Leonardo Brum
O MODERNISMO DO FUNDADOR DO MOVIMENTO COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO, MONS. LUIGI GIUSSANI
Suspeitando da ortodoxia do movimento eclesiástico chamado “Comunhão e Libertação” (CL), fui levado a investigar as ideias de seu fundador, Mons. Luigi Giussani, que servem de diretrizes para a ação do grupo. Se minhas primeiras impressões a respeito de CL não foram muito boas, vieram a piorar a partir dos estudos que fiz. Cheguei à conclusão de que o erro fundamental de Mons. Giussani é o de não distinguir adequadamente a ordem natural da sobrenatural, devido às influências que recebeu do modernismo e da chamada “Nova Teologia”, como será demonstrado ao longo do presente texto. Os eventuais destaques que ocorrerem neste texto são de minha responsabilidade. Caso alguma citação esteja traduzida para o português, o trecho original se encontra entre as notas de referência ao final.
Mons. Giussani concluiu seus estudos teológicos na Faculdade Teológica de Venegono, na Itália. Pe. Massimo Camisasca, autor insuspeito por ter participado de CL, fundando posteriormente uma fraternidade sacerdotal cujo carisma, segundo ele, é o mesmo do movimento, apresenta algumas das principais ideias que permeavam a teologia da faculdade:
“As diretrizes fundamentais – segundo Biffi – eram duas: por uma parte, a insistência em uma ideia de sobrenatural que evitasse qualquer possível redução do acontecimento cristão; por outra, tal sobrenatural não era concebido como um dado acessório justaposto à natureza, mas como algo substancial, embora gratuito. Assim, pois, percebia-se o acontecimento cristão como a plenitude do homem e da criação.”[1]
Aqui já temos um erro, pois é sabido que a ordem sobrenatural é “um efeito ou uma série de efeitos substancial e absolutamente acima de toda a natureza.”[2]
É certo que a graça santificante, que é sobrenatural, atua no homem de maneira intrínseca, mas tal ação se dá em seus acidentes, de modo a elevá-lo para além das capacidades próprias de sua natureza. Se há algum ser substancialmente sobrenatural, é o próprio Deus. Esta concepção de Venegono acerca da ordem sobrenatural denota que a mesma agiria na natureza não a elevando, por ser algo transcendente, mas a complementando, como se a graça sobrenatural fosse imanente, substancial à natureza humana.
Pe. Camisasca continua, revelando a origem de tais ideias e o posicionamento de Mons. Giussani em relação ao seu propositor:
“Nestas teses observa-se o ensinamento de Blondel. Também Giussani disse havê-lo lido e observa: ‘A respeito de Blondel, ainda tínhamos algumas dúvidas, mas também entressacávamos acentos positivos; por exemplo, a ideia da natureza histórica do homem, aberta como tal ao sobrenatural.’”[3]
Nota-se, então, que as teses teológicas que serviam de diretrizes principais na Faculdade de Venegono diziam respeito às relações entre as ordens natural e sobrenatural, estando de acordo com o pensamento do filósofo francês Maurice Blondel. Vê-se, também, que Mons. Giussani tinha impressões positivas em relação a tais ideias. Blondel, com sua filosofia imanentista da ação, defendia – e Mons. Giussani repetirá anos mais tarde – que a natureza humana exige o sobrenatural, motivo pelo qual à sua época sofreu a censura da encíclica Pascendi (1907), do Papa São Pio X, na qual o modernismo é condenado:
“E sobre este ponto nos vemos de novo obrigados a lamentar que não faltem católicos que, conquanto rejeitem a doutrina da imanência como doutrina, todavia se utilizam dela na apologética; e fazem-no tão incautamente, que parecem admitir não somente certa capacidade ou conveniência na natureza humana para a ordem sobrenatural, (o que os apologetas católicos com as devidas restrições sempre demonstram), mas também uma estrita e verdadeira exigência. Para dizê-lo em modo mais exato, diremos ainda que esta exigência da religião católica é sustentada pelos modernistas mais moderados.”[4]
Que São Pio X tenha procurado censurar, entre outros, Maurice Blondel na encíclica Pascendi, é o próprio Blondel que o admite:
“’O que foi condenado [pela encíclica Pascendi], é justamente a tese da eferência, a religião que surge do fundo da consciência. Fazendo isso, se nos quis visar. Subsidiariamente se acreditou realmente golpear-nos (…)”[5]
Pouco mais de quinze anos após a publicação da Pascendi, Pe. Adolphe Tanquerey lança seu famoso Compêndio de Teologia Ascética e Mística, onde não poderia deixar de tratar das relações entre a natureza e a ordem sobrenatural. Pe. Tanquerey distingue dois tipos de dons, os relativamente e os absolutamente sobrenaturais. Os dons relativamente sobrenaturais são aqueles que estão além das capacidades naturais de certas criaturas, mas não de outras, como é o caso da ciência infusa, da qual os homens só poderiam gozar por ação da graça divina, mas que é própria dos anjos. Tais dons são também chamados preternaturais. Aqui nos interessa particularmente a definição dada por Pe. Tanquerey aos dons absolutamente sobrenaturais. Convém citá-la, tanto por sua coerência com o Magistério de São Pio X, quanto pelo fato de que há quem diga que Mons. Giussani era um místico e que disso deriva a dificuldade em compreender sua terminologia. Eis, então, a palavra de um especialista em Teologia Mística:
“Um dom absolutamente sobrenatural é aquele que em sua própria essência (quoad substantiam) transcende a natureza conjuntamente, de modo que não pode ser devido a nem merecido por criatura alguma. Tal dom ultrapassa não apenas todas as capacidades ativas da natureza, mas mesmo todos os seus direitos, todas as suas exigências.”[6]
Porém, em conformidade com as ideias de Maurice Blondel e contrariamente à Doutrina Católica, Mons. Giussani desenvolve sua teologia tendo por fundamento o conceito de senso religioso, expressão com a qual, inclusive, intitula sua principal obra. Aparentemente baseada na antiga noção de desejo natural de Deus, que é correta, a ideia de senso religioso de Giussani, na verdade, aproxima-se muito mais do conceito de “sentimento religioso” descrito e condenado também na Pascendi (tanto mais que, em italiano, senso pode ter o significado de “sentimento”). Tal é a definição do próprio Mons. Giussani:
“Sentimento religioso, senso religioso: mas o que pretendemos dizer com isso? Repetita iuvant. O senso religioso é aquela característica irredutível do coração humano, da natureza última do homem, pela qual ele não pode ser satisfeito, aperfeiçoado, completado, por nada que você lhe dê ou lhe ofereça – salvo a ilusão do momento. O homem tem algo pelo qual não consegue “fazer bater o seu balancete”, não consegue ser completo, pois o homem é relação com algo infinito: chamemo-lo como quisermos, a história das religiões o chamou Deus, mas o certo é que o homem é por sua natureza relação com algo incomensurável com o próprio homem.”[7]
Aqui, Mons. Giussani afirma que o homem é, por natureza, relação com o infinito (Deus). Tal afirmação seria correta à medida que considerássemos que o homem só é (existe) por participação no Ser Absoluto, mas esta relação é inerente à existência de todos os seres contingentes e não somente à dos homens. O trecho acima citado demonstra que não é a esse tipo de relação que D. Giussani está se referindo, uma vez que tal relação natural com o infinito seria a causa da incompletude do homem. Trata-se, portanto, não de uma relação atual, como a da participação no Ser, intrínseca ao homem desde o início de sua existência, e sim de algo potencial, que o homem não possui a princípio, mas que é próprio de sua natureza e que, por isso, ele não somente aspira como também exige. A relação com o infinito em questão só poderia ser consumada na religião. Daí chamar esta inquietude do homem de senso religioso.
Percebe-se, então, a grande coerência entre o conceito de senso religioso de Mons. Giussani e as teses blondelianas acerca da ordem sobrenatural que ele aprendeu na Faculdade de Venegono. A Igreja nos ensina que a relação entre o homem Deus no âmbito da (verdadeira) religião é de caráter sobrenatural. Quando se diz que o homem é, por natureza, relação (religiosa) com Deus, está se afirmando novamente aquela ideia condenável de que o sobrenatural é realmente substancial à natureza humana, sendo uma “estrita e verdadeira exigência” da mesma, como é possível notar também nessas outras afirmações de Mons. Giussani:
“É característica da natureza constituir uma trama orgânica e hierárquica capaz de solicitar a exigência de unidade imanente a cada pessoa.
“Essa exigência essencial encontra correspondência na afirmação de Deus; Deus é exatamente o significado unitário a que a natureza, na sua objetiva organização, remete a consciência humana.” [8]
Portanto, segundo Mons. Giussani, a natureza humana solicita uma exigência imanente, essencial, que encontra sua satisfação em Deus. Pode-se afirmar, então, que o termo “exigência”, do qual Mons. Giussani se vale, provém da filosofia de Blondel, que também muito o utilizava, sendo condenado por São Pio X na Pascendi no mesmo sentido. Não se trata de julgar Mons. Giussani simplesmente por sua terminologia peculiar. “Exigência”, em Blondel, em Giussani e na Pascendi possui o mesmo significado, o de necessidade metafísica, que a Enciclopédia Católica define da seguinte maneira:
“Uma necessidade metafísica implica que uma coisa é o que ela é, ou seja, que ela possui os elementos essenciais à sua natureza específica. É uma necessidade metafísica para Deus ser infinito, para o homem ser racional, para um animal ser um ser vivo. A necessidade metafísica é absoluta.”[9]
Detenhamo-nos no problema da exigência. São Tomás de Aquino explica que nos dons naturais há, simultaneamente, aspectos de gratuidade e exigência. De gratuidade, porque não merecemos nenhum deles: Deus é que no-los dá livremente. Mas por outro lado, tais dons são exigidos pelas criaturas, para que nelas se cumpra a ordenação divina “a qual estabelece que tal natureza tenha tais condições ou propriedades e que aquela que opera tais coisas consiga tais outras.”[10]
Há nas criaturas uma espécie de “coerência ontológica” que demanda todas as suas necessidades metafísicas. No caso do homem, um exemplo de exigência da natureza dado tanto por São Tomás, na Suma Teológica, quanto pela Enciclopédia Católica, é a racionalidade.
