Tratados de mística, Padre Arintero

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Data: 04-Jan-2020
Nome: T. Castro
Assunto: Pedido de esclarecimento sobre última aula prof. Schlithler

Salve Maria.

Na última aula sobre a questão da dupla beatitude, o professor Schlithler afirmou que os tratados de mística do Padre Arintero são ruins por fazerem distinção entre esoterismo e exoterismo.

É a primeira vez que ouço alguém afirmar isso e fiquei um tanto surpreso, já que ele é aclamado como sendo um dos maiores especialistas no assunto.

Por favor, professor, explique melhor essa questão. Dado a atualidade do assunto (ampla divulgação no meio católico e tradução dos livros), parece ser oportuno dizer alguma coisa sobre isso.

Cordialmente,

T. Castro

***

Resposta

Prezado T. Castro,

salve Maria!

O Padre Arintero foi um dominicano que escreveu livros muito ruins sobre mística. O livro dele principal, chamado “Evolução Mística” já é condenável pelo próprio título, uma vez que o conceito de evolução é hostil à metafísica e à teologia católica. “Evolução” implica em uma mudança substancial (e não meramente acidental), e isso é metafisicamente impossível para a criatura, e tal título já deixa entrever os erros gnósticos do Pe. Arintero nesse livro. Um dos erros fundamentais é definir a graça santificante não como um acidente, mas como algo substancial – ao contrário do que sempre ensinou o Magistério da Igreja e Santo Tomás de Aquino.

O Padre Arintero nesse livro procurou abordar a vida espiritual e a mística católica interpretando-a de modo gnóstico. Tratava-se de um padre dominicano muito culto que dominava com destreza e erudição a linguagem teológica, mas que ao mesmo tempo tinha péssimas ideias gnósticas. Ele procurava disfarçá-las ou justificá-las de modo bem serpentino, valendo-se do arsenal conceitual erudito que ele possuía (se ele fez isso de caso pensado, ou apenas como consequência de falsos princípios ou falsa visão de mundo, só Deus sabe) para mascarar a gnose sob a aparência de grande ortodoxia teológica. Numa página, o Pe. Arintero escreve algo gnóstico, e páginas adiante, reprova incisivamente todos aqueles que o acusarem de gnóstico. Olavo de Carvalho procede de modo análogo diversas vezes. Assim, as pessoas ingênuas e desprovidas de formação religiosa mais sólida e encantadas com a erudição desses gnósticos, tendem a se deixar enganar ao considerá-los “especialistas”. Os mais ingênuos, teimosos ou orgulhosos tendem realmente a crer que basta um autor dizer “não sou gnóstico”, “não interprete isso que falei de modo gnóstico”, “isso que eu escrevi não é gnóstico” etc, para que se conclua que ele realmente não é gnóstico. Ao contrário, é pela análise das ideias expostas que se deve julgar o posicionamento de um autor.

Resumidamente, devemos dizer que os mais altos graus de vida mística não transmutam a alma em Deus, em Cristo, mas intensificam a participação nele. Trata-se de um alto grau de semelhança divina sobrenatural, decorrente de um intenso desenvolvimento da vida da graça no homem, e jamais de união ou identificação substancial com Deus. O erro do Pe. Arintero é interpretar a mística desse segundo modo (por meio de uma argumentação tortuosa e serpentina).

No artigo que escrevemos para o livro Sob a máscara, há um capítulo em que tratamos apenas do Pe. Arintero, lá você encontrará a explicação que procura. Você pode adquiri-lo em https://www.floscarmeliedicoes.com.br/sob-a-mascara

Cuidado com o que essas pessoas da direita chamam de “especialistas”, pois geralmente quem promovem esse tipo de pensamento está mais preocupado em aderir a uma mentalidade de grupo do que realmente estudar o que a Igreja Católica ensina. Por isso, quando o que a Igreja ensina entra em contradição com o pensamento de um tal grupo, ou tal autor, essas pessoas tendem a fazer uma enorme ginástica mental para justificar os erros de seus autores preferidos, tentando artificiosamente “encaixá-los” na doutrina católica. Não raro, fazem isso motivados por um enorme sentimentalismo (um apego a tais e tais autores, apego a pessoas, e não a princípios), e ficam extremamente contrariados quando alguém mostra que pessoas como Olavo de Carvalho, Pe. Paulo Ricardo, Pe. Arintero e outros ensinam coisas que estão desalinhadas com o Magistério da Igreja. Se chegaram a fé católica por meio desses autores, pior ainda. Esse apego sentimental acaba por confundir a adesão a Igreja com a adesão a uma pessoa. Deus pode usar de instrumentos indignos para converter alguém sem aprovar esses instrumentos – até mesmo frustrando-os. Deus pode usar um autor que ensina erros para conduzir alguém a conversão, mas obviamente sem aprovar esses erros – ao contrário, Deus espera que a pessoa convertida, na medida em que se converteu à Igreja e não à pessoa que lhe influenciou a conversão e se esforce para compreender sua religião e nela se instruir, acabe por reconhecer esses erros e rejeitá-los. Não é porque alguém chegou à fé católica por meio de um tal autor que necessariamente esse autor não está eivado de erros. Isso deveria ser fácil de entender, mas o apego sentimental e a teimosia (e preguiça de estudar) de muitos impede que se reconheça algo tão óbvio. Esse erro, aliás, é um dos erros mais comuns nas recentes conversões ao Catolicismo que vem ocorrendo no Brasil. Sobre essa questão, temos um capítulo no mesmo livro mencionado.

Espero ter ajudado,

Salve Maria!

Fernando Schlithler

Doce Coração de Maria, sede a nossa salvação.

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