899- In Persona Christi

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Orlando Fedeli

In Persona Christi

 

  • Localização: Recife – PE

Prezado professor Fedeli,
Salve Maria!

Em primeiro lugar, eu gostaria de parabenizá-lo pelo site. É sempre um prazer para mim passar algum tempo por essas paragens virtuais tão salutares para a Sã Doutrina. Que Maria lhe conceda sempre a graça de continuar nesse Bom Combate.

Bom, permita-me contar uma coisa que me aconteceu na paróquia que frequento, e que me deixou bastante preocupado: é que lá na paróquia existe o costume de se trocar o salmo responsorial por uma música. Depois que saiu a Redemptionis Sacramentum, fui falar com o responsável pelo canto da paróquia, que é meu amigo, e falei pra ele sobre as instruções do papa.

Ele me disse duas coisas terríveis: a primeira, era que a Igreja agora vivia da graça, e não mais da lei (confundindo assim as “obras da lei” com a obediência à Igreja); e a segunda era que o padre autorizava cantar outra música no lugar do salmo, e, já que o padre era Cristo, agia inspirado pelo Espírito Santo.

Fiquei triste com essas colocações da parte dele, uma pessoa que tem uma ação na paróquia bem maior e há bem mais tempo do que eu. Mas isso foi bom porque me suscitou uma dúvida, que tentarei expor de forma clara: Ao se falar que “o padre é Cristo”, creio que se possa entender que o padre age “in persona Christi”. Contudo, eu acho que eu e ele temos conceitos diferentes sobre o que significa “in persona Christi”. Ao meu ver, agir “in Persona Christi” significa que essa ação é feita não pela pessoa do padre, mas pela pessoa de Cristo. É o próprio Cristo, segunda pessa da Trindade, que executa aquela ação, através do sacerdote; isso significaria mais do que o padre agir em nome de Cristo.

Nessa minha concepção, uma ação que fosse feita “in Persona Christi”
seria uma ação direta da divindade; dentre outras coisas, isenta de erros, porque Deus não erra. Portanto, não seria válido dizer que o padre, ao trocar o salmo da missa, age “in Persona Christi”, pois trocar o salmo da missa é um erro e Cristo não erra. O meu raciocínio está correto?

Outra coisa que eu fiquei confuso, é que mesmo na celebração da Santa Missa, o padre profere algumas palavras que não condizem com a noção de que “o padre é Cristo” que meu amigo tem; por exemplo, antes da leitura do Evangelho, quando ele fala “Deus Todo-Poderoso, purificai meu coração e meus lábios, para que eu possa dignamente anunciar Vosso Santo Evangelho”. Se essa ação (a de proclamar o Evangelho) fosse feita “in Persona Christi”
(do jeito que eu entendo, e que expliquei acima), seria uma ação direta da divindade e a divindade não precisa pedir a Deus que purifique o seu coração e seus lábios. Essa ação, dentre outras dentro da Celebração Eucarística, me parecem dever ser atribuídas ao próprio padre.

Como eu entendo, então, agir “in persona Christi” só é feito quando o padre eleva a hóstia e diz “Tomai e comei todos vós”. Aí, sim, ele fala em primeira pessoa, e é uma ação própria da divindade (oferecer o sacrifício de Cristo – é Cristo que oferece – não o padre).

Isso está correto? O que significa agir “in Persona Christi”? Em que momentos, exatamente, um sacerdote está fazendo uso desse carisma?

Outra dúvida, é com relação ao lugar onde pode ser celebrada a Santa Missa.

Mais de uma vez, eu já vi pessoas “improvisarem” um altar com balcões daqueles de salas de professores, em quadras escolares ou quaisquer outros lugares abertos, para cobri-lo com materiais litúrgicos e, então, um padre vir celebrar a missa. Isso está correto? Em que lugares a Santa Missa pode ser celebrada? E, em locais que não disponham da estrutura convencional…

o que deve ser feito? Simplesmente não celebrar a missa?

Agradeço desde já a atenção que me dispensa, professor. Que Nossa Senhora lhe cubra de graças, pela sua disposição em atender às minhas dúvidas.

Agredecidamente.

—————-

Muito prezado, salve Maria !

Muito obrigado por sua palavras de elogio e apreço pelo site Montfort*.

Peço-lhe que reze por nós, para que permaneçamos fiéis a Deus e à Santa Igreja, nada poupando para defender a Fé.

Sua carta é a segunda que recebo, hoje à noite, protestando contra os abusos na Missa, e notando que os padres, de modo geral, pouco ligaram para os decretos do Papa.

Aquilo que você contou do que disse seu conhecido sobre a ação do Padre como Cristo é um absurdo. O Papa disse o oposto: o Padre não é o dono da Missa e não pode mudar, a seu alvitre, o que for na Missa.

Você tem toda a razão em sua explicação sobre a atuação do Padre “in persona Christi”. Você expôs perfeitamente a questão.

O Padre atua “in persona Christi” quando consagra. Quando o Padre reza o “Nobis quoque pecactoribus”– Nós também pecadores — ele não fala “in persona Christi”, pois Cristo não é pecador.

Também a afirmação que a Igreja agora vive sob a graça, e não sob a lei, no sentido que dá a entender seu conhecido, é um erro gravíssimo, pois ele fala como se já não houvesse obrigações legais de nenhum tipo. Daí, essa gente não respeitar os decretos do Papa: eles pensam estar vivendo ” sob a graça”, isto é, eles se julgam dispensados de obedecer a qualquer lei.

Isso é uma herético antinomismo e um absurdo anarquismo. Em nome do amor, é claro…

Quanto ao local de celebração da Missa, é lícito, quando necessário, rezar Missa num espaço mais amplo que possa conter uma multidão, que a capela não é suficiente para receber.

O altar porém deve ter sempre a pedra de ara, com relíquias de pelo menos um mártir.Não é lícito rezar a Missa em mesa comum. O local deve ser adornado, o quanto possível, de modo condigno.

Prezado, fiquei muito contente com sua carta.

Escreva-me sempre, porque não é sempre que encontramos pessoas tão bem esclarecidas como você.

In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli

 

*O professor Orlando Fedeli foi presidente da Associação cultural Montfort de 1983 a 2010.

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