957- Associação Montfort e Vaticano

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Orlando Fedeli

Associação Montfort e Vaticano

 

  • Localização: Santa Catarina

 

Caro Professor Fedeli,

Estive nos últimos dias lendo alguns de seus artigos e respostas à alguma das inúmeras cartas que recebes. Nossa fé católica possui tantas riquezas a serem desbravadas e divulgadas, que seu trabalho é, sem dúvida, um instrumento para elevar nossa alma as coisas de Deus e encontrar boas respostas à dúvidas e acontecimentos que atigem nossa crença.

Porém, embora tenha procurado no site a resposta, não encontrei algo que, creio eu, seja importante. Existe algum vínculo entre a Montfort* e a Igreja Católica? Digo, há alguma autorização (se é que é preciso) aprovação, ou algo do gênero que torne as informações aqui divulgadas, a maneira de interpretar o catecismo e entender certos acontecimentos, fonte de informação reconhecida pelo Vaticano?

Pergunto isso caro professor, porque, assim como a Montfort* educa e doutrina com base no catecismo, emite juízos de valor em relação a atitude de movimentos, pastorais e pessoas ligadas a Igreja, ou melhor, até onde li, sempre que ouve menção à algum movimento, veio acompanhado de críticas um tanto quanto severas.

Embora leia seus textos e os ache de uma redação ímpar e rica, discordo de várias colocações da Montfort* e também de algumas cartas publicadas, que, na minha singela opinião, servem apenas para levantar polêmicas inúteis, infundadas e que não ajudam a edificar nossa fé.

Repito nobre professor, admiro seu conhecimento evidente nas suas explanações, tanto que as pretendo usar nas palestras que darei à jovens católicos, e por isso o questionamento da “oficialidade” do site perante a Igreja.

Por fim, como ensina a Carta Apostólica, aproveito a oportunidade para exortá-lo, embora seja tão “Zé ninguém” quanto Ananias, aquele que orou por Saulo.

Admiro sua fé e sua defesa do que é tradicional, ou melhor, como o senhor descreve, do que “é eterno”. Porém me entristeci ao ler linhas pelo amigo escritas um tanto quanto agressivas e irônicas quando se referiu a movimentos católicos, e até pessoas, sacerdotes, alguns, até onde sei, com trabalhos lindíssimos e que enriquecem nossa Igreja.

Ousando opinar mais uma vez, creio que não só o tradiconal, o antigo é eterno. Nossa Igreja é eterna e composta por este belo mosaico de movimentos, pastorais, congrecações, comunidades leigas enfim, há diversidades que surgem e somem, e é isto que permite a nossa Igreja ir do antigo ao moderno acolhendo a todos, e mesmo na diferença sendo a mesma IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA, una, santa e pecadora.

Como professor de história o senhor sabe muito bem como lideranças católicas cometeram erros graves, algumas defendo o antigo, não permitindo a “modernização” da Igreja. Em nome de Deus, muitos foram assassinados e martirizaram pessoas que hoje são santas em nossa Igreja. Gosto muito de história, e justamente por isso não ousava por os pés na Igreja fora de festividades como batismo, matrimônio, primeira eucaristia e crisma. Sempre achei uma barbárie os atos da inquisição e o comportamento de Papas e bispos diante daqueles que ousavam discordar ou apresentar uma nova maneira de ser Igreja.

Hoje professor, com a graça de Deus, sou membro da Igreja, gosto, amo e a defendo com todas as minhas forças. Compreendi que mesmo diante dos erros graves que até hoje permanecem, nossa Igreja é eterna. O que é eterno vem de Deus e o que é de Deus, ninguém detem. Mesmo diante da luxúria e arrogância vividas pela Igreja em alguns períodos, surgiram santos, dos quais cito aqui São Francisco de Assis, um enviado de Deus que mostrou a muitos que o caminho a ser trilhado é o inverso: levar Jesus aos humilhados e com eles comungar.

Toda esta dissetarção tem apenas um intúito. Pedir ao professor que, além da resposta a pergunta acima escrita, seja menos severo, sem esconder a verdade, quando for opinar sobre movimentos e pessoas ligadas a Igreja, em alguns trechos captei até mesmo um certo ar “inquisitor” nas suas palavras.

Temos que edificar nossa fé, sem, porém, petrificar o coração. Há sinal de Deus em tudo, claro existem erros e exageros que precisam ser corrigidos, porém, como está escrito, o que é Deus fica, portanto o que nele não estiver firmado, ficará pelo caminho.

Forte abraço
Nos encontramos na Eucarístia.

 

—————-

 

Muito prezado Dr.,
Salve Maria.

