“José carpinteiro”: breve meditação sobre um quadro barroco

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História de José, o Carpinteiro – Wikipédia, a enciclopédia livre

Prezados amigos, salve Maria!

Escolhi, há alguns anos, a pintura acima como a imagem em que devo me inspirar para meus trabalhos e cumprimento dos meus deveres de estado. Não deixo nunca de me comover, cada vez que paro para contempla-la e meditar um pouco no que ela significa.

Trata-se de “José o carpinteiro”, um quadro barroco de Georges de la Tour, de 1642. O estilo barroco nele é inconfundível. Uma cena muito simbólica, muito escura, com um foco de luz central (não um centro geométrico, mas de importância) e um forte contraste entre claro e escuro. Também as cores são escuras, porém tão vivas como o fogo.

Os ingênuos – e muitos assim se perceberão – pensam que o foco principal de luz é a vela. Enganam-se. É o rosto do menino. Obviamente, a vela é apenas a fonte de luz natural, com todos os símbolos que a vela porta e que já conhecemos. Não é à toa que a vela tem certo destaque na cena. Mas o menino a esconde com a mão, numa indicação de mistério. É verdade que poderíamos pensar que a mão do menino sobre a vela representa a encarnação do Verbo, quando o corpo de cristo esconde a luz da natureza divina. Creio que isto também esteja muito bem simbolizado aí. Mas, o centro de importância do quadro é a luz que emana da face do menino.

A vela é a razão humana, que ilumina parte dos corpos, que é o que enxergamos com os olhos da carne. A luz verdadeira emana do Ser de Deus, que é o rosto do menino, pois é pelo rosto que se conhece a identidade e a verdade do que somos.

A figura à esquerda é São José, que representa em seu rosto o resumo da sabedoria e da justiça humanas. Quem o olha atentamente, vê a serenidade de um santo que parece não precisar mais de perfeição. É o judeu que tem a lei, os profetas e o Messias. Ele ocupa suas mãos com a ferramenta, que é a aplicação dos conhecimentos humanos, que é nada perto do ser de Deus. Por isto, lhe calca sob os pés e é a atividade mais baixa da cena. São José dobra seu corpo sobre ela, inclinando-se às necessidades humanas.

No entanto, inclinando-se aos deveres de estado, inclina-se, contemporaneamente, ao menino e expõe totalmente a sua parte superior, a cabeça, ao que o menino o ensina. Reparem em sua testa iluminada. A calvície é a nudez dos pensamentos mundanos, a inocência que permite aos puros verem a Deus. Os olhos de São José não estão no trabalho humano, mas atentos ao que lhe ensina o menino. São José, perfeito, ouve como uma criança atenta ao que ensina seu filho, que é A criança, a fonte de luz, com a atenção de quem ouve o que há de mais elevado e parece deleitar-se enormemente, interiormente, com o que ouve. Parece até que o menino lhe explica a mais velada das profecias. Vendo a mão que oculta a vela, suponho que o menino lhe explica alguma profecia sobre a encarnação do Verbo.

O menino também trabalha. Segura a luz para que São José veja bem, com prudência, o que faz. O menino ajuda o velho pai, que já tem as vistas cansadas, com algo que parece tolo, como que pondo um véu sobre o tema do quadro, que é a sabedoria do menino sendo transmitida ao velho pai, enquanto o velho pai ocupa-se de sustentar humanamente o menino com os trabalhos necessários do mundo. Como se o menino não pudesse prover milagrosamente aquele mínimo, mas Nosso Senhor nos permite o suor nos menores afazeres e nos garante o sublime de sua companhia, nos acompanhando em nossas misérias, com uma velinha humanamente insignificante. Enquanto sua face brilha de tanta verdade, desejando ardentemente nos contar a beleza de seu Ser desde toda a eternidade.

Fabio Vanini
19/3/2020, Festa de São José

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