Orlando Fedeli
Virgem Maria, Mãe de Deus
- Localização: Belo Horizonte – MG
REFUTAÇÃO DA SEGUNDA TESE PROTESTANTE: O LIVRE EXAME DAS ESCRITURAS
Foi Lutero quem, revoltando-se contra o Papa, levantou o princípio do livre exame da Bíblia, afirmando que toda pessoa é livre de interpretar a Escritura como lhe parecer.
Daí a multiplicação de seitas protestantes, cada uma dela arvorando-se como verdadeira igreja. O que leva qualquer Saul, de qualquer Lagoinha, a se arvorar como infalível intérprete da palavra de Deus.
O senhor, por exemplo, é batista, e diz acreditar na divindade de Cristo. Os Testemunhas de Jeová, baseados na mesma Escritura, fundados no mesmo princípio de livre interpretação da Bíblia, concluem que Cristo não é Deus. Quem estaria certo?
Qual das mais de mil seitas – há quem diga que já são dez mil – estaria com a verdadeira interpretação da Bíblia? O protestantismo é uma nova Torre de Babel, na qual cada um se proclama infalível.
E repare a loucura e a contradição dos “evangélicos”: eles afirmam que toda interpretação da Bíblias é livre, e por isso, é também válida. Mas afirmam ao mesmo tempo que a interpretação da Igreja Católica é falsa.
A única coisa em que os protestantes estão de acordo entre si, é no ódio à Igreja Católica. “Vêde como eles odeiam, e como se odeiam”, poderia ser dito deles.
O livre exame protestante fez da Bíblia um livro “chicletes”, que cada um puxa e estica para onde quer. E não podia ser diferente. Na realidade, cada protestante é, ele sozinho, uma seita, visto que ele crê que é o único intérprete infalível da Bíblia. Negando a autoridade e a infalibilidade de Pedro, o protestantismo, pela afirmação do livre exame, proclama que todo leitor da Bíblia é Papa, e Papa infalível.
Quando Saul era possuído pelo tenebroso espírito de furor, Davi o acalmava – um tanto, e muito precariamente – com sua cítara. Não tenho cítara, mas vejamos se a verdade e a lógica conseguem penetrar as densas e profundas trevas enfurecidas de seu espírito. Ponha sua lança atrevida e blasfema no chão, Saul, e escute.
A Sagrada Escritura utiliza palavras. Ora, as palavras podem ter vários sentidos.
Manga, por exemplo, significa uma fruta, mas também uma parte do vestuário. Vela significa uma lona para impulsionar um barco, e também um objeto para iluminar.
Essas são palavras equívocas, pois têm vários sentidos sem relação entre si.
Outras palavras possuem um só sentido. Por exemplo, óculos. Essas são chamadas palavras unívocas.
Há ainda um terceiro tipo de palavras, chamadas análogas. Essas têm vários sentidos com relação entre si. Exemplo, a palavra irmão, a palavra pé, etc.
Pé de mesa não usa meia. O pé de um animal é pé também. Mas pé, propriamente, é só o pé humano. Pé de mesa, pé de cavalo, são “pés” por analogia, por semelhança.
Assim, “irmãos”, em sentido próprio, são aqueles que foram gerados pelos mesmos pais. Entretanto, o infeliz pastor de Lagoinha, quando prega, berra para seus ouvintes: “Irmãos”! , ele não quer dizer que todos os que o estão – infelizmente – escutando tenham sido todos gerados pelo mesmo pai, fisicamente. Apenas quer dizer que todos se pretendem filhos de Abraão, quando, na verdade, são irmãos dos fariseus, que liam a Bíblia e mataram Cristo.
Ora, se a Bíblia — como todo livro – usa palavras unívocas, equívocas e análogas, é claro que a interpretação do que está escrito vai ser variada.
Entretanto, Deus é um só, e quis nos comunicar também pela Bíblia, uma só Fé. Há um só Deus, uma só Fé, um só batismo, e, portanto, tem que haver uma só Igreja verdadeira.
Mas como manter a unidade da Fé, se cada um interpretará a Bíblia a seu modo, livremente, como disse Lutero?
Com o livre exame é impossível a unidade da Fé.
