Dominus Iesus – parte II

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Orlando Fedeli

 

DOMINUS IESUS II: UM SÓ CRISTO, UMA SÓ IGREJA

 

 

A Congregação para a Doutrina da Fé acaba de publicar uma Declaração que vem provocando grande celeuma. Trata-se de um Documento corrigindo posições e condenando erros muito difundidos em nossos tempos acerca da verdade e da unicidade da Igreja de Cristo, de sua identificação com a Igreja Católica e do ecumenismo.

A Declaração Dominus Iesusfoi aprovada pelo Papa “Com ciência certa e com a sua autoridade apostólica ratificou e confirmou”, no dia 16 de junho – 10 dias apenas antes da divulgação do Terceiro Segredo de Fátima – e publicada somente no dia 6 de agosto, festa da Transfiguração do Senhor.

A data de publicação parece ter sido escolhida especificamente para significar uma Transfiguração da Igreja, pois que Ela parece ter voltado a brilhar, com a luz de outrora, como única religião verdadeira e única esposa de Cristo.

A Declaração Dominus Iesus foi definida como documento do Magistério Ordinário do Papa, mas, como proclama verdades de fé já reconhecidas, e agora foram definidas, estas verdades de Fé são infalíveis, exigindo-se o assentimento interno e externo de todos os católicos, Bispos, sacerdotes ou leigos. (Cfr. Intervenção de Monsenhor T. Bertone, secretário da Congregação para a Doutrina da Fé).

É por essa razão que nos apressamos a proclamar nossa adesão – com alegria e entusiasmo — a essas verdades de Fé reafirmadas e definidas, graças a Deus, pelo Magistério Apostólico. E fazemos questão de manifestar nossa adesão alegre e entusiasta porque queremos ser absolutamente fiéis ao Papa e à Igreja, particularmente nesta hora em que até mesmo Bispos se dizem revoltados contra o magistério pontifício.

No Brasil, Dom Ivo Lorscheider ousou assinar um pronunciamento conjuntamente com luteranos contra a Declaração Dominus Iesus:

“A Declaração Dominus Iesus, levada a público neste mês de setembro de 2000 pela Congregação para a Doutrina da Fé da Cúria Romana, surpreendeu a cristandade. Periga fechar portas que haviam sido abertas por esforço ecumênico nas décadas passadas. Provocou de imediato reações de forte irritação, acarretando a ameaça de redundar em novas polarizações religiosas e de reacender antigas rivalidades.” (Pronunciamento do Seminário Bilateral Nacional Católico-Romano/Evangélico-Luterano, reunido em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, em 7 e 8 de setembro de 2000 Referente à declaração Dominus Iesus da Congregação para a Doutrina da Fé da Igreja Católica Romana).

É lamentável que um membro do Episcopado Católico se atreva a advertir Roma, juntando sua assinatura a de luteranos.

As verdades de Fé definidas infalivelmente pela Declaração Dominus Iesuse os erros contrários a elas são:

1ª “Deve, de fato, crer-se firmemente na afirmação de que no mistério de Jesus Cristo, Filho de Deus Encarnado, que é “o caminho, a verdade e a vida”(Jo. XIV,6), dá-se a revelação da plenitude da verdade divina” (Dominus Iesus, n. 5).

Em consequência, a Dominus Iesusdeclara:

“É por conseguinte, contrária à fé da Igreja a tese que defende o caráter limitado, incompleto e imperfeito da revelação de Jesus Cristo, que seria complementar da que é presente nas outras religiões. A razão de fundo de uma tal afirmação basear-se-ia no fato de a verdade sobre Deus não poder ser compreendida nem expressa na sua globalidade e inteireza por nenhuma religião e, portanto, nem pelo cristianismo e nem sequer por Jesus Cristo”.

“Semelhante posição está em contradição com as precedentes afirmações de fé, segundo as quais, temos em Jesus Cristo a revelação plena e completa do mistério salvífico de Deus” (Dominus Iesus, n. 6).

2ª ” Deve, portanto, manter-se firmemente a distinção entre a fé teologal e a crença nas outras religiões” (Dominus Iesus, n. 7).

3ª “Deve, de fato, crer-se firmemente na doutrina de fé que proclama que Jesus de Nazaré, Filho de Maria, e só Ele, é o Filho e o Verbo do Pai” (Dominus Iesus, n. 10).

Contrários a esta verdade de fé são os seguintes erros:

“O Infinito, o Absoluto, o Mistério último de Deus manifestar-se-ia assim à humanidade de muitas formas e em muitas figuras históricas: Jesus de Nazaré seria uma delas. Mais concretamente, seria para alguns um dos tantos vultos que o Logos teria assumido no decorrer dos tempos para comunicar em termos de salvação com a humanidade.”

