1645- Tenho o Direito de Participar de Uma Santa Missa (de Paulo VI) Bem Celebrada!

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Orlando Fedeli

Tenho o Direito de Participar de Uma Santa Missa (de Paulo VI) Bem Celebrada!

 

  • Localização: Carabuçu – RJ, Brasil

Prezado Professor Orlando,
Paz e Bem!
Há algum tempo acompanho as cartas publicadas no site Montfort* e as respostas do senhor às dúvidas que elas levantam.
Antes de mais nada, gostaria que o senhor soubesse que concordo com alguns pensamentos seus e descordo de outros – in dubis libertas! Contudo, respeito incondicionalmente suas posições.
Nessas poucas linhas pretendo relatar o meu protesto, que gostaria que o senhor registrasse: TENHO O DIREITO DE PARTICIPAR DE UMA SANTA MISSA BEM CELEBRADA! Tenho o direito de ver o Missal ser respeitado! Tenho o direito de entrar na “minha” Igreja e sentir que estou próximo do Céu, e não sentir que estou adentrando num templo protestante, na “Casa da Mãe Joana” ou numa danceteria!
Sou da Diocese de Campos-RJ, onde está a sede da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney. Naquela Diocese, creio ainda vivermos uma liturgia mais próxima possível daquela criada a partir do Vaticano II. Não perfeita. Somente “mais séria”.
Há algum tempo, também, resido em outro Estado, participando de uma comunidade da Diocese de Cachoeiro-ES. Quanta diferença! Estou escandalizado! Não vejo sacralidade nos atos litúrgicos daquela Diocese, sobretudo no Santo Sacrifício da Missa. E tudo sob o báculo do senhor Bispo Diocesano. Só para o senhor ter uma noção do que acontece na Diocese: os Ministros Extraordinários osculam o Santo Altar junto com o Presbítero na procissão da entrada; os mesmos Ministros “erguem” o Cálice e/ou a Patena ou a Ambula com o Presbítero no momento da Consagração; a Santa Eucaristia é distribuída como “self-service”. Fica disposta sob as Duas Espécies sobre um banquinho de madeira: o comungante recebe o Santíssimo Corpo de Cristo das mãos do Ministro e “molha” no Preciosíssimo Sangue do Senhor, “sacode” e comunga, Deus sabe como; os Matrimônios são realizados sob músicas protestantes e, se houver comunhão, são os noivos que entregam a Santíssima Eucaristia um ao outro… Isso tudo é considerado normal pela comunidade. É questão de costume!
Não muito distante das profanações da Diocese da Cachoeiro está a Arquidiocese de Vitória: dia desses, enquanto passava férias num famoso balneário capixaba, fui à Santa Missa de domingo – Epifania do Senhor. A igreja bem cheia, formava-se a procissão de entrada com Ministros e Leitores vestidos com uma espécie de capa, que parecia uma casula sacerdotal. No final, estava uma figura que me deixou preocupado: o Padre paramentado com uma túnica ampla com motivos tribais indígenas ou africanos, com uma estola que seguia o mesmo estilo, tinha um cabelo ouriçado e comprido, lembrando-me a aparência da cantora Maria Bethânia. Antes mesmo de os ritos iniciais acontecerem, o Padre, que também revelou-se um cantor, entoou o canto: “Este ano quero paz no meu coração”. A assembleia o acompanhou. Na homilia, além dos cantos profanos utilizados pelo presbítero, termos como “o Cara” (nosso Senhor), “aquela parada” e “Deus não é propriedade de uma única Religião” seguiram-se sucessivamente. A Santa Missa foi toda celebrada, ou “profanada”, com o padre utilizando-se de ritmos da “Folia de Reis” para “cantar o Santo Sacrifício”, inclusive o Prefácio e a Oração Eucarística, arriscando-se numa dancinha debochada sobre o presbitério! Mas, na Consagração, o padre cantor inovou: ele usou o estilo de música profana conhecido como “rap” para dizer as Palavras Santas! Algumas pessoas ficaram de boca aberta, incrédulos no que viam e ouviam. Outros, contudo, ensaiaram até uns passinhos para acompanhar o “digno” celebrante. No final, recebemos a bênção da seguinte forma: “Ide em paz, sem colesterol, sem diabetes, com muito vatapá, acarajé, muito axé etc.”. Com certeza o presbítero estava no local errado: seu lugar era num terreiro de candomblé!
Acredito, respeito e aceito o Concílio. Ele é autêntico e belo. Acho que o erro não está no Vaticano II. O erro está na libertinagem do clero e dos ritos que ele – o Concílio, proporcionou através de interpretações equivocadas e pagãs nas várias correntes surgidas após sua realização. E o Povo de Deus é fiel ao clero, não à Tradição, ao Magistério e aos Ritos. O que os padres fizerem está certíssimo, mesmo que a Igreja condene! É assim que o povo entende. Basta ver o que o padre Marcelo Rossi e o pessoal da Canção Nova fazem sobre o presbitério.
Como já dissera no início, na minha Diocese de origem existem os padres e os fiéis da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, antes chamados de “Tradicionalistas”, por se recusarem a aceitar as modificações trazidas pelo Concílio Vaticano. Eles permaneceram excomungados por anos, até que o saudoso Santo Padre João Paulo II levantou suas penas, sob as condições que o senhor mesmo sabe. Eu estava na Catedral de Campos naquela data, em Janeiro de 2002, e sou testemunha ocular dessa grande reconciliação. Só a partir do retorno dos “Tradicionalistas” ao seio da Igreja é que “assisti” à Santa Missa no rito de São Pio V: belíssima, cheia de significado e de sacralidade. Mas, continuo a preferir a Santa Missa de Paulo VI, desde que bem celebrada, ou seja, desde que celebrada da forma correta.
Contudo, após ser testemunha de tantas profanações à santa liturgia pós conciliar, e ver que o clero pouco ou nada faz para que o Missal seja observado e sejam excluídos definitivamente os improvisos na Santa Missa, começo a me convencer de que precisamos retornar ao Concílio de Trento, com suas alterações, e celebrar os Santos Mistérios da forma que são celebrados pela Administração Apostólica, com exceção dos textos das Leituras, que deveriam acompanhar o calendário atual e em vernáculo. Vou rezar para o nosso Santo Padre direcione a Igreja de Cristo neste caminho.
A autodemolição da Igreja está acontecendo? Acredito que não, pois, “as portas do Inferno não prevalecerão contra ela”. Não acredito também que a Barca de Pedro vá afundar. Mas, que está “fazendo água”, isso está!
Prezado Professor Orlando, termino essas linhas com o temor de que estejamos entrando numa nova fase negra da Santa Igreja, como aconteceu na Idade Média, e que meu querido filho de pouco mais de um ano cresça com saúde, tenha seus próprios filhos (ou me dê a graça de ser sacerdote), envelheça e nunca saiba o que é participar de uma Santa Missa celebrada dignamente.
Rezemos ao Senhor, pedindo a intercessão de Santa Tereza D’Ávila, de São Francisco e de São João Maria Vianney, para que o “Corpo Místico de Cristo” se cure dessa doença!
Uma Santa Missa bem celebrada já é coisa rara.
São Pedro e São Paulo – colunas santas da Igreja, rogai por nós!
Fraternalmente.

