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Orientação para estudo da Doutrina Católica

Data: 01-Jan-2004
De: Jefferson.
Cidade: Foz do Iguaçu – PR
Assunto: Orientação e ajuda sobre como iniciar estudos da doutrina Católica.

 

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Caro Professor Orlando Fedeli, a paz do Senhor Jesus.

Meu nome é Jefferson, tenho 19 anos e tenho a graça de ser estudante universitário. Escrevo este e-mail para lhe pedir orientação e ajuda sobre como iniciar estudos da doutrina Católica. Há dois anos me converti ao Catolicismo, hoje sou membro atuante da Renovação Carismática Católica, mas tenho uma grande vontade de conhecer e estudar a Doutrina da Igreja. Vejo que para mim isso é muito necessário, pois sinto que é dever meu como católico defender a doutrina, que tanto é esmagada pelos doutores e professores nas muitas universidades do país. Sei também que estudar o Catolicismo não tem como fim só defende-lo, mas também conhecer a verdade e trabalhar para a edificação da Igreja.

Professor, confesso que sou um completo ignorante no assunto e peço a sua ajuda, pois não sei por onde começar.

Um grande abraço seu irmão, Jefferson

 

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Resposta

 

Muito prezado Jefferson, salve Maria!

Seu desejo de estudar a doutrina católica para melhor defendê-la é muito bom. Reze a Nossa Senhora que o mantenha nesse santo propósito. Há tempos atrás, um outro jovem universitário pediu-me a mesma orientação de estudos. Vou então copiar o que escrevi e recomendei a ele, porque as mesmas coisas servem para você.

“Você me pede então que eu lhe dê um roteiro para iniciar o estudo da doutrina católica.

Ora, toda cultura de um campo começa por desbastar as ervas daninhas desse campo. E todo processo para dar saúde a alguém começa por combater as doenças que existem em um organismo.

Por isso, todo estudo sério principia por combater os erros que assolam nossas almas, e esses erros são os da sociedade atual, na qual vivemos.

Para iniciar esse estudo sobre doutrina católica, eu lhe recomendaria estudar, antes de tudo, o Catecismo do Concílio de Trento, que é um catecismo muito profundo e com explicações bem claras. Tenho certeza que você aproveitará muito ao estudar esse catecismo.

Recomendo-lhe ainda que estude as encíclicas papais em uma certa ordem. Você sabe que as encíclicas são documentos de que os Papas fizeram mais uso nos últimos séculos. Especialmente depois da Revolução Francesa.

Essa revolução tem, para nós católicos, uma gravidade, em certo sentido, bem maior do que o protestantismo, porque do protestantismo é fácil defender-nos, mas do liberalismo que impregna a nossa sociedade é bem mais difícil a defesa.

O liberalismo — doutrina da Revolução Francesa e protestantismo político — penetra em nós lentamente, como que por osmose. Assim como o líquido de um frasco deixa nele o seu cheiro, assim o liberalismo que embebe a sociedade em que vivemos, vai penetrando em nós imperceptivelmente.

O mesmo se pode dizer do liberalismo artístico, que é o Romantismo.

Sem percebermos, o liberalismo e o Romantismo entram em nós devagarzinho.

E o Liberalismo é pecado contra a Fé, porque ele nega o pecado original e suas conseqüências em nós.

Para Rousseau, um dos pais do Romantismo, o homem é bom, no sentido de que ele não tem inclinação para o mal. Daí todo o otimismo da sociedade moderna, que a Igreja combateu sempre nas encíclicas.

O liberalismo tem como base a tese de que a razão individual e a razão social são absolutamente independentes.

Isto significa que o individuo é absolutamente autônomo, não devendo obediência a ninguém, nem aos pais, nem aos mestres, nem aos superiores de qualquer tipo, nem ao Estado.

Significa ainda que o Estado é absolutamente independente de qualquer regra moral, e especialmente que nenhum Estado depende da Igreja. O estado deveria ser, segundo o Liberalismo, separado da Igreja, o que vai contra a Bula Unam Sanctam de Bonifácio VIII, bula que recomendo que você leia.

Essa Bula escrita contra os gibelinos e contra o absolutismo do Rei Felipe, o Belo, da França, é a bula mais odiada da História e que mais devemos amar.

Se os homens são totalmente independentes, para o liberalismo, todos os homens nascem iguais e absolutamente livres.

