619- Liberalismo e Revolução Francesa

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Orlando Fedeli

Liberalismo e Revolução Francesa

 

  • Localização: Fortaleza – CE

 

Prezado prof. Orlando Fedeli,

Gostaria de propor alguns esclarecimentos de que necessito.

I) Sobre a Revolução Francesa e sua mefítica influência na Igreja Católica. Como o Liberalismo com sua subjetiva concepção em que o objeto deve render-se ao sujeito e seu individualismo próprio, pode conduzir a uma revolução comunista? Penso que o totalitarismo explica-se facilmente se analisarmos o individualismo que a Revolução exalta e concede uma conotação triunfal, afastando o indivíduo do senso comum social. Mas a técnica falsa comunista marxista que prevê resolver um problema artificial e imaginário de pura manipulação dialética possui que relações com a Revolução de 1789?

II) Qual a melhor conceituação para capitalismo e socialismo e seu relacionamento com a Igreja?

III) Li com muito interesse os artigos “Origens do Romantismo Alemão” e “O Romantismo na Igreja”, que muito me esclareceram e fortificaram minha fé católica. Gostaria de saber se poderia continuar a leitura dos próximos capítulos do primeiro artigo citado. Ainda gostaria de saber sobre as influências da dualidade barroca na Igreja Católica.

Muito agradecido de sua disponibilidade e prontidão, subscrevo-me em Cristo e Maria.

 

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Muito prezado, salve Maria!

Sua carta deu-me muita alegria por ter encontrado em você uma pessoa de tão alta compreensão e de tanto interesse doutrinário, qualidades raras, hoje, mesmo entre universitários.

Sobre a continuação da publicação dos capítulos de minha tese sobre as Visões Cabalistas e Esotéricas de Anna Katharina Emmerick, cujo processo de beatificação fora vetado pelo Santo Ofício, informo que, logo mais, publicaremos outros capítulos dela.

Quanto ao barroco e ao maneirismo — temas tão pouco tratados na literatura nacional — logo que tivermos algum tempo, publicaremos algo a respeito.

Sobre o Maneirismo recomendo-lhe que leia os livros de Gusav Hocke, Maneirismo: o Mundo como Labirinto – Ed. Perspectiva, São Paulo, 1986; e o livro de Arnold Hauser: Maneirismo, Ed.Perspectiva São Paulo, 1993. Essas duas obras, embora de autores não católicos, fornecem muitas informações preciosas sobre a relação entre Gnose e Maneirismo.

Sobre o Barroco, a editora Perspectiva publicou uma obra interessante de Affonso Ávila: Barroco: teoria e Análise (livro editado em 1997).

Sobre o Romantismo, recomendo-lhe duas obras de Geores Gusdorff: Le Romantisme (Payot, Paris , 1982, 2 volumes) e Du Néant à Dieu dans le Savoir Romantique, Payot, Paris , 1983).

***

Evidentemente, o liberalismo é o pai do comunismo, como a Revolução Francesa é a mãe da revolução russa. E isso se prova com facilidade.

A Revolução Francesa pretendeu estabelecer a igualdade de direitos políticos, estabelecendo o direito de todos a votar e a serem votados para os cargos públicos. Logo se viu, porém, que essa igualdade política era frustrada pelo poder econômico, pois quem tinha maior fortuna podia fazer maior propaganda eleitoral, e se fazer eleger muito mais facilmente do que um candidato que não dispunha de muito dinheiro para fazer sua propaganda política. Os ricos controlavam a propaganda eleitoral e ganhavam as eleições sempre. Dizia-se que todo político ou era rico, ou logo ia ficar rico…

Já durante a Revolução Francesa, os jacobinos “enragés” liderados por Hébert e por Chaumette, afirmavam que seria impossível realizar a igualdade política, se não se fizesse também a igualdade econômica e social. Eram eles precursores de Marx e de Lênin.

Então, o que pretendeu fazer a Revolução Soviética russa foi levar a igualdade liberal até o nível da carteira. A URSS levou o ideário liberal da Revolução Francesa e da Revolução Americana às suas últimas conseqüências econômicas e sociais. Por isso, os presidentes americanos sempre apoiaram a URSS — e não só na Segunda Guerra Mundial…

***

O capitalismo é o liberalismo na economia. Portanto, assim como o liberalismo político gera o comunismo, assim o capitalismo gera o socialismo na economia.

O liberalismo econômico mantém ainda alguns valores que o socialismo vai destruir, como o direito à propriedade particular, que, como explica Leão XIII, é um direito natural, e o direito natural à livre iniciativa, cada um trabalhando no que quiser, como quiser e quanto quiser.

Porém o capitalismo — como todo liberalismo — tem o grave erro de separar a economia da moral objetiva e natural. O lucro passa a ser um fim a ser obtido de qualquer forma. Assim como o liberalismo separou o Estado da Igreja, assim também o capitalismo –aplicação do liberalismo à política — separou a economia da moral. Isto é o que produz todas as injustiças do capitalismo que os marxistas, a CNBB sovietizada, e os demagogos políticos exploram para propulsionar o socialismo.

Outro ponto negativo do capitalismo liberal é a livre concorrência absoluta, que, ao final, elimina toda concorrência, criando oligopólios controladores totais do mercado.O que facilita, afinal, o triunfo do socialismo.

O socialismo tem a mesma filosofia materialista e evolucionista do comunismo: o materialismo histórico de Karl Marx.

O socialismo pretende, como o comunismo, estabelecer a igualdade econômica e social. Enquanto o comunismo pretende apressar a evolução para a igualdade econômica e social por meios violentos –(greves, guerrilha, revolução, guerras internacionais) — o socialismo afirma que a revolução, sendo um processo natural, não pode ser apressada pela violência, não pode saltar etapas de seu processo. O socialismo só pretende facilitar a evolução para a igualdade econômica e social, por meio de reformas legais. As leis igualitárias seriam as parteiras da revolução.

A Igreja Católica sempre condenou o socialismo e o comunismo. Ela afirma que a igualdade é condenável (Peço-lhe que leia meu trabalho sobre igualdade e desigualdade de direitos, no qual mostro como o bom senso, São Tomás, a Revelação, o próprio Jesus Cristo, e o ensinamento de todos os Papas são contrários à igualdade enquanto tal. Esse estudo está no site Montfort).

Hoje, e aqui, limito-me a citar um texto de Pio XI na encíclica Quadragesimo Anno: “Católico e socialista são termos antitéticos.(…) Socialismo religioso, socialismo cristão, são termos contraditórios. Ninguém pode ser, ao mesmo tempo, bom católico e verdadeiro socialista” (Pio XI, Quadragesimo Anno, Denzinger, 2270).

Desculpe-me a brevidade desta resposta. Os problemas que você me colocou exigiriam muito maior explanação. Mas a exigüidade de meu tempo me obriga a ser bem sucinto.

Escreva-me sempre, pois que é um prazer ter um correspondente tão interessado e de tão bom nível.

In Corde Jesu, semper,

Orlando Fedeli

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