—————————-

Muito prezado,
Salve Maria.

“Antes de mais nada, gostaria que o senhor soubesse que concordo com alguns pensamentos seus e descordo de outros” In veritate, libertas!

Só na verdade e na certeza é que temos verdadeira liberdade.
E a verdade obriga.
Obriga a quê?
A combater o erro e a mentira.
Por isso, a defesa da Missa de sempre exige o combate à Missa Nova que propiciou por sua ambiguidade condenável, e por seu posicionamento antropocêntrico, tantos abusos e erros.
E o amor à verdade exige também o combate aos erros e às ambiguidades do Concílio Vaticano II.
Vejo bem que seu posicionamento contraditório – que detesta os frutos, mas defende a árvore que os produziu – provêm do novo posicionamento de Dom Rifan, que resolveu mudar de posição passando a defender o que antes condenava com 62 razões. Dom Rifan decidiu que era preciso dar outra indicação daquela que era dada pelos antigos documentos da Igreja, indicando até um caminho diferente daquele que as antigas “placas” da Igreja indicavam.
Se o senhor continuar assim, seu filho, quando crescer, baseado em sua contradição, aderirá à Missa nova com axé e tudo mais. O tempo normalmente faz aflorar o câncer da contradição.
Deus ilumine seu filho e mesmo o senhor a ver essa contradição e a saná-la.
É o que lhe desejo de toda a alma

In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli

*O professor Orlando Fedeli foi presidente da Associação cultural Montfort de 1983 a 2010.

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