Orlando Fedeli
Virgindade Perpétua de Nossa Senhora
- Localização: Brasil
Boa tarde.
Mais uma vez, gostaria de lhe pedir licença e lhe enviar duas questões:
Lendo Mateus 1 / 24: ” E tendo acordado, José fez como lhe propusera o anjo do Senhor e aceitou sua mulher. E não a conheceu até que deu à luz um filho, e nele pôs o nome de Jesus.”
Em minha Bíblia há uma nota no rodapé: ” a expressão até que, de per si nada afirma e nada nega a respeito do futuro. Quer apenas afirmar que na concepção de Jesus não houve relações conjugais. Não se afirma aqui, portanto, a virgindade perpétua de Maria, mas esta decorre do resto do Evangelho e da tradição da Igreja.”
Aprendi pela tradição, que Maria manteve-se Virgem até sua morte, que José nunca a conheceu. Gostaria de saber em qual (quais) passagem (passagens) da Bíblia isto é exposto ou se na verdade, não há isto de forma explícita mas a Tradição da Igreja nos ensina isto. E se Maria manteve-se Virgem, gostaria de entender as passagens em que a Bíblia menciona “os irmãos de Jesus”.
Outra questão: gostaria de entender o que é “Indulgência Plenária” e qual seu fundamento bíblico / histórico.
Muito obrigada um abraço em Cristo.
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Prezada,
salve Maria!
Jesus Cristo é o Verbo de Deus, isto é, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Filho de Deus.
Para entender estas expressões em seu sentido correto, peço-lhe que leia meu trabalho sobre “As processões em Deus“, no site Montfort*
O Filho Unigênito de Deus se encarnou, no tempo, no seio da Virgem Maria, por obra do Espírito Santo.
Era extremamente conveniente que Cristo fosse concebido de modo virginal, porque, ele devia nascer como qualquer homem, se não se negaria a sua humanidade. Mas Ele devia ser concebido miraculosamente, para que se compreendesse que Ele era Deus. Cristo nasceu de uma mulher, para provar que era homem. Nasceu de uma Virgem, para ficar claro que Ele era Deus.
Por isso é que o Profeta Isaías, séculos antes, anunciou que “Pois por isso, o mesmo Senhor vos dará este sinal: uma Virgem conceberá e dará à luz a um filho, e o seu nome será Emanuel” (Is 7,14).
Que Nossa Senhora concebeu a Jesus virginalmente, vejo que você compreende, aceita e crê, pois que isso está revelado no Evangelho de São Lucas, onde se lê:
“Estando Isabel no sexto mês, foi enviado por Deus o anjo Gabriel a uma cidade da Galiléia, chamada Nazareth, a uma virgem desposada com um varão, chamado José, da casa de Davi. E o nome da Virgem era Maria“ (Lc 1,26-27).
Que Nossa Senhora permanecesse Virgem depois do parto de Jesus, era também muitíssimo conveniente, porque:
1) Porque sendo Jesus, o Filho unigênito de Deus Pai – o Verbo ou Sabedoria de Deus – convinha que também na terra Ele fosse unigênito.
2) Porque, se Ele tivesse tido irmãos carnais, pensar-se-ia que esses irmãos também seriam deuses, causando o politeísmo e heresia.
3) Porque Deus fez um paraíso para Adão apenas. Fez um Paraíso para os homens no céu. E fez um Paraíso só para si, que foi Maria. É o que diz São Luis de Montfort*.
4) Porque convém absolutamente – mais – é necessário que Deus só tenha uma esposa, assim como é necessário que Ele tenha uma só Igreja. Por isso, assim também a esposa só pode ter um esposo. E Maria só devia ter um esposo real: o próprio Deus, e manter-se virgem por toda a vida.
5) Porque era muito necessário, para nós, que fosse assim, para compreendermos o alto valor da Virgindade, pois que a Virgem mais fecunda, aquela que gerou em seu seio o próprio Deus encarnado, quis se manter Virgem, como deveremos nós prezar a virgindade e a pureza, nós que geramos filhos, sem valor, se comparados com o dela?
6) Sempre existe semelhança entre mãe e filho. Também entre Nossa Senhora e Jesus deve haver semelhança maior do que a normal. Maria foi feita por Deus o quanto possível semelhante e proporcionada a seu Filho santíssimo. Como Jesus se manteve virgem sempre, convinha imensamente que Maria, também nisto, fosse proporcionada a Cristo, e permanecesse perpetuamente virgem.
