A Correspondência entre Malachi Martin e Wolfgang Smith – Parte I

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Fernando Schlithler

 

A CORRESPONDÊNCIA ENTRE MALACHI MARTIN E WOLFGANG SMITH

PARTE I

 

1. INTRODUÇÃO

             Não há dúvida que Malachi Martin (1921-1999) foi uma figura excêntrica e bizarra da história do Catolicismo no século XX. Em seus livros The Keys of this Blood (1990) e Windswept House: A Vatican Novel (1996), podemos encontrar de maneira cifrada diversas informações e relatos romantizados a respeito de acontecimentos que, “profeticamente”, viriam a acontecer somente tempos depois de sua publicação[1]. Dentre esses acontecimentos estão a publicação pelo Papa de um documento permitindo a celebração da missa no Rito Gregoriano ou Tridentino e a renúncia do Papa.

             Quanto a sua pessoa, trata-se de um sacerdote católico que haveria pedido dispensa de ordens na década de 1960 mas que (segundo afirmava), teria mantido o voto de castidade e a quem, curiosamente, haveria sido permitido  pelas autoridades eclesiásticas continuar celebrando a Santa Missa privadamente[2] (o que é muito estranho)[3]. Suas ligações com personalidades gnósticas do meio perenialista já é conhecida, como sua amizade com o gnóstico sedevacantista Rama Coomaraswammy. Rama dizia-se amigo de Malachi Martin e o considerava seu mentor[4]. Aliás, diz-se que Malachi Martin teria apoiado a posição sedevacantista[5] e até participado de uma cerimônia de ordenação sacerdotal feita por um bispo sedevacantista (portanto cismática)[6]. Recentemente, a ligação dele com outro gnóstico perenialista, Wolfgang Smith, pôde ser constatada pela publicação da correspondência entre os dois.

             Wolfgang Smith – matemático, físico e membro da escola perenialista –   é um autor que intenta apresentar-se como católico (crítico ao Concílio Vaticano II e à Reforma Litúrgica de Paulo VI) mas que na verdade está mais associado aos meios gnósticos e esotéricos da dita escola perenialista (que tem como referências René Guénon, Ananda Coomaraswammy, Titus Burckhardt, Frithjof Schuon, Seyed Hossein Nasr, Huston Smith, dentre outros).  É autor de um livro em que critica o padre herege Teilhard de Chardin (Teilhardism and the New Religion), mas autor de outros livros em que defende a Gnose perenialista em trajes “cristãos”, como Christian Gnosis: From Saint Paul to Meister Eckhart e Cosmos and Transcendence: Breaking Through the Barrier of Scientistic Belief, em que defende a Gnose de Jacob Boehme.

             Smith e Martin travaram contato na última década do século XX e recentemente a correspondência entre os dois foi publicada por Smith (MARTIN, Malachi, SMITH, Wolfgang. In Quest of Catholicity: Malachi Martin Responds to Wolfgang Smith. Edited with an Introduction by Wolfgang Smith. Kettering: Angelico Press, 2016)[7]. Trata-se de correspondência interessantísima, uma vez que ajuda a esclarecer o que pensam essas duas figuras, infelizmente e imprudentemente apreciadas em certos meios católicos.

             O título dos capítulos com os assuntos tratados na correspondência já diz muita coisa. Dentre os temas sobre os quais eles conversavam estavam o gnóstico Jacob Boehme, o neomodernista Hans Urs Von Balthasar, o gnóstico perenialista Jean Borella e a Kabbalah. Há um capítulo sobre “a necessidade de um esoterismo saudável” e outro sobre o “tomismo esotérico” (misericórdia!!!) de Catherine Pickstock.

             A pertinência em investigar melhor a respeito desses autores é acrescida pelo fato de um notório modernista e gnóstico, que se apresenta como católico,– Olavo de Carvalho – divulgá-los no Brasil. Além disso, Olavo de Carvalho é elogiado por Wolfgang Smith (https://www.youtube.com/watch?v=oYD66OucgJQ Acesso 1 julho 2019). Anos atrás, na época do lançamento do livro O enigma quântico de Wolfgang Smith, Olavo proferiu uma palestra online a seu respeito, na qual, tecendo elogios a ele (tendo Olavo escrito o Prefácio para a edição brasileira desse livro e recomendado a sua publicação e tradução para o português), afirma ser Smith um dos poucos autores que ele pode ter a alegria de dizer que “sempre concordou com tudo o que ele escreveu” (CARVALHO, Olavo.  VIDE Editorial – Palestra “O Enigma Quântico” In: https://www.youtube.com/watch?v=bp2yoFJEaR0 Acesso 1 julho 2019). Olavo afirma também que, apesar de Smith ter sido influenciado pela escola perenialista, ele seria o autor dessa escola mais “estritamente católico” e o menos comprometido com seu aspecto “iniciático-esotérico”(Ibid.). Segundo Olavo, Smith (assim como outro gnóstico dessa escola, Jean Borella) apresentaria a perspectiva conforme a qual “tudo aquilo que há de mais valioso e de mais importante nessa escola tradicionalistasempre esteve dentro do Cristianismo e René Guénon e Schuon não fazem senão apresentar com outros nomes coisas que já estavam dadas na doutrina cristã desde o início” (Ibid.), como se isso se tratasse de uma crítica aos erros dessa escola e não propriamente uma apropriação reformulada dos mesmos erros, disfarçado-os de Catolicismo. Essa perspectiva, longe de ser uma solução aos erros de Guénon e dessa “escola”, é na verdade um agravamento deles mediante um procedimento ardiloso de maior dissimulação. Evidentemente, aquilo que Olavo afirma como ensinado por Guénon e Schuon (de “mais valioso e de mais importante”) que estaria presente no Cristianismo “desde o início”, na verdade não está, pois trata-se, como veremos, de algo radicalmente oposto a religião Católica. Trata-se novamente de uma tentativa de interpretar de modo gnóstico o Cristianismo. Aliás, esse ardil dissimulador já foi por nós analisado no capítulo “O perenialismo” em nosso artigo O modernismo de Olavo de Carvalho (versão revisada e expandida) (SCHLITHLER, 2019,  p. 332-375) de modo que consideramos a presente série de artigos uma certa complementação desse capítulo.

            O envolvimento (ao menos no passado) de Olavo de Carvalho com tariqahs islâmicas é conhecido, (sobre isso, ver novamente Sob a Máscara) e para não nos estendermos não trataremos sobre isso aqui. Olavo sofreu um processo (segundo ele, um intenso assédio judicial, do qual foi absolvido in dubio pro reo) por parte de membros da tariqah Maryamiyya após ter dela se afastado em virtude de ter conquistado o desafeto do seu sheikh Frithjof Schuon e de outros integrantes. Como o próprio Olavo afirma (com sua perene baixaria e falta de educação), ele foi expulso da tariqah e se tornou inimigo de Schuon:

https://pt-br.facebook.com/carvalho.olavo/posts/289336017885146

Acesso 1 julho 2019

            O que soa estranho é que pessoas ligadas de algum modo a essa tariqah (ou ao menos ao círculo de seus membros e de pessoas que partilham suas idéias) ainda  tenham contato com Olavo, elogiem-no e até aceitem participar de eventos conjuntamente, como alegado pelo próprio Olavo em 11 de junho de 2019 (Seyyed Hossein Nasr é reconhecidamente um notório membro dessa tariqah):

https://twitter.com/opropriolavo/status/1138498865819205634

Acesso 1 julho 2019

 

            Se Olavo fosse realmente persona non grata dentro do ambiente perenialista e dessa tariqah como alega, por qual razão estaria mantendo contato amigável com essas pessoas?  Será que houve uma reconciliação? Por qual razão essas pessoas estariam sendo amigáveis com ele agora?