“Além disso, para justificar, de um lado a universalidade da salvação cristã e, do outro, o fato do pluralismo religioso, há quem proponha uma economia do Verbo eterno, válida também fora da Igreja e sem relação com ela, e uma economia do Verbo Encarnado. A primeira teria um plus valor de universalidade em relação à segunda, que seria limitada aos cristãos, se bem que com uma presença de Deus mais plena.”

“Semelhantes teses estão em profundo contraste com a fé cristã” (Dominus Iesus, n. 9 e 10).

“A esse respeito, João Paulo II declarou explicitamente: “É contrário à fé cristã introduzir qualquer separação entre o Verbo e Jesus Cristo” (Dominus Iesus, n. 10).

4ª “Do mesmo modo, deve crer-se firmemente na doutrina de fé sobre a unicidade da economia salvífica querida por Deus Uno e Trino, em cuja fonte e em cujo centro se encontra o mistério da encarnação do Verbo, mediador da graça divina no plano da criação e da redenção (Cfr. Col. I, 15-20), “recapitulador de todas as coisas” (I Cor. 1, 30). (Dominus Iesus, n. 11).

Por essa razão são condenados os seguintes erros:

“Portanto, não é compatível com a doutrina da Igreja a teoria que atribui uma atividade salvífica ao Logos como tal na sua divindade, que se realizasse “à margem” e “para além” da humanidade de Cristo, também depois da encarnação” (Dominus Iesus, n. 10).

“Há ainda quem sustente a hipótese de uma economia do Espírito Santo com um caráter mais universal que a do Verbo Encarnado, crucificado e ressuscitado. Também esta afirmação é contrária à fé católica, que, ao contrário considera a encarnação salvífica do Verbo um acontecimento trinitário.” (Dominus Iesus, n. 12).

5ª “Deve, invés, crer-se firmemente, como dado perene da fé da Igreja, a verdade de Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor e único salvador, que, no seu evento de encarnação, morte e ressurreição realizou a história da salvação, a qual tem n’Ele a sua plenitude e o seu centro” (Dominus Iesus, n. 13).

6ª “Deve, portanto, crer-se firmemente como verdade de fé católica que a vontade salvífica universal de Deus Uno e Trino é oferecida e realizada de uma vez para sempre no mistério da encarnação, morte e ressurreição do Filho de Deus”. (Dominus Iesus, n. 14).

7ª “Assim, e em relação com a unicidade e universalidade da mediação salvífica de Jesus Cristo, deve crer-se firmemente como verdade de fé católica a unicidade da Igreja por Ele fundada”. (Dominus Iesus, n. 16).

“Como existe um só Cristo, também existe um só seu Corpo e uma só sua Esposa: “uma só Igreja católica e apostólica”. Por outro lado, as promessas do Senhor de nunca abandonar a sua Igreja (Cfr. Mt 26,18; 38,20ss) e de guiá-la com o seu Espírito (cfr. Jo 16,13) comportam que, segundo a Fe católica, a unicidade e unidade, bem como o que concerne a integridade da Igreja, jamais virão a faltar” (Dominus Iesus, n. 16)

8ª “Os fiéis são obrigados a professar que existe uma continuidade histórica – radicada na sucessão apostólica – entre a Igreja fundada por Cristo e a Igreja Católica: “Esta é a única Igreja de Cristo […] que o nosso Salvador, depois de sua ressurreição, confiou a Pedro para apascentar (cfr. Jo 21,17), encarregando-o a Ele e aos demais Apóstolos de a difundirem e de a governarem (cfr. Mt 38,18ss.); levantando-a para sempre como coluna e esteio da verdade (cfr. 1Tm 3,15). (Dominus Iesus, 16).

Daí a condenação do seguinte erro:

“Os fiéis não podem, por conseguinte, imaginar a Igreja de Cristo como se fosse a soma – diferenciada e, de certo modo, também unitária – das Igrejas e Comunidades eclesiais, nem lhes é permitido pensar que a Igreja de Cristo hoje já não existe em parte alguma, tornando-se assim, um mero objeto de procura por parte de todas as Igrejas e Comunidades” (Dominus Iesus, n. 17).

9ª “Antes de mais, deve crer-se firmemente que a “Igreja, peregrina na terra, é necessária para a salvação” (Dominus Iesus, n. 20).

“Só Cristo é mediador e caminho de salvação; ora, Ele torna-se-nos presente no seu Corpo que é a Igreja; e, no inculcar por palavras explícitas a necessidade da fé e do Batismo (Cfr. Mc 16,16; Jo 3,15), corroborou ao mesmo tempo a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pelo Batismo tal como por uma porta” (Dominus Iesus, n. 20).

10ª “Com a vinda de Jesus Cristo Salvador, Deus quis que a Igreja por Ele fundada fosse o instrumento de salvação para toda a humanidade (Cfr. At 17,30-31).