7) O matrimônio é monogâmico. Ora, se Maria tivesse tido filhos de outrem que não o Espírito Santo, seu Divino esposo, isso seria uma aberração, semelhante ao adultério. Esposa do Divino Espírito Santo uma vez, Maria devia se conservar sua esposa fiel sempre.
O PROBLEMA DOS “IRMÃOS” DE JESUS
Muitos hereges, no passado, ousaram, de modo blasfemo, duvidar da virgindade perpétua de Nossa Senhora. Para sofismar sobre isto, eles alegavam os textos dos evangelhos que falam dos “Irmãos” de Jesus.
Nos tempos modernos, os protestantes repetiram essa blasfêmia contra a Mãe do Senhor. E, explorando a ignorância das massas, eles espalham sua heresia no meio do povo mais simples.
Com efeito os evangelistas falam, em várias passagens desses “irmãos” de Jesus.
Se Jesus teve irmãos, argumentam esses hereges, Maria não foi sempre virgem.
Como responder a esse problema?
Permita-me passar-lhe cópia da resposta a essa questão feita pelo autor de um livro muito útil: Lúcio Navarro, Legítima Interpretação da Bíblia, Campanha de Instrução religiosa, Brasil-Portugal, Recife, 1958 nº 400, pp. 590 a 592 inclusive.
“400. Diante da frase de S. Mateus vista no número anterior, o leitor ainda poderá compreender como se tenham equivocado os protestantes, iludindo-se com as aparências.
Mas agora vai pasmar ao ver a malícia, a precipitação com que esses enfatuados intérpretes da Bíblia que a lêem continuamente e procuram aprendê-la de cor, ainda vão tirar da expressão IRMÃOS DE JESUS uma conclusão contra a virgindade perpétua do Maria Santíssima. Senão, vejamos.
Sabemos que a Escritura não somente designa com o nome de Irmãos aqueles que são filhos do mesmo pai ou da mesma mãe, como eram Caim e Abel, Esaú e Jacó, S. Tiago Maior e S. João Evangelista (que eram filhos de Zebedeu) etc.; mas também aqueles que são parentes próximos, como tios e primos.
A Escritura está cheia destes exemplos.
Abraão chama de Irmão a Lot: “Peço-te que não haja rinhas entre mim e ti, nem entre os meus pastores e os teus, porque somos IRMÃOS (Gn, 13,8). Mais adiante a própria Bíblia o chama assim: “Abraão, tendo ouvido que Lot, seu IRMÃO, ficara prisioneiro… (Gn 14,14). Pois bem, Lot era apenas sobrinho de Abraão, pois já antes disto se lê no Gênesis: “Tinha Abraão setenta e cinco anos, quando saiu de Harã. E ele levou consigo a Sarai, sua mulher, a Lot, FILHO DE SEU IRMÃO, E todos os bens que possuíam (Gn 12,4 e 5).
Labão, diz a Jacó: “Acaso, porque tu és meu IRMÃO, deves tu servir-me de graça? (Gn 29,15). E no entanto Jacó era SOBRINHO de Labão: Isaac chamou a Jacó e o abençoou e lhe pôs pôr preceito dizendo: “Não tomes mulher da geração de Canaã; mas vai e parte para a Mesopotimia … e desposa-te com uma das filhas de Labão, TEU TIO” (Gn, 28,l e 2). Realmente Jacó era filho de Isaac com Rebeca (Gn 25,21 a 25) e Rebeca era irmã de Labão: “Rebeca, porém, tinha um irmão chamado Labão (Gn, 24,29). E, no entanto, não só como vimos acima, seu tio o chama IRMÃO, mas também quando Jacó se encontra com Raquel, que é filha de Labão (Gn 39,5 e 6), diz à moça que é IRMÃO de Labão: “E lhe manifestou que era IRMÃO de seu pai, filho de Rebeca (Gn, 29,12).
Lê-se no Levítico que Nadab e Abiu, FILHOS de ARÃO (Lv 10,1) são mortos por castigo, por terem oferecido um fogo estranho nos seus turíbulos. Moisés chama os primos dos que faleceram: Misael e Elisafan, FILHOS de Oziel, TIO DE ARÃO (Lv 10,4) e lhes diz: ide, tirai vossos IRMÃOS de diante do santuário e levai-os para fora do campo (Lv 10,4).