             As concepções heréticas modernistas e gnósticas de Olavo de Carvalho – bem como as de Wolfgang Smith por ele divulgadas – são recebidas em muitos meios no Brasil de maneira acrítica, de modo passivo e envolta de um temor irracional e reverencial, como se tratassem de grandes autoridades dotadas de uma envergadura intelectual acima da capacidade de crítica de qualquer um daqueles que ouse a eles se opor[8]. No fundo, não passam de autores cujas convicções apresentadas em suas obras estão fortemente desalinhadas com o ensinamento da Igreja Católica (por mais que eles afirmem ardilosamente estarem submissos a esse ensinamento ao mesmo tempo em que dele se desviam). Convicções essas que podem ser resumidas com um só nome: Gnose ou gnosticismo. Trata-se da velha intenção que encontramos por toda a história da Igreja de tentar projetar sobre a doutrina católica uma interpretação gnóstica, de apresentar a doutrina católica e suas formulações dogmáticas em chave gnóstica, ou seja, disfarçar a gnose em trajes católicos. A infiltração do pensamento gnóstico em meios católicos – sobretudo aqueles ligados à Missa Tridentina – é fato mais do que conhecido, embora muitos não saibam[9].

           Por essa razão, empreenderemos uma pequena análise do livro In Quest of Catholicity: Malachi Martin Responds to Wolfgang Smith, de modo a deixar claro (como o próprio conteúdo do livro por si mesmo demonstra) que tanto seus autores quanto seus divulgadores não podem ser tidos como referências por católicos nem em filosofia, nem em religião.

            Nesse nosso primeiro artigo, nos ocuparemos somente da Introdução escrita por Wolfgang Smith. Em artigos posteriores analisaremos as cartas de ambos.

Análise da Introdução de Wolfgang Smith

             O livro começa com a Introdução feita por Smith, na qual ele defende que é preciso uma espécie de “novo tomismo”, em vista de interpretar as novas descobertas da ciência no século XX, de modo a torná-las compreensíveis. Lembramos que Santo Tomás de Aquino é oficialmente considerado a principal referência em teologia pela Igreja Católica como ensinado pelo Papa Leão XIII na Aeterni Patris [10]. No entanto, Smith afirma que Malachi Martin diz que só o tomismo não é suficiente (SMITH, 2016, p. 1). Smith alega que, ao investigar sobre física quântica a respeito de um fenômeno denominado “não-localidade”, teria chegado a conclusão dele se tratar da existência de um stratum ontológico ou camada da realidade que era bem conhecido pelas “tradições sapienciais da humanidade” (desde a tradição védica até a hermética e platônica), mas que seria virtualmente não reconhecido pela tradição tomista (SMITH, 2016, p. 1). Ele afirma também que não é que a filosofa tomista negue a existência desse reino ou região “intermediária” da realidade, mas sim que “a tradição escolástica em geral tem pouco a dizer sobre esse assunto, e que de modo algum ela nos dá uma compreensão a respeito da enormidade de sua significância” (Ibid, p. 1). Logo, seria necessário ir além do tomismo, seria necessário “um novo Tomás de Aquino” e isso implicaria em “recorrer às outras tradições, aos ensinamentos que de fato têm sido longamente impugnados por nossos pânditas como ‘superstições primitivas’ e rejeitadas imediatamente” (Ibid. p. 1).

             Segundo Smith (2016, p. 2) esse assunto a respeito de um mundo ou domínio intermediário da realidade teria sido levantado em uma conversa radiofônica entre ele e Martin (o que posteriormente ocasionou a troca de cartas). Smith afirma ser uma das suas críticas ao psicólogo (também gnóstico) Carl Jung o fato desse último ter confundido o reino intermediário com o domínio espiritual (note que ambos defendem, ainda que de modos diferentes, a tese gnóstica de um mundo intermediário, também conhecido por mundus imaginalis). Martin chama esse mundo de middle plateau (“platô intermediário”) e diz ter entrado diversas vezes em contato com esse mundo em virtude de sua “capacidade enquanto exorcista” (Ibid., p. 2), pois esse reino constituir-se-ia no “habitat dos demônios com quem ele [Martin] estaria autorizado a conversar [empowered to converse]” (Ibid.). Smith procede afirmando a necessidade de um “novo Tomás de Aquino” em vista dessa questão dos mundos intermediários (Ibid.).

Então afirma Smith que:

Agora, uma “abertura de portas e janelas” é sem dúvida o que os progressistas de toda estirpe tem defendido há um longo tempo. O problema, entretanto, é que como regra eles acolheram idéias erradas contemporâneas no lugar da verdade perene. O que é realmente necessário é uma compreensão radicalmente mais profunda do cosmos: a descoberta – ou, para ser preciso, a redescoberta – de camadas ontológicas inacessíveis não somente à percepção sensorial comum, mas também ao modus operandi da ciência contemporânea.[11]

             Note que Smith não se opõe à “abertura de portas e janelas” (isto é, o aggiornamento apregoado pelos modernistas do Concílio Vaticano II), mas somente se opõe ao modo como ele foi defendido pelos progressistas (que não se pautariam sobre a verdade perene mas sobre idéias erradas contemporâneas). Smith defende, como ficará claro a seguir, um aggiornamento não progressista, mas gnóstico, um aggiornamento a la destra, ou melhor, um aggiornamento a la tradizione primordiale! Seria um aggiornamento à “verdade perene”, que, como veremos, é o que ele defende como sophia perennis e que não é nada mais do que pura Gnose.

             Ele ressalta a necessidade de redescobrir “estratos” (strata) ontológicos (ou seja, “camadas da realidade”) inacessíveis tanto à percepção sensorial ordinária quanto ao modus operandi das ciências contemporâneas. Isso quer dizer que para Smith, a realidade é feita de “camadas”, e que há muitas delas inacessíveis (o que, como veremos, trata-se da concepção gnóstica de mundo intermediário ou mundus imaginalis – algo que jamais esteve presente na doutrina católica e que é radicalmente desalinhado com ela[12]). Note que não se trata de defender a metafísica tomista e seu método de resolutio (que é discursivo, uma cadeia sucessiva imbricada de raciocínios de silogismos), por meio do qual o homem alcança o conhecimento das causas supremas[13] e imateriais. Ele postulará a necessidade de um “novo tomismo”. O termo “tomismo” aí, como veremos, não passa de um anestésico, uma palavra com função “cavalo de tróia” para passar a impressão de ortodoxia doutrinal, quando na verdade Smith compreende por esse termo nada mais do que a velha e pérfida Gnose. Evidentemente o que deve ser ressaltando no termo “novo tomismo” não é propriamente o “tomismo”, mas sim o “novo”.

             Smith então afirma que para essa empreitada é necessário redescobrir as “ciências tradicionais”, que, diferentemente da ciência moderna, não usam como instrumentos “microscópios” nem “telescópios”, mas sim o próprio homem (concebido de modo tripartite, enquanto constituído corpo-anima-spiritus, o que já é um erro, uma vez que o homem é composto apenas de corpo e alma racional[14]) com sua pureza e suas “energias sutis” que em nossa civilização seriam dissipadas por pecados contra o sexto mandamento (no caso, ele fala especificamente da promiscuidade) (SMITH, 2016, p. 3)[15]. Logo após cita a escola pitagórica, dizendo que Pitágoras exigia de seus discípulos os votos de castidade e o de cinco anos de silêncio como condição para o aprendizado (Ibid. p. 4).