Só a verdade é una, como só Deus é uno.
O erro é múltiplo. E o protestantismo é múltiplo. Logo, os protestantes estão errados. Consenso, nem entre os jacarés da Lagoinha.
Se Deus na Bíblia usou palavras unívocas, análogas e equívocas, Ele sabia que isso poderia produzir interpretações variadas e, portanto, erradas.
Além desse problema dos vários tipos de palavras, há ainda o dos quatro sentidos fundamentais da Sagrada Escritura: o literal, o doutrinário, o moral e o místico. Tudo isso torna a Escritura de difícil interpretação. Para evitar desvios doutrinários é que Deus tinha que providenciar uma solução.
Como Deus não nos pode induzir em erro, Ele deve ter providenciado um meio para evitar que o que Ele nos revelou fosse interpretado livremente e erradamente.
Deve haver uma chave para interpretar corretamente a Bíblia.
Ora, pelo Evangelho se conhece que Cristo deu as chaves do reino do Céu (isso é, da Igreja) a Simão Bar Jonas:
“Bem aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi nem a carne, nem o sangue que te revelou isso, mas Deus que está nos céus. E Eu te digo que
TU ÉS PEDRO, E SOBRE ESSA PEDRA EDIFICAREI A MINHA IGREJA,
E AS PORTAS DOS INFERNO NÃO PREVALECERÃO CONTRA ELA.
EU TE DAREI AS CHAVES DO REINO DOS CÉUS;
TUDO O QUE LIGARES SOBRE A TERRA, SERÁ LIGADO TAMBÉM NOS CÉUS;
E TODO O QUE DESATARES SOBRE A TERRA, SERÁ DESATADO TAMBÉM NOS CÉUS”
(Mt XVI, 17-19)
Somente havendo um intérprete da Sagrada Escritura estabelecido pelo próprio Cristo, é possível haver uma só interpretação da Escritura, uma só Fé e uma só Igreja.
E que o Papa – sucessor de São Pedro — seja infalível em matéria de Fé e de Moral, quando ensina para toda a Igreja, com os poderes dados por Cristo a Pedro, está estabelecido pela promessa de Jesus: Tudo o que ligares na Terra, será ligado também nos céus, tudo o que desatares sobre a terra, será também desatado nos céus”.
Sem o Papa, a leitura da Bíblia vira Babel. Babel de Wittemberg ou até uma Babel caipirenta como a de Lagoinha. Cada um dando sua interpretação pessoal da Bíblia, quando a própria Bíblia nos previne, com São Pedro, ao dizer-nos:
“Nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular” (II Epís. de São Pedro, I, 20).
E Saul lê a Bíblia e interpreta a Escritura como bem entende, recusando aplicar o que lê. É assim que os protestantes respeitam a Bíblia: fazendo o contrário do que ela manda.
O próprio Jesus Cristo prometeu, então, a Pedro que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” [a Igreja] (Mt. XVI, 18).
Prometeu ainda: “Eis que estarei convosco, todos os dias, até o fim do mundo” (Mt. XXVIII, 20)
Se Cristo prometeu que as portas do inferno, isso é, as heresias, os erros contra a Moral, e a falsa mística, jamais prevaleceriam contra a Igreja; se Cristo prometeu que estaria com a Igreja “todos os dias, até o fim do mundo”,e que “as portas do inferno não prevaleceriam contra Ela“, como é que um presunçoso escorpião da Lagoinha ousa negar a promessa de Cristo ao afirmar que a Igreja se corrompeu com Constantino?
E já que o senhor alude ao fato de que sou professor de História – e me chama de “Professor Raimundo”– , e já que me pede que o corrija, do ponto de vista histórico, deixe-me dar-lhe uma pequena lição de História.
Registro seu pedido, seu erro histórico, e – bem pior – seu erro doutrinário:
“É interessante observarmos que durante os quatro primeiros séculos do cristianismo, não havia nenhum culto, absolutamente nada, que se referisse a Maria. Jesus era absoluto até o quarto século, quando Constantino (me corrija caso tenha me enganado), cristianizou o império romano. Através de um decreto, da noite para o dia, o imperado Constantino obrigou todo o império romano a se tornar cristão. No início do Cristianismo, as pessoas precisavam da fé para se tornarem cristãs.” (Palavras do furioso Saul da Lagoinha).