Lê-se no livro de Paralipômenos que Eleazar e Cis são filhos de Moholi: “FILHOS DE MOHOLI: Eleasar e Cis”(1 Paralipômenos, 23,21), portanto irmãos no verdadeiro sentido da palavra. Eleazar só teve filhas e não filhos; as filhas dele se casaram com os filhos de Cis. Espera-se que a Escritura diga: casaram-se com os filhos de Cis, que eram seus primos; mas ela diz: com os filhos de Cis, seus IRMÃOS: “E SEUS IRMÃOS (1 PARALIPÔMENOS, 23,22). Eleazar morreu e não teve filhos, senão filhas; e casaram com os filhos de Cis,
É dentro deste costume hebreu de designar com o nome de IRMÃOS, não só os que têm os mesmos pais, senão também os parentes próximos como tios, primos e sobrinhos, pois o hebraico não possuía palavras próprias para designar esses parentescos, que o Novo Testamento fala em IRMÃOS DE JESUS e é o próprio Novo Testamento QUE SE ENCARREGA DE DEMONSTRÁ-LO.
Querem ter a PROVA nossos amigos protestantes?
Dá alguma vez o Evangelho os nomes desses irmãos de Jesus, para que possamos identificá-los?
Sim, dá. Sabe-se dos nomes, pelo menos de 4: Tiago, José, Judas e Simão: “Não é este o oficial, filho de Maria, IRMÃO de TIAGO, de José, de JUDAS E de SIMÃO? Não vivem aqui entre nós também suas irmãs? (M6,3). “PORVENTURA NÃO É ESTE O FILHO DO OFICIAL? NÃO SE CHAMA SUA MÃE MARIA, E SEUS IRMÃOS TIAGO, JOSÉ, SIMÃO E JUDAS? E SUAS IRMÃS NÃO VIVEM ELAS TODAS ENTRE NÓS? (Mt 13,55 e 56).
Pois bem, este TIAGO que encabeça a lista é um Apóstolo, pois diz S. Paulo na Epístola aos Gálatas: “E dos outros APÓSTOLOS não vi a nenhum, senão a TIAGO, IRMÃO DO SENHOR (Gl 1,19).
Quer dizer então que, segundo a opinião desses protestantes, este Tiago Apóstolo era filho de Maria, mãe de Jesus; e de Maria e de José, porque, como os próprios protestantes reconhecem, Maria nunca teve filhos antes de seu casamento com José. E não se casou com outro depois da morte de José, pois na hora da morte de Cristo, ela está sozinha, sem marido e Cristo a entrega a S. João Evangelista; além disto se Maria tivesse casado outra vez, seus filhos estariam pequenos, não estariam em idade de ser Apóstolos.
Temos 2 Apóstolos com o nome de Tiago: Tiago Maior, e Tiago Menor. Vamos ver se algum deles era filho de José com Maria.
- Tiago Maior era irmão de S. João Evangelista, e ambos FILHOS DE ZEBEDEU: “Da mesma sorte havia deixado atônitos a TIAGO e a JOÃO, FILHOS DE ZEBEDEU (Lc 5,10).
- Tiago Menor, que era irmão de Judas, era filho de ALFEU. Entre os Apóstolos, que são enumerados por S. Mateus, estão: Tiago FILHO DE ZEBEDEU, e Tiago FILHO DE ALFEU (Mt 10,3). Que tem a ver Maria Santíssima com este Alfeu ou com este Zebedeu? Logo, este Tiago, IRMÃO DO SENHOR, não é seu filho.
Além disto, comparando-se os Evangelhos, se vê claramente que este Tiago este José que encabeçam a lista são PRIMOS de Jesus, e o Tiago é o Apóstolo Tiago Menor. Enumerando as mulheres que estavam juntamente com Maria ao pé da cruz, Mateus, Marcos e João as identificam da seguinte maneira:
Mateus 27, 56 | Marcos 15,40 | João 19,25 |
Maria, mãe de Tiago e de José; | Maria, mãe de Tiago Menor e de José; | a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cleofas |
Maria Madalena; | Maria Madalena | Maria Madalena |
a mãe dos filhos de Zebedeu. | Salomé |
Por aí se vê que a mesma Maria que é apresentada por São João como tia de Jesus (Irmã de sua mãe) é apresentada por São Mateus e S. Marcos como mãe de Tiago Menor e de José. E é claro que não se trata de Maria Salomé, que é a mãe dos filhos de Zebedeu e, portanto, é mãe de Tiago Maior.