Porém, se podemos dizer que os dons naturais nos são “substanciais, embora gratuitos”, o mesmo não podemos afirmar acerca dos dons sobrenaturais, como se fazia na Faculdade de Venegono. Eles não são exigidos nem pela condição da natureza, muito menos por mérito, e é por isso que São Tomás afirma que eles podem ser chamados mais propriamente de “graça.”[11]
Contrariar tal princípio teológico não significa simplesmente discordar do Doutor Angélico, ou de Tanquerey, mas afrontar o próprio ensinamento da Igreja, uma vez que São Pio X, no exercício de seu magistério, como já vimos, condenou claramente a tese de que a natureza exige o sobrenatural.
Se, com Mons. Giussani, encararmos a Deus como resposta a uma exigência imanente ao homem, ou que o homem é por sua natureza relação com Deus, concluiremos que a ordem sobrenatural é, contraditoriamente, um “elemento essencial à sua natureza específica” (do homem), sem a qual, portanto, ele “não consegue ser completo”. Sendo assim, não há verdadeira distinção entre as ordens natural e sobrenatural no pensamento de Mons. Giussani. Não é de se espantar que um de seus admiradores, o teólogo da Igreja “Ortodoxa” Russa Olivier Clément, tenha escrito em um texto intitulado Luigi Giussani: un profeta [sic!] o seguinte:
“Observa-se em Luigi Giussani um conhecimento não somente intelectual das religiões, mas sobretudo, e fundamentalmente, uma experiência intensa do mistério. Não se encontra nele a mínima separação entre o natural e o sobrenatural. Para ele, e isso é ao mesmo tempo sem dúvida uma abordagem original e fruto de um conhecimento profundo da teologia ‘ortodoxa’, a natureza mesma é sobrenatural, enquanto totalmente penetrada pelas energias divinas. Com linguagem bíblica, ele enfatiza que Deus é o Deus dos milagres, e que tudo é milagre, e que Ele imprimiu desde as origens a sua imagem em sua criatura.”[12]
Este testemunho insuspeito confirma tudo o que foi apresentado até aqui acerca das ideias de Mons. Giussani sobre as relações entre as ordens natural e sobrenatural. Entretanto, tais ideias estão longe de fazer dele um profeta.
Outro teólogo, David L. Schindler, membro do movimento CL, no prólogo de uma edição em inglês do livro de Mons. Giussani At the Origin of the Christian Claim, confirma que o conceito de senso religioso inspira-se nas ideias de Maurice Blondel e também de Henri de Lubac, expoente da chamada “Nova Teologia” e, como se sabe, censurado pelo Papa Pio XII na Encíclica Humani Generis, em 1950, que o colocou como um dos que “desvirtuam o conceito de gratuidade da ordem sobrenatural.”[13]:
“O que Luigi Giussani chama de ‘senso religioso’ resume-se neste engajamento da pessoa por inteiro no pleno significado da vida. Baseando-se na grande tradição de Maurice Blondel e Henri de Lubac anteriormente neste século, e de fato em figuras literárias tais como Fyodor Dostoyevsky e Giacomo Leopardi, os quais ele frequentemente cita, Giussani insiste que a questão religiosa emerge do coração da experiência humana.”[14]
A influência de Maurice Blondel e Henri de Lubac, ou, em outras palavras, do modernismo e da Nova Teologia, no pensamento de Mons. Giussani, tendo por consequência a confusão entre as ordens natural e sobrenatural, não poderia deixar de levá-lo a outros graves erros contra a Doutrina Católica. Na obra É possível viver assim?, onde Mons. Giussani discorre a respeito das virtudes teologais, começa-se falando da fé. Mons. Giussani explica que a razão humana pode chegar ao conhecimento de duas maneiras, ou por dois métodos: o conhecimento direto dá-se quando o objeto de conhecimento apresenta-se diante de nós, de modo que o reconhecemos em todos os aspectos possíveis. Já o conhecimento indireto nos vem através de uma testemunha, sendo que se a mesma for confiável, é razoável ter tanta certeza da proposição transmitida quanto se estivéssemos nos valendo do método direto. Mons. Giussani dá o nome de “fé” a este método indireto de conhecimento, chegando à seguinte conclusão:
“Portanto, a fé, antes de mais nada, não é aplicável somente a assuntos religiosos, mas a fé é uma forma natural de conhecimento, é uma forma natural de conhecimento indireto: de conhecimento, porém!”[15].
E continua, algumas linhas depois:
“A fé, portanto, é um método natural de conhecimento, um método de conhecimento indireto que advém da mediação de uma testemunha.”[16]
Embora a fé, enquanto virtude teologal, seja de caráter sobrenatural e não um “método natural de conhecimento”, concedamos que a palavra “fé” possa ser empregada em um sentido mais lato, tal como na exposição feita por Mons. Giussani, mas não sem o risco de criar confusão, pois se ele diz que a fé é um método natural de conhecimento que não se aplica somente a assuntos religiosos, dá a entender que tal método natural também se aplica a estes assuntos, embora não exclusivamente aos mesmos. Até aqui temos apenas uma suspeita de erro, mas ela será confirmada mais adiante no decorrer da leitura do livro.
Ao tratar da fé cristã propriamente dita, Mons. Giussani se pergunta de que forma pode-se conhecer a Cristo, chegando a uma conclusão:
“Como se faz para conhecer Cristo? Evidentemente, dos métodos a que nós já acenamos, usados pela razão, aquele que se aplica será a fé. Cristo, não O conhecemos diretamente, nem pela evidência, nem pela análise da experiência.”[17]
Ou seja, Mons. Giussani apresenta a princípio dois métodos empregados pela razão para chegar ao conhecimento, o método direto e o indireto, ao qual ele chama “fé”, enfatizando seu caráter natural. Depois, pergunta quais desses dois métodos – tais como foram descritos, ou “acenados” – deve ser aplicado para se conhecer a Cristo e conclui que tal método deve ser a “fé”. Deste modo, a fé em Cristo se dá também por um método natural de conhecimento indireto. Contudo, Mons. Giussani faz a seguinte observação:
“O fato através do qual, pela primeira vez, o problema de quem era Jesus se pôs é o primeiro instante no qual a questão da fé entrou no mundo. Não da fé simplesmente como método da razão, mas o método da razão aplicado a algo suprarracional, que está além da razão, impensável, inconcebível: a fé como método da razão aplicado a algo inconcebível, porque tudo aquilo que dizia aquele homem era inconcebível.”[18]
Aqui, Mons. Giussani afirma que o objeto da fé cristã tem um caráter suprarracional, o que está em conformidade com o ensinamento da Igreja. O problema é que a fé em si é descrita simplesmente como “método da razão”, método este que já foi anteriormente qualificado como “natural” e que, portanto, deveria ser apresentado neste momento como sobrenatural. Não se pode alegar que a sobrenaturalidade do “método” deduz-se da suprarracionalidade do objeto. Os protestantes, por exemplo, podem ser capazes de crer, mesmo em certas verdades de fé, por mera confiança natural em seus líderes ou na bíblia, mas esta não é a fé teologal acerca da qual se pretende discorrer na obra de Mons. Giussani, embora o “método”, em tal caso, seja idêntico ao que ele descreve. Além disso, é inconcebível que se queira falar da fé deixando apenas implícito um aspecto tão importante.
O Concílio Vaticano I, ao contrário de Mons. Giussani, apresenta de forma inequívoca o caráter sobrenatural da fé diante da razão natural:
“O consenso constante da Igreja Católica tem também crido e crê que há duas ordens de conhecimento, distintas não só por seu princípio, mas também por seu objeto; por seu princípio, visto que numa conhecemos pela razão natural, e na outra pela fé divina; e por seu objeto, porque, além daquilo que a razão natural pode atingir, propõem-se-nos a crer mistérios escondidos em Deus, que não podemos conhecer sem a revelação divina.”[19]
Deste modo, o Concílio esclarece que a virtude da fé distingue-se da razão natural “não só por seu princípio, mas também por seu objeto”. Poderíamos inverter esta ordem, sem alteração de significado, para melhor explicitar o erro ao qual o texto de Mons. Giussani conduz: a fé distingue-se da razão natural, não só por seu objeto, que Mons. Giussani acertadamente reconhece como suprarracional, mas também por seu princípio, ao qual Mons. Giussani denomina “método”, qualificando-o como natural, mas que na verdade é de ordem sobrenatural.
Trata-se de uma virtude teologal infusa nas almas por ação da graça. É por força de tal virtude que o intelecto e a vontade, potências da alma, fazem sua adesão às verdades reveladas por Deus, ou seja, a fé é sobrenatural também – e sobretudo – enquanto atua em foro interno, mas não se chega inequivocamente a esta conclusão ao ler o texto de Mons. Giussani, ainda mais pelo fato de que ele, a princípio, apresenta a fé como “método natural de conhecimento”.