            Então, ele começa a explicar mais o que entende por ciências tradicionais. Ele afirma que elas são ciências sagradas, e  diz que elas não são aceitas em ambientes católicos “conservadores”, pois são consideradas “superstições pagãs”. Ele afirma então que investiu muitos anos da sua vida estudando essas ciências, inclusive por meio de contato pessoal com seus representantes na Índia e no Nepal:

Investi décadas na exploração de tais” superstições pagãs”, não apenas por meio de fontes escritas, mas através de contatos pessoais envolvendo meia dúzia de estadas prolongadas em partes da Índia e do Nepal, por exemplo, onde felizmente nossa cultura McDonald’s ainda não havia penetrado”[16]

             E é aí então que ele diz do que se trata essa “ciência”. Como se vê, não se trata nem da teologia sagrada ou sacra doctrina, (como era de se esperar de um católico), nem mesmo da teologia filosófica ou metafísica tomasiana[17]. Trata-se de uma pretensa “sabedoria pré-Cristã”, de origem “suprahumana” (ou seja, sobrenatural, revelada – mas não cristã!), perpetuada perenemente por uma cadeia ininterrupta de transmissão de mestre a discípulo que remontaria originalmente até…. Adão!!! Ela teria deixado “vestígios” por todas as parte do mundo (e com isso evidentemente ele quer dizer: em diversas religiões, uma vez que não é o catolicismo que podemos encontrar na India nem no Nepal, convenhamos). Ela seria a sophia perennis (termo utilizado por muitos “direitistas” no Brasil, aliás[18]). A solução para os problemas de nossa época estaria justamente nessa “sabedoria”. Essa “sabedoria”, evidentemente, não passa de um codinome para Gnosis:

E, à luz dessas investigações, estou persuadido de que existe uma sabedoria pré-cristã de origem suprahumana, perpetuada em cadeias ininterruptas de transmissão de mestre para discípulo – iniciando concebivelmente com o próprio Adão –  cujos vestígios ainda podem ser encontrados em várias partes. do mundo. Cheguei a acreditar, além disso, que a sabedoria em questão – essa verdadeira sophia perennis – é algo de que nós, da época atual, precisamos com urgência. Para colocar de forma tão sucinta quanto possível: precisamos de uma ciência sagrada porque, coletivamente, sucumbimos ao feitiço e domínio de uma ciência profana que está saindo fora do controle. Diante deste ataque devastador, ficamos na verdade tão desamparados quanto uma criança, sem sequer uma pista! Mesmo a mais elevada religião, ademais, não será suficiente para neutralizar esse feitiço ou romper esse estrangulamento. O fato é que hoje somos cercados e sitiados por “sinais e maravilhas que poderiam enganar até mesmo os eleitos” [os negritos são nossos][19].

            Note que ele afirma que só essa sophia perennis poderia salvar o mundo das garras da ciência moderna materialista e profana e que nem mesmo a “mais elevada religião” seria suficiente para neutralizá-la. Notem o que está implícito: se ele fala de “mais elevada religião”, está admitindo graus de elevação nas religiões. Logo, não está afirmando que existe apenas uma religião verdadeira, a da Igreja Católica Apostólica Romana em oposição a todas outras como falsas. Afirma assim que pode haver graus de elevação. E, ao mesmo tempo, opõe religião a essa sabedoria, considerando estar essa sophia perennis acima de todas as religiões em virtude de uma capacidade que “nem a mais elevada das religiões” teria, mas só ela. A concepção conforme a qual se acredita haver uma forma de sabedoria superior a todas as religiões, que remonta a uma tradição primordial adâmica, é exatamente o que se entende por Gnose, como afirma o próprio René Guénon:

Por Gnose aqui se deve entender o Conhecimento tradicional que constitui o fundo comum de todas as iniciações, cujas doutrinas e símbolos foram transmitidos, desde a mais remota antiguidade até nossos dias, através de todas as Confraternidades secretas, cuja longa corrente jamais foi interrompida (GUÉNON, R. Études sur la Franc Maçonnerie et le Compagnonage, T. I, p. 257, apud ROBIN, Jean. René Guénon: Testimone della Tradizione. Catania: Il Cinabro, 1993, p.167. Tradução e negrito são nossos). Apud FEDELI, O. A gnose tradicionalista de René Guénon e Olavo de Carvalho In: FEDELI, Orlando; SCHLITHLER, Fernando. Sob a máscara – as polêmicas de Orlando Fedeli e Fernando Schlithler contra Olavo de Carvalho. São Paulo: Flos Carmeli Edições, 2019, p. 29.

            Também Seyed Hossein Nasr:

Essa sabedoria eterna da qual a ideia de tradição não pode ser divorciada e que constitui um dos componentes principais do conceito de tradição é precisamente a sophia perennis da tradição ocidental, que os hindus chamam de sanatana-dharma e os muçulmanos de alhikmat al-khalidah (ou javidan khirad em persa) (NASR, S. H. Knowledge and the Sacred, p. 68. O negrito é nosso). Apud FEDELI, 2019, p. 37)

             E Frithjof Schuon:

O que nós temos em vista, neste livro como nos precedentes, é, afinal de contas, a scientia sacra ou a philosophia perennis, a gnose universal que sempre existiu e que sempre existirá (SCHUON, F. Comprendre l’Islam. Avant-propos, p. 7. O negrito  é nossos; os itálicos são do autor). Apud FEDELI, 2019, p. 34.

             O que Smith propõe não é nada mais do que a velha e pérfida Gnose como solução para os “problemas modernos”, buscando disfarçá-la de Catolicismo ou ao menos como algo congruente com ele. É uma recauchutagem do velho projeto de René Guénon de “regenerar” o Ocidente Cristão por meio da influência de uma elite espiritual de iniciados (talvez da Índia e do Nepal?)[20] dotados dessa “sabedoria” ou “gnose” e que estariam ligados por uma cadeia iniciática ininterrupta até a Tradição Primordial.

            Postulando a necessidade de um “novo Tomás de Aquino”, Smith afirma que o primeiro passo dessa empreitada, acredita ele, deve ser a redescoberta do bhuvar védico, que Malachi Martin chama de “middle plateau” (SMITH, 2016, p. 6). Trata-se da tese já mencionada de mundos ou mundo intermediário. Segundo Theresa Bane, Bhuvar-Loka é “uma das oito regiões de existência celestial na mitologia hindu, Bhuvar-Loka é o espaço entre a terra e o sol”[21].