Tiago Menor e José são, portanto, PRIMOS de Jesus e são os primeiros que encabeçam aquela lista: TIAGO, JOSÉ, JUDAS E SIMÃO.
E de fato o Apóstolo S. Judas Tadeu era irmão de S. Tiago Menor, pois ele diz no começo de sua Epístola: “Judas, servo de Jesus Cristo e IRMÃO de Tiago (vers. l.). Tanto o Evangelho de S. Lucas (6,16) como os Atos dos Apóstolos (1,13) para diferenciarem Judas Tadeu de Judas Iscariotes, chamam a Judas Tadeu: Judas, irmão de Tiago.
E assim cai por terra fragorosamente a alegação dos protestantes de que Maria teve outros filhos além do Divino Salvador, alegação baseada em que o Evangelho fala em IRMÃOS DE JESUS. Não só provamos que entre os hebreus se chamavam IRMÃOS os parentes próximos, mas também mostramos que a lista dos nomes apresentados como sendo destes IRMÃOS é logo encabeçada por DOIS PRIMOS, filhos da irmã da mãe de Jesus. Logo, não tem nenhum valor a alegação.
A única dificuldade, esta agora já sem importância, que pode fazer o protestante é que Tiago Menor é filho de ALFEU, e sua mãe é apresentada COMO MULHER DE CLEOFAS.
Sem precisar recorrer a nenhum argumento de tradição (porque talvez os protestantes não gostem disto) temos que observar o seguinte:
lº – o texto original não diz MULHER DE CLEOFAS, mas diz simplesmente: a irmã de sua mãe, Miaria, a do Cleofas (texto grego de João 19,25); podia chamar-se Maria, a do Cleofas, por causa do pai ou por outro qualquer motivo;
2º – não repugna que a mesma Maria se tenha casado com Alfeu e dele tenha tido S. Tiago Menor, e depois se tenha casado com Cleofas e tido outros filhos ou mesmo deixado de ter. Tiago é o único que é apontado nos Evangelhos como filho deste Alfeu, pois o Alfeu, pai de S. Mateus (Mc 11,14) já deve ser outro;
3º – não repugna que o próprio Alfeu seja o mesmo Cleofas. É muito comum nas Escrituras uma pessoa ser conhecida por 2 nomes diversos: O sogro de Moisés é chamado Raguel (Ex 2,18 a 21) e logo depois é chamado Jetro (Ex 3,l). Gedeão, depois de ter derribado o altar de Baal é chamado também Jerobaal (Ju 6,32). Osias, rei de Judá, é chamado também Azarias (4Re 15,32; 1 Paralipômenos, 3,12). E no Novo Testamento o mesmo Mateus é chamado Levi: “Viu um homem, que estava assentado no telônio, chamado Mateus (Mt 9,9). “Viu a Levi, filho de Alfeu, assentado no telônio (Mc 11,14). O mesmo que é chamado José é chamado Barsabas (At 1,23).
Ainda hoje mesmo, entre nós, nas nossas localidades do interior principalmente, é muito comum esta duplicidade de nomes.
Seja Alfeu o mesmo Cleofas ou não seja. Isto pouco importa. O que é fato é que Maria de Cleofas é Irmã de Maria, mãe de Jesus e é ao mesmo tempo mãe de Tiago e de José, que são chamados IRMÃOS do Senhor” (Lúcio Navarro, Legítima Interpretação da Bíblia, Campanha de Instrução religiosa, Brasil- Portugal, Recife, 1958 nº 400, pp. 590 a 592 inclusive).
Fizemos questão de copiar essa brilhante exposição de Lúcio Navarro, porque ela não deixa margem a dúvida: Irmãos de Jesus eram primos dEle, e não Irmãos de sangue. Logo, Maria Santíssima só teve um Filho gerado nela por obra do Espírito Santo: Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem. Maria Santíssima foi sempre Virgem.
A IGREJA SEMPRE ACREDITOU NA VIRGINDADE PERPÉTUA DA MÃE DE DEUS
Respondida assim, e de modo brilhante, a mentira sacrílega dos protestantes, vejamos como toda a Tradição da Igreja sempre acreditou na Virgindade perpétua de Maria Santíssima.