Foi por isso que Nossa Senhora apareceu em 1930 a Santa Catarina Labouré como Nossa Senhora de todas as graças, e que a Igreja proclamou o dogma da Imaculada Conceição: é mentira que todos nascemos iguais, tanto que só a Virgem Maria foi preservada do pecado original, desde o primeiro instante de sua concepção. O que foi confirmado pela aparição dela em Lourdes.

Os erros do Liberalismo foram combatidos diretamente pelas encíclicas e outros documentos de Pio VI, que condenou a Constituição Civil do Clero da Revolução Francesa, pelas encíclicas de Pio VII.

Os principais documentos que lhe recomendo ler contra o liberalismo são:

1) a encíclica Mirari Vos de Gregório XVI, condenando os erros do liberalismo católico e do tradicionalismo do Padre Felicité de Lammenais, de Montalembert e de Lacordaire.

2) a Encíclica Quanta Cura e o Syllabus de Pio IX.

3) a Encíclica Libertas Paestantissima e a Humanum Genus de Leão XIII. A Humanum Genus condena a ação da Maçonaria, que fez a Revolução Francesa e o Liberalismo.

4) a Carta Apostólica Notre Charge Apostolique de São Pio X contra os erros do Sillon.

Este documento papal é muito importante, porque os erros do Sillon triunfaram com a chamada Democracia cristã, e constituem o liberalismo e o Modernismo na política atual.

5) a encíclica de Leão XIII contra o Americanismo, intitulada Testem Benevolentiae (Há um trabalho sobre Uma velha heresia perfeitamente atual: o Americanismo) a encíclica Mortalium Animos de Pio XI contra o liberalismo religioso expresso no ecumenismo modernista.

7) Evidentemente deveria ser estudada a encíclica Pascendi de São Pio X contra o Modernismo, que triunfou no Vaticano II.

Várias dessa encíclicas você encontrará no site Montfort. Haveria muitos outros documentos papais a estudar como a Immortale Dei de Leão XIII e todos os documentos papais que tenham algum laço com o liberalismo.

Dois são os pontos fundamentais do liberalismo:

1) A tese de que os homens são iguais em direitos.

2) a tese de que deve haver liberdade religiosa, educacional, de imprensa, de expressão, de comércio independente da moral (capitalismo) etc.

Sobre a desigualdade de direitos, há, no site Montfort, um trabalho meu (Desigualdade & igualdade: considerações sobre um mito), mostrando como a desigualdade é um bem em si mesmo, com base no que ensinam a Sagrada Escritura, São Tomás, os papas e o bom senso.

Esse estudo dos erros do liberalismo, deveria ser completado pelo estudo da História, nesse tempo.

Infelizmente não há livros bons, em português, sobre a Revolução Francesa e sobre o Liberalismo no século XIX.

Sobre a Revolução Francesa temos aqui na Montfort mais de mil obras. A mais didática é a de Louis Madelin, La Révolution Française. O autor é bonapartista roxo, mas conta os fatos de modo claro.

Há uma obra, A Revolução Francesa, de Pierre Gaxotte, em português, mas ele foi um seguidor de Maurras, líder da Action Française, e de um nacionalismo feroz tendente ao fascismo, que é coisa bem condenável. A obra é bem pouco didática e, sendo nacionalista, é liberal porque o nacionalismo é a expressão do dogma liberal de que toda nação deve se constituir em Estado independente, dogma liberal que causou as duas guerras mundiais do século XX.

Procurarei escrever artigos sobre esse período no site Montfort, para que fiquem mais claros alguns assuntos mais difíceis de serem compreendidos em um estudo isolado.

Você poderia aproveitar bem alguns trabalhos já publicados no site Montfort, como por exemplo o capítulo de minha tese que trata da origem do Romantismo, e a biografia de Anna Katharina Emmerick (https://www.floscarmeliedicoes.com.br/elementos-esotericos-anna-katharina-emmerick), uma das introdutoras do liberalismo na piedade católica.

À medida que você for estudando, aparecerão dúvidas. Escreva-me sempre que elas surgirem, para que sejam elucidadas, caso eu saiba resolvê-las.

Recomendo-lhe que esteja atento à encíclica de João Paulo II, que foi publicada neste ano, a Ecclesia Eucharistia.

In Corde Jesu semper,
Orlando Fedeli.