            Então, ardilosamente, Smith afirma tanto que essa concepção por ele postulada contradiz o ponto de vista católico “ultra” tradicional (obviamente, ele rotula pejorativamente a sã doutrina para lhe impingir uma aparência de inadequação, exagero, etc), dizendo que muito do que ele defende seria acolhido calorosamente por aficcionados pelo Concílio Vaticano II. Mas, – e aí está o ardil – também afirma , evidentemente se contradizendo, que ele se submete sem reservas ao ensinamento autêntico da Igreja Católica:

Desde o início, associei a necessidade de “um novo Tomás de Aquino” ao desideratum de uma cosmografia ampliada: a redescoberta de panoramas ontológicos que eclipsam ou fazem corar, envergonham [put to shame] os bilhões de anos-luz formulados hipoteticamente por nossos astrofísicos. E o primeiro passo nesse empreendimento, eu acreditava, deve ser a redescoberta do bhuvar védico, o “platô intermediário” do Pe. Martin. Eu queria compartilhar com ele meus pensamentos e intuições a esse respeito por meio de cartas e publicações relacionadas a esse assunto, começando com o artigo sobre o teorema de Bell. Era claro para mim que, de um ponto de vista católico ultra-tradicional, muito deste material era suspeito, para dizer o mínimo, e que seria de fato inútil abrir meus pensamentos sobre tais assuntos para teólogos “rank and file[rank and file é um termo pejorativo que diz respeito a algo como “soldados rasos”, membros ordinários de uma organização em oposição a seus líderes],  de ambos os lados da divisão contemporânea. Me dei conta ao mesmo tempo que partes do que eu tinha a dizer seriam, de fato, calorosamente recebidas pelos aficionados do Vaticano II; mas deixe-me ser absolutamente claro: submeto-me sem reservas ao ensinamento autêntico da Igreja Católica, que transcende tanto a limitação pedante e às vezes farisaica da extrema direita teológica, quanto não menos que as fantasias liberais e os sonhos [pipe dreams, isto é, um sonho ou uma esperança inatingível ou fantasiosa] da esquerda. E pareceu-me desde o início que em Malachi Martin eu poderia de fato ter encontrado o guia e o árbitro que eu estivera procurando: alguém dotado tanto da amplitude do conhecimento quanto do profundo discernimento para julgar a catolicidade das visões às quais eu havia chegado. [os negritos são nossos][22]

            Smith então fala sobre os autores neomodernistas da Nouvelle Théologie, Henri de Lubac e Hans Urs von Balthasar[23] (cujas teses foram condenadas pelo Papa Pio XII na Encíclica Humani Generis[24]) e sobre a tese deles – apreciada por Smith – a respeito de haver uma “disposição natural para o sobrenatural”. Trata-se de uma tese modernista (talvez a tese da heresia modernista mais conhecida) e gnóstica, segundo a qual haveria uma necessidade ou exigência imanente na natureza humana pela visão beatífica (ou melhor, por um modo de união sobrenatural com Deus). Ou seja, a natureza humana teria uma exigência de algo sobrenatural, de modo que a beatitude sobrenatural e a graça para alcançá-la não seriam gratuitas, mas como que um direito, uma necessidade da natureza humana. Consequentemente, a natureza humana teria um impulso imanente (a tese modernista da imanência vital condenada por São Pio X na Pascendi Dominici Gregis[25]) ao sobrenatural, o que é contraditório, pois seria algo ao mesmo tempo natural e sobrenatural. O sobrenatural, o divino estaria presente em si mesmo imanente à natureza humana, o que é o mesmo que postular uma forma de identificação entre criatura e Criador: tese gnóstica[26].

             Smith diz que Martin mostrava uma relutância em aceitar essa tese mas que ao mesmo tempo se mostrava “aberto”, e admirava Von Balthasar. Smith escandalosamente defende essa tese apresentando-a nessa passagem sem disfarces com toda a gnose que ela envolve:

É para ser claramente entendido que a relutância do Padre Martin em reconhecer “uma disposição natural para o sobrenatural ” – tão longe de ser indicativa de uma incapacidade de perscrutar os gostos de Henri de Lubac – deriva de uma profunda compreensão pastoral daquilo que essa afirmação implica. Mais perspicazmente talvez do que qualquer um de seus pares, Malachi Martin estava ciente da praga espiritual que resulta invariavelmente de uma manipulação descuidada desta questão: de uma resposta afirmativa, isto é, de profundidade insuficiente.A afirmação de um ingrediente sobrenatural no homem é autenticamente esotérica ou grosseira heresia, e as duass são separadas por um fio de navalha. Pense na Vünkelin ou “pequena centelha” presente em cada ser humano de Meister Eckhart, dita ser increatus et increabile: “incriada e incriável”! Meu ponto é que tais concepções são compreensíveis para muito poucos, e que sua disseminação para os fiéis em geral não é apenas desnecessária, mas perigosa ao extremo. Clemente de Alexandria afirmou: “Não se dá uma espada para uma criança”. Agora eu suponho que Malachi Martin entendeu de longe isso melhor do que a maioria dos teólogos, e isso explica suas repetidas referências ao total desamparo e à incapacidade do homem decaído per se em relação aos reinos espirituais”.[27]

        Smith desavergonhadamente defende a tese de um “esoterismo autêntico” católico, encontrável no herege condenado Mestre Eckhart, no qual se afirmaria uma forma de imanência de Deus no homem (ou seja, uma identificação entre o homem e Deus, por meio da centelha divina, Vünkenlin ou Fünkenlein presente no homem[28]).

             O herege Mestre Eckhart foi condenado pelo Papa João XXII no século XIV. Mestre Eckhart teve uma série de erros enumerados e condenados por João XXII na Constituição  In agro dominico, de 27 de março de 1329. O gnóstico Frithjof Schuon (líder da tariqah Maryamiyya da qual Olavo fez parte, e considerado por ele até hoje – “apesar da briga” – como grande autor espiritual e autor de tese gnóstica irrefutável[29]) o tem por referência em seu livro A unidade transcendente das religiões:

As considerações deste livro procedem de uma doutrina que não é filosófica, mas propriamente metafísica; esta distinção pode parecer ilegítima àqueles que têm por hábito englobar a metafísica na filosofia, mas, se encontramos esse tipo de assimilação já em Aristóteles e em seus continuadores escolásticos, isso prova precisamente que toda filosofia tem limitações que, mesmo nos casos mais favoráveis como esses que acabamos de citar, excluem uma apreciação perfeitamente adequada da metafísica; esta, na realidade, possui um caráter transcendente que a torna independente de um pensamento puramente humano, seja este qual for (SCHUON, Frithjof. A unidade transcendente das religiões. São Paulo: IRGET, 2011. p. 11).

             E exatamente essa afirmação citada por Schuon e mencionada por Smith se encontra condenada pelo Papa João XXII (D-527). Citamos aqui essa condenação enquanto presente no Denziger (para o ódio e revolta daqueles direitistas que odeiam e  debocham desse livro, somente porque se veem nele condenados):

D-527 (1) [27] Primeiro artigo. [Tese condenada:] Existe algo na alma que é incriado e incriável. Se a alma inteira fosse como tal, seria incriada e incriável: e isso é o intelecto[30].

            Para que fique claro esse conceito de divinização do homem, segue outro erro de Eckhart condenado no mesmo documento:

D-510 (10) [10] Décimo artigo. [Tese condenada:] Nós seremos totalmente transformados em Deus e seremos Nele transfigurados do mesmo modo que, no sacramento, o pão torna-se o corpo de Cristo. Eu serei transfigurado Nele, pois Ele próprio me fez uno com o seu ser, e não semelhante ao seu ser. Pelo Deus vivente, é verdade que aí não existe qualquer distinção[31].

             Smith ainda tem o descaramento de dizer que essa concepção seria compreensível somente a poucas pessoas e que sua disseminação para o grande público seria perigosa. Curiosamente o mesmo é afirmado por Olavo de Carvalho em seu péssimo artigo As Garras da Esfinge[32] onde, sob pretexto de criticar René Guénon, acaba por defender suas concepções ardilosa e escandalosamente como que adaptando-as (sob o pretexto de tê-las assimilado, absorvido e superado) ao defender uma concepção herética e gnóstica dos sacramentos católicos como iniciáticos[33].

