O Devoto de São José

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Padre Manuel de Alencar

O DEVOTO DE SÃO JOSÉ

 

Um dia, à porta do Céu
Foi bater com muita fé
Um esfarrapado devoto
Do nosso pai São José.

Logo abre a porta São Pedro
E vai gritando: —Quem é?
—Sou eu, São Pedri, um devoto
Do nosso pai São José!

—Donde é que vem vosmecê,
Cheirando tanto a café?
—São Pedro, sou brasileiro,
E venho lá de Tefé!

—Se de lá vem, diz São Pedro,
Quem sabe não é pajé…
Saberá fazer feitiço
Com dentes de jacaré?

—Deus me livre, grande Santo,
Que nada fiz contra a fé!
Santo não fui, mas devoto
Do nosso pai São José.

—Passa pra cá seu livrinho,
A sua conta corrente…
Vamos ver se lá por baixo
Você viveu cristãmente.

Oh! Trabalhou nos domingos!
Isso é pecado mortal,
Pois é lei que nos domingos
Descanse até o animal…

Ah, foi no tempo, São Pedro,
Em que eu era seringueiro,
Foi no tempo em que a borracha
Ainda dava dinheiro…

—Aqui também está marcado
Que raramente ia à Missa…
Então, por quê? Por desprezo?
Por descuido ou por preguiça?

Confessou-se uma só vez:
No dia do casamento!
Só recebeu nesse dia
O Santíssimo Sacramento!

E por desgraça suprema
Que me causa compaixão,
Não teve padre na morte,
E morreu sem confissão…

Meu amigo, eu lhe aconselho:
Não se apresente ao Eterno!
No Céu não acha lugar:
Foi condenado ao inferno…

Esmagado pela dor,
O triste mísero réu,
Ao lado do seu saquinho,
Sentou-se à porta do Céu.

Nisto um anjinho bem loiro,
Com linda estrela na testa,
Veio olhar pela janela,
Mostrando uns ares de festa.

—Meu bem, (lhe diz o devoto),
Vá dizer a São José
Que vão me jogar no Inferno
Por ter nele muita fé!

Prontamente foi o Anjo
Se avistar com São José,
Que foi logo ao Pai Eterno,
E perguntou: Como é?

Chegou-me agora aos ouvidos,
Ó Divino Pai Eterno,
Que um pobre devoto meu
Foi condenado ao Inferno!

Não me queixo da justiça
Nem da vossa Divindade,
Mas agora, em parte alguma,
Terei mais autoridade!

Devo, pois, me retirar,
Ao mundo, se for preciso,
Mas, sem prestígio nem força,
Não fico no Paraíso!

E deixando o Pai Eterno
Surpreso dessa atitude,
São José foi se afastando
Meio Triste, Meio rude…

—Maria, Esposa querida,
Arrume a nossa bagagem,
E vá também se arrumar,
Que vamos fazer viagem…

Aqui, o Santo Menino,
Vendo tanta arrumação,
Foi perguntando: —Mãezinha,
Pra onde é que vocês vão?

Sempre humilde e obediente,
Calou-se a Virgem Maria,
E dando em Jesus um beijo
Respondeu que não sabia…

—Meu Filho, disse chorando
O nosso pai São José,
Retornamos de novo ao mundo,
Voltamos a Nazaré…

—Pois então, disse o Menino,
O mandamento pratico
Obedecendo aos meus pais,
No Paraíso não fico!

Vendo os Apóstolos que o Mestre
Lá se ia embora também,
Disse João Evangelista:
—No Céu não fica ninguém!

E os Anjos logo disseram:
—Que querem, pois, que se faça?
Sem Jesus e sem Maria
Já fica o Céu tão sem graça…

Todos ai se mexeram,
E cada qual, decidido,
Foi arrumar a bagagem
Num jubiloso alarido…

Houve um grande reboliço
Entre os Anjos e os Santos,
Profetas e confessores,
Anacoretas e quantos

Na terra haviam seguido,
Com sacrifícios e amor,
Os passos de Jesus Cristo,
A Lei santa do Senhor…

São Pedro, à porta do Céu,
Espantado e obediente,
Olhava pro Pai Eterno,
E olhava praquela gente…

Sossegadinho, o devoto,
Diminuindo a agonia,
Sentado junto ao saco,
Olhava tudo e sorria…

Fala, então, o Pai Eterno:
—Isso assim não pode ser:
Sozinho no Paraíso
É que eu não posso viver!

E disse logo a São Pedro:
—Venha esse homem para aqui:
Vou reformar a sentença
Que contra ele escrevi.

É, de fato, escandaloso,
Nunca se ouviu ab aeterno
Que amigo de São José
Caísse um dia no Inferno…

Perdoo, disse ao devoto,
Por minha grande clemência:
Volte à terra mais um ano
E faça lá penitência…

Volte depois, preparado
Pro rigoroso juízo,
E não venha cá meter
Desordem no Paraíso!

São José sorriu contente,
Maria sorriu também,
E Jesus falou bem alto:
—Digamos todos: Amém!

O Céu vibrou de alegria,
Anjos cantaram melhor
E o devoto bateu palmas:
—São José é o maior!

Isso vem mostrar à gente
O poder de São José:
Quem queira mesmo salvar-se
Tenha nele muita fé!

‘O DEVOTO DE SÃO JOSÉ’ foi escrito pelo Padre Manuel de Alencar, que nasceu no Piauí, foi durante anos missionário no interior da Amazônia, e faleceu na França, em 1924, aos 35 anos de idade.

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