Agradeço-lhe sua opinião elogiosa sobre o trabalho que exercemos no site Montfort* como católicos leigos conscios de seu dever de defender a Fé e de ajudar nosso próximo pela instrução e pela apologética.
O vínculo entre os membros da Montfort* e a Igreja Católica é o Batismo e a Verdade. E esse é um elo forte e suficiente para fazer o que fazemos.
O site Montfort* é de uma associação cultural de leigos católicos. O site Montfort* não é um site oficial da Igreja.
A Associação Cultural Montfort* é uma entidade civil de orientação católica que tem como finalidade, entre outras, a difusão do ensinamento tradicional da Igreja e da cultura desenvolvida pela civilização cristã ocidental. Combatemos especialmente o modernismo e o liberalismo.
Nós, membros da Montofrt, não falamos, e nem pretendemos ou podemos falar em nome da Igreja, pois não somos Bispos, nem sacerdotes. Agimos enquanto leigos católicos, sem qualquer autoridade, a não ser a de simples católicos.
Nada mais fazemos do que reproduzir o ensinamento da Igreja, que estudamos com afinco.
Somos leigos católicos que, como se pode ler em vários documentos recentes, inclusive do Concílio Vaticano II, têm o direito e o dever de defender a fé, usando de nossa livre iniciativa. Os documentos eclesiásticos mais recentes dizem que os Bispos devem aproveitar e incentivar as iniciativas dos leigos na defesa e expansão da religião.
O senhor notou que criticamos “movimentos” católicos atuais.
O senhor nunca encontrou críticas da Montfort* a Ordens e Congregações religiosas enquanto tais. Os “movimentos” nasceram do Concílio Vaticano II com base nas doutrinas aggiornativas, isto é evolutivas, historicistas adotadas por esse Concílio pastoral.
Movimentos católicos são aqueles admitem mudanças na Igreja, em sua doutrina, querendo adptá-la ao mundo moderno tal como o desejou o Vaticano II. Os movimentos querem evoluir com o tempo.
As Ordens religiosas nunca foram movimentos. Elas eram estáveis fruto da Igreja que não muda, edificada sobre a rocha. O Vaticano II construiu sobre um fundamento móvel; o aggiornamento. E Nosso Senhor disse que quem constrói sobre a areia — que é móvel — constrói mal, e o que ele construiu desabará e será grande a sua ruína.
A igreja nova construída pelo Concílio Vaticano II está se arruinando por toda a parte e arruinando tudo o que ela domina. Veja, Doutor, a decadência moral imensa. Veja a decadência religiosa.
Como prova, cito-lhe alguns números que evidenciam a decadência da Igreja na França após o Concílio Vaticano II:

Hoje, só 51% dos Francesesse declaram-se católicos, enquanto eles eram 80% em 1990 e 69% no ano 2.000, destaca o Le Monde des Religions. E hoje, dos 51% dos católicos, só 10% são praticantes. Só 8% vão à Missa.
Em 1975, havia 578.212 batismos para 724.000 nascimentos, isto é, 80% dos nascituros eram batizados. Em 2004, a cifra caiu para 357.262 batizados para 767.816 nascimentos, isto é, caiu de 80% para 46%.
Quanto aos casamentos religiosos, eles eram 281.786 para 387.400 casamentos civis, em 1975, isto é, 72%.
Em 2003, o número caiu para 96.863 em 271.600 casamentos civis, isto é, caiu para 36%.
Hoje, existem apenas 9.000 paróquias na França, em 36.000 municípios.
Em 1970, havia 37.555 padres diocesanos cuidando de uma paróquia. Em 2004, há apenas 16.859 e a maior parte tem mais de 60 anos.
A Igreja Católica está morrendo na França. O Concílio Vaticano II a matou.
A Igreja nova do Vaticano II não é um belo mosaico. É um aglomerado caótico de coisas novas remendadas umas nas outras, sarapintada como uma roupa de arlequim, para usar uma comparação de Platão.

Você me diz “IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA, una, santa e pecadora”. Caro Dr., isso não é católico. Isso não está no credo. No credo, cantamos ue a Igreja e Una Santa, Católica e Apostólica”.
Dizer que a Igreja é santa e pecadora é contra a Fé, e é uma contradição absurda.

Você me diz que gosta de História. Infelizmente, porém, comete um erro histórico grosseiro e ultraja a Igreja ao repetir uma calúnia histórica ao me escrever:

“Sempre achei uma barbárie os atos da inquisição e o comportamento de Papas e bispos diante daqueles que ousavam discordar ou apresentar uma nova maneira de ser Igreja”.

Caro Dr., a Inquisiçao jamais fez o que você lhe atribui. Se ela tivesse sido criminosa, como inúmeros santos a defenderam e a utilizaram. Li outro dia, num livro, uma carta de São Francisco Xavier — santo extraordinário — ao Rei Dom João III de Portugal, pedindo que estabelecesse a Inquisição nas colônias lusas do Oriente, para impedir a grande decadência religiosa dos católicos portugueses na Ásia (Carta de 16 de Maio de 1546).
Escrevi inúmeras cartas mostrando as calúnias que correm, sem base alguma nos fatos, sobre os pretensos crimes da Inquisição.
E você me cita São Francisco de Assis… Ora, ele tentou converter os maometanos do Egito, para evitar a guerra entre cruzados e mamelucos e não o conseguiu tendo que admitir o início da batalha.
Por fim tenho que lhe agradecer ao me atribuir um “ar de inquisidor” que não tenho a honra de ser. Inquisidores foram São Pio V, São Pedro Arbués, e muitos outros santos favoreceram a Inquisição, como São Domingos, São Raimundo Nonato, São Luis, rei, São Francisco Xavier, e tantos outros.
A sua boa vontade e sua boa intenção me fazem esperar que, tendo estudado melhor o que ensina a Igreja e o que dizem os livros de História escritos com isenção, você, compreenda o que digo, e venha ser um meu companheiro de combate na defesa da Fé.
Hoje, muitos adotam o estilo diplomático, quando a Igreja precisaria de cruzados intelectuais para defender suas muralhas doutrinárias.
Venha para a muralha da Fé combater o bom combate.
Venha combater com a Montfort*, doutor.

In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli

*O professor Orlando Fedeli foi presidente da Associação cultural Montfort de 1983 a 2010.

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