            Em uma passagem mais adiante, que merece bastante atenção ao ser lida, Smith afirma o seguinte sobre Malachi Martin:

Isso me leva finalmente ao meu último ponto: independentemente de qualquer interesse humano que as cartas de Malachi Martin possam ter e da luz que possam lançar sobre esse grande homem, a significância proeminente delas, parece-me, reside no fato de testemunharem a Igreja, não apenas como era, mas também – e especialmente – como ela deverá ser[34].

            Do que se trata dessa “Igreja” que ainda deve ser, que ainda não é? Se ela deve futuramente ser algo que ainda não foi, necessariamente trata-se de uma mudança. Smith então afirma que haverá uma mudança na Igreja, e que ela há de ser tornar o que ela deve ser. Obviamente – o homem não é bobo – ele afirma ao mesmo tempo que as verdades essenciais devem ser mantidas (e é quando ele faz esse tipo de afirmação que os ingênuos – ou pessoas com fraca formação religiosa –  caem na sua conversa). Ele contraditoriamente afirma que as “verdades essenciais de nossa fé católica precisam ser preservadas” mas ao mesmo tempo há elementos estranhos a serem abandonados e barreiras artificais a serem destruídas:

Ele parece ter seus olhos tanto no futuro quanto no passado, e nos dá a entender que, embora as verdades essenciais de nossa fé católica precisem, é claro, ser preservadas, há elementos externos a serem descartados e limites artificiais a serem demolidos.[35]

            Eis a contradição: ele afirma verdades essenciais a serem mantidas ao mesmo tempo em que afirma uma mudança efetuada por uma superação de barreiras e de elementos estranhos presentes na Igreja. Permanência e mudança simultâneas. Que dialética é essa? A Igreja precisaria mudar, demolir para permanecer a mesma? Trata-se evidentemente de um ardil para afirmar que a Igreja precisa mudar, mas esconder sobre isso a aparência de estar matendo sua “essência”. Negar que se trata de uma mudança aquilo que Smith apregoa seria uma grande má fé. Note que não se trata meramente de que o clero e os fiéis se livrem das heresias atualmente disseminadas e a passem a ensinar e acreditar no que a Igreja sempre ensinou, pois ele fala de uma Igreja “não só como era, mas como ainda deverá ser” (SMITH, 2016, p. 8).

             E não adianta vir com malabarismo mental ou procedimento bexiga semimurcha ao ser apertada para tentar justificar como correta a afirmação de Smith, como se ele não defendesse uma mudança na Igreja. Smith se aproveita da desorientação geral provocada pela crise modernista para propor uma falsa solução a ela, propondo uma reorientação mas em termos gnósticos.

             Afinal, é muito mais fácil apresentar um erro mitigado como solução ao mesmo erro escancarado, do que oferecer esse erro diretamente como substituição daquilo que é verdadeiro (tal como é mais fácil conseguir R$1000 reais emprestados com alguém que reluta em emprestar dinheiro após ter insistido constrangedoramente em pedir R$10000, pois a pessoa a que sem faz o pedido se encontrará em vulnerabilidade psicológica após o primeiro pedido).

             Uma vez que há uma situação de desorientação geral e descontentamento, os católicos (não só eles, mas as pessoas em geral) – sem formação religiosa sólida, incluindo aí o clero católico – se  encontram vulneráveis para aceitarem um erro mitigador como orientação, como se esse fosse solução para a desorientação.  Devido à falta de formação sólida, e à grande confusão que a desorientação e a má formação intelectual e doutrinal causa nas mentes, a maioria está desprovida de recursos suficientes para distinguir o erro da verdade, e tendem a aceitar docilmente como referências todo aquele que se apresentar como crítico dos problemas atuais, acreditando serem essas pessoas também desprovidas de erros.

             Sobre esse procedimento alquímico de solve et coagula, destruir, dissolver para depois reconstruir em termos gnósticos (que é o modus operandi da direita, dos conservadores em toda a história) já tratamos no livro já mencionado Sob a Máscara (na introdução à versão revisada e expandida do artigo O modernismo de Olavo de Carvalho nele presente) cuja leitura recomendamos a quem quiser aprofundar o conhecimento dessa questão.

             Smith propõe a superação teológica e filosófica do tomismo mediante a absorção de teses como do protestante e gnóstico Jacob Boehme pela teologia católica. Essa “nova” Igreja (que, obviamente – Smith não é bobo – ele reluta em dizer explicitamente tratar-se de uma nova Igreja, embora o termo Igreja-por-vir seja inequívoco) estaria surgindo “silenciosamente” sob os escombros da atual desintegração:

Certamente, tudo o que é ortodoxo será encontrado novamente na Igreja, que agora está se formando silenciosamente sob os escombros da atual desintegração; contudo, essa Igreja-por-vir será sem dúvida libertada de limitações de perspectiva e de idiossincrasias endêmicas a esta ou aquela época, como também da autocracia de qualquer estilo teológico particular: por exemplo, do tomismo como geralmente o concebemos. E isso explica não somente porque “realmente precisamos de um novo Tomás de Aquino”, mas também coloca em perspectiva a resposta afirmativa de Malachi Martin às várias doutrinas “exóticas” com as quais eu o confrontei, começando com os ensinamentos de Jacob Boehme, o visionário do século XVII que, na opinião de alguns, “cristianizou” a sabedoria alquímica pertencente à tradição hermética.Isso  explica por que Malachi Martin poderia adotar essas doutrinas “suspeitas” com alegria sincera e entusiasmo palpável, e nos permite entender como este fiel servo da Igreja Católica Romana e filho leal do Sanctus Pater Ignatius [Santo Inácio de Loyola] poderia escrever sobre esse místico alemão: “Ele pode ter sido sapateiro e luterano por um assim chamado “acidente” da história pessoal, mas certamente Cristo se inclinou sobre ele à meia-noite de seu trabalho pessoal … “. No lugar das referências costumeiras, abertas ou veladas, às “superstições pagãs”, nós encontramos nestas magníficas palavras – que de fato ecoam o que o próprio Boehme revela sobre “a meia-noite de seu trabalho” – a perfeita receptividade de uma mente e coração purificados no Sangue de Cristo. E quem pode duvidar que este padre fala, mesmo agora, para a Igreja que está por vir![36]

             Note que ele chama essa Igreja de “the Church to come”, isto é, a “Igreja que há de vir” ou “está por vir”, afirmando que será uma igreja livre de “limitações” e de “idiossincrasias”, incluindo aí estar livre do “tomismo” tal qual o conhecemos. Para se opor a concepção radical modernista de Igreja disseminada pelo Concílio Vaticano II, Smith propõe uma concepção gnóstica e também modernista de Igreja, “oxigenada” pela sophia perennis ou Gnosis. E ele faz isso com a maior  desfaçatez, afirmando que os aficcionados pelo Vaticano II irão concordar com ele!  O modus operandi de Olavo de Carvalho, Jean Borella e outros gnósticos é muito, muito similar.  Esta Igreja estaria surgindo “silenciosamente” (ou seja, discretamente, secretamente) por debaixo dos escombros deixados pelo Concílio Vaticano II: trata-se, novamente, da estratégia solve et coagula de se aproveitar de ou provocar uma desorientação geral, dela se aproveitando para tentar fazer “triunfar” de seus escombros uma nova “orientação” herética e blasfema.