Entretanto, mesmo em relação ao objeto da fé, Mons. Giussani comete equívocos devido à influência de Henri de Lubac em seu pensamento. A respeito disso, ele afirma, citando o neoteólogo francês, o seguinte:
“É pois necessário estarmos dispostos que se nos provoque a totalidade do fato, que não consiste no inventário completo de seus fatores. Este é o ponto central do documento conciliar sobre a Revelação [Dei Verbum] já citado, comentando o qual de Lubac observa: ‘Pois bem, também para o Concílio, o objeto da Revelação é Deus mesmo; mas este Deus vivo interveio na história dos homens e nela nos deu alguns testemunhos, e todos estes testemunhos nos remetem ao Testemunho por excelência, a esse Testemunho verdadeiro e fiel, que é sua Palavra encarnada. O objeto primeiro de minha fé não consiste em uma lista de verdades, inteligíveis ou não […]. O que este objeto seja para mim, no sentido etimológico do termo, incompreensível – e como poderia desejar que o fosse? – o que não se pode circunscrever como se faria com uma criação de meu espírito, deriva do fato de que […] se trata do abraço de uma Pessoa viva. […] isto é o essencial, o objeto revelado não se concebe como uma série de proposições […] mas é reconhecido em sua unidade original como o mistério de Cristo, a realidade de um ser pessoal e vivo.’”[20]
Ora, a verdade revelada, objeto da fé, assim como a verdade em geral pode dar-se no intelecto de dois modos: em sentido ontológico, quando se refere às coisas em si (Cristo, Nossa Senhora etc.); ou em sentido lógico, quando se apresentam como proposições conceituais afirmativas ou negativas. Portanto, a verdade revelada é, simultaneamente, uma realidade (verdade ontológica) e uma doutrina (verdade lógica). Tal é a explicação de Pe. Álvaro Calderón, teólogo argentino da Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Porém, o caráter doutrinal do objeto da fé é tipicamente negado pela Nova Teologia, como se pode notar no trecho supracitado, recebendo, portanto, a crítica de Pe. Calderón:
“Entendido isso, podemos então discernir em seu primeiro rebento o subjetivismo de toda a nova teologia: se alguém negar que o objeto da fé seja também uma doutrina, anathema sit! porque já é modernista. O neoteólogo insiste sempre em que o objeto da fé não é uma doutrina, mas uma realidade; repete que Deus não revelou especulações acerca d’Ele, mas se revelou a Si mesmo; fala, enfim, da verdade revelada só em sentido ontológico e nunca em sentido lógico. Como toda mentira, tem um pedaço verdadeiro; e é bem feita, com a parte verdadeira mais brilhante, pois quem não prefere ver a Deus no céu que ler a Suma eternamente? Mas é uma mentira péssima, porque na terra não há acesso ao Verbo divino senão nos verbos mentais da doutrina revelada. Certamente é Cristo mesmo quem habita pela fé em nossos corações (Ef 3, 17), mas habita por uma fé recebida ex auditu pela pregação (Rm 8, 17): Não há acesso à realidade divina senão pela doutrina.”[21]
Portanto, é pela Doutrina Cristã que se pode ter acesso à realidade divina e aqueles que se descuidam de aprendê-la cometem “falta grave”, como ensina São Pio X em seu catecismo.[22]
Contudo, a tese modernista de que o cristianismo não é uma doutrina tem uma importância muito grande no pensamento de Mons. Giussani, conforme indica Michele Brambilla:
“O outro motivo pelo qual padre Giussani – numa época de grande secularização – trouxe tantos jovens de volta à Igreja foi frisar um conceito tão simples quanto negligenciado: que o cristianismo não é uma doutrina, não é nem uma religião, mas é o anúncio de um fato. Num certo momento da história, um homem se disse Deus.”[23]
Também o então Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, fala a respeito disso, embora não em tom de crítica a Mons. Giussani:
“Tenho a impressão que o ponto fundamental para Giussani é que o cristianismo não é uma doutrina, mas é um acontecimento, um encontro com uma pessoa, e desse acontecimento, desse encontro, nasce um amor, nasce uma amizade, nasce uma cultura, uma reação e uma ação nos diversos contextos.”[24]
Há de se perguntar o seguinte: se o caráter doutrinal do cristianismo é negado, qual deve ser a postura dos cristãos diante de um erro doutrinário? De indiferença? Daqui já se pode perceber onde podemos parar. Dando continuidade ao mesmo texto em que Henri de Lubac é citado, Mons. Giussani reafirma que o objeto da fé não compreende proposições conceituais:
“Já vimos, ademais, que o objeto [da fé] não consiste em uma lista de proposições nem na plausibilidade de uma crônica, mas na veracidade do testemunho referente a uma pessoa vivente que pretendeu ser o destino do mundo, o mistério que entrou para formar parte da história.”[25]
Aqui vemos novamente a fé sendo encarada como “método de conhecimento indireto”, ou seja, um método pelo qual a razão atinge o conhecimento através de uma testemunha, mas, no caso do cristianismo, de que modo poderíamos crer na “veracidade do testemunho” de Cristo? Quais seriam os motivos de credibilidade da fé cristã? Mons. Giussani aponta uma resposta:
“E como poderemos verificar que isso que chegamos a saber do mistério através do testemunho de alguém que vem de mais além do horizonte último, e entra no mundo humano, é verdadeiro? Como poderemos saber que o que nos revelará é justo? Nós o saberemos somente pelo fato de que potencia o humano. Se potencia todo o humano, dê-se como se dê, confirma-se como verdadeiro.”[26]
Para que se compreenda melhor este estranho critério de credibilidade, é preciso conhecer qual é o conceito de verdade no pensamento de Mons. Giussani. Sobre este ponto a abordagem dele é surpreendente:
“(…)que seja bem claro para você que a verdade é adequatio rei intellectus, ou seja, que é verdadeiro o que corresponde às exigências fundamentais do coração e à consciência de si.”[27]
Absurdo! Mons. Giussani emprega uma expressão típica do tomismo para definir a verdade, mas dá uma interpretação à mesma diametralmente oposta à do Aquinate, o que torna sua honestidade intelectual bastante questionável. A acepção de verdade enquanto adequação entre o intelecto (sujeito) e as coisas (objeto) no pensamento de São Tomás é explicada pelo professor Sidney Silveira da seguinte maneira:
“A verdade, de acordo com a sua razão formal, está no intelecto, mas em razão do seu objeto ela está, radicalmente, nas coisas – como fonte.”[28]
Em outras palavras, temos a verdade em nosso intelecto à medida que o mesmo se adequa à realidade objetiva das coisas, que é a “fonte” da verdade, pois tudo o que existe é verdadeiro enquanto ser. A verdade é, por isso, um dos chamados “transcendentais do ser”. Entretanto, para Mons. Giussani, não é o intelecto que deve se adequar às coisas para extrair delas sua verdade intrínseca, mas as coisas é que devem corresponder ao nosso “coração” para serem verdadeiras. E Mons. Giussani também define o que entende por coração:
“‘Coração’, biblicamente, define assim o critério último de verdade para o homem e para identificar seu fim. Pretenderemos traduzir ou interpretar deste modo a adaequatio rei et intellectus de Santo Tomás.”[29]
Portanto, não há dúvidas de que Mons. Giussani, ao falar da adequatio escolástica, pretende dar uma interpretação ao que São Tomás pensava a respeito. Porém, longe de “traduzir” o que o Doutor Angélico quis dizer, Mons. Giussani distorce completamente a ideia em questão, de modo a remeter à revolução copernicana promovida por Kant na filosofia do conhecimento a partir do conceito de “categorias a priori”, que deslocou a dependência da verdade do objeto para o espírito humano, para o sujeito. Estão abertas as portas para o subjetivismo, totalmente contrário à filosofia de São Tomás. Diante disso, convém lembrar o que disse certa vez o Pe. Garrigou-Lagrange: “um erro quanto à noção primeira da verdade provoca um erro em tudo mais.”[30]
Sábias palavras.
Esta ruptura com a filosofia escolástica, que Mons. Giussani tenta encobrir valendo-se de expressões como adequatio, está na raiz do modernismo e da Nova Teologia. É por isso que, com exceção de Bento XV, todos os papas entre Pio IX e Pio XII (inclusive estes dois) defenderam com veemência os princípios e métodos filosóficos do Aquinate em documentos importantes.[31]
A apologética tradicional, baseando-se nesta filosofia perene, tinha como objeto a demonstração dos preâmbulos da fé, dos motivos de credibilidade, verdades ao alcance da razão natural que dão a certeza de se estar aderindo à verdadeira religião. Procurava-se primeiro demonstrar a existência de Deus e depois a origem divina da religião católica. A Summa Contra Gentiles, de São Tomás de Aquino, é um exemplo clássico de trabalho apologético dessa natureza. Uma característica importante das demonstrações é que as mesmas se baseavam em fatores externos ao homem, o que obteve plena aprovação do magistério eclesiástico. Em relação à existência de Deus, afirma o Concílio Vaticano I:
“Se alguém disser que o Deus uno e verdadeiro, Criador e Senhor nosso, não pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana, por meio das coisas criadas – seja excomungado.”[32]
A questão da origem divina da religião católica, enquanto certeza ao alcance da razão natural, é defendida por Pio XII na Encíclica Humani Generis, que censura os erros da Nova Teologia.
