A Coruja e o Rouxinol

Data

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no email
Compartilhar no whatsapp
Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no email
Compartilhar no whatsapp
image_pdfConverter em PDFimage_printPreparar para impressão

Pierre de Craon

 

A CORUJA E O ROUXINOL

 

Coruja? rouxinol? Se fosse para escolher, à primeira vista, sem hesitar, todos escolheriam o rouxinol, porque ele é a beleza, a graça, o sol, a vida.

A coruja é feia. Ela é a noite, é a morte. Ela é o ódio à luz, ela representa o mal. Quem poderia, nesse sentido, preferir a coruja?

Contudo, há também um significado legítimo e bom na coruja. Ela vê no escuro, por isso, sempre simbolizou a filosofia, que permite ver nas questões obscuras. Onde o homem comum nada percebe, o filósofo vê e compreende. A coruja representa assim o saber filosófico, a teoria pura, a ciência abstrata e, nesse sentido, é símbolo de um bem.

O rouxinol é a poesia. Até em seu nome parece haver um trinado sonoro. Ele é um raio de sol cantando. A coruja é a luz intelectual. Não há escuridão para seus olhos argutos.

Entre a coruja e o rouxinol, qual escolher?

A sabedoria é desejável e a beleza é amável. A filosofia ilumina. A poesia encanta. Preferir o saber, excluindo a beleza? Escravizar-se à beleza e repelir a sabedoria?

Entre a coruja e o rouxinol, qual escolher?

Santa Teresinha dizia: “Eu escolho tudo”.

Assim também nós. Nós escolhemos a coruja e o rouxinol. Queremos a sabedoria e a beleza, a ciência e a poesia, a luz e a música. Porque sabedoria e beleza são inseparáveis. Escolhemos tudo porque sabemos que a sabedoria é formosa e que toda beleza possui o brilho da verdade. Coruja e rouxinol se completam.

Uma das características do pensamento moderno é opor dialeticamente doutrina e realidade, teoria e prática.

Nas escolas frequentemente essa oposição atinge o desvario. Uns só valorizam a experiência. Outros se perdem em elucubrações cerebrinas.

A maioria dos alunos vai engrossar as turbas dos pragmáticos adoradores do concreto e tendem ao materialismo.

O modo de pensar católico é exatamente oposto. A doutrina da Igreja, que ensina que tudo o que Deus fez é bom e harmonioso, afirma que nunca se deve separar o teórico do prático, nem o abstrato do real. O pensamento católico se opõe, quer ao abstracionismo brumoso, quer ao ateísmo e materialismo práticos. Jamais ele separa um princípio do exemplo concreto. Doutrina e vida nos são apresentadas pela Igreja unidas e harmônicas. Todo princípio é vivido. Toda doutrina é exemplificada. É esse concreto no teórico, é essa filosofia do que há de mais prático, é essa harmonia entre doutrina e vida que fazem, do ponto de vista natural, o encanto da civilização cristã.

Como é fria e estéril a coruja sem o rouxinol! Como é vazio e superficial o rouxinol sem a coruja!

De que vale a teoria sem a realidade?

De que vale a poesia sem a verdade?

O ideal é unir os dois, pois o real é a luz intelectual na música da matéria. O real é a harmonia entre o teórico e o prático, a doutrina e a vida, o abstrato e o concreto, a coruja e o rouxinol.

Sendo o homem composto de elementos diferentes mas harmônicos, agrada-lhe o que lhe é semelhante. Amamos contemplar a concórdia de elementos aparentemente opostos. Nem o puramente abstrato, nem o puramente experimental satisfazem plenamente o homem.

São Tomás explica que, dado o homem ser corpo e alma unidos substancialmente, a razão não encontra nas criações poéticas toda a verdade de que necessita, pois a luz da verdade, na poesia, é por demais difusa. Por sua vez, as coisas de Deus superam nossa capacidade de intelecção. Sua luz, para nós, é ofuscante demais. Por isto, a razão humana só encontra uma luz que lhe é proporcionada quando contempla as verdades mais sublimes sob o véu das figuras sensíveis (Suma Teológica I-II, 101, 2).

Assim também, sendo Nossa Senhora a medianeira entre Deus e os homens. Ela é o vitral esplendoroso que nos torna possível ver a luz de Deus em todas as suas cores, brilhos e virtudes. Passando por Ela, ao encarnar-se o Verbo de Deus, a Verdade Divina, tornou-se acessível à nossa visão.

image_pdfConverter em PDFimage_printPreparar para impressão