             Smith afirma portanto que é como que preciso “superar” o tomismo num “novo Tomás de Aquino”, superar barreiras “artificiais”, apregoando o gnóstico Boehme como referência para essa empreitada que estaria atrelada diretamente ao surgimento dessa Igreja que ainda não é, mas “shall be”. O que ele está afirmando é que, para sair da crise modernista, a Igreja deveria assimilar teses gnósticas. A Igreja deveria aceitar a Gnose ou sophia perennis.

             Smith não é bobo. Por isso não afirma explicitamente que Santo Tomás de Aquino deva ser descartado nessa “Igreja que há de vir” (o que tornaria seu erro explícito e escandaloso demais), mas sim, ele defende um “novo tomismo”, um “novo Tomás de Aquino”. Para não afirmar que ele deseja que o tomismo seja substituído, ele faz um jogo anestésico de palavras e formulações postulando a necessidade de “um novo tomismo” (o que no fundo é o mesmo que descartar o tomismo). Entenda-se bem: trata-se no mínimo de uma distorção do que ensina Santo Tomás sob o pretexto de estar “retificando” sua comprenssão à luz (ou melhor, “às trevas” ou “às sombras”) de uma “sabedoria perene” das “ciências tradicionais”, i.e., da Gnose.

             Olavo de Carvalho tem proposto concepções similares como em seu artigo “As Garras da Esfinge” e em seu curso online de 2017 Esoterismo na História e Hoje em Dia. Tanto nesse artigo como nesse curso, Olavo. Olavo, alegando combater o erro dos perenialistas que querem redefenir o catolicismo em termos gnósticos, oferece como solução redefinir a Gnose em termos católicos, dando a entender que só haveria Gnose de verdade no catolicismo e nos seus sacramentos (evidentemente apresentado uma visão totalmente deturpada e herética do catolicismo).

             Infelizmente muitas pessoas ingênuas e despreparadas caem nessa conversa acreditando que Olavo estaria afirmando com isso que a religião católica é a única verdadeira, quando na verdade está disseminando uma interpretação gnóstica a seu respeito. Para uma análise desse artigo e desse curso, ver nosso artigo O modernismo de Olavo de Carvalho (versão revisada e expandida) presente em FEDELI, Orlando; SCHLITHLER, Fernando. Sob a máscara – as polêmicas de Orlando Fedeli e Fernando Schlithler contra Olavo de Carvalho. São Paulo: Flos Carmeli Edições, 2019[37].

2. CONCLUSÃO

             Quanto a Igreja ela é indefectível e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela. Seja a falsa igreja igualitária, sem hierarquia e sem dogmas da Teologia da Libertação, seja a falsa igreja gnóstica “oxigenada” para fora dos “limites artificiais” pela sophia perennis de Smith, Martin, Aiatolavo et caterva, ambas não passam de mera pirraça impotente do demônio contra a verdadeira Igreja. Igreja que nem não era e não é mais, nem ainda será ou ainda “há de vir”, como afirma blasfemamente Wolfgang Smith, mas Igreja que é, continua e continuará sendo a Igreja de sempre fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Pois a Verdade é una e imutável.

             Que Nossa Senhora nos proteja e esmague a cabeça da serpente que com sua língua bífida (que possue duas pontas, uma à esquerda, outra à direita) deseja inocular o veneno da Gnose dentro da Igreja ao oferecer sibilinamente uma das pontas da sua língua como solução e oposição a outra.

             Afinal, quem precisa de Leonardo Boff e Frei Betto para distorcer a compreensão da ordem da realidade e da fé católica quando pessoas como Wolfgang Smith e Olavo de Carvalho fazem o mesmo trabalho de modo mais sofisticado e pérfido, em nome do combate ao progressismo e à teologia da libertação?

 

Referências bibliográficas

BANE, Theresa. Encyclopedia of Imaginary and Mythical Places. Jefferson: McFarland & Company, 2014

FEDELI, Orlando; SCHLITHLER, Fernando. Sob a máscara – as polêmicas de Orlando Fedeli e Fernando Schlithler contra Olavo de Carvalho. São Paulo: Flos Carmeli Edições, 2019

FEDELI, Orlando. “A Gnose Tradicionalista de René Guénon e Olavo de Carvalho” In: FEDELI, Orlando; SCHLITHLER, Fernando. Sob a máscara – as polêmicas de Orlando Fedeli e Fernando Schlithler contra Olavo de Carvalho. São Paulo: Flos Carmeli Edições, 2019, p. 13-198.

SCHLITHLER, Fernando. “O modernismo de Olavo de Carvalho” (versão revisada e expandida) In: FEDELI, Orlando; SCHLITHLER, Fernando. Sob a máscara – as polêmicas de Orlando Fedeli e Fernando Schlithler contra Olavo de Carvalho. São Paulo: Flos Carmeli Edições, 2019, p. 199 – 398.

MARTIN, Malachi, SMITH, Wolfgang. In Quest of Catholicity: Malachi Martin Responds to Wolfgang Smith. Edited with an Introduction by Wolfgang Smith. Kettering: Angelico Press, 2016. (versão digital para Kindle).

MARTIN, Malachi. Windswept House: A Vatican Novel. New York: Doubleday, 1996.

MARTIN, Malachi. The Keys of this Blood. New York: Touchstone Books, 1990.

MOTREFF, Antoine de. Quem inspirou René Guénon?. Disponível em:  <http://permanencia.org.br/drupal/node/5230> Acesso 1 julho 2019

SEDGWICK, Mark. Against the Modern World: Traditionalism and the Secret Intellectual History of the Twentieth Century. Oxford: Oxford University Press, 2004.

[1] Cf. FEDELI, Orlando. “Futuros decretos papais” In http://165.227.105.11/futuros-decretos-papais/ Acesso 1 julho 2019.

[2] https://en.wikipedia.org/wiki/Malachi_Martin Acesso 1 julho 2019. Apesar de tratar-se da  wikipedia e,  cientes das vulnerabilidades das informações apresentadas por esse site, recomendamos a leitura desse verbete condicionada à checagem das fontes nele elencadas.

[3] A questão a respeito da dispensa de votos de Malachi Martin e sua vida posterior é um tanto controversa. Alega-se que foi somente um desligamento da ordem dos jesuítas, tendo sido dispensado dos votos somente de obediência e pobreza. Segundo Smith (2016, p. 140) o Cardeal Terence Cook teria concedido a Martin a permissão de exercer o ministério de um padre secular em Nova Iorque. Mas, ao mesmo tempo ele teria trabalhado em Nova Iorque como lavador de pratos e motorista de táxi (SMITH, 2016, p. 141), o que, digamos, não combina nada com a função de um padre secular.

[4] Cf. COOMARASWAMY, Rama. On the validity of my ordination. Disponível em: <http://www.the-pope.com/validity.html> (Acesso 1 julho 2019). Além disso, Rama Coomaraswamy afirma que Malachi Martin era, além de sacerdote, bispo.

[5] https://www.rexisrael.com/en/rama-coomaraswamy/ Acesso 1 julho 2019. Citamos esse site apenas para mostrarmos a fonte de nossas informações. Citamos esse site apenas para mostramos a fonte de nossas informações, nos opondo a toda e qualquer posição sedevacantista.