O caráter externo dos fatores implicados na demonstração também é apresentado pelo Papa:
“Ademais, por vezes, pode a mente humana encontrar dificuldade mesmo para formar juízo certo sobre a credibilidade da fé católica, não obstante os múltiplos e admiráveis indícios externos ordenados por Deus para se poder provar certamente, por meio deles, a origem divina da religião cristã, exclusivamente com a luz da razão.”[33]
Os “indícios externos”, objetivos, aos quais Pio XII se refere são enumerados de maneira explícita por Leão XIII, na Encíclica Immortale Dei:
“Quanto a decidir qual religião é a verdadeira, isso não é difícil a quem quiser julgar disso com prudência e sinceridade. Efetivamente, provas numerosíssimas e evidentes, a verdade das profecias, a multidão dos milagres, a prodigiosa celeridade da propagação da fé, mesmo entre os seus inimigos e a despeito dos maiores obstáculos, o testemunho dos mártires e outros argumentos semelhantes, provam claramente que a única religião verdadeira é a que o próprio Jesus Cristo instituiu e deu à sua Igreja a missão de guardar e propagar.”[34]
Por sua vez, os modernistas no seio da Igreja preferiram aderir à ruptura filosófica promovida pela modernidade contra a escolástica, rejeitando assim as demonstrações tradicionais dos motivos de credibilidade. A respeito disso, escreveu Maurice Blondel:
“As provas clássicas [da credibilidade do dogma católico] escapam a nossos espíritos penetrados de positivismo e de kantismo (elas supõem uma filosofia objetiva). Ora, quando se quer salvar as almas, é preciso procurar onde elas habitam, e, se elas caíram no subjetivismo, é no subjetivismo que é preciso buscá-las.”[35]
Como diria o Pe. Calderón, não se pode ajudar um cego fechando os olhos. As consequências de tal rejeição aos motivos de credibilidade tradicionais por parte dos modernistas são denunciadas por São Pio X na Pascendi:
“A religião, quer a natural quer a sobrenatural, é mister seja explicada como qualquer outro fato. Ora, destruída a teologia natural, impedido o acesso à revelação ao rejeitar os motivos de credibilidade, é claro que se não pode procurar fora do homem essa explicação. Deve-se, pois, procurar no mesmo homem; e visto que a religião não é de fato senão uma forma da vida, a sua explicação se deve achar mesmo na vida do homem. Daqui procede o princípio da imanência religiosa. Demais, a primeira moção, por assim dizer, de todo fenômeno vital, deve sempre ser atribuída a uma necessidade; os primórdios, porém, falando mais especialmente da vida, devem ser atribuídos a um movimento do coração, que se chama sentimento. Por conseguinte, como o objeto da religião é Deus, devemos concluir que a fé, princípio e base de toda a religião, se deve fundar em um sentimento, nascido da necessidade da divindade.”[36]
Como vimos, Mons. Giussani tem uma noção subjetivista da verdade que remete ao pensamento kantiano. Já Blondel, que muito influenciou Mons. Giussani, explica que esta adesão a este subjetivismo é necessária para se apresentar a fé ao homem moderno, contrapondo-se às provas externas e objetivas dos motivos de credibilidade. Uma vez que, para os modernistas, já não se pode fundar a razoabilidade da fé em sinais externos ao homem, São Pio X esclarece que eles buscam tal razoabilidade no interior do homem, fundando-a num sentimento de necessidade de Deus. Ora, não é justamente este o senso religioso do qual Mons. Giussani fala? De fato, é no interior do homem que Mons. Giussani encontra a demonstração tanto da existência de Deus quanto da autenticidade do cristianismo. Deus e o cristianismo são considerados verdadeiros não em si mesmos, mas à medida que correspondem plenamente às “exigências” do coração humano, uma vez que a veracidade de qualquer coisa, para Mons. Giussani, depende fundamentalmente dessa correspondência, dessa adequatio às avessas.
Assim, Mons. Giussani declara numa entrevista: “Não me espanta o meu limite, é a demonstração mais fantástica da existência de Deus, que se manifesta em negativo, como aquilo que me falta.”[37]
Aqui se vê novamente o homem “incompleto”, por ser ele mesmo relação com Deus e não dispor a princípio dessa relação. É por esse vazio interior, sedento de ser preenchido, que se demonstra a existência de Deus e não mais pelas cinco vias de São Tomás. O caráter interior dessa nova teodicéia, intuitiva ao invés de indutiva, fica ainda mais evidente na seguinte declaração (que me sejam perdoadas tão longas citações):
“Quanto mais me adentro em mim mesmo, se chego até o fundo, de onde broto? Não de mim, mas de outro. É a percepção de mim como um jorro d’água que brota numa fonte. Existe outra coisa que é mais do que eu e da qual sou feito. Se um jorro d’água pudesse pensar, perceberia no fundo de seu sereno desabrochar uma origem que não sabe o que é, é outro fora de si.
Trata-se da intuição, que em todos os tempos o espírito humano mais agudo teve, dessa misteriosa presença pela qual a consistência do seu instante, do seu eu torna-se possível. Eu sou “Tu-que-me-fazes”. Só que este “tu” é absolutamente sem rosto; uso a palavra “Tu” porque é a menos inadequada, na minha experiência de homem, para indicar aquela presença incógnita que é incomparavelmente maior do que a minha experiência de homem. Que outra palavra deveria usar?
Quando olho para mim mesmo e percebo que não estou sendo feito por mim, então eu, eu com a vibração consciente e repleta de afeição que urge nessa palavra, só posso dirigir-me à Coisa que me faz, à fonte da qual provenho neste instante, usando a palavra “Tu”. “Tu-que-me-fazes” é o que a tradição religiosa chama “Deus”, é aquilo que é mais do que eu, é mais eu do que eu mesmo, é aquilo pelo qual eu sou.”[38]
Há vários aspectos a serem observados aqui. Primeiramente, essa teodicéia intuitiva fundada no senso religioso coincide com a noção de “experiência religiosa” que, segundo os modernistas, é o que pode fazer de alguém verdadeiramente crente, conforme a explicação de São Pio X:
“Eis como eles [os modernistas] o declaram: no sentimento religioso deve reconhecer-se uma espécie de intuição do coração, que pôs o homem em contato imediato com a própria realidade de Deus e lhe infunde tal persuasão da existência dele e da sua ação, tanto dentro como fora do homem, que excede a força de qualquer persuasão, que a ciência possa adquirir.”[39]
Em segundo lugar, a analogia empregada por Mons. Giussani em sua explicação é, no mínimo, heterodoxa, pois se o homem se percebe diante de Deus como um jorro d’água que brota de uma fonte, pode-se concluir que o homem é uma emanação da divindade. Deus, aqui, seria o Ser do qual (e não pelo qual) o homem é feito, assim como água do jorro é feita da água da fonte. O jorro é consubstancial à fonte. O homem é consubstancial a Deus?
Em terceiro lugar, convém compreender melhor essa insistência de Mons. Giussani em conceber o homem como relação com Deus, com o Infinito. A respeito disso, ele explica: “Dizer que o eu é relação com o Infinito significa que a essência do eu, no sentido estrito da palavra, é pertencer a um Outro.”[40]
Portanto, a relação com Deus é o que define a essência humana, em seu “sentido estrito”. Deste modo, a essência do homem não é concebida como algo universal, imutável, atingida pelo intelecto através da abstração, como na ideia de “animal racional” da metafísica escolástica. Ela é determinada a partir do “eu” individual por uma relação, um fator existencial, dinâmico, “vivido” na experiência. Assim, o homem antes de estabelecer sua relação com Deus não estaria completo em sua natureza essencial, como vimos no início; é como se estivesse em um estado de “pré-humanidade”. Porém, a relação com Deus não concederia a humanidade ao indivíduo de maneira acabada, mas a constrói continuamente ao longo de sua existência. Por isso é que Mons. Giussani diz que Deus nos faz “neste instante” ou “eu sou Tu-que-me-fazes”, quando no máximo poderia dizer que o Ser de Deus nos sustenta. Haveria, portanto, movimento na essência, o que é inconcebível no pensamento escolástico. O movimento, na verdade, se dá nos acidentes: posso ficar mais gordo ou mais magro ao longo da vida, mas não “mais homem” ou “menos homem”, pois a humanidade em mim é algo imutável. Mons. Giussani, ao contrário, vê no ser humano um “jorro”, chegando a afirmar em outra oportunidade que “Tudo floresce do fluxo do Ser!”, o que remete ao pensamento pré-socrático do puro devir: “Tudo flui”, dizia Heráclito. Entretanto, a escola filosófica na qual Mons. Giussani baseia semelhantes ideias é bem mais moderna. Nela, há uma primazia da existência dinâmica, da vivência concreta, da experiência, sobre a essência imutável que se conhece por abstração, ponto de partida do raciocínio metafísico, à qual Mons. Giussani sempre se refere em tom negativo. Estamos em pleno existencialismo, também censurado pela Humani Generis:
“As falsas afirmações de semelhante evolucionismo pelas quais se rechaça tudo o que é absoluto, firme e imutável, vieram abrir o caminho a uma moderna pseudo-filosofia que, em concorrência contra o idealismo, o imanentismo e o pragmatismo, foi denominada existencialismo, porque nega as essências imutáveis das coisas e não se preocupa mais senão com a “existência” de cada uma delas.”[41]
Pio XII continua esclarecendo que a aplicação de sistemas filosóficos modernos, entre eles o existencialismo, na teologia se deveu a uma rejeição à escolástica e que os católicos não podem admitir tal coisa:
“E, ao desprezarem esta filosofia [escolástica], enaltecem outras, antigas ou modernas, orientais ou ocidentais, de forma tal a parecer insinuar que toda filosofia ou doutrina opinável, com o acréscimo de algumas correções ou complementos, se for necessário, harmonizar-se-á com o dogma católico; o que nenhum fiel pode duvidar seja de todo falso, principalmente quando se trata dos errôneos sistemas chamados imanentismo, ou idealismo, ou materialismo, seja histórico, seja dialético, ou também existencialismo, tanto no caso de defender o ateísmo, quanto no de impugnar o valor do raciocínio metafísico.”[42]
Por último, é importante notar que a terminologia empregada por Mons. Giussani remete a um filósofo existencialista em particular: Martin Buber, cuja principal obra intitula-se “Eu e Tu”. Para Buber, a existência se dá na relação. Segundo ele, há dois modos de existência que se fundam nas chamadas “palavras básicas”: “Eu-Tu” e “Eu-Isso”. Sendo assim, “Não existe nenhum Eu em si, mas apenas o Eu da palavra básica Eu-Tu e o Eu da palavra básica Eu-Isso.”[43]
Do mesmo modo, para Mons. Giussani, o eu é um “Tu-que-me-fazes”, sendo o “Tu” em questão o próprio Deus, mas mesmo quando se trata da relação com outras pessoas, Mons. Giussani parece não considerar o “eu” humano como existente apenas em si mesmo:
“Quando recitamos juntos as laudes, por exemplo, a comoção torna-se muito maior e penso em você, em vocês como se fossem parte do meu eu, porque o são. E não existe uma definição inteira de mim mesmo sem você, sem vocês, mesmo se não conheço no sentido psicológico ou psicanalítico do termo, porque, no sentido profundo, sou uma coisa só com você.”[44]
Aqui, Mons. Giussani apresenta uma verdadeira fusão entre o “eu” e o “tu” de caráter imanentista. Sua definição de amor também é muito estranha: “O que é o amor? Desapegar-se completamente de si para entrar num tu. Assim, você sai de si mesmo e se deixa agarrar por um vórtice no qual começa a entender o Ser.” [45]
Esta definição de amor remete aos “exercícios” de Frei Ignacio Larrañaga, fundador do movimento “Oficinas de Oração e Vida”, que chega a citar Buber em suas obras e inclusive diz de Deus o seguinte: “estás substancialmente presente em todo o meu ser” [46], o que é um despautério de caráter panteísta. Observemos as semelhanças entre os exercícios esotéricos de Frei Inácio e a definição de amor de Mons. Giussani:
“Neste exercício [‘oração de elevação’], pronuncia-se mentalmente ou em voz suave alguma expressão (que vou indicar depois).
