Orlando Fedeli
Católicos de Ontem e Hoje (RCC e Protestantismo) 2 de 10
- Localização: Rio de Janeiro – RJ
E porque nunca me explicaram o que era a coorte e o que fazia o tribuno romano lá, no Horto das Oliveiras, sem licença de Pilatos?
E acho que até hoje nenhum padre — e ninguém — explica para os católicos o que se deve entender por “coorte”, que evidentemente não era a côrte de rei nenhum.
Os padres não explicam isso.
E nem os Bispos. A CNBB tem que se preocupar com os transgênicos e com o desarmamento. E a próxima Campanha da Fraternidade será sobre a água. Evidentemente não e nunca com a água benta, que isso é coisa ligada ao céu, e a CNBB se preocupa só com coisas terrenas, e de modo muito terra a terra Dom Scheidt é menos preocupado ainda que a CNBB.
Ao tomar pose da Arquidiocese do Rio, ele fez a brilhante declaração de que, no Rio, era Bangu, e, em São Paulo, era do Timão! Mas Dom Scheidt é um místico, que passa por ser erudito, pois fez tese de doutoramento sobre Ubertino da Casale (Pensei que fosse sobre o Bangu).
Claro que vendo o jogo do Timão e a novela das oito, os padres não têm tempo de estudar nem Exegese, nem Teologia. Nem a heresia de Ubertino da Casale E para que saber o que se tende por coorte?
Por acaso isso aumenta o PIB, ou enche a barriga do povo?
Naqueles tempos de Pio XII, não havia ainda a TV , nem a novela das Oito, mas já havia a novela romântica da Rádio São Paulo.
Que era às nove horas.
Depois da bênção do Santíssimo — porque naqueles devotos tempos de Pio XII, havia Bênção do Santíssimo — os Padres ouviam a romântica novela da Rádio São Paulo, com violinos soluçantes, fazendo fundo sonoro às ternas declarações de doces e pudicos amores.
E havia retiros.
Nos quais se dormia…
Como nos sermões.
O resultado final desse catolicismo quase geral, muito sentimental, bastante dorminhoco e totalmente enervado, só podia ser um: a vitória da heresia Modernista que jamais se deixou abater, jamais deixou de trabalhar, depois das excomunhões lançadas contra ela por São Pio X.
Judas não dormia.
Os hereges Modernistas estudavam, maquinavam, conspiravam e trabalhavam. E surpreenderam os conservadores dormindo.
No Vaticano II, os católicos se apresentaram sem programa e praticamente sem ciência teológica. Quase nenhum Bispo conservador se opôs aos Modernistas. Inicialmente, pelo menos, NINGUÉM compreendeu as ambigüidades e as fórmulas capciosas usadas pelos Modernistas, nos textos ambíguos do Vaticano II.
E, depois do Concílio, meramente pastoral, os Modernistas tiraram as conseqüências dos princípios camuflados nas frases tortuosas e quase esotéricas das declarações conciliares.
O resultado foi a apostasia de um número imenso de padres e o êxodo dos conventos: dezenas de milhares de padres que jogaram a batina às urtigas. Dezenas de milhares de freiras e frades abandonaram regras e conventos.
O resultado foi o abandono da religião por milhões de católicos. O resultado foi o fechamento dos colégios ditos católicos. O resultado foi a rarefação da vocações, as igrejas vendidas. O resultado do ecumenismo foi o fim das missões. O resultado do ecumenismo foi a divisão dos católicos e o crescimento e a multiplicação das seitas. O resultado foi a existência, hoje, de professores de Teologia, nas Universidades Católicas, professores que se declaram ateus. O resultado foi a abandono de toda a moral pública, o crescimento da violência, do crime e do uso da droga. O resultado foi o aborto e o divórcio legalizado, a pornografia pública, invadindo os lares por meio da TV, essa meretriz eletrônica que “conservou os valores da família brasileira”, como alguém se atreveu a dizer recentemente.
Pio XII dizia que o mundo moderno perdeu o sentido do pecado.
Hoje, se deveria dizer que o mundo perdeu o sentido da virtude.
Você me pergunta sobre os conhecimentos religiosos antes e depois do Vaticano II.
Evidentemente, antes do Vaticano II, apesar de todo o sentimentalismo e de toda a superficialidade já dominantes, estudava-se e se sabia muito mais do que hoje. Afinal, naqueles tempos não havia ainda uma Faculdade em cada esquina. Por isso, pensava-se mais. Bem mais.
Pelo menos em alguns, ainda funcionava a lógica. Hoje, se dizem os maiores despautérios com a maior seriedade.
Pior: escrevem-se despautérios e ninguém os percebe.
Tenho aqui, agora, sobre minha mesa, um livreco que conta as “aparições e mensagens de Medjugorje. As tolices aí escritas, se tivessem sido publicadas nos tempos de Pio XII, causariam riso e indignação.
Imagine que na página 2, Nossa Senhora afirmaria: ” Vossas orações me são necessárias ” !!! ” Preciso da oração de vocês” (Mediugórie, Apresai a vossa conversão — Servos da Rainha, Brasília, sem data, p. 2).
Nossa Senhora, Mãe de Deus, Imaculada desde a sua concepção, Rainha do Céu e da Terra precisando de nossas orações!
É uma loucura.