[6] http://coetusinternationalisfidelium.blogspot.com/2009/06/fotos-historicas-malachi-martin-e.html Acesso 1 julho 2019. Citamos esse site apenas para mostramos a fonte de nossas informações, nos opondo a toda e qualquer posição sedevacantista.

[7] Tradução do título: “Em busca da Catolicidade: Malachi Martin responde a Wolfgang Smith”.

[8] Uma prova de que Olavo tenha criado certo culto ao redor de si encontramos por exemplo na aula do COF de número 82. Essa aula tem como fim desqualificar todos os seus ex-alunos que apresentam críticas ou reservas em relação a Olavo, de modo a prevenir todos seus alunos do contato com eles. Para embasar isso, Olavo usa de um argumento extremamente exagerado e escancaradamente soberbo e vaidoso: diz que é preciso no mínimo de 20 a 30 anos de convívio com um filósofo como ele para poder assimilar sua filosofia (entenda bem: trata-se de convívio e não meramente de leitura e estudo, uma vez que só isso seria insuficiente conforme Olavo). Assim, segundo Olavo, qualquer pessoa que não tenha convivido com ele por por cerca de 20 a 30 anos (tal como Aristóteles com Platão – sim, ele faz essa comparação!), seria incapaz de ter assimilado sua “filosofia” e portanto estaria necessariamente incapacitado a lhe fazer qualquer crítica ou correção.

Alguém que não consiga ver o grande exagero nisso, lamentamos muito, mas só pode estar fanatizado. Trata-se de um artifício mequetrefe de retórica, mediante o qual Olavo busca desqualificar de antemão todos seus críticos (a não ser que tenham convivido com ele por 20 a 30 anos!), de modo que todos seus alunos passam então a se verem como sempre abaixo do mestre, sempre ainda incapazes de compreendê-lo. Mais do que isso: trata-se de uma formação de verdadeiro culto a sua personalidade, a qual é atribuída uma importância muito, mas muito maior do que realmente tem. Assim, tudo o que Olavo ensina deve ser aceito de antemão e jamais criticado, uma vez que ninguém está ainda à altura de compreendê-lo a ponto de criticá-lo (com exceção da sua devotíssima aluna Luciane Amato, como ele mesmo afirma). Só uma pessoa já fanatizada por ele e/ou muito vulnerável intelectualmente e psicologicamente não reconhece que essa argumentação é brutalmente exagerada e que ela é um artifício de manipulação psicológica cujo efeito é fazer com que todos seus alunos sempre se sintam inseguros em julgar as afirmações do guru – ao mesmo tempo em que desqualifica e assassina a reputação de qualquer de seus “ex-alunos”, deixando um recado bem claro ao que pode acontecer com os atuais alunos que ousem criticá-lo antes de um convívio de 20 a 30 anos.

[9] Sobre esse assunto novamente recomendamos o livro Sob a Máscara, onde tratamos de modo mais extenso sobre a infiltração de membros da escola perenialista em ambientes ligados à Missa Tridentina, como na Fraternidade São Pio X.

[10] https://w2.vatican.va/content/leo-xiii/es/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_04081879_aeterni-patris.html Acesso 1 julho 2019.

[11] “Now, an ‘opening of doors and windows’ is of course what progressivists of every stripe have been advocating for a very long time; the problem, however, is that as a rule they have welcomed contemporary misconceptions in place of perennial truth. What is actually needed is a radically deeper comprehension of the cosmos: the discovery—or rediscovery, to be precise—of ontological strata inaccessible not only to ordinary sense perception, but to the modus operandi of contemporary science as well.” (SMITH, 2016, p. 3).

[12] Parece ser uma tendência em toda a direita afirmar a existência de mundos intermediários ou paralelos. Encontramos essa concepção, por exemplo, em J.R.R. Tolkien e sua concepção de  Mundo Secundário (Secondary World), Belo Reino ou Reino de Faerie e subcriação (exposta em seu artigo On fairy stories). Sobre essa questão, ver: FEDELI, Orlando; SCHLITHLER, Fernando. Sob a máscara – as polêmicas de Orlando Fedeli e Fernando Schlithler contra Olavo de Carvalho. São Paulo: Flos Carmeli Edições, 2019 (há diversas passagens desse livro onde essa questão é tratada). Disponível para compra em: https://www.floscarmeliedicoes.com.br/sob-a-mascara

[13] Cf. MITCHELL, Jason. The Method of Resolutio and the Structure of the Five Ways,In: Alpha Omega, XV, n. 3, 2012 – pp. 339-380.

[14] Quando se diz espírito, compreende-se apenas a parte mais elevada e espiritual da alma humana, i.e., sua inteligência e vontade, como afirma São Tomás: […] deve-se considerar que a alma racional é, a um tempo, alma e espírito. Chamamo-la alma segundo o que tem de comum com as outras almas, tal como dar vida a um corpo: por isso se diz no Gênesis [2,7]: “Tornou-se uma alma vivente”, isto é, que dá vida a um corpo. Mas chamamo-la espírito segundo o que tem como próprio, com exclusão das outras almas: possuir uma potência intelectiva imaterial” (ST I, q. 97, a. 3, R). Aqueles que postulam o espírito como um terceiro elemento da natureza humana, distinto da alma, como veremos, o compreendem como o sobrenatural no homem, trata-se de uma concepção herética e gnóstica. É o caso de Smith e também do herege Mestre Eckhart.

[15] Essa noção de “energias sutis” não é nada católica, e na verdade está associada a concepções de ioga (tantrismo).

[16] “I have invested decades in the exploration of such “pagan superstitions,” not only by way of written sources, but through personal contacts involving half-a-dozen extended sojourns in parts of India and Nepal, for example, where happily our McDonald’s culture had not yet penetrated” (SMITH, 2016, p. 4).

[17] Cf. Santo Tomás de Aquino: In Metaph. Proemium; Super Boet. De. Trinit.q. 6; ST I, q. 1

[18] Cf. https://sophiaperennis.com.br/ e http://sophiaperenes.com.br/

[19] “And in light of these investigations I am persuaded that there exists a pre-Christian wisdom of supra-human origin, perpetuated in unbroken chains of transmission from master to disciple—beginning conceivably with Adam himself—vestiges of which can still be found in various parts of the world. I have come to believe, moreover, that the wisdom in question—this veritable sophia perennis—is something of which we of the present age stand urgently in need. To put it as succinctly as I can: we have need of a sacred science because, collectively, we have succumbed to the spell and dominance of a profane science that is running out of control. In the face of this onslaught we stand in truth as helpless as a child, without so much as a clue! Even the highest religion, moreover, will not suffice to neutralize this spell or break that stranglehold; the fact is that we are today encompassed and besieged by “signs and wonders that could deceive even the elect”. (SMITH, 2016, p. 4-5)

[20] Cf. SEDGWICK, 2004.

[21] “One of the eight regions of heavenly existence in Hindu mythology, Bhuvar-Loka is the space between the earth and the sun. Source: Dowson, Classical Dictionary of Hindu Mythology and Religion, 179”. (BANE, Theresa. Encyclopedia of Imaginary and Mythical Places. Jefferson: McFarland & Company, 2014, p. 31).