“Apoiando-se na frase, o eu dirige-se ao TU. Assumindo e vivenciando o significado da frase, ela vai tomando conta de sua atenção, transporta-a e a deposita em um TU, portanto um movimento de saída. Assim todo o eu fica em todo TU. Nós agora estamos em adoração. Não deve haver nenhuma atividade analítica.”
“(…)Nesse exercício, você tem que se deixar arrebatar pelo TU. O “eu” praticamente desaparece enquanto o TU domina toda o campo.”[47]
Frei Inácio também fala em termos semelhantes de outro de seus exercícios, o “exercício de acolhida”:
“Como no exercício anterior o “eu” sai e se fixa no “Tu”, neste exercício de acolhida eu permaneço quieto e receptivo, o “Tu” vem até mim e eu o acolho feliz com a sua chegada. É bom fazer esse exercício com Jesus ressuscitado.”[48]
Alie-se a confusão que já vimos entre as ordens natural e sobrenatural no pensamento imanentista de Mons. Giussani às semelhanças entre suas afirmações, o panteísmo esotérico de Frei Inácio e o existencialismo de Martin Buber, que era judeu de tradição hassídica, e se perceberá que, se Mons. Giussani é um místico, como dizem alguns, sua mística não é a verdadeira, a cristã. Talvez a palavra-chave para se compreender esse aspecto de seu pensamento seja “presença”, mas esta é uma questão que foge ao escopo do presente texto.
Uma vez considerada a questão da existência de Deus, passemos agora a tratar da razoabilidade da fé, no entender de Mons. Giussani, no que diz respeito à autenticidade da religião católica. Conforme já foi explicado, para ele, algo é verdadeiro quando atende as necessidades do coração humano e dessa definição nem o cristianismo escapa. Segundo Mons. Giussani,
“O cristianismo é verdadeiro porque corresponde a todas as exigências do homem. Exigências de justiça, de amor, de perdão, de beleza, de infinito.”[49]
Essa afirmação de Mons. Giussani é relatada no mesmo texto de Michele Brambilla anteriormente citado. Diante desse argumento de Mons. Giussani, ela inteligentemente replica:
“Perdão, mas as mesmas palavras que o senhor disse antes poderia servir de argumento também em favor da principal objeção ao cristianismo. Poderíamos dizer: sendo que o homem tem exigência de justiça, de amor, de perdão, de beleza e de infinito, inventou um Deus que correspondesse a todas essas exigências. Jesus Cristo, enfim, poderia ser uma invenção do homem para aplacar suas angústias, em primeiro lugar a da morte.”[50]
Segundo Brambilla, Mons. Giussani nesse momento inflamou-se, fazendo a seguinte tréplica:
“Se é assim, se é assim me responda a esta pergunta: se o cristianismo é ilusão e o ateísmo é realidade, como é possível que quem segue a ilusão seja sereno e consiga sempre enfrentar a vida, mesmo quando passa pelo sofrimento, ao passo que quem está na realidade é angustiado e acaba sempre por se perder? Como é possível que quem está na ilusão resolva o problema da vida e quem está na verdade fracasse? Parece-lhe razoável tudo isso? Parece-lhe razoável que com uma ‘chave’ errada se consiga abrir uma porta e com a certa não se consiga? A própria experiência demonstra que o cristianismo é verdadeiro: quem segue a Cristo resolve todos os seus problemas; quem o recusa pode se iludir durante muito tempo de que é feliz, mas na realidade nada mais faz que remover suas perguntas mais profundas, e no final se perde.”[51]
Infelizmente, depois de dar um bom contra-argumento, Brambilla cedeu a essa tréplica apelativa. O máximo que Mons. Giussani consegue demonstrar aí, e ainda de modo questionável, é que ser cristão “vale a pena”, é um “bom negócio”, o que não significa que o cristianismo seja autêntico. Basta que pensemos nas nossas pobres crianças dos dias de hoje, iludidas com a figura do famigerado “Papai Noel”. Ao terem suas exigências de consumo satisfeitas no Natal, elas continuam crendo no “bom” velhinho, mas isso não o torna verdadeiro, existente. O problema da argumentação de Mons. Giussani é a falsa noção de verdade que ele emprega como premissa.
Todavia, a fragilidade lógica do método apologético de Mons. Giussani não é o pior aspecto do mesmo. Se na apologética tradicional as demonstrações de caráter externo nos davam a certeza da existência de Deus, Criador e Senhor de todas as coisas e isso nos impunha seguir a religião que Ele instituiu, também reconhecível pela razão natural objetivamente, agora o que nos move à fé são nossos próprios interesses. A razoabilidade da adesão à fé fundamenta-se no fato de que, por meio dela, somos satisfeitos e não porque com ela podemos satisfazer a vontade de Deus. Aqui se vê uma característica fundamental da modernidade: o antropocentrismo. Por isso, em relação à teodicéia, Pio XII faz a seguinte censura na Humani Generis:
“Nem há que admirar se ponham em perigo, com essas novas opiniões, as duas disciplinas filosóficas que, pela sua própria natureza, estão estreitamente relacionadas com a doutrina católica, a saber, a teodicéia e a ética, cuja função acreditam não seja demonstrar coisa alguma acerca de Deus ou de qualquer outro ser transcendente, mas antes mostrar que os ensinamentos da fé sobre Deus, ser pessoal, e seus preceitos, estão inteiramente de acordo com as necessidades da vida e que por isso mesmo todos devem aceitá-los para evitar a desesperação e obter a salvação eterna; tudo isso está em oposição aberta aos documentos de nossos predecessores Leão XIII e Pio X e não se pode conciliar com os decretos do concílio Vaticano.”[52]
Pio XII, ao mencionar São Pio X, muito provavelmente está se referindo à crítica que a Pascendi faz aos modernistas que veem na ordem sobrenatural uma exigência da natureza humana, justificando com isto a autenticidade do catolicismo. Convém citar novamente esse trecho da encíclica, desta vez de modo mais completo:
“Além dos argumentos objetivos, o crente pode também ser disposto à fé pelos subjetivos. Para este fim os apologetas [modernistas] voltam-se de novo para a doutrina da imanência.
Empenham-se em convencer o homem de que nele mesmo e nos íntimos recantos de sua natureza e de sua vida, se oculta o desejo e a necessidade de uma religião, não já de uma religião qualquer, mas da católica; porquanto esta, dizem, é rigorosamente requerida (postulata) pelo perfeito desenvolvimento da vida. E sobre este ponto nos vemos de novo obrigados a lamentar que não faltem católicos que, conquanto rejeitem a doutrina da imanência como doutrina, todavia se utilizam dela na apologética; e fazem-no tão incautamente, que parecem admitir não somente certa capacidade ou conveniência na natureza humana para a ordem sobrenatural, (o que os apologetas católicos com as devidas restrições sempre demonstram), mas também uma estrita e verdadeira exigência. Para sermos mais exatos, dizemos ainda que esta exigência da religião católica é sustentada pelos modernistas mais moderados”.[53]
Trata-se da condenação do “método da imanência” desenvolvido por Maurice Blondel (sempre ele) para fins apologéticos. É este método que Mons. Giussani emprega em defesa da fé católica, mas não sem prejuízo para esta mesma fé.