Os Padres da Igreja sempre defenderam a Virgindade perpétua de Nossa Senhora
São Jerônimo, combatendo o herege Helvídio, que negava blasfemamente a virgindade perpétua de Nossa Senhora, afirmou que a unanimidade dos Santos Padres defendeu a virgindade perpétua da Virgem Maria. (Santos Padres são os grandes santos e doutores, discípulos dos Apóstolos, e os grandes Santos e Doutores dos primeiros séculos do Cristianismo).
Santo Ambrósio escreveu:
“Houve quem negasse que Maria tivesse permanecido virgem. Desde muito temos preferido não falar sobre este tão grande sacrilégio. Maria (…) que é mestra da virgindade, (…) não podia acontecer que aquela que em si tinha trazido Deus, resolvesse andar às voltas com um homem. Nem José, varão justo, cairia nessa loucura de querer misturar-se com a mãe do Senhor, em relação carnal”. (De Inst. Virg. I , 3).
Santo Hilario de Poitiers defende a virgindade perpétua de Maria Santíssima, e acusa os que dizem o contrário, de serem irreligiosos.
Santo Epifânio diz: “De onde vem esta perversidade? De onde é que irrompeu tamanha audácia? Porventura o próprio nome não é suficiente atestado? Quem jamais houve, em tempo algum, que ousasse proferir o nome de Maria e espontaneamente não lhe acrescentasse a palavra virgem? O nome de Virgem foi dado a Santa Maria, nem se mudará nunca, ela sempre permaneceu ilibada (Panarion, Contra os hereges).
São Jerônimo disse contra o herege Helvídio que citamos, que assim como um homem havia queimado o templo da deusa Diana em Éfeso só para ser conhecido assim fizera Helvídio com a Virgindade de Maria Santíssima: “Tu incendiaste o templo do corpo do Senhor. Contaminaste o santuário do Espírito Santo do qual pretendes ter saído uma quadra de irmãos e um montão de irmãs. Argumentas com o que dizem os judeus: “Por ventura não é este o filho do carpinteiro? Não se chama Maria a sua mãe e seus irmãos Tiago e José, e Simão, e Judas? E suas irmãs, não vivem elas todas entre nos? (Mt 13,55-56).
“Todas”, só se diz de uma multidão. Pergunto: quem te ensinou semelhante blasfêmia? Quem é que te levava em conta? Mas agora conseguiste o que tu querias: tu te tronaste famoso no crime. “(Adverssus helvidius).
E Santo Efrém escreveu: “Ó Virgem Senhora, Imaculada deípara (geradora de Deus), senhora minha gloriosíssima, mais sublime que os céus, muito mais pura que os esplendores, raios e fulgores solares… Vara de Aarão que germina, apareceste como verdadeira vara e a flor foi o teu Filho verdadeiro, nosso Cristo Deus e Criador meu. Tu, segundo a carne, geraste Aquele que é Deus e Verbo, conservando a virgindade antes do parto, virgem depois do parto, e fomos reconciliados com Deus teu filho”.
Santo Agostinho, por sua vez exclamou:
“Virgem que concebe, virgem que dá à luz, virgem grávida, virgem que traz o feto, Virgem perpétua” (Santo Agostinho, Sermones, CLXXXVI, 1, 1).
Já no Credo, ou Símbolo da Fé, de santo Epifânio, que é do século IV, se proclama a virgindade perpétua de Maria Santísima, dizendo esse Credo que Cristo “foi gerado por Maria sempre virgem” (Cfr. Denzinger, 17).
A mesma fé é repetida pelo Concílio de Toledo, no ano 400. (Cfr. Denzinger, 20).
São Sirício, Papa entre os anos 384 e 398, escreveu uma carta a Anisio, Bispo de Tessalônica, dizendo:
“Em verdade, não podemos negar haver sido com justiça repreendido aquele que fala dos filhos de Maria, e com razão sentiu horror vossa santidade de que do mesmo ventre virginal do qual nasceu, segundo a carne, Cristo, pudesse ter saído outro parto. Porque não teria escolhido o Senhor Jesus nascer de uma Virgem, se tivesse julgado que esta teria de ser tão incontinente que, com sêmen de união humana, haveria de manchar o seio onde se formou o corpo do Senhor, aquele seio, palácio do rei eterno. Porque aquele que afirma isto, não afirma outra coisa do que a perfídia judaica daqueles que dizem que não pode nascer de uma Virgem. Porque, aceitando a autoridade dos sacerdotes, porém sem deixar de opinar que Maria teve muitos partos, com mais empenho pretendem combater a verdade da Fé”( S. Sirício, Papa, Carta a Anísio, Bispo de Tessalônica, em 392. Denzinger, 91).
