1

Nota de Repúdio

Fernando Schlithler

NOTA DE REPÚDIO

O presidente eleito Jair Bolsonaro teve a ousadia de comungar numa missa de Natal. Sim, uma pessoa que acha ser algo bom a esterilização em massa de meninas a partir de 10 anos de idade (portanto, crianças!)[1], que apóia a manutenção das leis abortistas existentes[2], que apóia formalmente a maçonaria[3] e ainda por cima já passou por dois divórcios, sendo que a união atual foi celebrada por um pastor protestante em uma cerimônia protestante, (tendo sido também “batizado” no rio Jordão em rito protestante por um pastor da “Assembléia de Deus” em 2016, se  aproximou e tomou da Sagrada Espécie.

Eis o link com o ocorrido: https://www.youtube.com/watch?v=r7CVBfG4TlE

Puro e simples sacrilégio. Ofensa grave a Deus. Como ensinou São Paulo: bebeu o sangue de sua própria condenação (1Cor 11,29).

Foi tudo filmado desde fora da Igreja, com a câmera acompanhando tanto sua caminhada até a Igreja e sua comunhão. Evidentemente que, se fizeram isto com intuito político, quiseram utilizar a Igreja como trampolim. Para os políticos modernos todos os meios são justificáveis para a “tomada de poder”, incluindo ter algum liame com a Igreja. Acreditamos que eles seriam capazes até de utilizarem meios lícitos para chegar ao poder.

O padre não lhe recusou a hóstia.

Isto é propriamente um escândalo, que é a atitude ou o comportamento que leva outrem a praticar o mal. Assim, se um abortista (ainda que “moderado”, se é que pode haver uma distinção dessas), apoiador da maçonaria, divorciado, recasado em cerimônia protestante, batizado por protestante, “poderia” comungar, quem não poderia?

Não custa lembrar que tanto a maçonaria quanto o apoio a ela foram condenados incisiva e formalmente por diversos papas[4], que o aborto em qualquer caso foi condenado, que o divórcio e segundas (e terceiras, quartas etc.) uniões também são condenadas, bem como a participação nos ritos das falsas religiões.

Vejamos algumas informações:

Jair Bolsonaro foi casado três vezes. A primeira esposa foi Rogéria Nantes Nunes Braga,[38][39] a quem ajudou a eleger vereadora da capital fluminense, em 1992 e 1996, e com quem teve três filhos: Flávio (deputado estadual fluminense), Carlos (assim como o pai e mãe, vereador da cidade do Rio de Janeiro, o mais jovem do país)[39] e EduardoDivorciou-se e, de seu segundo casamento, com Ana Cristina Valle, teve Renan.[39]

Em 2007, conheceu sua atual esposa, Michelle de Paula Firmo Reinaldo, quando ela era secretária parlamentar na Câmara dos Deputados. Nove dias após ser contratada, os dois firmaram pacto antenupcial e, dois meses depois, casaram-se no papel.[40] Em 2013, o casal fez uma cerimônia religiosa realizada pelo pastor Silas Malafaia.[41] Com Michelle, o deputado teve a sua primeira filha, Laura.[42] A família mora em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.[40]

Bolsonaro afirma ser católico, mas alega ter frequentado a Igreja Batista por 10 anos. Em 2016, foi batizado no rio Jordão por um pastor evangélico da Assembleia de Deus. A sua atual esposa, Michelle, e seus filhos, são evangélicos.[43]

(https://pt.wikipedia.org/wiki/Jair_Bolsonaro apesar de ser wikipedia, as informações estão devidamente referenciadas com links de fora da wikipedia, cuja autenticidade da fonte pode ser conferida. )

Será que os conservadores – muitos deles bem críticos ao Papa Francisco – estariam dispostos a aceitar os erros decorrentes da Amoris Laetitia apenas para defender Bolsonaro? Será que é a direita que produzirá a manipulação psicológica dos católicos para a aceitação da comunhão de “recasados”? Aquilo que a esquerda não conseguiu, a direita conseguirá?

Afinal, quando o candidato Fernando Haddad comungou numa missa justamente com sua vice Manuela D’ávila (ambos abortistas), diversos católicos levantaram a voz denunciando corretamente esse sacrilégio e a instrumentalização do sacramento e da Igreja em prol da política.

Agora, estariam dispostos esses mesmos católicos a continuar defendendo o zelo pela Eucaristia quando se trata de Bolsonaro? Se não estiverem, obviamente não era o zelo pela Eucaristia que os movia a denunciar a comunhão sacrílega de esquerdistas e comunistas abortistas. O zelo seria apenas político: para a esquerda, o rigor da lei da Igreja, para os conservadores, o laxismo sacrílego disfarçado de “misericórdia”.

