Sobre os Jesuítas

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Data: 19-Abr-2019
De: Simão Oliveira.
Cidade:
Assunto: Sobre “o nível de instrução” dos jesuítas.

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Gostaria de saber qual foi a formação dos Jesuítas, o que eles estudaram no Colégio Romano, pois vi nas aulas que,  eles foram responsáveis pela conversação do selvagens que viviam aqui nas Américas,  e ensinaram muita coisa a eles, além da Religião Verdadeira, também ensinaram artes, músicas, arquitetura etc…


Saimon Oliveira

 

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Resposta

Prezado Simão, salve Maria!

Os jesuítas foram a ponta-de-lança da Igreja. Atualmente estão infelizmente em grande decadência.

Envio-lhe abaixo uma carta sobre os jesuítas que escrevei como resposta há algum tempo.

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Prezado,

Sua pergunta versa sobre um tema tão vasto que seria quase necessário um tratado para respondê-la de forma completa.

A questão do ódio aos jesuítas é bastante curiosa. Para compreendê-la, faz-se necessário conhecer a razão pela qual eles tiveram tanto prestígio e geraram tanto ódio.

Ambos, prestígio e ódio, advinham da elevada ciência e, sobretudo, da grande virtude que tinham aqueles primeiros jesuítas.

Como tudo o que é bom, desde o vestir-se corretamente até o defender as mais elevadas verdades de fé, atrai o ódio do mundo, com os jesuítas não poderia ter sido diferente. Tudo que é bom produz ódio e ataque do mundo. Foi assim com Cristo, é assim com cada cristão, foi assim com os jesuítas. “Se o mundo vos odeia, sabei que me odiou a mim antes que a vós. Se fôsseis do mundo, o mundo vos amaria como sendo seus. Como, porém, não sois do mundo, mas do mundo vos escolhi, por isso o mundo vos odeia” (Jo 15,18-19).

Enquanto foram fiéis aos ensinamentos de Santo Inácio, os jesuítas foram dignos do ódio do mundo.

Parece, contudo, que o prestígio dos filhos de Santo Inácio foi tal que, mesmo com a decadência dos últimos tempos – e que teve seu triunfo no Concílio Vaticano II que contou com importante participação do padre jesuíta Karl Rahner –, a Companhia de Jesus mantém ainda contra si boa parte do antigo ódio. Mesmo tendo sido alguns de seus padres grandes defensores das novidades.

De onde veio, pois, tanto ódio?

A Companhia de Jesus é uma das ordens de maior prestígio na Igreja.

E não era para menos.

Ela foi criada por Santo Inácio de Loyola em 1534[1], época em que o Humanismo, misturando magia e ciência, visava expulsar Deus da sociedade e colocar o homem em seu lugar. O Renascimento foi a época em que o brilho da Idade Média começava a se apagar e a penumbra, que hoje triunfa em nossa sociedade, ganhava terreno.

Época na qual também parte do clero, infelizmente, dava muitas vezes escândalo com seus maus costumes.

Era também a época em que a revolta protestante arrastava para o erro boa parte da Europa.

Logo os jesuítas se tornariam um dos mais importantes defensores da verdade ao combater os diversos erros daquelas religiões que Lutero, Calvino, Zwinglio e outros acabavam de inventar.

Os filhos de Santo Inácio formaram um verdadeiro exército de elite no apoio à Fé e à Igreja, particularmente ao papado.

A expansão dos jesuítas foi rápida. Além dos trabalhos na Alemanha, Itália e outras regiões da Europa, a Companhia se singularizou pelas missões entre os infiéis. Além da ida de São Francisco Xavier para as Índias em 1541, em 1547 partiram quatro missionários para o Congo. Em 1549 partiram para o Brasil seis missionários chefiados pelo Padre Manuel da Nóbrega. A estes se juntou em 1553 o grande apóstolo São José de Anchieta. Em 1555 a Companhia envia missionários para a Etiópia. Por toda parte fundavam escolas para a educação dos nativos.

Pelos locais onde passaram sua marca mais clara era a leal obediência ao Soberano Pontífice, fruto do quarto voto ao qual se obrigavam: o de que todo e qualquer trabalho que realizassem seria sob a obediência papal.

O padre Malachi Martin fez um empolgante elogio à Ordem da qual fez parte em seu livro “Os Jesuítas”.  Ali ele afirma que “os jesuítas levaram a batalha aos próprios territórios daqueles inimigos papais. Faziam debates públicos com reis, debatiam em universidades protestantes, pregavam em encruzilhadas e em mercados. Dirigiam-se a conselhos municipais e instruíam os concílios da Igreja. Infiltravam-se em territórios hostis, disfarçados, e se deslocavam às escondidas”.

Através do incansável trabalho de São Pedro Canísio, o “Martelo dos Hereges”, fizeram retornar à Igreja regiões inteiras da Alemanha.

Durante mais de duzentos anos praticamente toda educação na Europa esteve nas mãos dos jesuítas.

Dominavam e eram mestres em matemática, física, astronomia, arqueologia, linguística, biologia, química, zoologia, genética… A lista de invenções por eles feita é imensa e permeia os mais variados campos: engenharia mecânica, energia hidráulica, aviação, oceanografia, aparelhos de surdez etc.

Acima de tudo, porém, estava o amor à verdade e a filial devoção ao Papa.

Para além do campo das ciências, os jesuítas tiveram também destaque nas artes. “Em 1773, contavam com 350 teatros na Europa”. O primeiro teatro em território norte-americano foi fundado pelos jesuítas, em 1640, no Quebec. Os índios recém-convertidos das Américas compunham obras de elevado valor musical, além de executarem com maestria obras de renomados compositores.

Os padres da Companhia de Jesus levaram a porcelana para a França, o guarda-chuvas e a baunilha para a Europa e foram os primeiros a trazer para o continente europeu os conhecimentos da cultura indiana e chinesa.

Línguas, como o Tupi Guarani, foram estudas e preservadas graças ao trabalho dos padres da Companhia de Jesus.

A importante obra “História do Japão”, mais antigo registro histórico do país do sol nascente, foi escrita pelo padre Luís Fróis, jesuíta português do século XVI.

Todos os grandes estadistas aconselhavam-se com os jesuítas que, seguindo o ensinamento de Santo Inácio, tudo faziam “para a maior glória de Deus”.

Foram também ferrenhos combatentes da heresia jansenista e grandes propagadores da devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

Eram inimigos dos galicanos.

Mais que tudo, eram fiéis até a morte ao soberano pontífice. Foram os jesuítas importantes apoiadores do dogma da Infalibilidade Papal no Concílio Vaticano I, em 1870.

Eram, por isso tudo, muito odiados.

E porque eram odiados foram expulsos e banidos de diversos países: Portugal – do Brasil também –, França, Alemanha, Áustria, Inglaterra, Bélgica, México, Suécia e Suíça.

Sua fidelidade à Igreja, ao papado, seu amor à verdade e desejo de fazer do mundo todo membros da Igreja Católica, filhos de Deus e herdeiros do paraíso são os motivos da fama que têm os jesuítas até hoje e também do ódio que ainda em nossos dias lhes é tributado.

O que restou de tudo isso? Muito pouco para não dizer quase nada. Restou, ao menos em parte, o ódio que se tinha aos jesuítas.

Que Santo Inácio interceda por seus filhos. Para que eles voltem a ser dignos de ser odiados.

 

Salve Maria!

 

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Salve Maria!

André Melo

 

[1] A aprovação da Companhia de Jesus foi dada pelo Papa Paulo III através da Bula Regimini militantis Ecclesiaes de 27 de setembro de 1540.

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