Igreja e Escravidão

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Orlando Fedeli

Igreja e Escravidão

Enviada em: Sexta-feira, 20 de junho de 2002

Caro Sr. Orlando, Recebo vossos e-mail’s constantemente.

A carta do Sr. Gabriel de Paula me deixou curioso, pois na época da escravatura a igreja catolica tinha escravos. Como isto é possivel ?

O vaticano pode não ter se pronunciado sobre a questão do negro ter alma ou não, mas esta crença não havia naquela época ? Alguns padres não usavam tal argumento para justificar a possa de escravos da igreja.

Na novela (de época) da globo “chiquinha da silva” é explorado este assunto, num curto momento.

Muito obrigado, Paz !

 

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Prezado …( ? )amigo, salve Maria.

Infelizmente a ausência de assinatura em seu e-mail me impede de chamá-lo por seu nome, como eu bem gostaria. Como gostaria de conhecê-lo pessoalmente.

A Igreja sempre condenou a escravidão e sempre defendeu os índios e negros como seres humanos.

Já na carta de Pero Vaz de Caminha se diz que a maior riqueza da terra descoberta “eram as almas dos índios a converter”. E a Igreja sempre fez missões com os índios e negros, para convertê-los a fé, e batizá-los. Ora só podia fazer isso por afirmar que eles eram seres humanos dotados de alma imortal.

O mais é calúnia dos maus historiadores.

Se você for a Minas poderá visitar em Ouro Preto a Igreja de Santa Efigênia, que era dos escravos e ex-escravos, e na qual se cultuavam especialmente os santos de raça africana, como Santa Efigênia, São Benedito etc. E essa igreja foi, durante certo tempo, a igreja Matriz de Ouro Preto, freqüentada por todo o povo, e não só pelas pessoas de cor negra.

Você me pergunta como a Igreja condenava a existência da escravidão e possuía escravos.

Aparentemente é uma contradição.

É certo que a Igreja, seguindo a doutrina de Cristo, condenou sempre a escravidão. Na epístola de São Paulo aos Gálatas se lê: “Portanto já nenhum de vós é servo, mas filho; e se é filho, é herdeiro de Deus” (Gl 4,7). E aos Colossenses São Paulo escreveu: “Não mintais uns aos outros, despojando-vos do homem velho com todas as suas obras, e revestindo-vos do novo, daquele segundo a imagem daquele que o criou, onde não há gentio e judeu, circuncidado e incircuncidado, bárbaro e cita, servo e livre, mas Cristo é tudo em todos” (Cl 4,9-11).

Mas, se você ler as cartas de São Paulo e dos demais Apóstolos, você verá que eles recomendavam aos escravos que obedecessem a seus senhores.

Na mesma epístola aos Colossences, São Paulo recomenda aos escravos que obedeçam a seus senhores, e não que se revoltem: “Servos, obedecei em tudo a vossos senhores temporais, não servindo só quando sob suas vistas, como para agradar aos homens, mas com sinceridade de coração, temendo a Deus” (Cl 3,22).

E aos Efésios escreve São Paulo: “Servos, obedecei a vossos senhores temporais com reverência e solicitude, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo.” (Ef 6,5).

Você repare que essa linguagem do Apóstolos é bem diversa da linguagem da Teologia da Libertação que prega a revolta, e não a obediência.

Mas São Paulo determinava também que os senhores tratassem bem os seus escravos.

Ele recomenda especialmente que Filemon não maltratasse o seu escravo Onésimo que havia fugido (Cfr Epístola de São Paulo a Filemon 1, 8-19). E jamais os Apóstolos pregaram a revolta dos escravos.

Se a Igreja não pregou em Roma a revolta dos escravos, apesar de ensinar que em Cristo não havia mais senhor ou servo, é porque ela foi obrigada a aceitar a situação anômala existente no Império, e que ela não tinha força de mudar. Mas, logo que a população do Império Romano ficou católica, já não houve mais escravos. Não foi necessária uma lei de libertação dos escravos: triunfante o cristianismo, não existiram mais escravos.

Infelizmente, com o fim da Idade Média e com o advento do Humanismo Renascentista – que queria voltar à cultura romana e que condenava a cultura cristã medieval – voltou a escravidão. Foi o Humanismo, foi o Renascimento que trouxe de volta a escravidão. E hoje, os que elogiam o Renascimento querem atribuir à Igreja a escravidão. Foi o contrário o que aconteceu. Com o Renascimento voltaram o paganismo e a escravidão. E a Igreja sempre condenou a escravidão, embora fosse obrigada a aceitar a situação que existia, mas logo que foi possível a Igreja combateu a escravidão até derrubá-la. Aqui no Brasil, foram os conventos e os sacerdotes os primeiros a libertar os escravos e a favorecer a abolição da escravatura.

Espero tê-lo ajudado a compreender o problema e me despeço

in Corde Jesu, semper,

Orlando Fedeli

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