Cuidemos, primeiro do erro histórico.
O Imperador Constantino não obrigou ninguém a se tornar cristão. O decreto que o senhor inventou nunca existiu. Constantino somente determinou o fim das perseguições aos cristãos. Ele mesmo só se fez batizar apenas na hora da morte, e por um Bispo semi-ariano, Eusébio de Nicomédia, de alguma Lagoinha herética daqueles tempos infestados de arianismo.
Quem tornou o Cristianismo religião oficial do Império foi Teodósio, no final do século IV. Mas também isso não significava que todos eram obrigados a se tornarem cristãos. O Estado é que passou a ser oficialmente cristão. Cultos aos ídolos continuaram a existir na Grécia até o século VI.
Mais adiante, o senhor diz outra imensa tolice histórica:
“O ídolo romano chamado de SÃO PEDRO, era a imagem de JÚPITER CAPITULINO (Sic!). Isso é SINCRETISMO RELIGIOSO, um fato bastante antigo como com certeza é do conhecimento do caro Professor Orlando, e passa a ser dos caríssimos leitores do Site Montfort*”.
Em que gibi cheio de ódio o senhor encontrou tal loucura? Essa eu não conhecia. Já ouvi muita besteira dita por hereges de todos os tipos e naipes, mas igual a essa, nunca! Deve ser original de Lagoinha…
O nome do deus romano não era CAPITULINO. Era chamado Júpiter Capitolino, porque seu templo estava situado na colina do Capitólio. Aí, em Lagoinha mineira, abrasileirou-se para “Capitulino“.
Essa identificação de São Pedro, Apóstolo de Cristo, com Júpiter é uma tolice, porque há séculos os romanos adoravam Júpiter no Capitólio. E São Pedro combateu o culto aos ídolos. Nunca houve, depois, essa identificação sincrética, a não ser em sua cabeça nada histórica. E se o Cristianismo, desde o início, tivesse caído no erro do sincretismo, por que o senhor se diz cristão?
Agora a besteira doutrinária:
“No início do Cristianismo, as pessoas precisavam da fé para se tornarem cristãs.”
Uái?! Só no início do cristianismo era preciso ter Fé verdadeira para ser cristão? Hoje também isso é necessário. O primeiro requisito para ser cristão é ter Fé. Sem ter Fé em tudo o que Cristo nos ensinou – por exemplo, que a Igreja de Cristo foi fundada sobre Pedro – nem pode ser cristão.
O senhor diz que para ser cristão não era preciso ter Fé, e sim uma “experiência com Cristo”, “nascer de novo “, “ENTRONIZAR Jesus no coração”.
Mas, com a imposição da fé cristã, as pessoas passaram a ser cristãs por decreto, ou seja, sem terem tido uma experiência profunda com o Senhor.
Na verdade, o senhor confunde, ou substitui, Fé por “experiência”, acrescentando à sua heresia protestante, a heresia modernista.
E que significa ter uma “experiência com Cristo”?
Ainda outro dia, veio me ver um pobre coitado de outra seita que não a sua. O pobrezinho estava para receber – melhor seria dizer usurpar — o título de “pastor”. Ele também me garantia que tivera uma “experiência com Cristo”.
Que provas dava disso?
Nenhuma.
Que provas tinha disso?
Nenhuma.
Que garantias tinha ele – ou o senhor – de que a “experiência ” que tivera era com Cristo?
Nenhuma.
Por acaso esse Cristo experimental e ecumênico, que concede sua “experiência” em qualquer seita suburbana, dá um diploma de garantia de que a “experiência” alegada foi com Cristo e não com o demônio?
Não dá nem garantia, nem diploma de “experiência” mística com Cristo.
Única “prova” da “experiência” com Cristo é a sua palavra. Que não é infalível, nem confiável teologicamente.
O Saul moderno tem tanta ortodoxia quanto o Saul do Antigo Testamento, que foi consultar pitonisas. E tem também o seu mesmo espírito de furor…
*O professor Orlando Fedeli foi presidente da Associação cultural Montfort de 1983 a 2010.