[22] “From the start I connected the need for “a new Thomas Aquinas” with the desideratum of an enlarged cosmography: the rediscovery of ontological vistas that put to shame the billions of light-years hypothesized by our astrophysicists. And the first step in this enterprise, I believed, must be the rediscovery of the Vedic bhuvar, Fr. Martin’s “middle plateau.” I wanted to share with him my thoughts and intuitions in that regard by way of letters and publications relating to this issue, beginning with the article on Bell’s theorem. It was clear to me that, from an ultra-traditional Catholic point of view, much of this material was suspect, to say the least, and that it would in fact be futile to open my thoughts on such matters to “rank and file” theologians on either side of the contemporary divide. I realized at the same time that parts of what I had to say would in fact be warmly welcomed by aficionados of Vatican II; but let me be absolutely clear: I submit without reservation to the authentic teaching of the Catholic Church, which transcends both the pedantic and at times pharisaical narrowness of the extreme theological right no less than the liberal fantasies and pipe dreams of the left. And it seemed to me from the start that in Malachi Martin I may indeed have found the guide and arbiter I had been looking for: someone endowed with both the breadth of knowledge and depth of insight to judge the Catholicity of the views at which I had arrived” (SMITH, 2016, p. 6).

[23] Autores que, após a morte de Pio XII, foram como que “rehabilitados”, tidos como referência para o Concílio Vaticano II (De Lubac chegou a ser teológo perito no Concílio), e, após o Concílio, passaram a ser tidos por “lideranças conservadoras” que se opunham somente à velocidade radical das mudanças efetuadas, mas não propriamente as mudanças contra a sã doutrina (defendiam os erros modernistas de modo mitigado, “conservador”). Sobre isso ver O modernismo de Olavo de Carvalho (versãor revisada e expandida) In: FEDELI, Orlando; SCHLITHLER, Fernando. Sob a máscara – as polêmicas de Orlando Fedeli e Fernando Schlithler contra Olavo de Carvalho. São Paulo: Flos Carmeli Edições, 2019, p. 211-216.

[24] http://w2.vatican.va/content/pius-xii/pt/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_12081950_humani-generis.html Acesso em 1 julho 2019

[25] http://w2.vatican.va/content/pius-x/pt/encyclicals/documents/hf_p-x_enc_19070908_pascendi-dominici-gregis.html Acesso em 1 julho 2019

[26] Sobre isso ver O modernismo de Olavo de Carvalho (versãor revisada e expandida) In: FEDELI, Orlando; SCHLITHLER, Fernando. Sob a máscara – as polêmicas de Orlando Fedeli e Fernando Schlithler contra Olavo de Carvalho. São Paulo: Flos Carmeli Edições, 2019

[27] “It is to be clearly understood that Fr. Martin’s reluctance to concede “a natural disposition for the supernatural”—so far from being indicative of an inability to fathom the likes of Henri de Lubac—stems rather from a deep pastoral understanding of what this claim entails. More keenly perhaps than any of his peers, Malachi Martin was cognizant of the spiritual blight that ensues invariably from a careless handling of this issue: from an affirmative response, that is, of insufficient depth. The affirmation of a supernatural ingredient in man is either authentically esoteric or it is rank heresy; and the two are separated by a razor’s edge. Think of Meister Eckhart’s Vünkelin or “little spark” in each and every human being, said to be increatus et increabile: “uncreated and uncreatable”! My point is that such conceptions are comprehensible to very few, and that their dissemination to the faithful at large is not only uncalled for but dangerous in the extreme; as Clement of Alexandria has put it: “One does not reach a sword to a child.”. Now I surmise that Malachi Martin understood this better by far than most theologians, and that this explains his repeated references to the utter helplessness and indeed incapacity of fallen man per se in relation to the spiritual realms.” [os negritos são nossos] (SMITH, 2016, p. 7).

[28] Sobre Eckhart e a Fünkenlein ver o artigo do Prof. Orlando Fedeli presente no já mencionado Sob a Máscara.

[29] Cf. O capítulo O perenialismo em: FEDELI, Orlando; SCHLITHLER, Fernando. Sob a máscara – as polêmicas de Orlando Fedeli e Fernando Schlithler contra Olavo de Carvalho. São Paulo: Flos Carmeli Edições, 2019, p. 332-375. Disponível para compra em: https://www.floscarmeliedicoes.com.br/sob-a-mascara

[30] Disponível em <http://www.faje.edu.br/periodicos/index.php/Sintese/article/viewFile/737/1170>

e <http://www.mscperu.org/biblioteca/1magisterio/denzinger/denzinger_2.htm>.

[31] Ibid.

[32] “Por meio de ritos de iniciação, os membros da elite obtêm já em vida, e muito acima da mera “salvação”, a realização espiritual que os arrebata do simples “estado individual” de existência para transfigurá-los na própria Realidade Última, ou Deus. É bom não falar muito dessas coisas perante o público em geral, que pode escandalizar-se ante a decifração de um mistério que deve permanecer opaco para a sua própria proteção espiritual.” (CARVALHO, O. de. As garras da esfinge: René Guénon e a islamização do Ocidente. Verbum, jul. 2016, pp. 37, disponível em <http://www.olavodecarvalho.org/as-garras-da-esfinge-rene-guenon-e-a-islamizacao-do-ocidente/> Acesso 1 julho 2019).

[33] Sobre isso ver o capítulo O perenialismo em: FEDELI, Orlando; SCHLITHLER, Fernando. Sob a máscara – as polêmicas de Orlando Fedeli e Fernando Schlithler contra Olavo de Carvalho. São Paulo: Flos Carmeli Edições, 2019, p. 332-375. Disponível para compra em: https://www.floscarmeliedicoes.com.br/sob-a-mascara

[34] “This brings me at last to my final point: apart from whatever human interest Malachi Martin’s letters may hold and the light they may cast upon this great man, their paramount significance, it seems to me, resides in the fact that they bear witness to the Church, not only as it was, but also—and especially— as it shall be”. (SMITH, 2016, p. 8)

[35] “He seems to have his eye as much on the future as on the past, and gives us to understand that whereas the essential truths of our Catholic faith need of course to be preserved, there are extraneous elements to be shed and artificial boundaries to be razed”. (SMITH, p. 8-9)

[36] “Surely all that is orthodox will be found again in the Church that is even now silently forming beneath the rubble of the present disintegration; yet that Church-to-come will doubtless be freed from limitations of outlook and idiosyncrasies endemic to this or that era, as also from the autocracy of any particular theological style: for example, of Thomism as we generally conceive of it. And this explains not only why “we really need a new Thomas Aquinas,” but also puts in perspective Malachi Martin’s affirmative response to the various “foreign” doctrines with which I confronted him, beginning with the teachings of Jacob Boehme, the seventeenth-century visionary who in the opinion of some has “Christianized” the alchemical wisdom pertaining to the Hermetic tradition. It explains why Malachi Martin could embrace such “suspect” doctrines with unfeigned joy and palpable enthusiasm, and enables us to understand how this faithful servant of the Roman Catholic Church and loyal son of Sanctus Pater Ignatius could write of this German mystic: “Cobbler and Lutheran he may have been by a so-called ‘accident’ of personal history, but surely Christ bent over him at the midnight of his personal travail…” In place of the customary references, open or veiled, to “pagan superstitions,” we encounter in these magnificent words—which in fact echo what Boehme himself reveals regarding “the midnight of his travail”—the perfect receptivity of a mind and heart purified in the Blood of Christ. And who can doubt that this priest speaks, even now, for the Church that is to come!” (SMITH, 2016, p. 9-10)

[37] Disponível para compra em https://www.floscarmeliedicoes.com.br/sob-a-mascara

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