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Nossa Senhora e o Horizonte

Marcelo Andrade

Nossa Senhora e o Horizonte

(mote do padre Jacinto Oliveira)

 

Antes dos tempos de gps, celulares etc., quando se andava por vessadas desconhecidas, a pé ou a cavalo, era normal se perder. E se isso acontecia e se estivesse num vale, sem ninguém para perguntar, não haveria referência para onde ir, uma vez que as covadas escondem os caminhos. Então, para se localizar, era necessário subir num morro que permitisse vislumbrar o horizonte, o qual, uma vez localizado, tornava possível descobrir o caminho a seguir, dado o amplo campo de visão.

Pois bem, o homem, desorientado na lavra, é aquele que está “perdido no mundo” e resolve rezar, que é a subida no morro. A vista do horizonte, por sua vez, é a oração ou a meditação sobre Nossa Senhora. Por fim, a localização do destino é a graça obtida.

Nossa Senhora é como o horizonte e Cristo é como o sol.

O horizonte une a terra e o céu, como Nossa Senhora que uniu o céu (Deus) à sua natureza.

Ao amanhecer, o sol parece “vir da terra”, por isso, diz-se “nascer do sol”, assim como Cristo nasceu da Virgem, Nossa Senhora.

Ao entardecer, o sol que parece “descer do céu” e vai em direção ao horizonte é como o mistério da Encarnação.

O galo que canta na escuridão, antes do alvorecer, é como o mistério da Anunciação: Cristo vai nascer.

O momento no qual o sol pode ser visto pelo olho humano de modo menos agressivo, é na hora que ele está no horizonte, ou seja, na alvorada ou no ocaso, assim como Deus é mais fácil de ser “visto”, ou “compreendido”, por meio de Maria.

A arraiada e o crepúsculo são horas decisivas, assim como foram definitivos o Redentor e a Corredentora.

A aurora é como uma dobradiça, pois faz a transição da noite para o dia. O Antigo Testamento era como uma noite iluminada pela Lua, no qual as coisas não eram claras, pois as profecias, que são eventos que marcaram a Antiga Escritura, sempre escondiam mistérios. Depois, Nossa Senhora, dobradiça da História, fez virar a página para o Novo Testamento, que é como o dia, afinal a vinda de Cristo é de clareza solar e as profecias deixaram de ser misteriosas.

O sol é “perdido” no poente e é “recuperado” no alvor, assim como foi o episódio da “perda e reencontro” do menino Jesus no Templo.

Nas montanhas, o sol mesmo já “nascido” demora para ser visto porque as montanhas o escondem, assim como foi a infância de Jesus, que foi “escondida” por “montanhas” altíssimas: Nossa Senhora e São José. Tal como o sol a pino é visto por todos, foi a vida pública de Cristo, que permitiu ser visto por todos.

O duo alvaroda/ocaso é como a junção do arco ogival gótico. A Rosácea gótica, que tem Nossa Senhora no centro e que decompõe a luz solar, é análoga ao nascer do sol que também faz decompor a luz, evento percebido nos reflexos das nuvens. Para cada cor (tanto a da rosácea quanto a da nuvem), uma das sete alegrias de Maria.

O ciclo do dia é como a vida do homem. Se uma pessoa morre num dia chuvoso, pode simbolizar que morreu mal, se falece sob céu azul, pode significar que expirou bem. A vida do bom ladrão foi como um dia nublado, chuvoso, mas que perto do pôr do sol se abriu, terminando bem.

Porém, o dia de Nossa Senhora Imaculada nunca conheceu nuvem, Ela nasceu e dormiu sob céu absolutamente azul.

O crepúsculo é como a morte de Cristo, com Maria ao pé da Cruz. As cores decompostas na sobretarde que formam um espectro refletido nas nuvens, são como as dores de Maria, para cada cor uma dor.

Na poluição dos grandes centros, o sol parece mais belo, mais fácil de ser visto no lusco-fusco. É como o contraste entre o mundo pecaminoso, de um lado, e Nossa Senhora e Cristo, de outro lado.

No frio, nas montanhas, o entardecer é mais belo e sua beleza aquece a alma, assim como no vale de lágrimas (este mundo), Nossa Senhora nos anima.

Em alguns locais do Brasil, era e é comum as pessoas aplaudirem o pôr do sol. Fazem muito bem.

Marcelo Andrade, 5 de maio de 2021.