Bolsonaro, apesar de ter assinado um compromisso de não ampliar leis abortistas, afirma, como vimos (v. nota) formalmente que defende as leis abortistas já existentes, e no documento assinado não se comprometeu a fazer nada que as reverta[5].

Relembrando o que o então Cardeal Ratzinger – quando era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, antes de ser Papa Bento XVI – afirmou no documento “Dignidade para receber a Sagrada Comunhão: Princípios Gerais” em 2004:

Cardeal Joseph Ratzinger

Prefeito, Congregação para a Doutrina da Fé

1. Apresentar-se para receber a Sagrada Comunhão deveria ser uma decisão bem refletida, fundada em um julgamento racional sobre a dignidade para fazê-lo, segundo os critérios objetivos da Igreja, colocando-se certas questões como: “Eu estou em plena comunhão com a Igreja Católica? Eu sou culpado de um pecado grave? Eu incorri em alguma pena (por exemplo uma excomunhão ou uma interdição) que me impede de receber a Sagrada Comunhão? Eu me preparei com jejum de pelo menos uma hora?”. A prática de se apresentar à Sagrada Comunhão indiscriminadamente, meramente como consequência de se estar presente na missa, é um abuso que deve ser corrigido (cf. Instrução Redemptoris Sacramentum, nº 81, 83).

2. A Igreja ensina que o aborto ou a eutanásia são pecado grave. A EncíclicaEvangelium Vitae, que faz referência às decisões da justiça ou às leis civis que autorizam ou promovem o aborto ou a eutanásia – estabeleceu que existe “uma grave e precisa obrigação de se opor [a essas práticas] pela objeção de consciência. […] No caso de uma lei intrinsecamente injusta, tal qual a que admite o aborto ou a eutanásia, não é lícito, jamais, obedecê-la ou ‘participar de uma campanha de opinião em favor de uma tal lei ou votar por ela’” (n. 73). Os cristãos têm “uma grave obrigação de consciência de não colaborar formalmente às práticas que, ainda que admitidas pela legislação civil, estejam em oposição à Lei de Deus. De fato, do ponto de vista moral, não é jamais lícito cooperar formalmente com o mal. […] Esta cooperação não pode nunca ser justificada invocando-se o respeito da liberdade dos outros ou apoiando-se sobre o fato de a lei civil prevê-la ou requerê-la” (n. 74).

3. As questões morais não têm o mesmo peso moral que o aborto ou a eutanásia. Por exemplo, se um católico estivesse em desacordo com o Santo Padre sobre a aplicação da pena capital ou sobre a decisão de fazer a guerra, ele não seria considerado, por esta razão, como indigno de se apresentar para receber a Sagrada Comunhão. Se por um lado a Igreja exorta as autoridades civis a buscar a paz e não a guerra e a fazer prova de moderação e de misericórdia na aplicação das penas aos criminosos, por outro lado poderá ainda ser permitido tomar as armas para expulsar um agressor ou recorrer à pena capital. Pode haver uma legítima diversidade de opiniões, mesmo entre os católicos, sobre a decisão de se fazer a guerra ou de se aplicar a pena de morte, mas em nenhum caso sobre o aborto e a eutanásia.

4. Independentemente do julgamento que cada um faz sobre sua própria dignidade de se apresentar para receber a Santa Eucaristia, o ministro da Sagrada Comunhão poderá se encontrar em uma situação na qual ele deva se recusar a distribuir a santa comunhão a alguém, como nos casos de excomunhão declarada, de impedimento declarado ou de persistência obstinada num pecado grave manifesto (cf. Can. 915).

5. No que concerne os pecados graves de aborto e eutanásia, quando a cooperação formal de uma pessoa se torna manifesta (compreendida, no caso de um político católico, como uma consistente campanha ou votação por leis permissivas sobre aborto e eutanásia), seu pastor deveria encontrá-lo, instruindo-o acerca do ensinamento da Igreja, informando-o de que ele não deve se apresentar à Sagrada Comunhão até que ele tenha colocado fim em sua situação objetiva de pecado, e advertindo-o de que, caso isso não seja feito, a Eucaristia lhe será negada.