E o Concílio de Éfeso (431) ao condenar o herege Nestório que negava a maternidade divina de Nossa Senhora declarou:
“Canon 1: Se alguém não confessa que Deus é conforme a verdade o Emanuel, e que por isso a Santa Virgem é a mãe de Deus (pois deu à luz carnalmente ao Verbo de Deus feito carne) seja anátema. (Concílio de Éfeso, Anatematismos e capítulo de Cirilo contra Nestório, em 431. Denzinger, 113).
São Leão Magno, Papa entre 440-461, condenando o herege Eutiques, chefe dos monofisitas, escreveu de modo tão elevado sobre esse tema, que não tememos alongar nosso texto com a longa citação dele, pois que a beleza do estilo alivia a leitura, e a verdade afirmada da Virgindade de Nossa Senhora nos confirma na Fé:
“Entra, pois, nestas fraquezas do mundo o Filho de Deus, baixando de seu trono celeste, porém não se afastando da glória do Pai, gerado por nova ordem, por novo nascimento.
“Por nova ordem: porque invisível no que é seu, se tornou visível no nosso, incompreensível, quis ser compreendido; permanecendo antes do tempo, começou a ser no tempo; Senhor do universo, tomou a forma de escravo, obscurecida a imensidade de sua majestade; Deus impassível, não desdenhou de ser homem passível, e imortal, submeter-se à lei da morte. E por novo nascimento gerado: porque a virgindade inviolada ignorou a concupiscência, e subministrou a matéria da carne. Tomada foi da mãe do Senhor a natureza, mas não a culpa; e no Senhor Jesus Cristo, gerado no seio da Virgem, não por ser o nascimento maravilhoso, é a sua natureza distinta da nossa” (São Leão Magno, Papa, Carta Dogmática Lectis dilectionis tuae – Tomo a Flaviano – Contra Eutiques, em 449. Denzinger, 144).
O II Concílio de Constantinopla de 523, V Concílio Ecumênico, decidiu em seus anatematismos sobre os chamados “três capítulos”:
“Canon 9: Se alguém não confessa que há dois nascimentos de Deus Verbo, um, do Pai, antes de todos os séculos, sem tempo e incorporalmente; outro nos últimos dias, quando Ele mesmo baixou dos céus, e se encarnou da santa gloriosa mãe de Deus e sempre Virgem Maria, e nasceu dela; esse tal seja anátema. (II Concílio de Constantinopla, V ecumênico, canon 9. Denzinger, 214).
Repare, prezada, como, desde os primeiros tempos da Igreja, se cultuava a Nossa Senhora, coisa que os protestantes negam. Estes documentos servem para mostrar como os autointitulados evangélicos estão errados sobre o culto à sempre Virgem Maria.
No Concílio de Latrão de 649*, se voltou a excomungar quem não confessasse que Cristo nasceu da sempre Virgem Maria:
“Canon 2: Se alguém não confessa, de acordo com os santos padres, propriamente e conforme à verdade que o mesmo Deus Verbo, uno da santa, consubstancial, e veneranda Trindade, desceu do céu e se encarnou por obra do Espírito Santo e de Maria sempre virgem, e se fez homem, (…) seja condenado” (Concílio de Latrão – 649*, cânon 2. Denzinger, 255).
E o cânon 3 desse mesmo Concílio assim reza:
“Se alguém não confessa, de acordo com os Santos Padres, propriamente e conforme a verdade por mãe de Deus a santa e sempre Virgem Maria como queira que concebeu nos últimos tempos sem sêmen por obra do espírito Santo ao mesmo Deus Verbo própria e verdadeiramente, que antes de todos os séculos nasceu de Deus Pai, e incorruptivelmente o gerou, permanecendo ela, mesmo depois do parto, em sua virgindade insissolúvel, seja condenado” (Concílio de Latrão – 649*, cânon 3. Denzinger, 255).
A mesma coisa foi ensinada pelo Concílio de Toledo, em 675, e pelo III Concílio de Constantinopla, 680-681. O Concílio de Roam, de 993, aprovado pelo Papa João IV proclamou, mais uma vez , que Cristo se encarnou por obra do Espírito Santo e “nasceu de Maria sempre Virgem” (cfr. Denzinger, 344).