Um exemplo de consequência grave da rejeição dos motivos de credibilidade tradicionais por parte de Mons. Giussani, pode ser visto quando ele trata do problema com o qual o homem se depara diante das inúmeras religiões existentes. Qual delas escolher? Diante da impossibilidade de uma demonstração racional objetiva da verdadeira religião, Mons. Giussani dá a seguinte sugestão:
“O homem nasce em um determinado âmbito, em um determinado momento histórico; a religião que expressa seu ambiente tem grandes probabilidades de ser a menos inadequada ao seu temperamento. Portanto, se realmente se quer estabelecer uma norma, não absoluta, mas de conveniência, ter-se-ia que dizer: que cada homem siga a religião de sua tradição.
“Pode ser que um encontro na vida faça resplandecer de improviso a presença de um anúncio, de uma doutrina, de uma moral, de uma emoção mais adequada para a própria razão já madura, ou para a história do próprio coração. Então alguém poderá ‘mudar’, ‘converter-se’ (Newman observa que a ‘conversão’ não é outra coisa que o descobrimento mais profundo e mais autêntico daquilo que antes já se professava).
Mas o conselho de viver a religião da tradição própria segue sendo a indicação fundamental sem pretensões.
E neste sentido todas as religiões são ‘verdadeiras’. O único dever do homem é o da seriedade em sua adesão a elas.”[54]
É a esse disparate que a adequatio invertida de Mons. Giussani o levou. Uma vez que a religião que alguém segue por tradição é a menos inadequada ao seu temperamento, ela, nesse sentido, é verdadeira. O critério de autenticidade da religião não se encontraria em Deus e sim no homem. Com efeito, São Pio X fala dos modernistas:
“E os modernistas de fato não negam, ao contrário, concedem, uns confusa e outros manifestamente, que todas as religiões são verdadeiras. É claro, porém, que eles não poderiam pensar de outro modo.
Em verdade, postos os seus princípios, em que se poderiam porventura fundar para atribuir falsidade a uma religião qualquer? Sem dúvida seria por algum destes dois princípios: ou por falsidade do sentimento religioso, ou por falsidade da fórmula proferida pela inteligência. Ora, o sentimento religioso, ainda que às vezes menos perfeito, é sempre o mesmo; e a fórmula intelectual para ser verdadeira basta que corresponda ao sentimento religioso e ao crente, seja qual for a força do engenho deste. Quando muito, no conflito entre as diversas religiões, os modernistas poderão sustentar que a católica tem mais verdade, porque é mais viva, e merece mais o título de cristã, porque mais completamente corresponde às origens do cristianismo”.[55]
Portanto, para os modernistas, todas as religiões são verdadeiras, à medida que correspondem ao sentimento (ou senso) religioso, sempre presente, e ao próprio crente que, ao amadurecer este sentimento, tornando-o mais perfeito, poderá aderir à religião católica, que é aquela que mais possui a verdade. E nisto está de acordo Mons. Giussani.
Quando Mons. Giussani cita o Card. Newman dizendo que a conversão é a “descoberta mais profunda daquilo que antes já se professava”, ele está se movendo na direção de mais uma das ideias condenáveis de Blondel. Dizia o filósofo francês: “nada pode entrar no homem que não venha dele e não corresponda de qualquer modo à sua necessidade de expansão.”[56]
Em outras palavras, o homem não se converteria propriamente a uma religião, a algo externo a ele. Sua adesão ao que CL chama de cristianismo (que não é doutrina, nem mesmo religião) serviria para que o homem pudesse descobrir aquilo que já estava dentro dele, que ele já professava. Ora, o que se professa quando da conversão é a fé, cujo objeto é a Revelação, o que nos remete a mais um trecho da Pascendi:
“Nem acaba aí o filosofar, ou melhor, o desatinar desses homens. Pois, nesse mesmo sentimento eles não encontram unicamente a fé; mas, com a fé e na mesma fé, do modo como a entendem, sustentam que também se acha a revelação. E que é o que mais se pode exigir para a revelação? Já não será talvez revelação, ou pelo menos princípio de revelação, aquele sentimento religioso, que se manifesta na consciência? Ou também o mesmo Deus a manifestar-se às almas, embora um tanto confusamente, no mesmo sentimento religioso? Eles ainda acrescentam mais, dizendo que, sendo Deus ao mesmo tempo objeto e causa da fé, essa revelação é de Deus como objeto e também provém de Deus como causa; isto é, tem a Deus ao mesmo tempo como revelante e revelado.”[57]
Antes já tínhamos o coração do homem como critério de verdade; agora teríamos a própria Revelação dentro dele, ainda que em estado latente, a ser “despertada”? Parece que sim, pois se considerarmos a Revelação como objeto da fé, concluiremos com Mons. Giussani que ela não compreende proposições conceituais propriamente, mas a própria realidade divina que, por sua vez, é intuída por introspecção. Mons. Giussani, assim, fala de certo “despertar” ao qual os cristãos devem levar os demais:
“Autêntico deve ser o chamado do homem cristão aos outros. Digamos também aqui os aspectos importantes desta autenticidade:
– é necessário esclarecer o nosso conceito de chamado, para que não permaneça em nós e o menos possível nos outros alguma confusão entre chamado e propaganda. A propaganda de fato é difundir qualquer coisa porque a penso ou interessa a mim. O chamado, ao contrário, como o entende a Igreja, é despertar algo que está no outro, é uma valorização do outro, é um gesto de caridade. O chamado que faço a um companheiro meu é ajudá-lo a encontrar a sua verdade, o seu verdadeiro nome (no sentido bíblico), a encontrar a si mesmo. O meu chamado de cristão é portanto a contribuição mais intensa à liberdade de alguém, porque liberdade quer dizer ser si mesmo. Por isto o nosso chamado é o gesto supremo de amizade.
“Por isto o nosso chamado não é nunca sobretudo um chamado a determinadas formas, critérios ou esquemas, a uma organização particular, mas àquela promessa que constitui o coração mesmo do homem. Nós reclamamos aquilo que Deus pôs no coração criando-o, colocando-o em um certo ambiente, formando-o.”[58]
Portanto, segundo Mons. Giussani, os cristãos devem “chamar” os não-cristãos a despertarem algo dentro deles mesmos e não a adotarem determinadas formas, critérios ou esquemas (a Doutrina Católica?) ou uma organização particular (a Igreja Católica?). Os cristãos devem ajudar os demais a serem “eles mesmos”, ou seja, a serem “homens”, no sentido que Mons. Giussani dá à natureza humana: relação com Deus. Sabe-se que o papel da religião (embora apenas uma possa cumpri-lo efetivamente) é justamente estabelecer a relação do homem com Deus, mas se o homem já é, por natureza, tal relação, conclui-se que a verdadeira religião é o próprio homem. É no homem que se encontra toda a verdade, cabendo a ele não converter-se a algo que venha de fora, mas simplesmente reconhecer com auxílio exterior aquilo que já se encontra dentro dele. Se esta “religião” é chamada por Mons. Giussani de “cristianismo” é porque é em Cristo que a relação homem-Deus, que define a essência humana, se dá no mais alto grau, de modo a reunir as naturezas humana e divina em uma única pessoa. Por isso é que em CL, como já vimos, se diz “que o cristianismo não é uma doutrina, não é nem uma religião, mas é o anúncio de um fato”, sendo tal fato o seguinte: Deus se fez homem. Daqui se compreende por que Mons. Giussani dá tanta ênfase ao Mistério da Encarnação, não encarado como aquilo que possibilitou a Paixão de Cristo, o sacrifício redentor por nossos pecados, mas como a revelação da face mais verdadeira do homem. Por isso diz Mons Giussani:
“E nada há de tão comovente como o fato de que Deus se tenha feito homem para nos prestar a ajuda definitiva, para nos acompanhar com discrição, ternura e poder no caminho fatigoso de cada um para buscar seu próprio rosto de homem.”[59]
Assim, Cristo não seria simplesmente “verdadeiro homem”, por ser animal racional, tendo uma essência humana tão verdadeira quanto a dos demais. Jesus seria “o” verdadeiro homem, por ser plena relação com Deus. É a união hipostática que determina sua natureza humana e a torna “mais verdadeira” do que a de qualquer outro homem. Daí viria a necessidade de seguir a Cristo: para descobrirmos quem realmente somos, para que se revele nossa própria “natureza última”. Completamente herético.
