Era a Estrela que os guiava

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André Melo

 

ERA A ESTRELA QUE OS GUIAVA

 

Os Evangelhos nos relatam que, tendo nascido Cristo, vieram reis do Oriente para adorar o rei dos judeus: “vimos a sua estrela no Oriente, e viemos adorá-lo” (Mt 2,2).

Três misteriosos reis que, deixando todos seus afazeres, empreendem uma longa viagem tendo como único guia uma estrela. Era uma estrela nova, diferente, que nunca fora antes vista. Uma estrela que brilhava mais que as outras.

A um primeiro olhar, pode causar certa estranheza que o surgimento de uma nova estrela no céu tenha sido motivo suficiente para levar três monarcas a abandonarem tudo com o intuito de segui-la. Sendo reis, seria natural que tivessem muitas ocupações, afazeres e preocupações com o governo de seus domínios. No entanto, tudo pareceu perder importância à vista da fulgurante estrela.

Não seria absurdo supormos que, juntamente com a inusitada visão, aqueles reis também tivessem recebido alguma inspiração. Uma inspiração que os impelia a se deixarem conduzir pela estrela. Como se lhes dissesse: sigam a estrela. Deixem-se guiar por ela.

Era, pois, preciso tudo desconsiderar e passar a relevar apenas a mais bela das estrelas jamais vista. Deixar-se conduzir por ela.

Nada nos é relatado pelos Evangelhos a respeito do conhecimento, por parte dos reis magos, do destino daquela viagem a ser empreendida em época de inverno. Podemos concluir, ou aos menos supor, que eles não receberam maiores detalhes sobre os caminhos que tomariam. Não sabiam quanto tempo duraria, quantas noites pernoitariam no estrangeiro, por onde passariam ou quais perigos enfrentariam. Apenas seguiam.

Quanta confiança devia lhes proporcionar aquela singular estrela, que irradiava mais luz que as outras, antecipando aquilo que, anos depois, ensinaria S. Paulo: “Stella enim a stella differt in claritate” (1Co 15,41), uma estrela é diferente da outra em claridade.

Era, dizíamos, necessário ter confiança e seguir. Essa é a primeira lição que desses fatos podemos tirar.

Pois era a estrela que os guiava.

Ela os levou, primeiramente, até Jerusalém, e tendo chegado à cidade santa dos judeus, desaparece. A ausência da guia enseja uma consulta, por intermédio do rei Herodes, aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas do povo, para saber o local onde nasceria o Messias, o que nos releva que os reis, embora desconhecendo o caminho, sabiam a razão pela qual viajavam.

O caminho até o Messias passava por Jerusalém, passava pelos profetas e pelos sacerdotes da antiga lei. Passava também pelo Templo com suas diferentes formas de sacrifício. No entanto, Jerusalém não era a cidade onde Deus Nosso Senhor faria, futuramente, sua real e definitiva morada. Jerusalém era passagem e, por essa razão, ao chegarem em Jerusalém, a estrela desapareceu. A luz que guiava os gentios não objetivava levá-los a Jerusalém, uma vez que a capital do mundo judaico perderia sua relevância e, em breve, já não importaria mais. Cessariam Jerusalém, o Templo, os sacerdotes, as cerimônias e tudo o mais que foi instituído por Deus no Antigo Testamento para, através dos símbolos neles contidos, prepararem o povo para a chegada da realidade que prefiguravam: Cristo, a verdade encarnada.

Jerusalém era passagem necessária, mas não era o destino. Segunda lição.

Embora ainda não soubessem, o destino dos três monarcas era a cidade real de Belém onde “um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado” (Is 9,6). O local não poderia ser mais oportuno. Foi na “casa do pão” que Jesus, o pão dos céus, nasceu da Virgem Maria para nos remir e nos servir de alimento espiritual. Um pão formado – porque assim o foi realmente – pela Virgem Maria e que contém todo o sabor. Panem de caelo praestitisti eis. Omne delectamentum in se habentem.

A mais brilhante das estrelas, o mais saboroso dos pães.

Estrela que os levaria a Belém, berço da Redenção.

“E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais (cidades) de Judá, porque de ti sairá um chefe, que apascentará Israel, meu povo (Mic 5, 2).” (Mt 2,6).

Seguiram, pois, os reis para Belém e muito se alegraram quando a estrela novamente lhes apareceu: “Vendo (novamente) a estrela, ficaram possuídos de grandíssima alegria”. (Mt 2,10).

Aquele que move todas as nações, aqui representadas pelos reis, movia também as estrelas. Et movebo omnes gentes, et veniet desideratus cunctis gentibus: et implebo domum istam gloria, dicit Dominus exercituum (Ag 2,8). [E moverei todas as nações, e o desejado de todas as nações virá: e encherei esta casa de glória, diz o Senhor dos exércitos].

Na escura e fria noite em que se encontrava a humanidade, uma estrela brilhava mais que as outras servindo aos homens de guia, indicando o local preciso onde se encontrava o “desejado de todas as nações”.

Era a Stella Matutina que, no alvorecer da Redenção, indicava aos homens o caminho.

O caminho que os levaria ao Caminho.

O caminho de Belém – da Igreja – onde habita Deus feito homem.

“Entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe”. (Mt 2,11)

Com sua mãe. Também esse importante detalhe a inspiração devia ter-lhes prenunciado. Depois de seguir a estrela e de passar por Jerusalém, seria a presença da mãe que lhes asseguraria ser Aquele o menino que buscavam. É somente junto dEla que Ele é encontrado, e quem a busca, o encontra.

Sem nada dizer “prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, ofereceram-lhe presentes de ouro, incenso e mirra”. (Mt 2,11).

Uma última lição para uma época na qual alguns pretendem buscar o Menino sem sua Mãe, enquanto outros que, tendo-O encontrado, atrevem-se a recebê-Lo sem se prostarem.

Que neste Natal, o Deus Menino nos faça humildes e puros para enxergarmos a Estrela da Manhã. Que nos conceda as disposições e a docilidade para tudo deixarmos a fim de segui-La com prontidão. E que nos dê generosidade para que, ao encontrá-Lo, prostemo-nos adorando-O, enquanto oferecemos o ouro de nossos bens, o incenso de nossas orações e a mirra de nossos sacrifícios.

Um santo Natal a todos.

André Melo

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