Mensagem de Natal – Venite Adoremus

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André Melo

Venite Adoremus

 

Chegamos a mais um Natal.

Ao final de um ano que mal parece ter começado deparamo-nos novamente com o presépio. Nele repousa, sorrindo, serena e tranquilamente, o Menino Jesus enquanto é contemplado por São José e por Nossa Senhora. Num instante damo-nos conta, diante da tranquilidade dos pastores e da exultante expressão dos anjos, de que tudo passou muito rápido. E percebemos que muitas vezes não tivemos nem a serenidade e nem a contemplação dos pastores e – aqui ainda menos – dos anjos.

O ano passou com suas distrações, suas preocupações e cuidados e nos vemos agora, mais uma vez, diante da manjedoura.

Paremos por um instante.

Contemplar e meditar a respeito de um Deus tão poderoso que se fez menino e repousa num pobre estábulo de animais, aquecido por um boi e por um burro, pode ser fonte inesgotável de considerações, resoluções e bons propósitos.

O burro, animal símbolo dos seres sem sabedoria, representa aqui os pagãos que não tinham a verdadeira sabedoria, pois esta decorre da fé, nunca existindo sem ela.

Já o boi, que carrega a canga e puxa o arado, simboliza os judeus, povo escolhido por Deus a quem Ele dera a Lei. Os judeus viviam sob o julgo da Lei.

Ambos, boi e burro, servem ao Menino, aquecendo-o na fria noite. Foi para ambos que Ele veio ao mundo. Para resgatá-los, judeus e gentios, da noite fria do pecado e dar-lhes a oportunidade de se salvarem eternamente.

A noite escura e fria do Natal testemunhou o início de nossa redenção que culminaria, 33 anos mais tarde, na cruel morte sofrida por Cristo na cruz.

Na história cabe a cada um de nós, judeus e gentios, bois e burros, decidir fazer ou não uso do infinito tesouro conquistado por Cristo do presépio ao calvário.

O presépio é um lugar de contrastes. Nele repousa, balbuciante e quase estático, o Verbo de Deus todo-poderoso, a Sabedoria divina, enquanto movia as estrelas.

Envolto em panos e aquecido por dois animais, encontramos o Coração de Jesus-Menino, fornalha ardente de caridade.

No sujo estábulo nasceu a própria santidade, tomando forma de criança para mais facilmente atrair os pecadores e lhes conceder o perdão e a santidade.

É o Príncipe da Paz (Is 9,6) que veio trazer a guerra (Mt 10,34).

O Rei dos reis que recebe os pobres pastores e os ricos monarcas.

O criador do universo que não encontra melhor local para descansar que um humilde cocho.

A luz do mundo, a Sabedoria Eterna, veio ao mundo numa fria noite de inverno. Pois fazia noite no mundo. E também no coração do homem.

Cristo nasce na noite, para combater a noite.

“O povo, que andava nas trevas, viu uma grande luz; aos que habitavam na região da sombra da morte uma luz apareceu.” (Is 9,2).

Para Deus nunca é noite.

Foi na real e distante Belém, longe do centro do mundo de então, numa noite fria, que ocorreu o extraordinário fato que dividiria a história definitivamente.

Cristo nasceu longe das atenções, distante do centro político e da política, no interior de sua nação. Longe da agitação do mundo. Perto de Nossa Senhora.

Assim age Deus. Quando menos se espera e do modo menos imaginado.

O profeta Isaías, vendo com 700 anos de antecedência o nascimento do Messias, a Ele se referia como o Emmanuel, o Deus conosco: “Pois por isso o mesmo Senhor vos dará este sinal: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e o seu nome será Emmanuel” (Is 7,14).

Emmanuel que dizer “Deus conosco”. Pois Deus quer estar conosco. Ele ama estar na presença dos homens. Desde a criação, quando vinha conversar com Adão na brisa da tarde (Gn 3,8), Ele nos procura como um amigo, pois “Deus é bom e amigos dos homens” como diz a liturgia de São João Crisóstomo.

Deus nos procura em nossas vidas, por vezes adentrando na fria noite de nossas histórias.

E o Menino Jesus, que com dificuldade encontrou lugar apenas em um pobre e sujo estábulo, pois “não havia lugar para eles na estalagem” (Lc 2,7), muitas vezes não encontra, hoje, lugar onde seja recebido.

O homem do mundo moderno não tem mais tempo para Deus. Tem muitas ocupações. Não lhe sobra tempo para as verdades e certezas eternas, para a justiça plena e desapaixonada ou mesmo para contemplar a beleza objetiva.

Numa época em que a sabedoria nada mais vale e que da contradição não se faz mais caso, é natural que as trevas avancem. E que a noite escureça.

Novamente hoje se faz noite. E o frio parece ter congelado o coração dos homens.

E nós? O que faremos? Deixaremos nosso rebanho para adorar a Deus recém-nascido? En grege relicto, humiles ad cunas[1].

Encontrará a Sagrada Família lugar em nossa estalagem neste Natal?

É essa a hora de cada um se decidir.

Aproximemo-nos, pois, daquele que é a única luz capaz de esclarecer todas as dúvidas, apaziguar todas as angústias, corrigir todos os desvios, fechar todas as feridas. Aproximemo-nos. Tal qual boi e burro aqueçamos o Menino. Pro nobis egenum et foeno cubantem; Piis foveamus amplexibus[2].

E peçamos que Ele permaneça conosco noite adentro.

“Ficai, Senhor, conosco, pois vai fazer noite.” (Lc 24,29).

Venite, Adoremus.

Um santo Natal!

 

[1] Abandonando os rebanhos encaminham-se [os pastores] ao presépio. (Adeste, Fideles).

[2] A Quem por nós Se fez pobre, e jaz em palhas deitado; Abracemos e aqueçamos. Idem.

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