É por isso que um membro de CL, Carlo Wolsgruber, declara que “o Movimento não é a proposta de uma ‘religião’, mas de uma humanidade”.[60]
Portanto, o que CL propõe é mesmo o homem, cuja essência natural seria a de relação com Deus. Por isso, Pe. Julián Carrón, atual presidente do movimento, expressa da seguinte maneira o pensamento de Mons. Giussani:
“Dessa forma, Dom Giussani indica que aquilo que poderia permitir a cada um de nós começar tudo de novo é a mesma coisa pela qual Jesus começou, no início: a consciência de pertencer ao Pai. Não é, portanto, uma capacidade nossa, uma energia nossa, uma qualidade nossa, mas é o resultado do fato de pertencermos. O que Dom Giussani faz, assim, nada mais é que identificar a finalidade última da obra salvífica de Cristo. Cristo se fez homem, morreu e ressuscitou para que, mediante o dom do Espírito, pudéssemos viver com a consciência de filhos, como ‘filhos no Filho’.”[61]
Ora, a “finalidade última da obra salvífica de Cristo” não seria a… salvação? Estaria Pe. Carrón identificando a salvação com a participação na vida da graça ainda na Terra? Nossa salvação consistiria em vivermos com a consciência de “pertencer ao Pai”, tal como Cristo, ou seja, com a consciência de que somos relação com Deus, isto é, homens? Se os modernistas moderados diziam que a natureza humana exige o sobrenatural, há outros modernistas que vão mais além, os “integralistas”, conforme São Pio X:
“(…) aqueles que podem ser denominados integralistas, pretendem que se deve mostrar ao homem que ainda não crê, como se acha latente dentro dele mesmo o gérmen que esteve na consciência de Cristo, e que Cristo transmitiu aos homens.”[62]
Em outras palavras, a “chamada autêntica” dos cristãos aos outros tem o intuito de despertar algo que já está no outro, que nada mais é do que a mesma consciência que Cristo teve de si mesmo e transmitiu aos homens mediante a Igreja, a consciência de ser “pertencente” ao Pai, a consciência de ser verdadeiro homem.
Em suma, para Mons. Giussani, o homem é em essência, por natureza, relação com Deus. Portanto, para que alguém se torne [sic!] verdadeiramente homem, é necessário que se desperte algo que se encontra em si mesmo, interiormente, a princípio em estado latente, mas que o homem já consegue intuir, ainda de modo imperfeito, por seu senso religioso. O ideal é que o homem amadureça seu senso religioso sendo coerente na adesão à religião de sua tradição cultural, não importa qual seja, pois uma vez que tal religião é a que melhor se adequa ao seu coração no momento, ela é verdadeira. Verdadeiro é tudo aquilo que corresponde ao coração do homem. Amadurecido o senso religioso ao se descobrir as exigências mais profundas do coração, a primeira religião (se não for o “cristianismo”) já não lhe serve e o homem pode então “converter-se” não a outra religião, a uma doutrina, mas mediante o anúncio de um fato: Deus se fez homem. Cristo, por ser homem e Deus ao mesmo tempo, é aquele que revela a mais pura essência da humanidade e é seguindo-o, tomando para si a consciência de pertencer a Deus, de ser relação com Deus, que me salvo, pois “Esta é a lei da caridade: o desejo que o outro seja ele mesmo, que se ‘salve’ conforme ouviu Jesus Cristo”[63], diz Mons. Giussani.
Temos então, em Comunhão e Libertação, um movimento completamente modernista que, infelizmente, conduz muitas pessoas boas ao erro. Em um texto posterior, pretendo abordar com maior profundidade o modo como Mons. Giussani encara a virtude da fé e de que modo essas ideias remetem aos erros de Pelágio. Que Cristo tenha piedade de nós.
Referências
[1] “Las directrices fundamentales – según Biffi – eran dos: por una parte, la insistencia en una idea de sobrenatural que evitara cualquier posible reducción del acontecimiento cristiano; por otra, dicho sobrenatural no era concebido como un dato accesorio, yuxtapuesto a la naturaleza, sino como algo sustancial, si bien gratuito. Así pues, se percibía el acontecimiento cristiano como la plenitud del hombre y de la creación.”
CAMISASCA, Pe. Massimo. Comunión y liberación: Los orígenes, 1954-1968. Madri: Encuentro, 2002, p. 79.
[2] “The supernatural order […] is an effect or series of effects substantially and absolutely above all nature”. SOLLIER, Joseph. Supernatural Order. In The Catholic Encyclopedia. Vol. 14. New York: Robert Appleton Company, 1912. Acessado em 24/09/2009 de New Advent: http://www.newadvent.org/cathen/14336b.htm
[3] “En estas tesis se advierte la enseñanza de Blondel. También Giussani dice haberlo leído y observa: ‘Respecto a Blondel, aún teníamos algunas dudas, pero también entresacábamos acentos positivos; por ejemplo, la idea dela naturaleza histórica del hombre, abierta como tal a losobrenatural’” CAMISASCA, Pe. Massimo. Op. cit. pp. 79-80.
[4] Papa São Pio X, Encíclica Pascendi Dominici Gregis, 36; Denzinger 2103
[5] BLONDEL, Maurice. apud VIRGOULAY, René. Blondel et le Modernisme. Cerf: Paris, 1980, p. 230, apud FEDELI, Orlando. Cartas sobre o Concílio – Vaticano II, Modernismo e Eclesiologia. São Paulo: Flos Carmeli Edições, 2020, p. 43.
[6] “An absolutely supernatural gift is one which in its very essence (quoad substantiam) transcends nature altogether, so that it cannot be due to nor be merited by any creature whatsoever. It surpasses therefore not only all the active powers of nature, but even all its rights, all its exigencies.”
TANQUEREY, Pe. Adolphe. The Spiritual Life: a Treatise on Ascetical and Mystical Theology. Tournai: Society of St. John the Evangelist / Desclée, 1932, p. 32.
[7] GIUSSANI, Mons. Luigi. Tornar Cristo presente na nossa carne, em cada ambiente, em cada realidade humana. Acessado em 24/09/2009 de Comunhão e Libertação:
http://www.catolicanet.net/sitepassos/link.asp?cod=69&tipo=0
[8] GIUSSANI, Mons. Luigi. A experiência. Acessado em 24/09/2009 de Comunhão e Libertação:
http://www.catolicanet.net/sitepassos/link.asp?cod=7&tipo=0
[9] “Metaphysical necessity implies that a thing is what it is, viz., it has the elements essential to its specific nature. It is a metaphysical necessity for God to be infinite, man rational, an animal a living being. Metaphysical necessity is absolute.”
SAUVAGE, George. Necessity. In The Catholic Encyclopedia. Vol. 10. New York: Robert Appleton Company, 1911. Acessado em 24/09/2009 de New Advent:
http://www.newadvent.org/cathen/10733a.htm
[10] Cf. São Tomás de Aquino. Suma Teológica, Ia-IIae, q. 111, a.1, ad 2.
[12] “Si avverte in Luigi Giussani una conoscenza non solo intellettuale delle religioni, ma anzitutto, e fondamentalmente, una esperienza intensa del mistero. Non si trova in lui la minima separazione tra il naturale e il soprannaturale. Per lui, ed è ad un tempo senza dubbio un tratto nativo e il frutto di una conoscenza profonda della teologia «ortodossa», la natura stessa è soprannaturale, in quanto tutta penetrata delle energie divine. Con linguaggio biblico, egli sottolinea che Dio è il Dio dei miracoli, e che tutto è miracolo, e che Egli ha impresso dall’origine la sua immagine nella sua creatura.”
CLÉMENT, Olivier. Luigi Giussani: un profeta, in BEDOUELLE, Guy et. al. Gli uomini vivi si incontrano: scritti per Luigi Giussani. Milão: Jaca Book, 1992, p. 38.
[13] Papa Pio XII, Encíclica Humani Generis, 26; Denzinger 2318.
[14] “What Luigi Giussani calls ‘the religious sense’ sums up this engagement of the whole person with the whole of life’s meaning. Standing in the great tradition of Maurice Blondel and Henri de Lubac earlier in this century, and indeed of literary figures such as Fyodor Dostoyevsky and Giacomo Leopardi whom he often cites, Giussani insists that the religious question emerges from the heart of human experience.” SCHINDLER, David L. Foreword in GIUSSANI, Mons. Luigi. At the Origin of the Christian Claim. Canadá: McGill-Queen’s University Press, 1998, p. vii.
[15] GIUSSANI, Mons. Luigi. É possível viver assim? Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998, p. 25.
[19] Concílio Vaticano I, Sessão III, Constituição dogmática Dei Filius sobre a fé católica, cap. IV; Denzinger 1795.
[20] “Es pues necesario estar dispuestos a que nos provoque la totalidad del hecho, que no consiste en el inventario completo de sus factores. Este es el punto central del documento conciliar sobre la Revelación ya citado, comentando el cual de Lubac observa: ‘Ahora bien, también para el Concilio, el objeto de la Revelación es Dios mismo; pero este Dios vivo ha intervenido en la historia de los hombres, y en ella nos ha dado unos testigos, y todos estos testigos nos remiten al Testigo por excelencia, a ese Testigo verdadero y fiel, que es su Palabra encarnada. El objeto primero de mi fe no consiste en una lista de verdades, inteligibles o no […]. El que este objeto sea para mí, en el sentido etimológico del término, incomprensible — ¿y como podría desear que lo fuera? — el que no pueda circunscribirlo como haría con una creación de mi espíritu, deriva del hecho de que […] se trata del abrazo de una Persona diva. […] esto es lo esencial, el objeto revelado no se concibe como una serie de proposiciones […] sino que se le reconoce en su unidad original como el misterio de Cristo, la realidad de un ser personal y vivo.’”
GIUSSANI, Mons. Luigi. Los orígenes de pretensión cristiana. Madri: Encuentro, 2001, p. 51.
[21] CALDERÓN, Pe. Álvaro. A candeia debaixo do alqueire: questão disputada sobre a autoridade doutrinal do magistério eclesiástico a partir do Concílio Vaticano II. Rio de Janeiro: Sétimo Selo, 2009, p. 163.
[22] Cf. Catecismo de São Pio X, q. 5.