6. No caso em que “tais precauções não tenham obtido efeito ou não tenham sido possíveis” e se a pessoa em questão, dando provas de obstinada persistência, ainda sim se apresentasse, apesar de tudo, para receber a Santa Eucaristia, “o ministro da Sagrada Comunhão deve recusar-se a dá-la” (cf. Declaração do Conselho Pontifício para os Textos Legislativos, “Sobre a admissão à Santa Comunhão dos fiéis divorciados que contraíram novas núpcias”, 2000, nº 3-4). Esta decisão não é propriamente uma sanção ou uma penalidade. Tampouco trata-se do ministro da Sagrada Comunhão a formular um juízo sobre a culpa subjetiva da pessoa; na verdade, é uma reação do ministro ao desmerecimento público dessa pessoa em receber a Sagrada Comunhão em razão de uma situação objetiva de pecado.

[N.B. Um católico seria culpável de cooperação formal com o mal – e então indigno de se apresentar à santa comunhão – se ele votasse deliberadamente em um candidato precisamente por causa da posição permissiva desse candidato a respeito do aborto e/ou da eutanásia. Quando um católico não compartilha da posição de um candidato a favor do aborto e/ou eutanásia, mas vota nele por outras razões, esta é considerada como cooperação material remota, a qual pode ser permitida face a razões proporcionados.] http://www.montfort.org.br:84/a-dignidade-para-receber-a-sagrada-comunhao-principios-gerais/

E, ao defender somente que não irá ampliar as leis abortistas, mas aceitando as leis abortistas já existentes, Bolsonaro acaba por defender essas formalmente, uma vez que não cumpre a grave obrigação de se opor a elas, mas afirma explicitamente que quer mantê-las[6].

Dupla vergonha: do comungante e do padre.

E a CNBB?

Será que a Conferência Nacional dos Bispos Bolcheviques, digo, Brasileiros emitirá alguma nota de repúdio?

Claro, nem esperamos, pois, esta entidade é umbilicalmente ligada ao modernismo, mais preocupada em dar apoio à “modernidade”, ao “mundo”, que defender Deus e a Igreja.

Salientamos que não temos propriamente medo do comunismo, nosso ânimo é outro:

Salmo 139, 21-22:

“Porventura não odeio eu, Senhor, os que te odeiam, e não me causam tédio os que se levantam contra ti? Com ódio implacável eu os odeio; tornaram-se meus inimigos.”

Tememos, antes de tudo, a Deus. Não é sob o pretexto de um combate ao comunismo que iremos contorcer justificativas para atos contra a lei de Deus apenas por serem seus sujeitos opositores ao comunismo, ou nos calarmos diante desses erros. Também não iremos amenizá-los como se uma comunhão sacrílega fosse um “mal menor” diante de outra “comunhão sacrílega”, apenas pelo fato de quem comunga ser de tal ou qual ideologia política.

Que nesse Natal, Nossa Senhora e o menino Jesus dê a todos os católicos a graça de aderir a Deus e sua única Igreja sem restrições e sem concessões, nem à direita nem à esquerda.

Nossa Senhora Aparecida, rogai pelo Brasil.

—-

Fernando Schlithler

Doce Coração de Maria, sede a nossa salvação.

25 de dezembro de 2018.

[1] Bolsonaro afirmou numa entrevista à respeito da esterilização de meninas de 10 a 19 anos que: “A minha proposta de planejamento familiar infelizmente não tem como atingir essas meninas, porque elas são menores de idade. Em sendo  menores de idade, você não pode convencê-las a fazer uma laqueadura. Agora, o governo tem que jogar pesado dentro da escola com uma política deste sentido […] (https://www.youtube.com/watch?v=4zy8AqdKod4 Trecho a partir de 2:35)

[2] Bolsonaro não é verdadeiramente contra o aborto. Ele se apresenta como sendo contra o aborto, mas admite que há casos em que o aborto pode ser aceito: quando há risco de morte para a mãe; em concepção indesejada resultante de estupro; e em casos de feto com anencefalia. Obviamente, não é o que a doutrina católica defende: https://www.youtube.com/watch?v=vy5dBXxOBGs&t=1s Cf. http://165.227.105.11/bolsonaro-a-direita-e-as-eleicoes-parte-i/

[3] https://www.youtube.com/watch?v=IIVYk2MmBNE

[4] http://165.227.105.11/bolsonaro-a-direita-e-as-eleicoes-parte-ii-a-quem-serve-jair-bolsonaro/

[5] https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/2018/10/17/de-olho-em-voto-catolico-bolsonaro-assina-compromisso-com-arcebispo-do-rio.htm e https://www.youtube.com/watch?v=MVnf2anPjaQ

[6] https://www.youtube.com/watch?v=vy5dBXxOBGs&t=1s