado, me despeço.

in Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli