A Escada de Jacó

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Pierre de Craon

 

A ESCADA DE JACÓ

 

E (Jacó) viu em sonhos uma escada posta sobre a terra, cujo cimo tocava o céu, e os anjos do Senhor subindo e descendo por ela, e o Senhor apoiado na escada (…).

(…) Tendo Jacó despertado do sonho, disse: (… Não há aqui outra coisa senão a Casa de Deus e a porta do céu (Gn 28).

Que escada maravilhosa é essa que une o céu e a terra? Que verdades ela nos revela? Que virtudes descem e sobem por ela? Que maravilhas, que harmonias ela encerra?

 

Escada larga, majestosa e altíssima, cujos primeiros degraus tocam a terra, e cujo cimo está no alto dos céus. Esta é na verdade a escada da salvação, por onde descem para nós os anjos de Deus, e por onde devemos galgar para nos unirmos a Deus que nela se apoia.

Essa é a escada da verdade. Ela representa a revelação que Deus nos fez pela Sagrada Escritura. Por ela baixam até nós as verdades luminosas que nos conduzem ao paraíso. Esta é a escada da verdade, e, portanto, da Igreja, que une a terra ao céu. Por seus degraus descem os dogmas revelados por Deus e confirmados pelo Magistério infalível de São Pedro. Por ela sobem as verdades de fé, as doutrinas ensinadas pelos santos doutores e aprovadas pela tradição católica.

Essa é a escada pela qual a Sabedoria de Deus desceu dos céus até nós. Ela é, pois figura de Nossa Senhora, Virgem que percorreu os caminhos da Judéia, e cuja alma tocava o trono de Deus. Santa Virgem que por ser filha de Jacó tocava a terra, e por ser Mãe de Deus tocava o céu. Santa Maria, trono da Sabedoria em que Deus repousa e se apoia amorosamente:

“Maria Regis solium

Dei reclinatorium

Trinitatis triclinium

Sanctitatis palatium”

(Maria, trono do Rei,

Reclinatório de Deus,

Triclínio da Trindade,

Palácio da santidade) [1]

Se essa é a escada da verdade, ela tem que representar Nosso Senhor Jesus Cristo, verdade, caminho e vida, Verbo de Deus encarnado. Ela toca o solo porque Ele se fez homem, do mesmo pó de que Adão foi formado. Ela toca o céu porque Ele possui também natureza divina, e sua Pessoa é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

E a escada de Jacó é a figura da Encarnação, escada pela qual Deus veio até nós, e pela qual os homens podem oferecer a Deus tudo o que fazem, “Per ipsum, et cum ipso, et in ipso”.

Esta é a escada das virtudes e da santidade. Como tal, de novo ela pode ser aplicada à Sagrada Escritura e à Santa Igreja, porque todas as virtudes nos vêm da revelação e da Igreja, através dos sacramentos.

Com mais propriedade ainda ela se aplica a Nossa Senhora, como medianeira de todas as graças. Porque não há bem algum que nos venha de Deus e que não passe por ela. São Bernardo a chama “o colo da Santa Igreja”, pois que é a união entre sua cabeça e seu corpo, e necessariamente todas as graças de Cristo nos vêm por meio dela. Por Ela Cristo veio ao mundo, por Ela necessariamente preciso ir até Cristo. Esta é a escada maravilhosa que, conforme São Luís de Montfort, a Sabedoria utilizou para vir até nós, e portanto é o caminho mais sábio, curto, seguro e perfeito para se alcançar o céu.

E com quanta razão Jacó disse que nela não havia outra coisa senão a casa de Deus e a porta do céu! Pois Maria é a Domus Dei, Domus Áurea, em que Jesus habitou realmente ao se encarnar. Ela é a Janua Caeli, Porta do Céu, porque por ela Deus veio até nós, e por ela chegaremos até Deus.

Essa escada das virtudes é a figura de Cristo, Deus três vezes santo, e modelo de todo homem. Escada da redenção, porque pelos merecimentos de Cristo é que somos salvos, porque todas as graças são graças de Cristo.

Essa escada é a figura da Cruz, cravada no solo e levantada aos céus, sobre a qual e pela qual todas as virtudes de Deus vêm até nós, Cruz pela qual nossas virtudes sobem até o Altíssimo.

Ela representa Nosso Senhor com suas virtudes tão contrastadas e tão harmônicas, Deus infinito a quem os ventos obedeciam e que era obediente a José e a Maria. Ele tocava o solo como o bom pastor em busca da ovelha perdida, mas lançava os maus por terra apenas ao dizer “ego sum”. Ele, que perdoava a pecadora arrependida, que como juiz terrível clamava aos fariseus “Vae vobis.”

Ele é a escada de Jacó por sua generosidade celestial ao se fazer alimento de nossas almas e tocar a terra ao multiplicar os pães e os peixes.

———– * ———–

Essa é a escada das maravilhas e das harmonias entre o céu e a terra, pois, que é a beleza senão “o eterno no passageiro”, “o infinito no limitado”, “o inefável no definível”?

Deus, ao criar o universo, fê-lo à sua imagem e semelhança, de tal modo que cada coisa refletisse Suas virtudes infinitas em certa proporção.

Assim, “do pequeno grão de areia até a Santíssima Virgem” há uma imensidade de degraus, todos eles belos e refletindo a Deus, que é “a beleza de tudo o que é belo”. E há uma escada das belezas e maravilhas do universo, que leva a alma da terra ao céu. Em cada ser belo há um convite para amar a Deus, para o qual fomos criados, há um desejo de absoluto.

E então se compreende por que Jacó afirmou que “não há aqui outra coisa senão a casa de Deus e a porta do céu”. Pois isso, e apenas isso, é o universo: um chamado, um apelo para amar o Criador. E o Universo é a casa de Deus, porque aí Ele reside por Sua Sabedoria, Sua Bondade e Sua Beleza. E o Universo é a porta do céu porque é ao contemplá-lo que nós conhecemos a verdade, e é amando retamente o bem finito que poderemos desejar e amar a Deus, infinito, sobre todas as coisas.

E ao contemplar o universo, Nossa Senhora, a Igreja e Jesus Cristo, nossa alma estará subindo pela escada de Jacó, atravessando a porta dos céus, e habitando a casa de Deus.

 

[1] A tradução perde clareza porque nela se é obrigado a usar duas palavras que indicam locais para se estar que não se usam em português: reclinatório, que é uma espécie de leito em que os romanos se deitavam, apoiados sobre um cotovelo, para comer e triclínio, que é uma espécie de banco que dá a volta em três lados de uma mesa, para que, também reclinadas, as pessoas comessem. NdT.

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