Em 1215, o IV Concílio de Latrão, XII Concílio Ecumênico, convocado para condenar a Gnose dos cátaros repete a mesma lição: Cristo nasceu da “sempre Virgem Maria” (Cfr. Denzinger, 429).
No II Concílio de Lyon, Manuel Paleólogo foi obrigado a professar que “o Filho de Deus, Verbo de Deus, eternamente nascido do pai, consubstancial, coonipotente e igual em tudo ao Pai na divindade, nasceu temporalmente do Espírito Santo e de Maria sempre Virgem” (Cfr. Denzinger, 462).
A mesma doutrina foi ensinada, mais uma vez, na Bula Cantate Domino, de 1441, contra os jacobitas (Cfr. Denzinger, 708).
Sixto IV, em 1483, condenou aqueles que negavam a Imaculada Conceição de Maria Virgem (Cfr. Denzinger, 735).
Pio IV condenou energicamente os erros dos Unitários pela Constituição apóstolica Cum Quorundam, de 1556. Entre os erros condenados estava a negação de que Cristo não foi concebido pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, mas que teria sido concebido nela por José. (Cfr. Denzinger, 993).
Todos esse documentos da Igreja demonstram que sempre se acreditou entre os católicos que Nossa Senhora foi sempre Virgem.
Gostaria de copiar para você os belíssimos versos com que Dante faz São Bernardo cantar a glória de Maria sempre Virgem, no último canto da Divina Comédia. Embora Dante não seja uma autoridade, seu poema é tão belo que merece ser citado. Além disso, ele comprova que em 1300 todos os católicos acreditavam em Maria Santíssima.
Eis os versos belíssimos de Dante em honra de Nossa Senhora:
Vergine Madre, figlia del tuo Figlio, | Virgem Mãe, filha de teu Filho |
umile e alta più che creatura, | humilde e mais elevada que toda |
termine fisso d”etterno consiglio. | objetivo fixo da eterna Sabedoria |
Tu sei colei che l” umana natura | Tu és aquela que a humana natureza |
nobilitasti si, che il suo fattore | enobreceste tanto, que o seu criador |
non disdegnò di farsi sua fattura. | não desdenhou fazer-se sua feitura. |
Nel ventre tuo si raccese l”amore | Em teu seio se reacendeu o amor |
per lo cui caldo nell “etterna pace | por cujo ardor, na eterna paz [do céu] |
cosi è germonato questo fiore. | assim germinou esta flor [dos santos no céu] |
Qui se”a noi meridiana face | Aqui [no céu] és, para nós, brilhante face |
di caritate, e giuso, intra i mortali, | e caridade, e lá em baixo, entre os mortais, |
se” di speranza fontana vivace. | és de esperança fonte viva. |
Donna, se” tanto grande e tanto vali | Mulher, és tão grande e tanto vales, |
che qual vuol grazia ed a te non ricorre, | que querer graça e a ti não recorrer, |
sua disianza vuol volar sanz” ali. | seu desejo quer voar sem ter asas. |
La tua benignitate non pur socorre | A tua benignidade não socorre apenas |
a chi domanda, ma molte fiate | quem pede, mas muitas vezes, |
liberalmente al dimandar precorre. | generosamente, ao pedir precede. |
In te misericordia, in te pietate, | Em ti misericórdia, em ti piedade, |
in te magnificenza, in te s”aduna | em ti magnificência, em ti se reúne |
quantunque in creatura è di bontate” | tudo quanto na criatura há de bondade”. |
Esperando tê-la bem atendido, assim como a muitos leitores do site Montfort*, que amam a Nossa Senhora, a sempre Virgem Maria, me subscrevo in Corde Jesu, et Mariae, et Mariae, para que Ela tenha pena de nós todos, que a veneramos.
Orlando Fedeli.
PS. Esta resposta ficou muito extensa, e, por isso, tratarei de responder, em outra ocasião, sua pergunta sobre as indulgências plenárias. Atenciosamente, OF.
* Errata: As citações do Concílio de Latrão, se referem, na verdade, ao Sínodo de Latrão (ocorrido no ano de 649).
* O professor Orlando Fedeli foi presidente da Associação Cultural Montfort de 1983 a 2010.