[23] BRAMBILLA, Michele. Aquele dia, numa calçada de Milão. Acessado em 30/09/2009 de Comunhão e Libertação:
http://www.catolicanet.net/sitepassos/pagina.asp?cod=372&tipo=0
[24] FONTOLAN, Roberto. Um novo início abre as portas ao futuro (entrevista com o Card. Joseph Ratzinger). Acessado em 30/09/2009 de Passos, Revista Internacional de Comunhão e Libertação:
http://www.passos-cl.com.br/pagina.asp?cod=583&tipo=0
[25] “Ya hemos visto, además, que el objeto no consiste en una lista de proposiciones ni en la plausibilidad de una crónica, sino en la veracidad del testimonio referente a una persona viviente que pretendió ser el destino del mundo, el misterio que ha entrado a formar parte de la historia.”
GIUSSANI, Mons. Luigi. Los orígenes de pretensión cristiana. Madri: Encuentro, 2001, p. 52.
[26] “¿Y cómo podremos verificar que eso que llegamos a saber del misterio a través del testimonio de uno que viene de más allá del horizonte último, y que entra en el mundo humano, es verdadero? ¿Cómo podremos saber que lo que nos revelará es justo? Lo sabremos sólo por el hecho de que potencia lo humano. Si potencia todo lo humano, se dé como se dé, se confirma como verdadero.”
GIUSSANI, Mons. Luigi; TANTARDINI, Pe. Giacomo. Se puede vivir así. Acessado em 30/09/2009 de Huellas, Revista Internacional de Comunión y Liberación:
http://www.huellas-cl.com/2008S/01/sepuedevivir.html
[27] GIUSSANI, Mons. Luigi. A Escola de Comunidade e a presença. Acessado em 30/09/2009 de Passos, Revista Internacional de Comunhão e Libertação:
http://www.passos-cl.com.br/pagina.asp?cod=467&tipo=0
[28] SILVEIRA, Sidney. “TV” Contra Impugnantes – o conceito de verdade. Acessado em 30/09/2009 de Contra Impugnantes:
http://contraimpugnantes.blogspot.com/2009/05/tv-contra-impugnantes-o-conceito-de.html
[29] “‘Corazón’, biblicamente, define así el criterio último de verdad para el hombre y para identificar su fin. Pretenderemos traducir o interpretar de este modo la adaequatio reí et intellectus de santo Tomás.” GIUSSANI, Mons. Luigi. Mis Lecturas. Madri: Encuentro, 2005: p. 84.
[30] GARRIGOU-LAGRANGE, Pe. Réginald. La Nouvelle Théologie où va-t-elle? Angelicum 23, 1946, apud HIRPINUS. A “Nova Teologia”: os que pensam que venceram. Rio de Janeiro: Permanência, 2001, p. 54.
[31] Cf. Papa Pio IX, Syllabus Errorum; Papa Leão XIII, Aeterni Patris; Papa São Pio X, Pascendi Dominici Gregis, Doctoris Angelici; Papa Pio XI, Studiorum Ducem; Papa Pio XII, Humani Generis.
[32] Concílio Vaticano I, Sessão III, Constituição dogmática Dei Filius sobre a fé católica, Cânones 2 (Sobre a Revelação) cân. 1; Denzinger 1806.
[33] Papa Pio XII, Encíclica Humani Generis, 4; Denzinger 2305.
[34] Papa Leão XIII, Encíclica Immortale Dei, 13.
[35] BLONDEL, Maurice. L’Action, apud HIRPINUS, Op. cit., p. 49.
[36] Papa São Pio X, Encíclica Pascendi Dominici Gregis, 5; Denzinger 2074.
[37] FARINA, Renato. O Ser é caridade: Em Nossa Senhora, a carnalidade do cristianismo (entrevista com Mons. Luigi Giussani). Acessado em 01/10/2009 de Comunhão e Libertação:
http://www.catolicanet.net/sitepassos/link.asp?cod=12&tipo=0
[38] GIUSSANI, Mons. Luigi. O Senso Religioso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000, pp. 150-151.
[39] Papa São Pio X, Encíclica Pascendi Dominici Gregis, 13; Denzinger 2081.
[40] GIUSSANI, Mons. Luigi, apud CARRÓN, Pe. Julián. Giussani contra o “gulag” da modernidade. Acessado em 01/10/2009 de Passos, Revista Internacional de Comunhão e Libertação:
http://www.passos-cl.com.br/link.asp?cod=116&tipo=0
[41] Papa Pio XII, Encíclica Humani Generis, 6; Denzinger 2306.
[42] Papa Pio XII, Encíclica Humani Generis, 32; Denzinger 2323.
[43] “No existe ningún Yo en sí, sino sólo el Yo de la palabra básica Yo-Tú y el Yo de la palabra básica Yo-Ello.” BUBER, Martin. Yo y Tú. Madri: Caparrós, 1993, p. 7.
[44] GIUSSANI, Mons. Luigi. Reflexões sobre o Empenho Vivido – Conversa com um grupo de universitários, In revista CL – Comunhão e Libertação, Ano IV, nº 20 Agosto-Setembro de 1990, p. 6, apud FEDELI, Orlando. Monsenhor Giussani e Movimento Comunhão e Libertação (resposta a um leitor do site). Acessado em 22/10/2023 de Flos Carmeli Estudos:
https://floscarmeliestudos.com.br/832-monsenhor-giussani-e-movimento-comunhao-e-libertacao/
[46] LARRAÑAGA, Fr. Ignacio. Encontro – Manual de Oração. São Paulo: Loyola, 2005, p. 27.
[52] Papa Pio XII, Encíclica Humani Generis, 34; Denzinger 2325.
[54] “El hombre nace en un determinado ámbito, en un determinado momento histórico; la religión que expresa su ambiente tiene grandes probabilidades de ser la menos inadecuada a su temperamento. Por consiguiente, si realmente se quiere establecer una norma, no absoluta, sino de conveniencia, se tendría que decir: que cada hombre siga la religión de su tradición.
“Puede ser que un encuentro en la vida haga resplandecer de improviso la presencia de un anuncio, de una doctrina, de una moral, de una emoción más adecuada para la propria razón ya madura, o para la historia del propio corazón. Entonces uno podrá ‘cambiar’, ‘convertirse’ (Newman observa que la ‘conversión’ no es otra cosa que el descubrimiento más profundo y más auténtico de lo que antes ya se profesaba).
“Pero el consejo de vivir la religión de la tradición propia sigue siendo la indicación fundamental sin pretensiones.
“Y en este sentido todas las religiones son ‘verdaderas’. El único deber del hombre es el de la seriedade en su adhesión a ellas.”
GIUSSANI, Mons. Luigi. Los orígenes de pretensión cristiana. Madri: Encuentro, 2001, pp. 26-27.
[55] Papa São Pio X, Encíclica Pascendi Dominici Gregis, 13; Denzinger 2082.
[56] BLONDEL, Maurice, apud HIRPINUS. Op. cit. p. 50.
[57] Papa São Pio X, Encíclica Pascendi Dominici Gregis, 6; Denzinger 2075.
[58] “Autentico deve essere il richiamo dell’uomo cristiano agli altri. Diciamo anche qui degli aspetti importanti di questa autenticità:
– è necessario chiarire il nostro concetto di richiamo, perché non rimanga in noi e il meno possibile negli altri alcuna confusione tra richiamo e propaganda. La propaganda infatti è il diffondere qualcosa perché la penso io o interessa me. Il richiamo invece, come lo intende la Chiesa, è ridestare qualcosa che è nell’altro, è una valorizzazione dell’altro, è un gesto di carità. Il richiamo che faccio a un mio compagno è aiutarlo a ritrovare la sua verità, il suo vero nome (nel senso biblico), a ritrovare se stesso. Il mio richiamo di cristiano è perciò il contributo più acuto alla libertà di uno, perché libertà vuol dire essere se stessi. Per questo il nostro richiamo è il gesto supremo di amicizia.
“Per questo il nostro non è mai innanzitutto un richiamo a determinate forme, a determinati criteri o schemi, a una organizzazione particolare, ma a quella promessa che costituisce il cuore stesso dell’uomo. Noi riecheggiamo quello che Dio ha loro messo in cuore creandoli, mettendoli in un dato ambiente, formandoli.”
GIUSSANI, Mons. Luigi. Tracce d’Esperienza Cristiana, in GIUSSANI, Mons. Luigi. Opere: 1962-1992, vol. 2. Milão: Jaca Book, 1994, p. 122.
[59] “Y nada hay tan conmovedor como el que Dios se haya hecho hombre, para prestarnos la ayuda definitiva, para acompañarnos con discreción, ternura y poder en el camino fatigoso de cada uno para buscar su propio rostro de hombre.”
GIUSSANI, Mons. Luigi: El rostro del hombre: las dimensiones reales de nuestro yo. Madri: Encuentro, 1996, p. 8.
[60] WOLSGRUBER, Carlo. Memores Domini, in CL – Litterae Communionis, revista bimestral de Comunhão e Libertação – Ano VI, no 26, Janeiro-Fevereiro de 1992, p. 11. apud FEDELI, Orlando. Monsenhor Giussani e Movimento Comunhão e Libertação (resposta a um leitor do site). Acessado em 22/10/2023 de Flos Carmeli Edições:
https://floscarmeliestudos.com.br/832-monsenhor-giussani-e-movimento-comunhao-e-libertacao/
[63] “Questa è la legge della carità: il desiderio che l’altro sia se stesso, che si ‘salvi’, come sentì Gesù Cristo.”
GIUSSANI, Mons. Luigi. Tracce d’Esperienza Cristiana, in GIUSSANI, Mons. Luigi. Opere: 1962-1992, vol. 2. Milão: Jaca Book, 1994, p. 123.