Após definir esta décima verdade de fé, a Declaração prossegue com a condenação de mais um erro contrário a ela: o de que tanto faz escolher uma religião quanto outra, todas se equivaleriam.

“Esta verdade de fé nada tira ao fato de a Igreja nutrir pelas religiões do mundo um sincero respeito, mas, ao mesmo tempo, exclui de forma radical a mentalidade indiferentista “imbuída de um relativismo religioso que leva a pensar que “tanto vale uma religião como outra” (Dominus Iesus, n. 22. O itálico e o negrito são nossos).

Evidentemente, há um ziguezagueio – para não dizer incoerência e até contradição – entre a parte citada em itálico e a parte citada em negrito. Condena-se o erro, e de modo radical, porém querendo manter o tom diplomaticamente ecumênico pelas falsas religiões. o que é lamentável.

Como pode se dizer que a igreja tem “sincero respeito” pelas religiões do mundo, se “exclui deforma radical mentalidade indiferentista” etc.?

O respeito pode ser pelas pessoas que se deseja converter à verdadeira e única Igreja de Cristo, a Igreja Católica Apostólica Romana, nunca pelas falsas religiões que, não podendo salvar, perdem as almas. O médico respeita o doente, mas nunca pode afirmar que tem “um sincero respeito” pelo câncer que as afeta. E é, aliás, o que a própria Declaração afirma, graças a Deus, com as seguintes palavras:

“A paridade, que é um pressuposto do diálogo, refere-se à igual dignidade pessoal das partes, não aos conteúdos doutrinais e muito menos a Jesus Cristo – que é o próprio Deus feito Homem – em relação com os fundadores das outras religiões” (Dominus Iesus, n. 22).

Em todo caso, o que está definido é que não se pode afirmar “que tanto vale uma religião como outra”, e que não se pode colocar no mesmo nível Jesus Cristo com os fundadores de religiões falsas.

Vemos por essas condenações dos erros que grassam entre os católicos desde o Vaticano II – erros causados pela ambiguidade de seus textos – que a causa fundamental de tanta confusão doutrinária é o relativismo e o subjetivismo face à verdade (Cfr. Dominus Iesus, n. 4).

Na raiz dos erros que motivaram a DeclaraçãoDominus Iesus, “encontram-se certos pressupostos de natureza tanto filosófica como teológica, que dificultam a compreensão e a aceitação da verdade revelada. Podem indicar-se alguns: a convicção de não se poder alcançar nem exprimir a verdade divina, nem mesmo através da revelação cristã; uma atitude relativista perante a verdade, segundo a qual, o que é verdadeiro para alguns não o é para outros; a contraposição radical que se põe entre a mentalidade lógica ocidental e a mentalidade simbólica oriental; o subjetivismo de quem considera a razão como única fonte de conhecimento, se sente “incapaz de levantar o olhar para o alto e de ousar atingir a verdade do ser”; a dificuldade de ver e aceitar na história a presença de acontecimentos definitivos e escatológicos; o vazio metafísico do evento da encarnação histórica do Logos eterno reduzido a um simples aparecer de Deus na história; o ecletismo de quem, na investigação teológica, toma ideias provenientes de diferentes contextos filosóficos e religiosos, sem se importar da sua coerência e conexão sistemática, nem da sua compatibilidade com a verdade cristã; a tendência, enfim, a ler e interpretar a Sagrada Escritura à margem da Tradição e do Magistério da Igreja” (Dominus Iesus, n. 4).

As verdades de fé definidas por este último documento do Magistério da Igreja tem provocado – lamentavelmente – um verdadeiro terremoto, que ameaça separar parte do Episcopado da própria Igreja.

Ainda agora o ex Frei Leonardo Boff lançou um virulento ataque à Dominus Iesus, vendo nela a condenação do ecumenismo, assim como de toda a mentalidade modernista e herética que sempre o caracterizou. Do mesmo modo, teólogos da libertação lançaram outro manifesto repudiando aDominus Iesus.Mostram-se, pois, contrariados todos aqueles que seguiam uma linha ecumênica que diluía a verdade de Fé de que existe uma só Igreja de Cristo, e que esta é a Igreja Católica Apostólica Romana. Mostram-se revoltados os que tinham um conceito modernista de Igreja, considerando que ela era formada por uma misteriosa união de todas as religiões.

Mas, os que sempre permaneceram fiéis à Igreja, estes se mostram jubilosos pelo fato de que estas verdades, depois de um longo e infeliz eclipse, tenham voltado a iluminar os homens. É com isto que nos congratulamos de todo o coração e do fundo de nossa alma, reafirmando nossa total e completa adesão às verdades de fé ora proclamadas de novo pela Santa Sé – verdades que sempre foram ensinadas pela Igreja – agradecendo a Deus esta graça concedida à Santa Igreja por meio do Imaculado Coração de Maria. 

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