E logo na página um, Nossa Senhora — pretensamente educada, como locutora de rádio — é quem agradece a atenção que lhe foi dada pelos pseudovidentes, como se estes tivessem feito um favor a Ela: “Obrigada por vocês terem aceitado o meu convite”. “Também, nesta tarde, queridos filhos, estou particularmente reconhecida a vocês por terem vindo até aqui” (Ob. cit. P. 01).
Uma doidice desse tipo causaria riso geral, em 1940, e o padre que a tivesse publicado seria severamente repreendido, e proibido para sempre de voltar a escrever tolices.
Hoje, depois do Vaticano II, e depois da Missa Nova em português, se tornou preciso explicar tolices. A decadência religiosa e intelectual são patentes.
Tenho também outro livreco à minha frente. É do famoso Padre Jonas Abib, que, ao que parece, só escreve livrecos.
Este é do arco da velha! Intitula-se Orando com Poder. Nele, Padre Abib defende heresias, e afirma incríveis teses, como, por exemplo, esta: “Quando Jesus vier, vai desposar esta Terra, esta Igreja e esta humanidade” (Padre Jonas Abib, Orando com Poder, Ed. Salesiana, São Paulo, 2.001, p. 16).
Imagine-se: Cristo desposando esta Terra!!!
Após o Vaticano II se perdeu não só a noção da pecado e da virtude, mas também a do ridículo.
E ainda há quem considere esse padre um santo apóstolo!
E a heresia está em acreditar num segundo advento de Cristo, para reinar na terra, heresia milenarista e protestante que Padre Jonas defende explicitamente nesse seu livreco citado acima.
Eis o que ele escreveu: “Ele virá para reinar sobre a Terra” (Padre Jonas Abib, Orando com Poder, Ed. Salesiana, São Paulo, 2.001, p. 23).
E Padre Jonas Abib, no afã de combater a heresia marxista e racionalista da Teologia da Libertação, acaba por defender o Milenarismo irracionalista, ao dizer: “Eles também não acreditam na segunda vinda de Jesus” (Padre Jonas Abib, Orando com Poder, Ed. Salesiana, São Paulo, 2.001, p. 83).
Padre Jonas Abib, acreditando na segunda vinda de Cristo para reinar este mundo, contra o que diz explicitamente o Evangelho, Padre Jonas Abib já não é católico: é protestante adventista.
O terremoto do Vaticano II, negando que a revelação tenha sido de verdades, mas da própria “res” — [da substância divina] — com a qual se entraria em contato por meio de uma experiência interior inefável, desacreditou o valor da inteligência humana.
Todas as heresias modernistas derivaram disso: da negação do valor correto da razão. Deste erro nasceram o racionalismo da Teologia da Libertação, sequaz do marxismo, e o irracionalismo emocionalista, sensacionalista, anti intelectual e gnóstico do Pentecostalismo da RCC. Racionalismo e irracionalismo são as duas pontas da língua da serpente, que engana os católicos em nossos dias, com o apoio de muitos padres.
Aliás, é Padre Jonas Abib quem afirma que: “Logo após o Vaticano II — Deus já havia derramado o Seu Espírito sobre a Igreja ( SIC !!!) –, o inimigo veio violentamente para atacar-nos justamente em nossa fé. Ele foi tão covarde que visou especialmente àqueles que estavam na cabeça da Igreja [O Papa ???] Os mais atingidos fomos nós, padres, religiosos e religiosas” (Padre Jonas Abib, Orando com Poder, Ed. Salesiana, São Paulo, 2.001, p.55.).
É Padre Jonas Abib quem afirma tal coisa.
Você me pergunta ainda sobre o latim, escrevendo-me: “pergunto o que há de herético no povo que vai a Missa em entender o que se fala para Deus”.
Devo dizer-lhe que por trás dessa vontade de impor o vernáculo na Missa, está o erro doutrinário gravíssimo que afirma que a Missa é rezada pelo povo, e não pelo Padre, erro que o concílio de Trento condenou dizendo: “Se alguém disser que o rito da Igreja Romana pelo qual parte do Cânon e as palavras da Consagração se pronunciadas em voz baixa, deve ser condenado (…) ou que só se deve celebrar a Missa em língua vulgar (…) seja anátema !”(Concílio de Trento, Cânones sobre o Santo Sacrifício da Missa, Cânon 9, Denzinger 956. O negrito é meu).
Além disso, se cada povo rezar em sua língua própria, se perde a noção da unidade da Igreja. Foi em Babel que, com pecado, as línguas se dividiram.
Foi no Pentecostes, que a unidade da Fé restabeleceu a unidade das línguas.
E o latim dificulta a introdução de erros, enquanto que, nas línguas vivas, as palavras mudam de sentido, facilita a introdução de erros.
E argumentam alguns que o povo entende a Missa em português.
Será?
Que entende o povo quando se diz que Cristo é Filho de Deus?
E que entende o povo — e até, que entende a maioria dos padres de hoje, que lêem gibis, ou que torcem pelo Bangu ou pelo Timão – sobre o que é o Verbo?
E poderia eu multiplicar as perguntas sobre as palavras da Missa, perguntando o que significa a expressão “Ele está no meio de nós “…
A verdadeira explicação dessa estranha expressão iria muito longe.
Esta primeira carta, respondendo à sua pergunta, já vai longa, e por hoje encerro nosso bate papo. Noutra missiva, analisarei mais a fundo, como você me pede, o problema da RCC.
In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli.